O Destino Tem Senso de Humor



“Deixe-me ver... Onde estão as minhas anotações?” “Hum...” *Abaixando-se atrás da mesa* “Eu jurava que tinha posto o rascunho do capítulo... nesta gaveta...”.

“Ops!” *Surpresa* “Vocês já estão aí?” *Risadinha nervosa* “Não tinha visto...” *Sorriso morre* “Devem estar querendo capítulo novo, não é?” “Bem, é que... Hum” *Suspira profundamente, tomando coragem* “Eu não acho as minhas anotações! Pronto, falei!”.

“Vou ter que fazer o capítulo de improviso”. *Careta* “Quem tiver coragem para ver no que vai dar...”.

“Certo. O que vou contar é o típico exemplo de quando todas aquelas coisas que você espera que aconteçam durante um ano inteiro... Acontecem em poucas horas”.

***

As comemorações tinham ido até tarde naquela virada de 31 de dezembro para 1° de janeiro. Ainda assim, não era costume dos Anhanguera ficarem até tarde na praia, especialmente devido a quantidade de crianças que sempre havia na família.

Assim, após satisfeitas todas as tradições de Reveillon, pegaram a estrada de volta para casa. Entre os pequenos, os únicos que ainda resistiam ao sono eram Mel e Felipe, mas mesmo esses já estavam cabeceando. Em uma tentativa de manter-se acordado, o menino sussurrou para a irmã, dentro do carro:

- Quando chegarmos em casa me conta aquela história do quadro da Rowena Ravenclaw...

A garota piscou os olhos várias vezes e bocejou:

- Eu não sei muito mais do que... Já te contei...

- Quer dizer que aquele símbolo não significava nada? – O murmúrio do menino soou decepcionado.

- Ah, significava sim... – voltou a bocejar. – O problema é que significa várias coisas...

- Como o quê? – Lipe pareceu mais desperto.

- Rosa dos Ventos, Norte... Céu...

- A pesquisa que eu fiz na Internet contava que os celtas acreditavam a terra sagrada estava no norte. Por isso as tribos se espalharam pela Europa e chegaram até a Inglaterra...

- Ah! – Mel deu uma risadinha curta e baixa – Resolveu fazer o dever de casa agora, é? Quem te viu e quem te vê!

- Você também está mudada – Felipe apontou, um tanto ressentido. – A velha Mel preferiria morrer seca, pesquisando dentro de uma biblioteca, a deixar um mistério sem solução!

A menina ergueu um pouco a cabeça, fitando o irmão com interesse. Uma pontada de culpa a trespassou quando se deu conta de que estar longe de Hogwarts ainda era muito difícil para ele. O enigma do símbolo no retrato da Fundadora da Corvinal era uma coisa que dividiam e que o fazia se sentir mais próximo da escola, da magia que era tudo o que envolvia mundo do menino-bruxo dos livros. E ela deixara de lado, dando a impressão a Lipe que estava abandonando-o, negando aquela única ligação a qual ele se agarrara.

- Lipe... - Ela começou seriamente concentrada, para dar a entender ao garoto que se importava. – Eu não desisti. Só que...

Ponderou por alguns instantes o que diria. Não era uma boa hora para se falar sobre garrafas que prendiam demônios. (1)

- Tem um montão de coisas mais interessantes para fazer, como transformar ratos em cálices, e fazer penas flutuarem... – Lipe completou, amuado.

- Sabe que até que não? – Mel viu na resposta do irmão uma "rota de fuga". – Depois de algum tempo tudo vira rotina. Não é muito diferente de Estudos Sociais e Matemática...

Felipe lançou um olhar zangado para a irmã, o que indicava que não havia sido convencido dos argumentos dela.

- Olha, Lipe – Mel suspirou, cansada. – Quando a gente acordar amanhã, vamos escrever tudo o que acharmos importante. Vai ser como uma investigação. Quando eu voltar para Hogwarts, vou fazer algumas perguntas ao Prof. Binns, e depois eu te aviso do que encontrei. O que acha?

O garoto manteve o semblante fechado, mas ela percebeu um pequeno sorriso mal contido nos cantos dos lábios dele quando ele fez um seco sinal afirmativo com a cabeça.

“Vamos ver...”, pôs-se a pensar, “o que Alan disse mesmo?”. Por um segundo pensou em contar suas dúvidas para os amigos. Mas eles estavam absorvidos demais com aquela história da garrafa de Mefistófeles... Fora que tinha arrepios só de pensar no que Hector poderia aprontar tendo não um, mas dois mistérios ao mesmo tempo!

Só esperava que ele tivesse contado tudo para os adultos, como prometera!

***

Péssima hora para o carro enguiçar. De madrugada, em uma estrada secundária de pouco movimento.

- Não faça essa cara – Carlinhos disse por sob o capô aberto da velha caminhonete, quando Ana bufou pela milionésima vez. – A idéia de pegar uma estrada alternativa foi sua.

- Teria sido uma ótima idéia se o carro não tivesse quebrado e... – fez uma careta aborrecida – Lamento, mas esta é a única cara que eu tenho.

Carlinhos desistiu de olhar o motor arruinado. Fechou o capô e se dirigiu até a esposa, que estava recostada na lateral do carro, com os braços cruzados e ainda bufando. Teve que apertar os lábios para segurar o riso.

- E é uma carinha linda! – Falou enquanto a abraçava e beijou a ponta do nariz dela.

Ana desfez o bico, mas lançou um olhar de advertência antes de dizer:

- Uma carinha linda que também vem junto com um cérebro, lembre-se disso. E que... Apenas tomou uma decisão... Infeliz.

- Claro... – Ele foi condescendente, tentando dar seriedade à voz. – Mas, acho que a caminhonete já era... – Informou, apontando o polegar em direção ao veículo, por cima dos ombros.

- Como pode ter certeza?

Ela estava certa que o marido era um bruxo legítimo, da sola dos pés até o último fio de cabelo ruivo. Ou seja: como ele conhecia motores?

- Advinha quem foi que ajudou papai com o Ford Anglia, no último verão em casa, antes da Romênia?

Disso ela não sabia. Às vezes, tinha a impressão que poderia passar a vida inteira ao lado de Carlinhos, e ainda assim haveria coisas a respeito dele que a surpreenderiam.

- Vamos que ter que aparatar, então... – Ela olhou preocupada para o velho veículo. Seria seguro deixa-lo ali?

- É o jeito... – Carlinhos respondeu. – A menos que usemos um pouco de magia... – E olhou sugestivamente para a caminhonete.

- Carlinhos, não! – Ela protestou. Balançando a cabeça negativamente. – Também é proibido enfeitiçar artefatos trouxas por aqui!

- E quem vai saber? – Ele deu de ombros, abrindo aquele sorriso enviesado e maroto que a fazia sentir o coração acelerado.

- Que pensamento mais... – Ana se esforçava para parecer reprovadora, mas o sorriso abobalhado que insistia em surgir em seu rosto quando ele fazia aquela expressão estava atrapalhando tudo – Mais... Sonserino!

- Ei, não precisa ofender! – Carlinhos protestou.

Ana riu e começou a dar pequenos beijos pelo rosto do marido, até que ouviu a voz rouca dele dizendo:

- Não adianta me comprar com beijos... – Ele balançou a cabeça um pouco depois - Bem, talvez com mais alguns...

- Quantos? – Ela quis saber.

- Continue – Ordenou – Quando já for suficiente eu te aviso...

Os dois riram, e já estavam se preparando para aparatar quando ouviram vozes se aproximando. Estavam próximas, vindas da área coberta de árvores próxima a estrada. Viram um grupo de pessoas caminhando em sua direção, com lanternas. Era óbvio que os tinham visto, e aparatar agora era impossível, até mesmo porque eles já estavam perto demais.

- Não estou conseguindo entender o que eles dizem – Carlinhos disse.

- Nem eu – ela respondeu – Acho que são da reserva indígena.

Ana estava confusa. Tinham entrado dentro da área da reserva? Mas aquela estrada não entrava nela. Ou entrava?

- Algum problema, amigos? – Um deles se adiantou ao resto do grupo – Vimos a luz do farol lá da nossa aldeia. Estão longe da estrada... – Acrescentou a última frase com desaprovação.

- Desculpe se invadimos. – Carlinhos se adiantou. - Pegamos um atalho... E o carro enguiçou.

O homem franziu o cenho ao notar o sotaque do ruivo.

- Eu sugeri ao meu marido esta estrada. – Ana interveio – Antigamente, ela era parte da rodovia... E achei que conseguiríamos chegar até o outro lado, e pegar a ponte. – Ela levantou os ombros, um tanto envergonhada. – Parece que as coisas mudaram muito desde que eu morava aqui...

O índio desanuviou a expressão e sorriu:

- O caminho foi desativado desde que a obra de duplicação da rodovia foi concluída. Estas são terras Mbya, agora.

Isso explicava muita coisa. A demarcação das terras dos Mbya, uma tribo da nação Guarani, havia rendido muitas discussões na época em que Ana ainda estava na faculdade. As obras da duplicação da rodovia federal tornaram o processo ainda mais dramático. No entanto, Ana fora para Brasília antes de tudo terminar, por isso não sabia do desfecho da história.

Carlinhos se adiantou, estendendo a mão:

- Sou Charles Weasley – apertaram as mãos – E esta é minha esposa, Ana.

- Weasley... – O homem riu e se voltou para os demais, falando algo para eles em guarani, o que provocou gargalhadas. Depois, ele olhou para o casal, e disse: - É um sobrenome famoso!

Tinham sido pegos totalmente de surpresa. Jamais imaginaram que os livros e filmes fizessem sucesso ali também. E a ponto de se lembrarem...

- Ah, é... – Ana começou.

- Uma coincidência... – Carlinhos disse ao mesmo tempo.

Novas risadas dos mbya. O desconcerto do casal parecia muito divertido para eles.

- Não precisam fingir para nós – o chefe finalmente esclareceu – O Decreto de Sigilo não se aplica aqui. Os povos indígenas encaram a magia com naturalidade, é algo que faz parte de nosso dia-a-dia. Ela não nos assusta, como acontece com os brancos.

- Então, o senhor sabe sobre... – Foi tudo o que Ana conseguiu balbuciar.

- Harry Potter? – Ele riu – É claro que sim! E sobre os Weasleys também – Olhou para Carlinhos – Deve ser o irmão de Ronald Weasley, não? – O ruivo fez um sinal afirmativo, e o homem se apresentou – Sou Miri Poty. Sou o cacique da aldeia.

Após cumprimentarem o restante do grupo, Ana sussurrou no ouvido do marido:

- Deixe-me adivinhar: essa é uma daquelas coisas que geralmente os alunos de Hogwarts não sabem, porque dormiram na aula do Professor Binns...

- Touché! – Ele sorriu e devolveu na mesma moeda: - E também uma daquelas coisas que você não sabe porque aconteceram depois que Helga Hufflepuff enfeitiçou aquele bracelete...

- É... Confesso que deixei esse detalhe de fora nas minhas atualizações... – Ana suspirou – Touché!

- Não precisam se preocupar em deixar a caminhonete – Miri Poty declarou. – Não vai acontecer nada com ela, até que venham buscá-lo, garanto. Se quiserem aparatar até sua casa, é melhor que façam isso antes que...

- Chefe, soube que temos visitantes – alguém disse por detrás do grupo, e a voz não tinha sotaque, como o do cacique. – Está tudo bem?

- Tarde demais... – resmungou Miri, de forma que só Carlinhos e Ana ouvissem. – Tudo, Rodrigo – respondeu – O carros deles quebrou, só isso.

Ana emitiu uma exclamação de contentamento assim que viu o rapaz magro e de cabelos loiros encaracolados, reconhecendo-o imediatamente.

- Drigo!

- Ana? – O outro também sorriu ao fixar o olhar na moça, confirmando sua identidade – Menina, eu pensei que estivesse na Inglaterra! – Os dois se abraçaram.

- E eu pensei que estivesse no Paraná – ela devolveu, brincalhona.

- O trabalho me trouxe de volta. Estou acompanhando o final das demarcações.

- No Reveillon? – Ana estranhou.

- Não – o rapaz negou, rindo – Sou convidado. Minha família está no Paraná e, como não consegui me juntar a eles a tempo para o Ano Novo, o chefe Miri me convidou a ficar.

- Que feliz coincidência – Carlinhos comentou, olhando mal-humorado o abraço que eles ainda mantinham, e lembrando à Ana que não os tinha apresentado e tratou de fazê-lo.

Rodrigo Vênetto tinha sido seu colega de faculdade, um dos amigos inseparáveis que ela teve naquela época. Ele se especializara em Direito Ambiental e Indígena, e atualmente trabalhava para uma empresa que prestava serviços de assessoria, tanto para o governo quanto para instituições particulares.

- Bem, já que tudo foi esclarecido... – o Chefe Miri começou, lançando um olhar interrogativo para o casal.

- Ah, sim – Ana entendeu a dúvida do guarani – Temos que pedir ajuda...

Carlinhos fez uma típica expressão de “por quê?”, e fingindo que estava procurando algo no carro, ela aproveitou para puxar o marido para dentro dele também.

- Não vou lançar um “obliviate” em um dos meus amigos só para poder aparatar – sussurrou, meio inclinada no banco, como se estivesse procurando algo no porta-luvas.

- Ana, você sabe que isso não vai fazer mal algum a ele... – Carlinhos suspirou, impaciente.

- Mas para mim, vai – declarou.

- Fizemos isso quando resgatamos as crianças! (1) – Ele levantou os ombros, realçando a idéia que era só mais um feitiço.

- É diferente. Uma coisa é apagar a memória de alguém porque nos viu fazendo algo... E outra é fazer isso só para ter um pouco de comodidade... – Ana parou uns segundos, analisando sua frase e pensando que, ainda assim, ela lhe parecia um tanto distorcida moralmente. Ser uma bruxa estava mudando seus conceitos. – Não vou dar uma de agente da M.I.B., ok? – Continuou – A gente o distrai, e depois aparata.

- Agente do quê? – Mas Ana já tinha deixado o carro.

- É... Os celulares não pegam... – Disse na maior inocência para os demais.

Carlinhos se perguntou o que a mulher pretendia fazer. Certo, é claro! Agir como os trouxas agiriam em uma situação como esta até que tivessem uma oportunidade para aparatar. Mas o que, exatamente, eles faziam?

O rapaz loiro falou alguma coisa sobre celulares dificilmente “pegarem sinal” ali (seja lá o que isso significasse) e que poderiam usar o “orelhão” (palavra nova para Carlinhos) que ficava na aldeia.

Enquanto caminhavam até lá, Rodrigo se desculpou por não ter podido ir ao casamento, já que estava à quilômetros da civilização, na época, mas que estava muito feliz por ela, blá, blá, blá... Enfim, não parava de falar. Carlinhos estava começando a achar que ele e Colin Creevey tinham muito em comum.

Chegaram até o tal “orelhão”. Ah, bom! Era um telefone! Claro, se o “celular”, que era um telefone também, só que sem o fio, não havia funcionado, um trouxa procuraria o meio de comunicação mais próximo. Hum... Então era assim que funcionava. Não era de se admirar que os trouxas praticamente não fossem a lugar algum sem o tal celular!

Ana ligou para os tios avisando os parentes do que aconteceu (Carlinhos aprendeu mais uma coisa: “ligação a cobrar”). Depois, todos foram para a casa de Miri Poty, “esperar” pelo reboque. Ainda era de madrugada, mas o chefe afirmou que os festejos dos brancos não os deixariam dormir mesmo, então a aldeia toda permanecia acordada. Carlinhos ficou um pouco para trás, e lançou um último olhar para o tal “orelhão”, com um sorriso divertido nos lábios. Realmente, a parte de metal que protegia o aparelho lembrava uma enorme orelha.

Já na casa do Chefe, Rodrigo iniciou uma conversa sobre história antigas da época que ele e Ana eram colegas e sobre temas jurídicos. De repente, soube como Ana devia se sentir nos jantares com seus colegas estudiosos de dragões.

- Rodrigo, o homem queria dar personalidade jurídica à Floresta Amazônica! – Ana desdenhou.

- Eu sei! – O rapaz acenou, rindo – Imaginar as árvores entrando na sala de um tribunal para reivindicar direitos fazia a aula dele valer a pena! – Agora ele estava quase às lágrimas de tanto rir – Já pensou? Pareceria uma cena de “O Senhor dos Anéis”!

Ana também se dobrou de rir ao lembrar das teorias malucas do antigo professor, e que rendiam tantas piadinhas na sala de aula. Às vezes, pensava que ele dizia aquelas coisas só para chocar e tornar suas aulas polêmicas e concorridas entre os estudantes: seja para desdenhar dele ou para averiguar se o homem era tão maluco quanto diziam. Foi quando percebeu a expressão aborrecida de Carlinhos, e se deu conta que não era assim que pretendia “distrair” o amigo para que pudessem aparatar.

- Chefe, nos conte mais sobre essa tradição da qual estava nos falando – pediu a Miri. Em um ponto da narrativa dele iria pedir para mostrar os preparativos, lá fora, oportunidade em que poderiam sair.

- Bom... – Miri começou – É bom mesmo que saiba. – A expressão e a voz solene chamaram a atenção de Ana, que agora estava genuinamente interessada. – Tem sangue índio, não tem, Ana?

- Sim... Mas tupi. Potiguares. – Respondeu.

- Percebi. Você tem o dom... Teria sido uma boa Kunhã Karai, se tivesse tido o treinamento certo.

- Kunhã...? – Ana perguntou.

- A curandeira... E chefe espiritual. – Rodrigo respondeu.

- Por que acha... Que eu...

- Está tudo no olhar. – Miri disse. – O principal para uma Kunhã Karai é entender o espírito de todas as coisas. A alma de tudo que está a seu redor, da natureza. Mas as que também podem guiar os sonhos são raras...

Ana olhou espantada para Carlinhos, que também parecia chocado com a afirmação do Chefe. Ele deveria estar se referindo a sua habilidade como Mestra dos Sonhos, é claro. Mas mesmo os bruxos ingleses tiveram que ter primeiro uma manifestação deste poder para lhe contar o que significava. No entanto, Miri Poty só precisou olhar para ela...

- Estamos em uma época especial para o nosso povo. – Miri continuou. – Os meses do verão trazem a mudança consigo. As chuvas e ventos fortes são necessários para a renovação da natureza, e a nossa renovação também, já que somos parte dela. Por isso chamamos essa época do ano de “Tempos Novos”.

À medida que a narrativa avançava, Ana sentia que, entre os mitos antigos, as coisas se encaixavam, fazendo sentido. Havia coisas sobre astronomia e física que eram muito próximas tanto do conhecimento trouxa quanto mágico. E, mais do que isso, tocaram Ana profundamente, como se estivesse esperando a vida toda apenas para ouvi-las.

Carlinhos se aproximou, instintivamente sabendo que a esposa precisava senti-lo a seu lado. Passou o braço ao redor de seu ombro enquanto também escutava o chefe contar as histórias que deveriam ser repassadas por aquele povo, geração após geração, há séculos.

- Então, quando chega este período, fazemos o batizado de nossas crianças, ou o “nheemongarai” em guarani, após a colheita do milho. As crianças recebem o nome de acordo com a região do céu a que pertencem.

- Região? – Carlinhos perguntou.

- Zênite, norte, sul, leste ou oeste. – Rodrigo esclareceu.

- Sim... Isto é importante. Nhanderu – Nosso Pai – criou quatro deuses que o ajudaram na criação do mundo. Nhanderu é o zênite, e cada deus representa um ponto cardeal. O leste, Karai, é deus do fogo e do ruído das chamas sagradas. Tupã é o oeste, deus das águas, do mar e das chuvas, dos relâmpagos e dos trovões. O sul, Nhamandu, deus do sol e das palavras, é a origem do tempo, quando nada mais havia. É o lugar que veio primeiro. E o norte, Jakaira, é deus da neblina e das brumas que diminuem o calor, a origem dos bons ventos.

Ao ouvir a última frase, a visão que teve naquela manhã voltou a sua mente. “Não...”. Sacudiu a cabeça levemente, censurando a si mesma: estava tão preocupada em descobrir o significado do medalhão que já estava “viajando”, vendo ligações impossíveis. Mas a frase seguinte fez Ana se arrepiar:

- Quando as manhãs começam com neblina, sabemos que o restante do dia será muito quente. Então, dizemos que é Jakira que veio visitar seu irmão, Nhamandu. Enquanto ele está aqui, o calor é brando. Mas ele não pode ficar muito tempo, porque logo Nhanderu, seu pai, chega reclamando que Jakira está descuidando de suas obrigações, e ele vai embora. Mas, contente por ter visto o irmão, Nhamandu brilha como nunca sob seus domínios...

Miri Poty fixou o olhar em Ana, e sorriu. De alguma forma, parecia saber que as palavras dele estavam fazendo efeito sobre ela.

- Venham - ele convidou - Quero lhes mostrar o local onde as cerimônias serão realizadas...

Carlinhos e Ana sabiam que aquele era o sinal para partirem. Levantaram-se e perceberam que Rodrigo estava fazendo o mesmo. A um sinal quase imperceptível de Miri, uma das filhas dele se aproximou do loiro:

- Vem ver minha boneca nova... - E pegou a mão dele com uma das suas.

O rapaz sorriu, enternecido pela atitude da menina, e disse que iria em seguida. Lá fora, quando se viram sozinhos com o chefe indígena, Carlinhos questionou:

- Tenho a impressão que não viemos até a sua aldeia só porque minha mulher não queria lançar um "obliviate" no amigo dela...

O chefe riu:

- O garoto é bom, mas é um tanto...

- Trouxa - Carlinhos completou, sem nenhuma intenção na voz. Mesmo assim, recebeu um tapinha indignado da esposa em seu ombro. - No sentido bruxo da palavra, amor...

- Mais ou menos isso - Miri levantou os ombros. - Mas tem razão quando dizem que esperei de propósito.

- Você queria nos contar aquelas coisas... - Ana sussurrou.

- Sim. Os espíritos me disseram que vocês precisavam ouvir. - Olhou para Ana - Especialmente você.

- Por quê? - Ela se espantou.

- Espíritos? Não lembro de ter visto fantasmas...

- Acho que não é esse sentido de espíritos que ele está falando, querido...

- Tudo a sua volta tem uma alma - Miri explicou - Até as pedras têm. E o espírito dela está ligado com todos os outros à sua volta. O menor dos pedregulhos pode interferir em toda uma floresta. É essa a magia que estudamos.

- E porque eu precisava saber? - Ana perguntou.

- Precisava, não - o Chefe sorriu - Ainda precisa. - Entregou um livro a ela - Estude. Aperfeiçoe seu dom. Vai precisar dele em breve.

- Quando? - Ana arregalou os olhos.

Miri Poty ia responder, mas se deteve. Parou, olhando o chão sob seus pés por alguns segundos, pensativo. Então, levantou a cabeça, e disse:

- São Tempos Novos para você também, minha filha. Para você e para os seus entes queridos. Não há uma mudança em especial, são várias. Umas boas, outras ruins. Deve estar preparada para ambas. - Ele olhou para o casal e sorriu novamente: - Agora, vão. Acho que logo receberão notícias de casa. Não se preocupe com seu amigo, darei qualquer desculpa e direi que não tiveram tempo para se despedir. - Vendo que eles hesitavam, acrescentou: - Vão logo, antes que ele apareça e tenham que esperar ainda mais!

Carlinhos abraçou Ana e aparataram até o carro. O céu já estava em um tom violáceo, indicando que em breve o sol nasceria.

- Você está bem? - Ele perguntou gentilmente, acariciando-lhe o rosto.

- Sim... - Ana confirmou - De certa forma... E de uma forma bem estranha, diga-se de passagem... Tudo isso faz sentido para mim. Ou acho que fará... - Balançou a cabeça, confusa - Ah, vamos para casa!

Ele sorriu:

- Você é quem manda! - E, pegando a varinha, apontou-a para a caminhonete, fazendo-a diminuir até ficar do tamanho de um carrinho de brinquedo, daqueles que os meninos costumam fazer coleção.

- Carlinhos! - Ana protestou.

- Ninguém vai saber...

- Não é só isso! E quanto a sua promessa de aprender a ser um trouxa? - Ela pôs as mãos na cintura.

- Ah... Aprendi bastante hoje... - Ele se defendeu - Especialmente sobre “orelhões”. Olha, deixemos essa lição para outro dia, que tal? Afinal de contas... Não tem nenhum reboque vindo, não é mesmo?

Ana teve que admitir que ele tinha razão. Fez um sinal afirmativo com a cabeça. Carlinhos pôs o veículo reduzido no bolso e, pouco antes de aparatarem, ela resmungou:

- Quero só ver como você vai desfazer isso sem que ninguém veja!

***

No antigo quarto de Ana, os primeiros raios de sol penetravam através das frestas da janela. Haviam dormido apenas poucas horas quando sons vindos da sala os acordaram. Ela se espreguiçou, e levantou a cabeça do ombro de Carlinhos, olhando ao redor com uma expressão sonolenta.

Parou por alguns instantes, analisando o barulho e, chegando a uma conclusão sobre ele, deixou-se desabar novamente, aconchegando-se no ombro do marido.

- O que é isso? – Carlinhos perguntou com um longo suspiro de quem acaba de acordar também.

- Isso é... – Ana conseguiu resmungar no meio de seu sono – Minha família bagunçando... Digo, chegando em casa... O resto dela.

- Não deveríamos, então, sair para cumprimentá-los? – Ele perguntou, se espreguiçando também, e terminando o movimento com uma carícia nas costas dela.

Começando a despertar de verdade, Ana sorriu.

- Não, não deveríamos – moveu um pouco a cabeça, esfregando o nariz na curva do pescoço dele.

Sentiu Carlinhos estremecer, e soube que, realmente, não iriam sair daquele quarto tão cedo.

Algum tempo depois, ambos finalmente bem despertos, Ana estava de pé, massageando as costas e reclamando que dormir em dois em uma cama de solteiro tinha suas vantagens, mas também as suas desvantagens. Carlinhos olhou ao redor (não antes de jogar a cabeça para trás e a fitar com os olhos semicerrados e um sorriso malicioso), e disse:

- Esse quarto na mudou quase nada desde que você era adolescente...

- Realmente não... Espere aí! Como é que você sabe disso?

Ele ficou vermelho até a raiz dos cabelos:

- Bem... Hum... É uma longa história...

- Eu tenho TODO o tempo do mundo. – Ana cruzou os braços e ficou batendo um pé, na clássica posição de “estou esperando”.

Carlinhos sentou-se na cama e, sem sombra do embaraço que sentira antes, agarrou pela cintura e a fez se sentar em seu colo, aprisionando-a com os braços.

- Já te contei que quebrei as regras e vim te ver durante aqueles oito anos, não é? – Ele começou. (2)

***

Tio José havia chegado com suas duas filhas adolescentes, e com tia Helena, que morava com eles. Ela era a irmã mais nova, apenas alguns anos mais velha que Patrícia. Quando a esposa do irmão faleceu, deixando duas filhas, de três e de cinco anos, ela não hesitou em se mudar para a casa deles e se encarregar das meninas.

O problema, na opinião de Ana, foi que o tempo fora passando e o que deveria ser temporário se tornou definitivo.

Em seguida, chegaram tia Prudência, o marido, e um dos filhos dela, Hélio. Este último era casado, e além da esposa, levou os filhos, de cinco e de sete anos. As crianças imediatamente sumiram com as outras da mesma idade, fazendo algazarra no quintal de casa.

- Nossa, faltou tanta gente este ano... – Ana comentou com o marido.

- Sabe... – Carlinhos disse, divertido – Acho que a Rowling teria um prato cheio com a sua família...

- Não fala isso nem brincando! – Ela arregalou os olhos.

Mel ficou em dúvida se juntava ao grupo de crianças no quintal, ou se continuava conversando com as primas adolescentes, de treze e quinze anos. Era estranho. Correr e se esconder não a atraía tanto como antes, mas... A conversa sobre roupas e meninos não parecia lá muito interessante também. Abria um sorriso amarelo cada vez que elas davam aqueles risinhos histéricos, realmente tentando se enturmar. Era impressionante como elas podiam manter uma conversa sem sair daqueles assuntos!

Como sentia falta da Danna... E dos meninos também, tinha que admitir. Bem, talvez um pouco menos do Hector. É, do Hector era menos!

Finalmente se cansou e foi para a cozinha, onde as mulheres estavam. Escutou um comentário sarcástico de tia Andréa sobre elas terem que se rebelar contra aquela tradição machista de se reunirem na cozinha mas, como sempre, as mulheres mais velhas não deram muita bola.

- Ah, Melzinha, minha querida – tia Prudência apertou suas bochechas de forma dolorosa. Céus, se contasse para alguém que tinha uma tia-avó que fazia isso, um clichê tão conhecido, iria parecer que ela estava inventando – Quanto tempo eu não te via – “Bobagem”, pensou Mel. Ela morava longe, não a via e a NINGUÉM fazia o mesmo tempo – Você agora está tão longe da gente...

A corvinal viu a mãe apertar a xícara de café com mais força. Tia Pru sabia como atingir o Calcanhar de Aquiles dos outros.

- Não gostaria de ficar mais perto da mamãe? – Prudência perguntou.

Aquilo não era justo, pensou Mel. Patrícia não tinha muitas opções. Mas a tia parecia achar que tinha sido uma atitude fria da mãe manda-la para a Inglaterra.

- Bem seria legal... – Ela começou, mas a tia não a deixou terminar.

- E estudar em uma escola perto de casa...

- NÃO! – Mel exclamou imediatamente, não conseguindo segurar a reação assustada.

Ana veio a seu socorro:

- Mel gosta muito de Hog... da escola na Inglaterra, tia.

- Mas ela pode gostar de uma escola aqui no Brasil. Existem escolas para superdotados por aqui também... – Era essa a história que tinham contado para o resto da família: que Mel precisava de uma escola especial.

- Nenhuma tão perto de alguém da família quanto esta – Ana rebateu pacientemente. Conhecia muito bem a tia, e o jeito de fazer a “matraca” dela fechar era falando no mesmo tom com que se fala a uma criança.

- Verdade - Agatha também se arriscou a comentar.

Foram interrompidas por uma algazarra na sala.

- O vídeo deste ano é MacGyver! – Chuca anunciou, enquanto colocava um DVD no aparelho e ligava a televisão.

Todos os anos, a família mantinha a tradição de assistir a um filme que agradasse a todos.

- Ah, EU AMO ESSE HOMEM! – Ana correu para sala.

- Como é que é? – Carlinhos cruzou os braços e ficou olhando para ela, fingindo esperar uma explicação, o que provocou risadas dos outros.

- Ah, querido... - Ana foi até ele e passou os braços ao redor do pescoço dele, apaziguadora - É o herói da minha infância, só isso. Como se ele fosse meu "alter-ego". Além disso... Ele chegou primeiro na minha vida - riu - Melhor se acostumar...

Mais risadas dos Anhaguera.

- Isso me lembra de quando a gente era pequeno, lembram? - Hélio enganchou cada um dos braços nos pescoços de Edu e Nando, na imitação de um golpe de judô - A gente fingia que estava dando uns socos nos bandidos! Ah, como é bom matar as saudades da infância!

- Hélio... - Fernando disse, quase sufocado, do mesmo jeito que Edu parecia estar. - Se você não me soltar agora é meu punho que vai matar a saudade de seu nariz...

- Ah, tá, ok... - Hélio se afastou imediatamente.

O filme começou, e logo a voz do dublador do Richard Dean Anderson, o ator que interpretava o MacGyver começou a narrar o episódio. Em determinado momento, uma personagem pergunta, cética, como é que ele planejava enganar e vencer o supercomputador que os mantinha presos em uma unidade militar de tecnologia altamente avançada.

"- Com intuição, criatividade... e coragem!" - O personagem respondera.

Foi a vez de Carlinhos dar o troco:

- Amor, parece que seu alter-ego é grifinório... - Sussurrou no ouvido de Ana, vitorioso.

Ana soltou uma gemido aborrecido (o "Mac", grifinório, capaz!), mas tinha que admitir que em muitas coisas, ele se encaixava na Casa dos leões.

Já Carlinhos, à medida que os episódios avançavam, via que tinham muito que aprender sobre os trouxas. Mesmo Ana dizendo que muito do filme era "forçado", o jeito de agir deles era bem diferente do modo de pensar dos bruxos. Ainda assim... Algo no jeito altruísta e na espontâneidade do personagem lhe lembrou um certo rapaz de óculo redondos que ele conhecia...

Uma cena onde ele usava um produto caseiro para revelar um filme fotográfico chamou a atenção de Chuca:

- Puxa! Será que dá para a gente tentar fazer isso com os negativos das fotos do último show.

- Mas eles estão na loja de revelação ainda... - Nando respondeu pacientemente.

- ´Tão não - Chuca afirmou - Peguei as fotos há dois dias...

- E só agora você me diz, cabeça de cotonete?!?

Todos observaram Fernando pular o sofá e sair correndo em direção ao quarto que estava dividindo com o amigo. Ninguém estava entendendo nada.

- Ele só arranja apelidos "legais" para mim... - Chuca resmungou, voltando a sua atenção para o filme e para a pipoca.

- Achei! – Ouviram Nando exclamar lá de dentro. – Sabia que tinha conseguido pegar ela em uma das fotos!

Ele voltou, trazendo uma fotografia nas mãos:

- É ela! A mulher que vai aos meus shows! – Declarou, mal conseguindo desgrudar o olhar da imagem.

Os Anhanguera se correram até lá, loucos para conhecer a misteriosa fã de Nando. Aglomeraram-se em volta do rapaz, enfiando os rostos em qualquer brecha de ombros ou braços que o círculo de gente proporcionava.

- Caramba!

- Minha nossa!

- Credo!

Carlinhos observava divertido as reações dos Anhanguera. Manteve-se um pouco afastado, não sentindo a mesma urgência em visualizar o rosto da mulher que intrigava tanto o “cunhado”. No entanto, ao ver as exclamações um tanto chocadas dos parentes de Ana, acabou ficando curioso. Aproximou-se com um sorriso condescendente nos lábio e, devido a sua altura, não teve dificuldades em vislumbrar a imagem da face que Nando apontava na fotografia trouxa.

A mulher estava em meio a uma multidão e seu perfil fora pego um tanto de longe. Mas Carlinhos conseguiu reconhecê-la perfeitamente.

- Ai, Mérlin! – A surpresa foi tamanha que se esqueceu de segurar a expressão tão tipicamente bruxa.

Nando olhou-o com estranheza:

- Ah, não, meu chapa! Você já tem a Ana. Essa aqui é minha!

O ruivo balançou a cabeça, atordoado. O máximo que conseguiu fazer foi sorrir, sem graça, uma vez que não conseguia encontrar nada para dizer.

- Faça-me o favor, Nando! – Bianca franziu o cenho, francamente chocada. – O Charlie deve ter é ficado horrorizado. Afinal, a moça pintou os cabelos de cor lavanda!

- E ressaltou a beleza do rosto dela, não acham? – Fernando comentou, elevado na contemplação da foto.

- Que ela é “bonitinha”, ninguém está duvidando, mas... – Déa começou, mas a frase se perdeu no meio de tantas vozes falando ao mesmo tempo, tentando expressar de uma forma “delicada” o impacto que a moça causara.

Ana ainda olhava o marido, atônica. Sabia que Carlinhos não se escandalizaria com um cabelo em cores berrantes.

- O quê...? – Questionou.

Ele a puxou para um canto mais afastado. Ainda tinha no rosto resquícios da surpresa que o tomara segundos antes.

- Ana... – olhou mais uma vez para os lados, certificando-se que não poderiam ser ouvidos. – Eu não acredito nisso, mas... Droga, depois de passar sete anos em Hogwarts com a Tonks não há como alguém se enganar...

- Carlinhos, você está me assustando!

- A moça da foto...

- Sim?

- É Myra Wagtail – ele esperou que Ana reconhecesse o nome, mas como isso não aconteceu, acrescentou – Wagtail, como em Myron Wagtail, o vocalista das “Esquisitonas”. Ela é irmã dele.

***

Ana andava de um lado para o outro no quintal (agora vazio, pois até as crianças tinham corrido para ver a "namorada" do tio Nando), enquanto Carlinhos estava sentado em uma dos bancos, calado e pensativo.

- Ai, Mérlin! Ai, Merlin! - Ela não parava de dizer. - Você tem certeza disso?

- Claro. Ela e a Tonks são amigas... Até pensei que soubesse disso. As duas são metamorfomagas.

- O cabelo lavanda... - Ana se lembrou, em um gemido.

- Isso mesmo.

- Carlinhos, meu primo está encantado com essa moça... Você não acha que ela fez um... - Ela não conseguiu completar.

- Um feitiço? - O ruivo perguntou, alarmado. - Não! Isso seria... Uma acusação muito séria, Ana. Ainda mais sendo ele um trouxa. Não acredito que ela faria algo assim.

- É, talvez você tenha razão, mas... Não acha melhor ficarmos de olho?

- Como? Moramos tão longe, e tem tanta coisa acontecendo...

- É, eu sei... Mas realmente estou preocupada, amor. - Ana caminhou até ele, que circundou sua cintura com os braços, confortando-a.

- Vamos pedir para a Tonks falar com ela. É o melhor que temos a fazer. - Carlinhos sugeriu.

- Certo. - Concordou. - No entanto, ainda assim não estou satisfeita.

- O quê tem em mente? - Ele perguntou.

Ela olhou para os sobrinhos, que estavam ocupados discutindo "a novidade" com os demais.

- Precisamos de um espião.

- Ana... Não sei se...

- Não vou mandar ele fazer nada demais, Carlinhos. Só vai me manter informada...

Antes que o ruivo tivesse tempo para retrucar, ela chamou:

- Mel, Lipe!

As duas crianças atenderam o chamado, um tanto relutantes em deixar a sala.

- Mel, seu tio Carlinhos e eu precisamos que você ensine o Lipe a usar o espelho de duas faces.

- Por quê? - A menina estranhou.

Eles contaram a história toda. Felipe deixou o queixo cair, estarrecido. Mel tampou rápido a boca com uma das mãos, impedindo que uma exclamação saísse dela.

- Nando vai ficar alguns meses na região, fazendo shows, Lipe - Ana se abaixou para ficar na altura do menino. - Preciso que você me conte tudo o que ouvir sobre essa mulher, certo?

Após alguns segundos em que o menino a fitou mudo e com os olhos muito arregalados, ele finalmente respondeu:

- ISSO! YES! Finalmente! - E começou a fazer uma dancinha animada.

- Lipe... - Ana achou melhor alertar. - Isso não é uma aventura. Não banque o espião, viu, mocinho. Só quero que fique atento.

- Acha que ela pode estar enfeitiçando o tio Nando? - Mel perguntou, preocupada. Como sempre, a menina teve o raciocínio rápido e entendeu as apreensões dos adultos.

- É pouco provável... - Carlinhos disse.

- Isso mesmo. É só uma precaução, Mel. Nós vamos esclarecer isso tudo, mas... Estamos um tanto ocupados... Não sei quando vamos poder resolver esta questão.

Mel limitou-se a assentir com um gesto de cabeça. Sabia muito bem o que estava preocupando os adultos da Ordem da Fênix, mas não podia dizer isso.

- Vem, Lipe. - Ela foi conduzinho o irmão para o quarto de Ana. - Eu finalmente descobri como funcionava aquele espelho que o Sirius Black deu para o Harry. Vou te mostrar como usar.

- Jura?!? - O menino estava encantado. - Como é... - E as vozes deles se perderam no corredor.

- De todas as pessoas do mundo... - Ana começou a falar, exasperada. - De todos os lugares... Ela tinha que vir parar aqui, e logo com o meu primo?

- O Destino tem senso de humor. - Carlinhos a abraçou, e os dois começaram a rir da situação.

Após alguns minutos, eles tinham voltado para a sala, juntando-se aos demais. Os sobrinhos de Ana ainda não tinham voltado. E quando o fizeram, Mel tinha uma estranaha expressão animada no rosto, como se tivesse acabado de saber uma grande novidade e estivesse louca para contar.

- Seu... "celular" tocou, tia Ana. É o Rony.

- Meu o q... Ah! Meu celular, é claro... Vem, querido, seu irmão deve estar querendo falar com nós dois.

Eles seguiram para o quarto, onde Lipe fazia grandes gestos diante do espelho de mão que Ana trouxera, animado.

- Ah, eles chegaram! - O menino avisou, saindo da frente para que o casal se pusesse na linha de visão das pessoas do outro lado do espelho.

- Rony, aconteceu algo? - Carlinhos perguntou, preocupado.

- Aconteceu... - Rony respondeu e em seguida Hermione apareceu atrás dele também.

- Vocês nem imaginam... - Ela disse - Acho melhor voltarem logo.

***

Depois de se despedirem de Rony e Hermione, Carlinhos e Ana ficaram se olhando, sem reação. Até que Carlinhos comentou:

- O que está havendo com o mundo, afinal? Parece que as coisas resolveram acontecer de uma vez só!

Suspirando profundamente, e de jeito muito decepcionado, ela só conseguiu dizer:

- Eu não acredito que perdi isso!

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NOTAS
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(1) Harry Potter e o Retorno das Trevas, da Sally Owens
(2) Querem saber mais? Leiam a short fic “O Interregno”.

***
(N/A): Não me batam! Quase morri para terminar este capítulo, e meu tempo no pc está acabando. Não dá tempo para fazer grandes comentários, então... Minha nossa, tive uma crise de criatividade e ainda acho que teria sido melhor apagar o capítulo inteiro e começar tudo de novo...

Gostei de fazer: a descoberta da identidade da fã do Nando!

Minha dó neste capítulo: não consegui fazer nenhuma cena H/G, R/Hr, ou dos Marotinhos! Snif!

O resto... Eu nem comento com medo de entregar alguma coisa!

Comentários individuais:


Ana Locks: Sei como é. Eu também não fiquei muito feliz em escrever o antepenúltimo capítulo (rsssssss). A explicação da idade do Hector está no fato de que ele é adotado, Ana. Ah, eu não posso contar, assim, quem é a garota, hehehe. Beijos tb!

Lize Lupin: Ô, Lize, desculpe! Eu sabia que estava deixando alguém de fora. Mas é que eu me confundi com os comentários. Espero me redimir nesse! Também foi um alívio para mim a Ana e o Carlinhos se acertarem. Não aguentava mais ela tristonha e reclamando de tudo, dentro da minha cabeça. Sério, parecia uma madalena arrependida, tava me deixando doida! *Belzinha surtou de novo*. Eu tentei imaginar o Harry, mais velho, e ainda totalmente apaixonado pela Gina... Que imaginar que nada! Saiu tudo da fic maravilhosa da Sally Owens! Hehehe! Esse momento Harry/Gina, então, foi mérito dela! Quanto ao protesto dos tacanhos... Bem, eu estou tentando que vire moda, mesmo, hehehe!

Mimi Potter: Não tem jeito, né, Mimi? O Harry, mesmo em pânico, é uma gracinha! Como diria a Ana: FOFO!

Regina McGonagall: Hahahahahaa! Regina, eu quase morri de rir do seu comentário! Um computador que ameaça explodir é realmente coisa séria! Puxa, obrigada mesmo, Regina! Ah, mas eu já vi a foto inspiradora. Imaginar ela com o cabelo preto cumprido, meio avermelhado e com sardas no rost... Ops! Quase que agora fui eu que fiz spoiler da minha própria fic! Que bom que ainda consigo te surpreender! Fiquei muito feliz com o seu comentário! (agora eu quero ver como é que eu vou tirar esse sorriso da cara, hehehe!).

carlapiks: Uma dica: não se preocupe tanto com o quê o objeto faz, mas com quem era o dono dele (ooooooooooooh! hihihhi!). Eu sei como é ruim esperar capítulo novo mas, acredite, é mais angustiante ainda não conseguir fechar uma idéia para um capítulo! (Heheeheh!).

Charlotte Ravenclaw: É, "Lottie", como diria vc mesma: "Por Ravenclaw!" (hihhihi). Olha, é mistério demais, e tudo muito ligado com este e com os demais segredos dos outros fundadores para que eu possa comentar qualquer uma das questões que você falou sem revelar demais... (Você me pôs contra a parede agora, hehehe). Ah, para a minha própria paz de espírito, Ana e Carlinhos juntos é o melhor. A Ana tava me deixando louca, suspirando e lamentando pelos cantos da minha mente... (ih, pirei de vez agora!).

Priscila: A menina misteriosa foi um presente da Regina McGonagall... E vai continuar um mistério por enquanto, hehe. Sim, vingança dos trouxas! Opa! Fofura é comigo e com a Ana mesmo! Hihhihi. Menina, esquenta não! Até eu me confundo! AI, É muito mistério na minha cabeça... Esses fundadores eram pessoas cheias de segredos, viu? Buáaaaaaaaaa!

Kika: Ah, vocês só me fazem perguntas difíceis! Hihihi! Não posso responder, isso, Kika! É parte do mistério! Umas coisas estão interligadas, outras não. É tudo o que posso dizer. Algumas, até mesmo com os segredos dos outros fundadores. Mas não posso dizer nada, senão... Baubau surpresa. Se bem que tem umas coisas que estão bem óbvias...hihihi. Amiga: e "TROUXA" não é ofensivo? Hhahahahahaha! Menina, acho que vai acontecer com o Hector e com o Lipe o mesmo que aconteceu com o Carlinhos: a gente vai ter que entrar na fila! Hehehehe! Beijos!

Remulu black: Obrigada! *ficando vermelha* O que o medalhão faz? Er, bem... *silêncio* Heheheh! Ah, tenha dó é de mim quando esses dois estão separados! A Ana choramingando na minha cabeça e o Carlinhos de mal comigo, ninguém merece! *Belzinha tá precisando tomar seu remedinho para os miolos, heheheeh*. Ah, a menina é parte de uma história maravilhosa... (é o máximo que posso contar).

Bernardo: Você quase que atrasou a postagem desse capítulo. Isso mesmo, VOCÊ! Foi postar bem quando eu estava escrevendo... Tive que usar toda a minha força de vontade para não parar e ir correndo ler seu capítulo novo! Hehehe! Obrigada por comentar, viu?

Bruninha: Hahaha! Seu comentário pedindo atualização é maior que o primeiro, sobre o capítulo! Isso que é desespero! Huahahahaha! Que bom que gostou. Sobre a menina... Gente, não posso dizer. Mas vocês são pessoas inteligentes, pegam as pistas rápido (é o máximo que posso dizer). Em meu nome e no da Sally agradeço do fundo do coração os elogios! Beijinhos!

Gina W.Potter: Eu também amoooooooo H/G. Não deu para postar nenhum momento desses neste capítulo, mas é porque o próximo é de deixar qualquer fã H/G de boca aberta! (Ops, deixei escapar! Eu e a minha boca grande!).

Sally Owens: Passa as mãos a ferro não! Pelo amor de Deus! Como é que você vai poder continuar escrevendo a sua fic maravilhosa se fizer isso? O que vai ser de mim, nesse caso? Hhihihihi! Desculpar vc pelo monte de palpites? Ficou maluca? Eu tenho é que começar a te pagar por eles! Hihhihihi! Sei, sei... Você não concorda com a tia Bianca, eu sei! *Belzinha revira os olhos*. Hehehehe!

Morgana Black: Parem com isso você e a Sally! *Belzinha muito brava e quase tendo um chilique* Nenhuma das duas pode se machucar e ficar sem escrever, entenderam? EU PROÍBO! O que será de mim se isso acontecer? Não, não, não e não! Ponto final! Ah, finalmente! Está indo certo nessa sia hipótese, Morg. Perguntas, perguntas! Eu não posso responder! Hhihihi.

Leo Potter: Puxa, que bom que gostou do Segredo de Sonserina e a ponto de ler esta continuação, Leo! Que bom que a Sally e eu estamos conseguindo dar visões difenrentes, complementando as histórias. (É muuuuuuito tempo no MSN trocando figurinhas, viu? Hehehe).

Grazy DSM: Ai, meus sais! Hihihihi. O leitor é quem manda, Grazy! Você escolhe a "sua" Ana. Eu empresto o meu rosto para vc, pronto!

Tícia: Aaaaaaaaaaah! *Grito satisfeito* Você ainda está aí! *Dacinha feliz* Bem, agora você tem uma "colega" na fic, viu? Hihihihi. Obrigada por continuar acompanhando.

Carline Potter: Por Merlin, Carline! Que senhor comentário! Hihihi! Começando: para o Fire, eu já retornei. É, vamos ver para onde a brincadeira de roleta russa que a JK gosta tanto de fazer vai apontar agora... Quem será a próxima vítima? Ah, se vc está gostando do Snape agora, imagina quando souber do que estamos "armando" para ele... Ana/Carlinhos: sem dúvida! A reconciliação é a melhor parte. (Ui, abana! Como diria a Sally...). A menina que apareceu... *Belzinha fecha a boca com um zipper para não falar demais*. Tá: uam dica. Acho que o santo protetor dessa menina é Santa Marta. Ou São Jorge. Vê o que consegue descobrir com isso. Carlinhos com um bebê: *suspiros*. Ah, o "Paciente Ingles", da Regina, é muito bom mesmo! Grande mistério da humanidade, amiga: "por que os homens nunca esquecem a cerveja?" Hahahaah! Tacanhos: VINGANÇA! Hihhihihi. Beijinhos!


Gente... Não deu para responder direito os comentário (tá tarde e mammy tá aporrinhando para eu ir dormir...). Adoro vocês, viu? Beijos!

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