Mais Um Casamento



Os meses passaram, e maio chegou mais rápido do que esperavam. A verdade é que a verdadeira pilha de coisas que tinham a fazer preencheu o tempo de tal forma que nem perceberam o que os tinha atingido.

Foi uma seqüência louca de idas e vindas Brasília/Londres. O Departamento de Aurores testou de todas as formas possíveis a extensão dos conhecimentos que ela recebera do bracelete de Helga Hufflepuff.* Harry e Rony eram Aurores já a algum tempo, e lhe deram apoio. Um dia, depois de um teste prático especialmente difícil, Harry lhe perguntou como estava. Ana respondeu que se sentia como se fosse uma X-Men, e tivesse acabado de sair de um treino com o Logan.

Evidentemente, os bruxos não entenderam nada.

Havia momentos, quando ela estava com todos eles, Harry, Hermione, Gina, Rony, os gêmeos... - enfim, observando como estavam tão bem, anos após todo aquele pesadelo - Que sentia as lágrimas teimosas querendo escapar de seus olhos.

Aliás, quando os reencontrara, tinha sido impossível segurar o choro. Rindo e soluçando ao mesmo tempo, fazia comentários extasiados de como tinham crescido, sobre as mudanças que percebia nos amigos. Rony e Harry estavam mais altos, a constituição desenvolvida. O ruivo tinha alcançado a altura de Carlinhos, embora menos “largo” do que ele. Hermione e Gina já eram mulheres, ainda mais bonitas do que quando eram adolescentes. E Mione contava com o brilho a mais de ser mãe do pequeno Sirius: o bebê ruivo mais fofo do mundo, na opinião de Ana.

Mas, o tempo passara rápido entre tantas mudanças. Uma bela manhã, Ana acordou e descobriu que faltava apenas uma semana para o seu casamento!

Por ela e por Carlinhos, teriam se casado mais cedo. Mas tia Bianca dissera que iria ser impossível fazer um casamento no tempo que eles queriam. Como último recurso, Ana ainda tentara argumentar que desejava fazer uma cerimônia simples. Só tentou. Porque imediatamente Bianca levantara as sobrancelhas, incrédula, e disse: “Simples? Com a quantidade de pessoas que tem em nossa família? A menos, é claro, que queria deixar gente de fora, então...”.

Ana sacudiu a cabeça negativamente, os olhos arregalados. Definitivamente, deixar gente de fora era o mesmo que declarar a Terceira Guerra Mundial. Era só colocar um nome na lista, começando com os mais chegados, que em breve se descobriria que não havia como convidar este e deixar de convidar aquele, e aquele faria com que se convidasse aquele outro... Ela explicara para Carlinhos que famílias latinas são temperamentais e muito agarradas. Consideram que certas ocasiões são uma espécie de “memória afetiva coletiva”. Não convidar alguém é que como excluí-lo da família, causando a pior das mágoas.

Agora estava na casa dos tios em Santa Catarina, onde moraria até que o casamento se realizasse. Desligara-se da ABIN – não sem certa dificuldade, já que realmente gostava do trabalho – e se dedicara à transição para o novo emprego e aos preparativos para o casamento.

No entanto, naquele exato momento, estava totalmente atrasada. Os Weasleys chegariam hoje, e ela tinha que “busca-los no aeroporto”. Felizmente os tios não insistiram em ir com ela. A Divina Providência tinha sido muito generosa ao deixar os seus parentes tão ocupados com o casamento que não tinham mais tanta disposição para serem insistentes como antes.

Na realidade, não havia aeroporto. A chave de portal que usariam os levaria até um descampado deserto. O lugar era de difícil acesso, e o Ministério da Magia do Brasil o usava para esta finalidade – com o devido feitiço anti-trouxas o envolvendo, é claro.

Terminou de tomar o café correndo, mesmo sob os protestos de Bianca de que ela não havia comido nada. A tia ainda a recordou que as amigas de Brasília chegariam em três dias, e ela, naquele frenesi todo se lembrou de outros amigos.

- Tia, a senhora lembrou de convidar a Kika e a Morgana, né? – a um gesto de afirmação da tia, recomeçou: - Que bom! E a Drusilla? Ela não pode faltar! –outro gesto de afirmação da tia. – E a Bruninha? E o Jaja? E a Regina? Céus! Foi enviado um convite para a Darla? E a Sally? Tia, se a Sally Owens não recebeu o convite eu nunca vou me perdoar!

- Convidei sim, Ana, acalme-se! Todos eles confirmaram a presença. Só não sei como tanta gente de tantos lugares diferentes do país vai conseguir vir ao casamento.

- Tia, eles devem estar determinados a vir, acredite! – ela fez uma expressão cômica de receio: - Especialmente depois de terem lido o nome do noivo no convite...

- Realmente... – Bianca franziu a testa, intrigada. – Alguns deles me perguntaram, quando ligaram para confirmar a presença, se se tratava de alguma brincadeira. Ana, por que...

- Tenho que ir tia! Tô atrasada! Fui!

Ana tivera a presença de espírito de dizer à tia que a quantidade de pessoas a vir ao casamento não era razão para adotarem formalidades. Por isso, os convites foram enviados em nome apenas dos noivos. Com sorte – que até agora estavam tendo – apenas os mais aficionados pela série Harry Potter iriam prestar atenção no nome “Charles Weasley”. No entanto, se houvesse um “Arthur e Molly Weasley tem o prazer de convidar para o casamento de seu filho...”, daí seria se arriscar demais!

E, é claro, pedira à Bianca que deixasse tia Agatha endereçar e enviar os convites das pessoas que moravam no Reino Unido, pois estava mais “acostumada” aos nomes e formas de endereçamento de lá. Bianca não gostou de dividir as tarefas com a outra (tinham uma implicância mútua desde que Ana se entendia por gente), mas ela acabou cedendo aos argumentos e deixou Agatha se encarregar dos detalhes com os convidados estrangeiros.

Foi um alívio para as bruxas, aliás. Já pensou? Tia Bianca percebendo que havia um tal “Harry Potter” na lista de convidados de Ana? Ela iria pensar que a sobrinha tinha enlouquecido!

Ao abrir a porta do carro, deu de cara com os sobrinhos, sentados muito tranquilamente no banco traseiro do carro e já com os cintos de segurança posicionados.

- Não esperava que a gente fosse ficar quietinho, aguardando conhecer nossos personagens favoritos junto com os outros, esperava? – Mel sorriu inocentemente para Ana.

- Gente... – ela suspirou, buscando um jeito de convencê-los a sair do carro, mas mudou de idéia: – Tudo bem, é melhor que a primeira reação de vocês seja longe de todo mundo mesmo. Mas quero que se lembrem de uma coisa: eles não são personagens. São gente de verdade, por isso maneirem na tietagem, ouviram?

Ela sentou no banco do motorista, sentindo seu rosto ficar em brasa de tanta vergonha, diante da lembrança da sua própria reação de fã quando conhecera a família Weasley. E não era somente o caso de ser fã: os livros revelavam muitas coisas sobre as vidas deles e, quando percebera, já tinha feito comentários sobre o passado deles. Ainda tinha certas recaídas, aliás. Como tivera coragem de dar conselhos aos sobrinhos?

Dirigiu por vinte minutos, até que a paisagem urbana os abandonou, dando lugar a uma visão cheia de vales e montanhas. Havia grandes pedras incrustadas no chão verdejante, do alto das colinas até o sopé: herança dos milhares de séculos de erosão que a região tinha sofrido. Para Ana, era uma paisagem de sonhos.

Estacionou o carro em um rancho com aparência abandonada, exatamente como o Ministério havia descrito. Descendo do carro com as crianças, caminhou até um velhinho que estava sentado em um tronco de arvore caído. Ele tinha um chapéu de palha na cabeça e uma folha de capim pendendo no canto da boca.

- Er... Com licença, senhor. O senhor é Roberval de Freitas?

- Sim. Sou eu.

- Ah, que bom! O Ministério disse que falasse com o senhor.

- Hum. São bruxos, então. – ele pareceu aliviado. – Primeira vez por aqui?

- Sim. – Ana iria deixá-lo pensar que as crianças também eram, mas se lembrou do feitiço anti-trouxas. – Quer dizer... Eles não são. – e apressou-se a explicar: - São meus sobrinhos, mas sabem de tudo. O Ministério aprovou que tivessem conhecimento.

- Tudo bem, moça. Se aparatarem com um bruxo, não vão ter problemas para atravessar o feitiço. É só aparatar a uns seiscentos metros para dentro da mata – ele apontou para algum lugar ao norte. – Lá tem uma clareira. É aonde as pessoas chegam. – ele se inclinou para frente, olhou para os lados, e cochichou: - Escute, tem um figuraço chegando por aqui hoje. Mas não conte para ninguém. Só estou avisando porque vocês podem reconhecê-lo e o Ministério já me mandou uma coruja com determinações muito claras para não deixar isso vazar. Sabe como o Ministério pode complicar a vida de quem o desobedece, não é?

- Por acaso seria o Harry Potter? – Lipe comentou e Ana sorriu diante do arregalar de olhos do ancião.

- Como sabe disso? – ele estreitou os olhos: - Não são repórteres enxeridos, são?

- Não, senhor. – Ana apressou-se a explicar. – Ele vem para o meu casamento. Aliás, é a família do meu noivo que está chegando.

- Curupiras endoidecidos! – ele sorriu, empolgado. – E o que estão esperando? Vão, vão!

Ana deu instruções para os sobrinhos segurarem em seus braços, e aparatou com eles até a clareira indicada por Roberval. Aparatar deixava uma sensação desagradável, como toda forma de viajar dos bruxos. No entanto, Ana achava o máximo aquilo! E sua empolgação foi acompanhada pelos sobrinhos, lógico (depois que eles abandonaram aquela expressão de quem estava com vontade de vomitar).

- Quando eles vão chegar, tia? – Mel perguntou olhando ao redor.

- Em... – Ana fitou o relógio de pulso. – Cinco, quatro, três, dois, um... Agora!

Ouviu-se um som alto, como o de um trovão. Em seguida, uma nuvem tomou a forma de um cone. Então, três corpos caíram, chocando-se desajeitadamente contra o chão. Outras cinco pessoas desceram, mas elas o fizeram suavemente.

- Querrida, tudo bem com focê? – Fleur acudiu a filha de cinco anos, Chantal. A loirinha sorriu afirmativamente para a mãe, ainda atordoada.

- Eeeeei! – Ana gritou e acenou para eles a fim de ser vista. – Aqui!

Os visitantes começaram a caminhar até eles. Ana correu até Carlinhos, praticamente pulando sobre ele quando o abraçou:

- Amor! Não sabia que viria junto! Como estão as coisas na reserva em Gales? Olá, senhor e senhora Weasley! Fleur, Gui! Olá, Chantal!

- Tudo certo. As coisas se resolveram antes do esperado, e então vim junto.

- Hum-Hum! – duas vozinhas pigarrearam, chamando a atenção.

- Ah! – Ana exclamou, sorrindo. – Senhor e senhora Weasley, estes são meus sobrinhos: - Mel e Felipe.

- O-oi! – as crianças disseram ao mesmo tempo, tentando parecerem naturais.

- Olá! É um prazer conhece-los! – o senhor Weasley cumprimentou, com aquela costumeira animação. – Sua tia fala muito de vocês.

- Como vão queridos? – a senhora Weasley passou a mão pelos cabelos das crianças. – Oh, são tão bonitos! – ela comentou para Ana. Depois perguntou para os garotos: – Estão com fome? Eu tenho uns biscoitos na bolsa, se quiserem, viu?

Mel e Felipe abriram um sorriso, diante do comentário tipicamente “senhora Weasley”. Maravilhados, acenaram afirmativamente.

Eles foram apresentados também à Gui, Fleur e Chantal (cuja existência provocou exclamações entusiasmadas, deixando a menininha com a sensação que era uma “superstar”). Mel não parava de falar sobre o torneio tribruxo com Fleur e tudo o que Lipe parecia conhecer no mundo dizia respeito a como Gui fora corajoso ao enfrentar Greyback.

Então, gemidos baixinhos os fizeram olhar para um local a uns dez metros dali.

- Merlim! Eles já deviam ter se acostumado com uma chave de portal de grande potência depois de todos estes anos! – o senhor Weasley disse em tom de desaprovação.

Duas pessoas começaram a se levantar, parecendo bem doloridas. Ana observou que, pelo olhar arregalado das crianças, elas já tinham identificado a dupla. Quando o casal chegou perto do grupo, ela os abraçou afetuosamente e os introduziu também aos garotos:

- Crianças, estes são Harry e Gina Potter. Harry, Gina... Estes são meus sobrinhos, Mel e Felipe Warmlling.

Dez segundos inteiros se passaram antes que os garotos conseguissem exibir alguma reação:

- Crianças... – Ana alertou-as.

- Oi, Harry! – Lipe disse. Levando um cutucão da irmã, ele se corrigiu: - Quer dizer... Senhor Potter!

- Pode me chamar de Harry. – ele ajeitou os óculos redondos, sorriu, e em seguida apertou a mão de Felipe.

- Desculpem nosso jeito, é que... – Mel olhava de Gina para Harry, sem fôlego. – Nós sabemos tanto sobre vocês... Quer dizer...

- Nós entendemos, não se preocupe, Mel. – Gina sorriu.

- Nooooosa... – Mel abriu um pequeno sorriso nervoso, ainda não acreditando. – Gina Weasley!

- Bem, é “Potter” agora. – Gina corrigiu, piscando de um jeito cúmplice.

- Ah, claro! – a menina deu um risinho mais nervoso ainda. – Isso foi um alívio, sabe? Eu não gostava da Cho Chang! – ela completou, provocando risos sufocados dos presentes.

- MEL! – Ana a repreendeu. – Desculpe, Gina, mas ela é sua fã. Por ela, a série se chamaria “Gina Weasley”. Mas, mudando de assunto... Onde estão os outros?

- Ah, já devem estar chegando! - Gina respondeu. - A chave de portal deles é mais lenta por causa dos bebês, sabe?

- Bebês? – Mel olhou para a tia, questionadora.

Ana não teve tempo de responder. Outro cone se formou naquele momento, e dele saíram mais seis pessoas. Três homens ruivos com “mochilas” nas costas e três mulheres. Ao se aproximarem do grupo, eles perceberam que as “mochilas” eram bebês em canguruzinhos. Eles também foram saudados com festa por Ana, e os bebês mais ainda.

Ela apresentou Fred e Jorge, as respectivas esposas deles e os bebês. As crianças começaram a rir só de ver os gêmeos, certamente lembrando-se de tudo o que eles tinham aprontado. Em seguida foi a vez de Rony e Hermione, esta última agora mais uma senhora Weasley.

- Sirius? – Mel dissera, encantada. – O Rony e a Hermione tem um filho chamado Sirius! Isso não é demais, tia?

- É sim, querida. – Ana riu do entusiasmo da menina.

- Posso segurar? Por favor, por favor! – a menina pedia, e Rony foi obrigado a ceder àquele rostinho de boneca que olhava seu filho com adoração, pondo o bebê nos braços da menina.

- Eu morri e fui para o céu! – Felipe exclamara, olhando todos ao redor, enquanto brincava com os bebês dos gêmeos.

- Que nada, amiguinho! - Fred dissera.

- Você está bem vivo! - Jorge completou. - Quer uma goma de mascar da Gemialidades Weasley?

Felipe parou de sorrir:

- Eu sou um trouxa, mas não sou burro! Humpf! Eu, comer algo preparado pelos gêmeos Weasley! Ainda não fiquei maluco!

- Esses livros da Rowling estão acabando com o nosso elemento surpresa, Fred!

- Ainda bem que eles são proibidos no Mundo Bruxo, maninho! - concordou Fred.

- Eles são tão... Fofinhos! - Mel exclamara, olhando para os bebês.

- Ah, a fofura ataca novamente! - Rony provocou. - Definitivamente, ela é sobrinha da Ana!

Ana revirou os olhos e disse que era melhor todos irem, agora que não estava faltando mais ninguém. Mas Mel contou nos dedos, constatando que só havia seis "garotos" Weasley ali. O senhor Weasley explicou que Percy só viria na véspera do casamento, com a esposa.

- Imagine se a mulher dele iria perder o casamento! Não por ser um da família Weasley, mas por ser o de uma Smith! - Jorge comentou, olhando para Ana.

As crianças se olharam, sorrindo. Percy ainda era a pedra no sapato dos Weasleys. Nem a guerra tinha mudado isso! Mas Ana não deu muita importância, já acostumada às alfinetadas que os cunhados davam no irmão, que se casara com uma mulher que era uma versão bruxa de uma socialite. Sabendo como estes comentários deixavam a senhora Weasley triste, ela apressou o grupo. Felizmente, Hermione lançou um olhar mortal aos gêmeos, que se calaram.

Aparataram de volta ao local onde Ana tinha deixado o carro. Roberval se aproximou, correndo, com uma chave de carro nas mãos:

- Esta é a chave da minivã que o Ministério deixou à disposição, senhorita. - ele entregou a chave à Ana e, com um movimento de varinha, descobriu o veículo, que estava debaixo de uma lona.

- Ah, mas... Eu estava pensando em enfeitiçar o interior do meu carro...

- Como o senhor Weasley fez com o Ford Anglia? - Felipe comentou, empolgado.

Arthur sorria satisfeito e orgulhoso para o menino, até que notou o olhar da esposa sobre ele:

- Enfeitiçado? Quer dizer que o espaço amplo não era coisa dos trouxas? Arthur, você jurou que ia parar de enfeitiçar artefatos trouxas...

- Parabéns, amiguinho! - Fred riu, divertido. - Esse ERA o segredo mais bem guardado do papai há mais de dez anos!

Lipe se encolheu, enquanto lançava um olhar de desculpas ao senhor Weasley. Este, por sua vez, fez um gesto de "tudo bem" para o garoto e se apressou a entrar no veículo antes de ter que responder aos questionamentos da esposa.

- Bem... - Ana disse. - É melhor mesmo termos um carro à disposição de vocês, já que vamos ter que fingir que são trouxas não poderão ir e vir aparatando, não é?

Voltaram para a casa dos tios de Ana nos dois carros. Jorge dirigia a vã (depois dela ter feito mil recomendações a respeito dele não a perder de vista e de se lembrar, pelo amor de Merlim, que no Brasil se dirigia pelo lado direito). Milagrosamente, chegaram todos sãos e salvos.

Ana notou, com prazer, que o carro de um outro tio seu, José, estava estacionado em frente de casa... E coberto de lama, como sempre. Seu tio era o mais novo dos irmãos, tendo nascido depois do pai de Ana. Ele gostava de fazer trilhas e, evidentemente, tinha voltado de uma.

- O que está escrito no vidro? - Fred perguntou, ao ver algo escrito à dedo entre a poeira acumulada no vidro traseiro.

Ana franziu o nariz, e respondeu, traduzindo a frase para o inglês:

- "Lave-me".

Os gêmeos se olharam e riram:

- Já vi que vou adorar este país, Jorge! - Fred dissera.

***

Os Weasleys já tinham sido levados para o hotel bruxo onde ficariam hospedados. A família de Ana e os Weasleys tinham se dado muito bem, a maioria das vezes se comunicando por gestos, é claro. Tia Bianca tinha se encantado com Fleur, e dizia que finalmente tinha alguém para treinar o seu francês.

O único incidente tinha sido quando as crianças estavam assistindo televisão na sala, e Harry, Gina e ela estavam conversando por perto. Como que por inspiração divina ela tinha olhado para a tela da TV e reconhecera aquele episódio em específico de "Jimmy Nêutron, O Menino Gênio". Harry olhou para a tela, ao mesmo tempo que as crianças tentavam achar o controle remoto a todo o custo, sem sucesso.

Na tela, o cachorro-robô do personagem principal acabara de engolir o chiclete de livros. Ana entendera o empenho dos meninos em parar o DVD que viam com Chantal, mas já era tarde demais. O cachorro já dizia:

- "Harry, você é um bruxo".

Do jeito que os bruxos adultos pararam, olhando preocupados para Harry, Ana deu graças a Deus por nenhum dos seus parentes trouxas estarem por perto. No entanto, após um momento surpreso, Harry começou a rir, mostrando que aquilo não o tinha o perturbado.

Agora, três dias depois, estava sozinha em casa com as com as três melhores amigas, Débora, Luíza e Carolina, que tinham chegado naquela tarde. As garotas seriam suas madrinhas e agora estavam pondo a conversa em dia, pois não as via há dois meses, quando se desligara da ABIN e voltou a Santa Catarina.

- Ai, Ana, deixa eu te dizer uma coisa: que MA-RA-VI-LHA de noivo! – Carol comentou, empolgada. Elas o tinham conhecido ainda em Brasília, mas o reviram no aeroporto, quando ela fora buscá-las. - Não, sério, eu estou de queixo caído até agora! Ele tem irmãos, né?

Ela riu do jeito da amiga:

- Tem sim: cinco irmãos...

- YES! – Carol e Déb comemoraram.

- ...todos casados. – ela acrescentou, não contendo um certo divertimento frente ao leve desapontamento das amigas:

- Ana! – Déb a censurou: - Você pegou o último biscoitinho do pacote?

Desta vez Ana riu com vontade:

- Receio que sim... - mas logo mudou de assunto: - Então Lu? Como vão os preparativos para as suas merecidas férias?

- Ah, está tudo certo. Aquela mocinha do Departamento Pessoal é muito gentil, ela foi bem prestativa comigo nas últimas duas semanas com a papelada toda... – Lu parou subitamente, franzindo o cenho: - Como é mesmo o nome dela? Er... Amanda... Não, Suellen... Não, não: Carla. – ela levantou o queixo, tentando não dar importância ao assunto e não parecer desapontada por não se lembrar: - Bem... Um destes três, com certeza!

- Puxa, Lu, ainda bem que são nomes tão parecidinhos, né? Isso facilita muito! – Déb não perdeu a oportunidade de pegar no pé da garota.

Luíza não fez mais do que um revirar de olhos impaciente diante dos risinhos das amigas.

A garota não era exatamente comum. Luíza tinha uma memória fotográfica incrível. Lembrava de tudo o que lia, o que a tornava uma ferramenta fantástica para a ABIN. No entanto, a mesma mente que captava e processava milhares de informações diferentes não conseguia se prender a detalhes “menores”. Sua atenção era, predominantemente, visual. Se estava escrito, ela lembrava. No entanto, o nome da pessoa com quem tratou nas últimas duas semanas, por exemplo...

Esta particularidade já tinha metido Luíza em situações embaraçosas, o que não ajudava no jeito estabanado e às vezes tímido dela. Com as amigas, soltava-se mais, e os laços que criara com elas eram tão fortes que não ligava que uma delas implicasse com ela, pois sabia que os comentários eram despidos de maldade: tinham aquelas pinceladas de liberdade que só se vê entre as pessoas mais íntimas.

A campainha tocou e Luíza se prontificou a atender. Ela espiou pelo olho-mágico, dando um grito abafado e um pulinho para trás:

- Ana, por acaso algum irmão do seu noivo é loiro? – a voz da garota estava tão perplexa que saiu quase em um sussurro.

- Não... – Ana estranhou o jeito da amiga. – Os Weasleys são todos ruivos. – ela escutou um suspiro aliviado de Luíza. – Mas, os Smiths são loiros.

- Smith! – ela disse em um novo grito estrangulado enquanto a campainha tocava novamente, de um jeito que demonstrava que a pessoa lá fora estava ficando impaciente. – Eu sabia que conhecia este nome de algum lugar! Sua carteira de identidade! É um dos sobrenomes de sua mãe!

Ana se levantou, visivelmente preocupada:

- Lu, pelo amor de Mér... De Deus, o que está acontecendo? Por que não abre esta porta de uma vez?

- Er... Posso me esconder no seu quarto? – Lu realmente parecia com vontade de desaparecer dali.

- Ana? Tia Agatha? Tem alguém aí? – escutou-se uma voz conhecida para Ana.

- Zach? – agora Ana estava cada vez mais confusa, enquanto olhava interrogativamente para a amiga.

- É que eu e seu... Primo? – diante de um gesto de confirmação da amiga, continuou: - Seu primo e eu tivemos um... “pequeno desentendimento” no aeroporto. Ana, pelo amor de Deus, depois eu explico! Tem algum lugar onde posso me esconder ou não?

Ana arregalou os olhos, surpresa. Recuperando-se, balançou a cabeça negativamente e disse:

- Francamente, Lu! Pare de se comportar como uma criança. Não pode ter sido tão grave assim. – afastou a amiga da porta, e abriu-a ela mesma:

- Zach! – ela sorriu ao ver o primo e o abraçou.

- Ana! Ainda bem! – ele estava visivelmente contente por estar a vendo. - Pensei que não houvesse ninguém em casa. Então escutei vozes e... – ele parou ao ver Luíza, parada, ao lado da porta. Ela não tivera tempo sequer de correr antes que ele a visse.

Ana voltou-se então para as amigas e apresentou-as a Zacharias Smith. Lu permaneceu com os olhos em qualquer lugar, menos no visitante. Quando Ana os apresentou, ele disse:

- A senhorita Esteves e eu já nos encontramos.

Ela sentiu na voz de Zach aquela implicância tipicamente “Zacharias Smith”. Então olhou para a amiga, e viu os olhos antes sempre serenos de Luíza faiscarem de ódio:

- Sim, foi um prazer revê-lo, senhor Smith. Se nos der licença, nós já estamos atrasadas. Compromissos de madrinhas, não é meninas?

Igualmente surpresas com o tom nunca usado por Luíza, elas balançaram a cabeça afirmativamente, se despediram e saíram atrás da amiga.

Ana, então, virou-se para Zacharias e, estreitando os olhos, disse:

- Muito bem: tenho duas perguntas. Primeiro, o que diabos aconteceu entre você e Luíza?

- Nada demais. Basicamente, uma confusão da companhia aérea que nos vendeu o mesmo lugar. O vôo estava lotado e nenhum de nós queria ceder o lugar para o outro. Finalmente ela disse que tinha um casamento para ir. Então eu disse: “Eu também!” Mas eu nunca desconfiei... Bem, não foi uma negociação fácil. Se um lugar não tivesse surgido no último instante... – ele passou a mão pelo cabelo, parecendo desconcertado pela primeira vez: - Ela é mesmo sua amiga?

- Uma das minhas melhores amigas, Zach. – Ana o corrigiu, o tom meio que o avisando da importância da garota para ela. – E vai ser madrinha do meu casamento. – então, um pensamento passou pela cabeça de Ana e ela perguntou: - Diga, a Lu, quero dizer, Luíza, leu seu nome em algum lugar?

- Não... Ouvimos nossos nomes da boca da atendente do aeroporto em São Paulo, por quê?

Luíza não lera o nome dele em lugar nenhum, e, mesmo em uma situação de estresse, não o esqueceu.

- Interessante... – Ana disse mais para si mesma. Antes que Zach tivesse tempo de perguntar o que era interessante, ela lançou: - Segunda pergunta: o que você estava fazendo em um AVIÃO? O que houve? – desta vez o tom de voz era jocoso.

- Culpa de Ronald Weasley. – ele respondeu, torcendo o nariz. – Semana passada eu comentei sobre a ironia de ele ter que passar uma semana vivendo como um trouxa.

- Ah, e eu imagino o quão “jeitoso” você deve ter sido ao dizer isso, não é Zach? – ela não resistiu em provocar.

- Ha-Ha! – fingiu achar engraçado. - Bem, Weasley me desafiou a fazer melhor que ele. Como ele teria que passar três dias a mais do que eu por aqui, a aposta começava por eu ter que viajar da maneira trouxa. Aliás... Que coisa maluca, esses aviões!

***

Era o dia do casamento. Ana estava uma pilha de nervos e isso não passou despercebido à tia Agatha, que chegara no dia anterior com os outros membros da família Smith. Realmente, Ana não saberia o que fazer com os convidados bruxos sem a ajuda da tia.

- Querida... Você parece tão cansada! - elas estavam na mesa, tomando o café da manhã.

- Chá de panela organizado pela Tonks. Ela já chegou ontem com o gás todo, querendo ir à forra do que eu aprontei no casamento dela. Foi até tarde...

Não conseguindo evitar um bocejo, continuou:

- O bom foi que eu revi a Marion. A Marion de Burg, sabe? Aquela moça com quem eu fiz amizade no Ministério, em Londres. Ela está no Brasil visitando a família da mãe, e a Tonks a encontrou no hotel onde todos estão hospedados. Convidei-a para o casamento, lógico!

As primas adolescentes de Ana, uma de treze e outra de quinze anos, estavam sentadas à mesa também:

- Foi o melhor chá de panela que a gente já foi, Ana! - Jéssica, a mais nova, comentou.

- Verdade! - Cristiane concordou. - Nossa! Você vai comer tudo isso? - ela falou olhando para a comida que a irmã tinha pegado. - Vai ficar enorme!

- Não enche! Depois eu compenso no almoço, tá? - a outra retrucou.

Analisando a pãozinho francês da prima, Ana não pôde deixar de comentar, irônica:

- Caramba! Nunca mais vou comer mais da frente de vocês!

Tio José apareceu na sala, e as duas imediatamente foram se levantando e dizendo:

- Pai, nós vamos dar um pulinho na casa da Elis, tá?

- E porque não podem dar um pulinho aqui mesmo? Por que têm que ir à casa da Elis para pular? - mas as meninas nem tinham ouvido o pai, e já estavam na porta da casa. Voltando-se para as três mulheres na mesa, José perguntou: - O que têm na casa da Elis que não tem aqui?

- Um irmão de dezesseis anos que lembra o Tom Cruise naquela idade. - Ana disse simplesmente, compadecendo-se do tio.

- Ah! Era só o que estava me faltando! Estou ficando velho!

- Por falar em idade... - Bianca disse, voltando-se para Agatha - Quantos anos tem o seu... marido... Agatha?

Ana olhou para cima. "Ah, vai começar", pensou. Bianca ficou chocada quando soube que Agatha tinha se casado novamente na idade dela. O que não diria se visse a verdadeira aparência de Moody? Sim, porque ele estava tomando uma poção polissuco para não "assustar os trouxas".

- Ele tem a mesma idade que eu... Querida Bianca. - Agatha respondeu.

Ana escondeu o rosto entre as mãos: aquele dia não seria fácil.

***

Felizmente, os amigos tinham conseguido vir para o casamento e já estavam na cidade. Já tinha, inclusive encontrado com eles. Marcara de se encontrar no shopping da cidade e lá estavam eles: Kika, Morgana, Drusilla, Jaja, com o filhinho, Lucas, Regina com o marido e os dois filhos, Bruninha e a mãe, Darla, e a Sally e o marido. De todos eles, os únicos que não estavam surpresos com o nome do noivo de Ana eram Darla, Sally (que sabiam de tudo, pois eram bruxas também) e o marido de Sally.

- Calma, gente! Coincidência, tá?

- Ruivo e se chama Charles Weasley? Ah, conta outra, Ana! - provocou Jaja.

- É sim, ué... - afirmou Ana, no meio de tantas vozes com sotaques diferentes falando ao mesmo tempo. - O que vocês queriam que eu dissesse? Que é o Carlinhos dos livros?

Diante deste argumento, ninguém se atreveu a dizer mais nada. Pois o contrário seria pedir para ser chamado de louco. Sally se inclinou, e cochichou no ouvido de Ana:

- Lembre o Harry de esconder a cicatriz...

- Pode deixar! - Ana sussurrou também, percebendo um olhar cúmplice de Darla e um levantar de sobrancelhas intrigado de Regina.

***

Ela estava na porta da igreja, tremendo como vara verde, apesar do clima agradável de maio. Usava um vestido branco de corpete justo de seda até os quadris e saia com camadas e mais camadas do mesmo tecido, caindo solto e armando-se: um vestido de princesa, na opinião de Agatha. Os cabelos estavam presos em um elegante coque, com uma tiara habilmente posta.

Bem, era isso. Iria se casar! Bem, na realidade, pelas leis bruxas já tinham se casado, no dia anterior. E os tios miraculosamente tinham acreditado que aquele era o consulado inglês (embora tivessem comentado como os ingleses estavam se vestindo de forma esquisita ultimamente). Hermione, Rony, Gina e Harry tinham sido seus padrinhos naquela cerimônia.

Os acordes da marcha nupcial começaram a ser ouvidos e ela sorriu nervosamente para o tio, mas de forma feliz e confiante. Começaram a caminhar lentamente pela nave, com Chantal à frente, de madrinha de honra. Os padrinhos e madrinhas já tinham entrado aos pares, na frente, como era o costume latino.

Enquanto caminhava, Ana percebia os rostos familiares e amigos nos bancos e sorria para eles, agradecida por terem comparecido a aquele momento tão especial a fim de dividir com ela sua alegria. Viu Percy e a esposa e pensou, com humor: "Bem, cada um tem sua espécie de felicidade".

Estava agora frente a frente com o noivo. Apertando a mão de Carlinhos, tio Antônio a "entregou" a ele. Mas Ana nunca saberia, por exemplo, que o tio sussurrara no ouvido do noivo, entre um sorriso:

- Gostei de você e de sua família. Mas eu te estraçalho se a fizer infeliz. Entendeu?

- Sim, senhor. - Carlinhos devolveu o sorriso, já acostumado ao "sogro".

Eles repetiram os votos que tinham feito no dia anterior, provocando o que, para Ana, era um pequeno milagre: Bianca e Agatha chorando e consolando uma à outra.

***

A recepção foi feita no salão paroquial, conforme a melhor tradição das pequenas cidades catarinenses. Os convidados trouxas estavam comentando como a disposição das mesas tinha aproveitado bem o espaço, fazendo parecer que o lugar era maior. Claro que eles nunca iriam saber que, realmente, o lugar ESTAVA maior. Como diria Agatha, nada que um bom feitiço de ampliação não dê conta...

Já tinham passado por toda a sessão de fotos, os cumprimentos na entrada da recepção, e agora estavam em sua mesa, aproveitando o jantar. Ana percebeu que Regina se aproximava, com um sorriso perigosamente satisfeito no rosto. Ela se inclinou para Ana, e disse:

- Vamos fazer o seguinte: Eu finjo que meus filhos e o do Jaja não estão brincando com uma loirinha cujos pais se chamam Gui e Fleur. Finjo que a Drusilla não está sentada naquela mesa, onde está ouvindo deliciada as farpas trocadas entre uma de suas madrinhas e um rapaz chamado Zacharias Smith.

- Mas... - Ana tentou falar.

- Vou fingir também que a Darla e a Sally não estão falando de poções com uma moça chamada Hermione, enquanto o marido dela, Ronald, que também finge que não está entediado com a conversa, brinca com o filhinho deles, Sirius.

- Você não...

- Também que o Jaja e a Kika não estão se divertindo com os gêmeos "Fred" e "Jorge". E que a Morgana e a Bruninha não estão conversando com Remo e Nymphadora Lupin... E que, bom Deus, não tem um moreno de óculos redondos e olhos verdes chamado "Harry", cuja esposa se chama "Ginevra", apelido "Gina", por aqui, e que, com certeza, tem uma cicatriz em forma de raio na testa que foi "magicamente" escondida.

- Bem...

- Farei de conta que nada disso aconteceu, ou melhor, todos nós faremos, e nem sequer vamos insinuar que isso aconteceu lá nos fóruns (até mesmo porque ninguém iria acreditar), se você prometer que não vai lançar um "obliviate" em nós.

Ana exibiu um sorriso divertido para Regina. É claro que não esperava que tudo aquilo passasse despercebido:

- Obrigada, amiga.

- Imagine... - em seguida ela olhou para Carlinhos e disse: - Espero que seu trabalho com dragões esteja indo bem.

- Sim, obrigada, senhora. - Carlinhos, que escutara tudo, não conseguia mais conter o riso.

Alguns minutos depois que Regina se afastara, Patrícia apareceu, anunciando:

- Está na hora, Ana. – disse, falando toda alegre e olhando para o palco.

O coração de Ana saltou do peito, enquanto acompanhava o olhar da prima, dando de cara com o batalhão de primos, primas e amigos de infância subindo no palco.

- Bem, eu já vou indo. – Patrícia comunicou. - Acho melhor vocês se apressarem.

- O quê? - Carlinhos perguntou, confuso.

- Patrícia tem razão, é melhor irmos para frente do palco antes que eles comecem a...

- NOIVOS! POR FAVOR, OS NOIVOS TENHAM A BONDADE DE VIR ATÉ A FRENTE DO PALCO, POR FAVOR! ANA! CARLINHOS! NÃO FUJAM NÃO... - Nando, tomando conta do microfone, chamava em alto e bom som.

- Tarde demais... - ela suspirou, resignada, enquanto pegava a mão do marido e o conduzia até a frente do pequeno palco onde as bandas tocavam nos casamentos. No caminho, ela foi explicando: - É uma tradição criada pelos meus primos, que é repetida desde 1992.

- Senhoras e senhores. - Nando começou a explicar. - Alguns de vocês já estão a par de como recebemos nossos novos membros, e como fizemos uma declaração de amor em público para o nosso ente querido que esteja se casando, para o desespero e vergonha dele... - ele riu e foi acompanhado pelas pessoas no salão.

Ana olhou ao redor, percebendo que aqueles que falavam inglês estavam traduzindo para os convidados estrangeiros.

- Bem... - continuou Nando. - É a sua vez priminha. - ele falou olhando para Ana. - E, seja bem-vindo Carlinhos! - abaixou o tom, fingindo estar dizendo só para ele: - Sinceramente, cara, espero que não se arrependa... Você sabe... Ela é doida...

Ana fingiu que iria jogar o buquê no primo, o que o fez se erguer rapidamente e puxar o coro, que era acompanhado pela banda de Nando:

"Eu não tenho nada pra dizer
você parece, no momento
até saber como eu estou sofrendo
vem, veja através dos olhos meus
a emoção que sinto em estar aqui
seguir seu coração e amando

Amigos para sempre é o que nós iremos ser
na primavera ou em qualquer das estações
nas horas tristes nos momentos de prazer
amigos para sempre"

Apesar de já saber o que aconteceria, o que eles cantariam. Apesar dela mesma já ter visto isso um milhão de vezes nos casamentos da família, e dela mesma já ter participado do coro na maioria das vezes... Sentiu um aperto na garganta. Aquilo era para ela. Para Carlinhos. Para a felicidade deles. Pela primeira vez estava entendendo porque as noivas sempre choravam naquele momento.

"Você pode estar longe, muito longe sim
mas por te amar sinto você perto de mim
e o meu coração contente
não nos perderemos
não te esquecerei
você é minha vida
tudo que eu sonhei
ligues para mim um dia

Amigos para sempre é o que nós iremos ser
na primavera ou em qualquer das estações
nas horas tristes nos momentos de prazer
amigos para sempre"

Pelo rosto de Carlinhos, percebia que ele também estava emocionado. A família de Ana era surpreendente. Podiam ser super-protetores, implicantes e, no instante seguinte, dar demonstrações de carinho e afeto sem restrições... E Carlinhos tinha conquistado esse afeto.

Como que para confirmar isso, os "cantores" (na realidade, exceto por Nando, era o grupo mais desafinado que poderia se imaginar), se entreolharam e surpreendentemente...

"Amigos para siempre
Means you'll always be my friend
Amics per sempre
Means a love that cannot end
Friends for life
Not just a summer or a spring
Amigos para siempre"

Ana soltou uma exclamação admirada, boquiaberta. Eles estavam cantando em inglês. Horrivelmente, é verdade, mas eles tinham feito um esforço extra para aprender a letra, só para homenagear Carlinhos e a família dele, fazendo a já tradicional acolhida na língua deles.

Olhou para os amigos, vendo que os Weasleys estavam, cada um de seu jeito, mostrando o quanto aquilo os estava deixando felizes. Molly estava às lágrimas de tanta felicidade. Voltou-se para Fernando, e murmurou um "Obrigada", emocionada pelo carinho deles. Não agüentou mais: as lágrimas finalmente desceram por seu rosto também.

"I feel you near me
Even when we are apart
Just knowing you are in this world
Can warm my heart
Friends for life
Not just a summer or a spring
Amigos para siempre
Amigos para siempre
Means you'll always be my friend
Amics per sempre
Means a love that cannot end
Friends for life
Not just a summer or a spring
Amigos para siempre
Amigos para siempre"

Quando a música acabou, Nando fez uma reverência, agradecendo os aplausos dados e em seguida anunciou que os noivos iriam iniciar a valsa.

Enxugando os olhos, ela começou a dançar o tradicional "Danúbio Azul", abrindo o baile e sendo seguidos pelos casais mais velhos.

Na mesa onde estava Harry, tia Agatha comentou com ele:

- Vamos, rapaz, tire sua esposa para dançar!

- Ah, Agatha, eu não sei dançar...

- Há! - Felipe riu - Então você tem mais em comum com o Daniel Radcliffe do que a gente imaginava!

O menino já se soltava mais diante do ídolo, embora às vezes ainda ficasse olhando para Harry daquele jeito "fã" que tanto envergonhava o grifinório. Mas Lipe se controlou bastante depois que Mel o avisou que se continuasse babando daquele jeito, o Harry iria morrer afogado...

A valsa acabou, outras músicas soaram: alemãs, italianas, polonesas, portuguesas, espanholas... E quando pareceu que não havia mais músicas tradicionais a serem tocadas, Carlinhos perguntou se Ana queria voltar para a mesa. Ela balançou a cabeça negativamente, e, sorrindo, disse:

- Não dá. Agora é a tradicional dança dos cossacos!

- Hum? Não vai me dizer que a sua família também é descendente de russos? - ele perguntou, desanimado.

- Não. Meus primos é que são bobos! - ela riu - Sou a noiva, tenho que ir! E foi para o meio de uma roda de pessoas, onde Carlinhos reconheceu vários dos primos de Ana.

Os acordes de uma música indubitavelmente russa foram ouvidos, e Nando começou a se abaixar e levantar dentro do círculo, com os braços cruzados em frente ao peito, e alternando o peso do corpo ora na perna esquerda ora na direita nestes movimentos. Enfim, em uma imitação cômica de uma dança da bielo-rússia.

Carlinhos se viu puxado para o círculo também, onde as pessoas botaram os braços em torno dos ombros dos outros, formando um grupo compacto e alegre, enquanto Ana fazia algo que parecia mais uma cancan do que uma dança da Europa Oriental, os homens se alternavam na "dança dos cossacos".

Os Weasleys não demoraram muito a se juntar, é claro. Principalmente por que Mel e Felipe começaram a puxar Rony, Gina, Hermione e Harry para lá. Os gêmeos, que não perdiam a oportunidade de se divertirem, puxaram as esposas também. Foi questão de tempo os demais irem. Os Smiths, naturalmente bem-humorados, não precisaram de convites. Ana percebeu que os amigos também estavam na enorme roda.

Foi uma noite memorável...


* Ler Harry Potter e o Segredo de Sonserina.

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(N/A): Gente, espero que tenham gostado do capítulo... Porque eu estava (e ainda estou) com medo dele. Sinceramente, espero que não tenha saído “viagem” demais. E se deixei algo soltou ou dei mancada, desculpem-me. Eu estava com um monte de idéias na cabeça e um capítulo só... Sabem como é.

Gente, eu queria colocar todos aqui neste capítulo, mas ele ficaria inviável. Não sou tão habilidosa quanto a JK para lidar com tantos personagens ao mesmo tempo.

Detalhe: O que vocês viram foi uma adaptação de fatos reais. Calma! Não estou dizendo que bruxos existem! (Ô fixação por Harry Potter, heim?) Estou dizendo que a dança dos kosakos realmente é dançada nos casamentos... Da minha família!!! (Sim, só de zoeira nossa, é claro).

Bem, vamos aos comentários:

Kika: Gostou dos Weasleys no Brasil? Esta situação poderia ser melhor explorada, mas, de novo, a questão “tempo” não foi favorável. Mas oportunidade é que não vai faltar! Que bom que gostou do Lipe e da Mel! Eles vão ter papéis importantes nesta e nas próximas fics!

Sally: Ai, amiga, não sabe como eu estou com saudades de você! As nossas conversas me inspiram tanto! Não é à toa que a gente criou aquele montão de personagens pelo MSN, né? Viu? Conseguimos casar nossa menina com o homem perfeito! (He, he). E eu adoro quando as pessoas dizem que eu as fiz rir!

Morgana: Primeiro – já disse, mas vou repetir. Seu último capítulo estava perfeito! As confusões devido à aproximação Anhangueras – Weasleys nem começou, he he! Ainda tem muito o que acontecer! Meninas, eu estou notando que vocês estão pegando a minha mania (e a da Ana, consequentemente) de chamar tudo de “fofo”. Hi, hi! Isso é ótimo! Se acharam o Carlinhos e os sobrinhos da Ana de fofos, então isso é maravilhoso! Valeu pelo apoio, Morg!

Bruxicca: Gente, esta é a verdadeira Marion de Burg que a Ana falou para a tia Agatha. Ao verem este nome na fic, pensem na Bruxicca! Obrigada pelos elogios e por me agüentar no MSN!

Trinity: Um elogio vindo de você me deixa nas alturas. De vez em quando eu e a Sally ficamos babando nos seus capítulos, admirando a perfeição deles! Realmente, dizer que adora a família da Ana foi uma prova de amor e tanto, né? Hihiihii! As confusões estão só começando, aguardem!

Bernardo: Cara, antes de mais nada: parabéns pela fic! Eu ainda não terminei de ler a “Quadribol”, mas já-já tô aparecendo por lá e comentando, ta? Mas ta ótimo! Nossa! Obrigada mais uma vez por ter passado por aqui e comentado. Valeu!

Darla: Minha betha, não te mandei este capítulo antes de postar e eu já sei que você vai querer puxar minha orelha. Mas pega leve, vai! Eu te pus conversando com a Hermione, ali do ladinho do Rony! Heim? O que me diz? *de joelhos pedindo perdão* (He, he!). Gostou do nosso galã neste capítulo? Agora não tem mais jeito: tá casado, já tem dona!

Kolzinha: Obrigada por ter aparecido por aqui! É tão bom ver um comentário de gente nova! Nossa! Fiquei super-feliz! Brigado mesmo!

Bruninha: Gostou de estar na fic? Que bom que gostou do primeiro capítulo desta fic tb, Bru! Beijos! Valeu o apoio, e boa sorte na sua fic!

Carolzinha: Que máximo que estão gostando dos meninos! Sim, a Mel tem muito da Hermione, para o desespero do Rony que vai ter duas Miones por perto! A família da Ana é muito “Brasil”, por isso esse alto astral e jogo de cintura. Como você deve ter percebido... Outro Grawp!

Carline: A Sally não retratou a Mel perfeitamente na fic dela? Fiquei até emocionada quando ela me mandou a prévia! Não tinha o que tirar ou por: era a Mel que eu tinha imaginado. Espero que eu consiga ser tão fiel ao Hector quanto ela foi à Mel. Essa ligação é bem divertida, não?

Grazy DSM: Opa! Mas é claro que sim! Aliás, tenho o projeto de fazer os segredos dos outros fundadores também! (Gente, continuem me dando força, eu vou precisar! Ufa!). Leia a fic da Sally sim! Não vai se arrepender! A Sally é uma escritora e tanto! Obrigada pelo comentário!

Ana Paula: Eu tb me apaixonei pelo Charlie... Infelizmente, como vc já deve ter lido, ele casou e agora está fora do nosso alcance (nossa, que dramático, he, he!). Aí está o capítulo dois. Valeu pelo comentário, viu? Beijos!

Gente: agradecimentos especiais ao Jaja, a Drusilla e a Regina McGonnagal, usuários da Floreios e Borrões, por serem estas pessoas especiais e terem deixado eu fazer esta homenagem a eles aqui.

E um abraço enorme, grande e apertado para todos que lêem a fic! Valeu mesmo pessoal!

Bem... Inté o três!

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