Capítulo 7

They hung a sign up in our town

"If you live it up, you won't live it down"

So, she left Monte Rio, son

Just like a bullet leaves a gun

With charcoal eyes and Monroe hips

She went and took that California trip

Well, the moon was gold, her hair like wind

She said don't look back just come on Jim 

A neve caía furiosamente lá fora. De hora em hora Hermione levantava da cama do dormitório feminino e esfregava o dorso da mão na janela, desembaçando-a inutilmente, pois após poucos minutos, o vidro voltava a ficar esbranquiçado. Recostada na cabeceira da cama, a garota segurava o livro “Magia Mui Maligna” e o folheava a esmo. A música fluía pelo quarto tranquilamente. Era horário de aula e ela não seria importunada tão cedo. Vestia pijamas grossos e meias compridas fofas. Cobria os pés com mantas grossas e ainda sim sentia tremores oscilantes por todo o corpo.

Abriu a gaveta do criado mudo ao lado da cama e tirou de lá um par de luvas cor de vinho. Vestiu-as e percebeu que as impediria de continuar folheando o livro. Portanto o deixou de lado, aberto na página em que parara.

Naquela manhã, assim que acordou e fitou seu rosto no espelho do banheiro, soube que não iria sair do quarto pelo resto do dia. As pequenas manchas roxas que haviam surgido no dia anterior haviam aumentado de tamanho e cobriam parte de sua maçã direita e lateral do pescoço. Se assemelhavam à hematomas causados por traumas.  Nunca tinha visto algo parecido e se sentia horrível. Até que a última garota com quem dividia o quarto saísse do mesmo, Hermione permaneceu coberta até a cabeça, aflita. Sabia que não poderia esconder por muito tempo, mas tentaria prolongar o refúgio o máximo que pudesse.

Oh you got to hold on, hold on

You got to hold on

Take my hand, I'm standing right here

You gotta hold on

 Queria tomar coragem para levantar da cama e ir até o corujal onde poderia enviar o bilhete que havia escrito para Harry e Ron, mas não conseguia. Não só pela vergonha, mas também pelo frio e pelas dores agulhantes que sentia nas articulações na maior parte do tempo. Definitivamente, esse era o primeiro dia de muitos em que teria que encarar olhares de pessoas como se fosse algo estranho, como se fosse um bicho. Mas ela não as culparia. Pelo menos não queria as culpar, pois sabia que também olharia se fosse outra pessoa. Além disso, havia outro pensamento que ela insistia em afastar de qualquer modo todas as vezes em que aparecia. Era um pensamento que a causava repúdio e angústia. Se contorceu na cama e puxou mais a manta para si. As pessoas não só a olhariam, como sentiriam dó. Ela seria digna de pena.

 Pensou no tempo que passara com Victor no dia anterior. Só de lembrar do nervoso que sentia quando tinha qualquer proximidade com o garoto, seu corpo se arrepiou. Não imaginava que sentiria isso quando o visse novamente. Durante todo o tempo que estiveram separados depois torneio tribuxo, os dois se corresponderam por cartas, a não ser pelo último mês, no qual Hermione vinha tentando manter distância de tudo que a ligava sentimentalmente às pessoas.

Tinha à Harry, à Rony e à Gina, mas as conversas que mantinha com o búlgaro eram mais intensas do que quaisquer outras. Não só por já terem tido um envolvimento romântico, mas por serem confidentes. Victor confiava em Hermione, o que a deixava satisfeitíssima, pois conhecia a personalidade do garoto para saber o bastante que ele tinha pouquíssimas pessoas das quais sabiam da sua vida. Conhecia muitos dos sentimentos que percorriam as entranhas de Victor. Conhecia seu incômodo em relação à fama. Conhecia seu coração bom para com as pessoas que precisavam dele. Conhecia a tristeza que carregavoa em seus ombros todos os dias pela perda da família. De modo recíproco, Hermione também havia o confiado inúmeros sentimentos e pensamentos dentro desse período. Eram bons parceiros. Apesar disso, nenhum dos dois nunca havia mencionado o desejo que alimentavam de algo mais intenso do que a amizade. 

Well, he gave her a dimestore watch

And a ring made from a spoon

Everyone is looking for someone to blame

When you share my bed, you share my name

Well, go ahead and call the cops

You don't meet nice girls in coffee shops

She said baby, I still love you

Sometimes there's nothing left to do

 O  líquido quente e salgado escorreu pelos seus lábios. Sentindo-as descendo e caindo pelo lençol, sabia que o motivo das lágrimas não era simplesmente pelo fato das manchas em seu rosto. Quando resolvera parar de responder as cartas de Victor tinha agido por instinto. Hermione não era o que podia se chamar de boba. Lia e pesquisava constantemente sobre sua doença e sabia que não havia o que ser feito. Havia tratamento, mas não cura.

 Não queria mais ninguém gostando dela. Se sentia uma pessoa extremamente egoísta a cada vez que alguém demonstrava afeto por ela. Imaginar quem amava sofrendo com sua partida cortava seu coração em pedaços. Quando Krum insistiu e enviou outra carta perguntando o que havia de errado, a garota sentou-se à mesa e passou a noite inteira escrevendo uma resposta, dizendo coisas do tipo que ele merecia alguém melhor e que não podia amar alguém tão doente como ela. Assim que terminou, rasgou-a e jogou-a fora. Foram dois os motivos: não conseguiria inventar uma mentira para parar de se corresponder e não podia dizer a verdade. Então simplesmente pararia e o venceria pelo cansaço. O outro era porque tinha se declarado na carta, quebrando o pacto de silêncio invisível que haviam criado desde o início em relação à isso.

 

Oh but you got to hold on, hold on

Baby got to hold on

Take my hand, I'm standing right here

You got to hold on

 

Quando soube que Krum voltara a Hogwarts como professor, pensou que a intimidade entre os dois já havia se dissipado e que o garoto tivera arrumado em sua cabeça suas próprias desculpas para ausência de Hermione. Ela achou que o que fosse que havia pensado sobre isso, serviria para mantê-los afastados. Assim que o viu, soube que estava equivocada. A tensão que os acompanhou desde o primeiro segundo em que se encontraram marcou ainda mais o fato de que nada havia mudado.

 Hermione ouviu passos na escada e tateou rapidamente o criado com uma das mãos, a procura da varinha, enquanto enxugava o rosto com o dorso da outra. Chacoalhou a varinha e silenciou o quarto. Deitou-se ligeira e puxou novamente o cobertor para cima do rosto, desejando que não fosse incomodada. A porta se abriu rangendo e passos vieram de encontro à sua cama. 

- Mione? – Gina perguntou baixo, cautelosamente. – Você está bem? 

Hermione estremeceu. Conhecia exatamente a expressão de surpresa que a amiga faria ao olhar seu rosto.

 - Estou, Ginny. Só perdi o horário. – Sua voz saiu abafada debaixo da coberta. 

- Por quê você está escondida? Olhe pra mim. – Gina tentou puxar uma parte do cobertor, mas Hermione foi relutante.

 - Só estou incomodada com a claridade. Só isso. 

- Entendo. E porque a voz de choro? – A garota não ouviu resposta. – Mione, olhe pra mim. Não saio daqui enquanto você não me explicar o que está acontecendo. Você piorou?

 Hermione suspirou. Gina sempre a encurralava. Tomou coragem e abaixou a coberta. Para sua surpresa a amiga manteve o mesmo semblante, nada que beirasse o espanto. 

- Você vai querer esconder as coisas de mim até quando? Vieram me perguntar. Repararam que não estava na aula. Você acha mesmo que vai enganar todo mundo?

 - Olhe meu rosto, Ginny. – As lágrimas voltaram a cair. – Estou terrível. Não quero que ninguém me veja.

 A ruiva sentou na beirada da cama e a fitou intensamente. Ainda em silêncio passou seus braços em volta de Hermione e abraçou forte, enquanto a mesma soluçava em seu peito.

 - A prof. McGonagall me procurou e disse que Dumbledore quer falar com você. – Gina escolheu as palavras cuidadosamente, enquanto acariciava o cabelo da amiga. – Talvez ele saiba como te ajudar.

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