Capítulo 9



Em algum lugar por ali uma mulher ria. Uma voz infantil soava frenética, em um ritmo incessante. Bipes constantes vinham de outra direção. Ela podia perceber a claridade do ambiente, era dia.


Abriu os olhos vagarosamente. Muita luz. Tornou a fechá-los. Onde estava?


Outra tentativa. Recostou-se melhor sobre onde estava deitada e, com as mãos na frente dos olhos, conseguiu ver melhor por entre os dedos. Milhares de pontos incandescentes apontavam para ela, ofuscando sua visão. Eram como muitas varinhas mágicas flutuando no ar, sobre seu corpo inteiro.


- Alguém, por favor...o quê? – Hermione sentou-se na cama, assustada. – O que é isso? Alguém? – Sentia como se agulhas minúsculas perfurassem cada centímetro de seu corpo. Tentou afastar as varinhas para longe, mas à medida que aproximava suas mãos, elas se distanciavam de seu toque. Depois retornavam para perto, lançando incansavelmente, feixes brilhantes de luz que penetravam em sua pele.


- Não adianta. Tem que esperar terminar. – Uma voz feminina veio do seu lado esquerdo. – Hermione olhou assustada. Uma mulher magra, de cabelos pretos e aparência cansada estava encostada no biombo que separava um leito de outro. – Quando terminar sua dose, elas apagam sozinhas. Você tem que se acalmar.


- Dose? Que dose? – A garota se sentia extremamente irritada por não saber o que estava acontecendo e pela dor que sentia. – Dose do quê? O que é isso tudo? Que lugar é esse? – Olhouem volta. Umbiombo idêntico ao que a mulher se recostava se encontrava ao seu lado direito. Não via nada ao seu redor.


- Acalme-se. Hermione...é isso, não? Eu ouvi o jogador comentando. Fique calma, Hermione. Eu vou chamar a sua enfermeira para te explicar o que está acontecendo com você. Eu não sei, saí um pouco para descansar enquanto Gerard dormia e quando voltei você estava aqui.


- Jogador? – Hermione encarava a mulher, sem entender bulhufas.


- Sim, o jogador. Como é mesmo o nome dele? Qual o nome do jogador, Gerard, querido? – Ela olhou para o outro lado do biombo, do qual uma criança respondeu de prontidão. – Victor Krum. Isso mesmo. Gerard é apaixonado por essas coisas, quadribol, sabe? Ele não pôde acreditar quando o viu.


- Victor esteve aqui? Quando?


- Ele passou a noite aqui. Não saiu do seu lado o tempo inteiro.  Parecia preocupado. Pena que o Gerard só o viu pela manhã, logo antes de ir embora... Ah sim, uma ruiva também esteve aqui. Mas ficou só um tempo, depois saiu.


- Gina... – Hermione olhou para baixo, examinando as suas roupas. Eram vestes verdes de hospital. Pôde ver o símbolo do Saint Mungus bordado na frente. – Por Merlim, o que aconteceu comigo? – Observou uma mancha roxa na palma de sua mão direita. Levantou as mangas do pijama e ficou horrorizada. Hematomas muito roxos se espalhavam por todo o seu braço.


- Tudo bem. Acho que podemos parar por aqui. – Uma mulher robusta vestida de branco apareceu de repente, segurando uma pasta carmim. Observou a garota dos pés à cabeça, agitou a varinha bruscamente e as luzinhas se apagaram.


Hermione a olhou confusa, porém aliviada.


- Senhorita Granger. Sou a Dra. Strout. – A mulher caminhou em direção a ela. – Como está se sentindo?


- Cansada. Estou exausta. E essas luzes todas...isso dói. Queria entender...


- Senhorita Granger. – Repetiu a mulher, interrompendo-a enquanto folheava os papéis de dentro da pasta. A senhorita deu entrada no hospital ha 14 dias atrás com suspeita de magia negra. Foi diagnosticado o tipo 3.


Hermione engoliuem seco. Semtirar os olhos das anotações, a mulher prosseguiu.


- Ontem pela noite foi trazida desacordada para o hospital. Você foi submetida a alguns testes de medição para detectarmos balanceamentos dos níveis de seu problema. A senhorita está passando por uma fase muito instável. Essas luzes são elixires de feitiços que fazem parte de seu tratamento. Apostamos nelas para a reversão do quadro. Você terá que comparecer ao Saint Mungus duas vezes pela semana para receber esse tratamento a partir de agora, certo?


- Doutora...isso é muito difícil para mim, eu...estudo. Meus exames estão...


- Acalme-se. Dumbledore já está ciente do seu quadro. – A médica levantou os olhos para Hermione.


- Dumbledore? Ele está por aqui? Quando vou poder ir para Hogwarts?


- Assim que terminarmos essa conversa. Dumbledore garantiu que uma lareira da escola ficasse disponível para que você pudesse retornar assim que possível. Também liberaremos uma de nossas lareiras para que você possa usar o pó de flu.


- Tudo bem, obrigada. – Hermione assentiu com uma voz fraca. Se sentia péssima.


- Como está seu estoque de poção revigorante? – Miriam Strout fechou a pasta e a colocou sob uma das prateleiras ao lado da cama. Ficou na ponta dos pés e alcançou alguns vidros com um líquido viscoso azul celeste em seu interior, em uma prateleira ainda mais alta. – Preparei mais alguns por desencargo. Três vezes ao dia, quatro goles. Conforme você for evoluindo, diminuiremos.


Hermione fez que sim com a cabeça. A doutora virou-se de frente para ela e a encarou em silêncio por alguns segundos.


- Infelizmente, não há o que ser feito com as manchas. – Disse ela, observando a garota baixar o olhar para seu braço roxo. – Escute... – Ela se aproximou de Hermione, cautelosa. – Não há nada parecido com seu caso em nossa literatura. Nós nos baseamos em tentativas, é o único modo de te ajudar. Porém, eu acredito que o estado emocional interfira muito na evolução de seu estado, Hermione. Parece um paradoxo, porque a doença te deixa fraca. E é essa mesma fraqueza que a alimenta e a dá forças para te consumir cada vez mais. Nós não estamos tratando de algo biológico, que afeta seu corpo, a sua carne. É algo muito além disso. É algo que excede o nosso entendimento, e é essa complexidade que sempre me fascinou, me fez dedicar toda a minha vida para tentar entender como isso funciona e poder ajudar as pessoas. Eu estou muito disposta a te ajudar. Mas preciso que você se mantenha sã, lúcida, firme. Mostre que você é forte, esse é o pesadelo de qualquer maldição.


O rosto de Hermione ardeu. Grandes gotas de lágrimas salgadas rolavam por ele, externando seu medo, sua decepção e sua dor.


- Te esperarei daqui a dois dias, na sua próxima sessão. – Disse Miriam Strout, apoiando a mão no ombro da garota, confortando-a por um momento. Ajeitou o jaleco branco um pouco desconfortável e saiu pela porta da sala.


Hermione não segurava as lágrimas. Estava totalmente dilacerada por dentro. Soluçava em prantos.


- Ei, fique calma moça. – Um garotinho muito pequeno e pálido, usando as mesmas vestes verdes e com meias brancas até as canelas veio em sua direção. – Desse jeito você dá mais felicidade ainda pra bruxa velha.


- Bruxa velha? – Hermione tentou secar o rosto com as mangas do pijama, mas sua pele ardeu em chamas.


- Sim. Mamãe me contou a história. Você não conhece? Da bruxa velha infeliz.


- Não...


- Há muito tempo atrás. Muito mesmo, anos e anos...existia uma moça triste, pois não podia ter filhos. As moças de todo o vilarejo foram se casando e tendo seus filhos, menos ela.  Ela se sentia muito triste e ficava sempre sozinha. Todo mundo a chamava de louca porque ela comprava bonecas, a casa dela era cheia de bonecas. Ela fingia que eram suas filhas. Com o tempo, ela foi ficando com raiva. As pessoas riam quando ela passava segurando suas filhas de mentira. Até que um dia ela resolveu que ninguém mais seria feliz no vilarejo, assim como ela, porque ela não merecia viver daquele jeito sozinha. Ela amaldiçoou as famílias, era muito má. A partir daquele dia, quase nenhuma moça conseguia ter mais filhos. As crianças que ainda nasciam vinham amaldiçoadas. Mas era tudo pela inveja da bruxa. Depois de muitos anos o vilarejo sumiu, porque pouca gente nasceu. Só que dizem que a bruxa continua por aí, ela está velha, mas ainda procura casas de famílias felizes pra amaldiçoar as crianças. Mamãe disse que quando eu nasci eu trouxe tanta felicidade para todo mundo, que a bruxa velha não agüentou e me deu maldição também. Eu até que gosto disso sabe? Papai disse que se eu não fosse tão especial a bruxa velha não ia se importar comigo. E cada vez que eu venho aqui no hospital e a médica me fala que eu estou melhor, nós rimos da cara da bruxa velha. Então para de chorar, porque ela vai ver que você está triste e vai ficar feliz.


Hermione olhava o pequeno menininho, petrificada. O garoto piscou pra ela e voltou pra trás de seu biombo, saltitando.


 


[ Aos meus leitores, agradeço por me acompanharem até aqui! Peço desculpas pela demora entre os capítulos, vou tentar apressar isso. Preciso de seus comentários, sejam eles de críticas, elogios, reclamações, qualquer coisa! Muito obrigada! ]

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Comentários (2)

  • Srta. Zabini

    Apaixonada por esse menino...Espero que a Hermione melhore seu estado emocional.PS: Quem lançou essa maldição nela?Continue! E parabéns. 

    2015-09-22
  • Pessoa

    Essa história é muito boa. Comecei a ler agora e já li todos os capítulos! Quero mais!!!!! Parabéns pela criatividade!!! 

    2014-08-04
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