Capítulo 4



O dia amanhecera gelado como nunca e a essa altura a neve cobria totalmente o verde da paisagem. Hermione contemplava toda a falta de cor lá de fora pela janela mais próxima da sua cama. Ainda estava deitada e imersa em pensamentos. O dia cinzento a fazia lembrar da sensação do beijo de um dementador, pois há algum tempo atrás lera sobre como era triste e desesperadora a sensação de ser vítima de uma dessas criaturas. Era assim que estava se sentindo naquele dia. Triste e desesperada. Na noite passada a garota tinha ficado até tarde conversando com Gina na sala comunal da Grifinória, esperando os outros alunos irem dormir para que pudesse contar à amiga sobre sua situação.


Fechou os olhos e pôde se lembrar perfeitamente da feição de Gina, horrorizada, quando soube que a amiga estava carregando uma maldição que tirava um pedacinho dela a cada dia que passava. Tinha esperado por esse momento desde que soube de tudo. Como seus amigos reagiriam? Será que sentiriam medo de perdê-la? Gina sentiu. E chorou nos braços de Hermione, dizendo que não entendia como aquilo podia estar acontecendo, como alguém poderia ter feito isso com ela?


Hermione virou para o lado, ainda com os olhos fechados. Nunca tinha pensado na morte. Obviamente já pensara nela como alguém pensa em um substantivo,e no seu significado mas não tinha pensado na própria morte, é claro. Crescera no mundo dos trouxas, em que morrer era visto como um enigma indecifrável e inabalável. Quando tomou conhecimento de que pertencia ao universo mágico, essa foi uma de suas curiosidades. Como era o morrer de um bruxo? Há tempos não lembrava mais desse tipo de questionamento sobre a vida. Esse é o tipo de coisa que as pessoas fazem quando têm tempo. Mas nesse momento, Hermione recordava-se exatamente de uma conclusão que tirara a cerca do assunto no passado: Quer seja no mundo trouxa, quer seja no mundo mágico, a verdade é uma só. Até mesmo os bons e mais poderosos bruxos podem morrer. Qual era a importância dela naquele universo tão gigante?


Soltou um suspiro longo e sentou-se na cama. Não estava pronta e nem queria viver aquele dia. Mas tinha obrigações e o mundo não girava ao seu redor. As pessoas não parariam suas vidas em função de algo que estava parando a dela. Além disso, hoje teria uma aula de aprimoramento em poções que seria um tanto quanto do seu interesse. Abriu a gaveta do criado mudo ao lado da cama e tirou de lá o frasco de poção de madame Pomfrey. Tomou um grande gole e guardou o vidro de volta na gaveta, começando assim seu dia de vítima de dementador.


Para não ter que subir todas as escadas novamente e voltar ao dormitório, adentrou o grande salão já com o material às mãos. Assim seria mais fácil, terminando de tomar o café da manhã iria direto para as masmorras assistir a primeira aula. Tomou um lugar ao lado de Luna, que conversava com Gina, Neville Longbottom e Simas Finnigan.


- Bom dia pessoal – Hermione esboçou um sorriso, colocando seu material de lado.


- Que bom que você chegou Hermione. Estávamos conversando sobre a aula de Aprimoramento em Poções que teremos agora e, se me permite dizer, seu amigo Neville acaba de falar que a poção simples para a cura de furúnculos é feita com Ligústica, e não com urtigas – Simas tinha um ar imponente. Abocanhou uma torta de abóbora toda de uma vez e logo em seguida pegou outra. – O que me diz disso? – Falou com a boca cheia.


- Simas, as urti... – Neville começou a se defender mas logo foi interrompido por Luna.


- Neville não disse isso. – Luna virou-se de lado para Hermione. – Eu entendi o que ele quis dizer. Existem métodos de mistura de Ligústica com Urtigas que dão o mesmo resultado para a poção simples. Não é mesmo, Neville?


- É. Mas tem que ser urtigas secas. – Neville disse agradecido para Luna. – Simas não entende nada mesmo.


Hermione riu enquanto enchia seu copo com suco de romã. Tomou um longo gole e olhou para Simas.


- Ele está certo. – Indicou Neville, o que fez com que o garoto sorrisse contente. – Se tem uma coisa em que ele é bom, Simas, é na Herbologia. – Ela riu baixo, vendo um Simas emburrado. Gostava da sensação de mostrar para Neville que ele se destacava em alguma coisa. – Mas a propósito, a aula de hoje não é sobre poção para cura de furúnculos. Snape disse que falaria sobre Wiggenweld


- Não vai me dizer que não uso ditamno na poção Wiggenweld também. – Neville alfinetou Simas.


Hermione olhou para Gina, quando a ruiva fez um sinal com a cabeça na direção da mesa dos professores. Logo que virou o rosto, pode vê-lo sentando ao lado de Rúbeo Hagrid. Victor Krum conversava interessadíssimo com o meio-gigante, enquanto pegava de vez em quando uns pedaços de bolo de caldeirão que estavam servidos em inúmeras bandejas na grande mesa.


Habitualmente a mesa era composta por pessoas muito mais velhas que os alunos, fazendo com que fosse estranho ver Victor integrando a equipe dos professores de Hogwarts. Krum ainda tinha as expressões sérias no rosto, assim como no quarto ano, quando se conheceram. Apesar disso, Hermione tivera a oportunidade de conhecer Victor muito bem, ao ponto de saber que era uma ótima companhia e não tinha nada de rude, ou mal humorado. Era apenas seu jeito.


Hermione ouvia Neville e Simas engatarem em uma nova discussão ao lado.


- Ele te observou o tempo todo desde que entrou aqui. – Gina disse, toda travessa. – acho que alguém sentiu saudades, Mione.


Dito isso, o olhar de Krum percorreu toda a mesa da Grifinória, até encontrar o de Hermione. A garota prendeu a respiração. O búlgaro a encarou por um tempo, e enfim, deu o sorriso de lado que ela se lembrava tanto. Ondas de choque percorreram todo seu corpo. Sorriu de volta, corando fervorosamente e virou o rosto de volta, fitando o prato.


- Que bom que você está usando! – Luna a tirou do transe, exaltada, enquanto apontava para o pescoço de Hermione, onde ela carregava um colar que ganhara de presente da amiga na despedida do ano anterior.  O pingente tinha a forma de um pequeno amasso, um tipo de felino.


- Ah. – Hermione deu uma leve tossida, como para disfarçar. Gina riu. – Me lembra o bichento. Foi uma ótima escolha. – Ela segurou o pingente olhando para Luna e sorriu para a amiga. – Bom, agora acho melhor irmos, a aula já está para começar – Pegou seu material e se levantou, dando uma última olhada em Krum.


Como sempre, Snape já estava à espera de todos nas masmorras. De costas, olhava pela janela escura, deixando a grande capa preta e velha de frente para os alunos. Com certeza estava mirabolando algum sermão novo sobre o quanto era frustrante a chegada de alunos atrasados em sua aula. Após um longo discurso sobre a falta de comprometimento de um ou outro, o professor deu início à aula. Aprimoramento em Poções era uma extensão de “Poções”, matéria que tiveram desde o primeiro ano. Era em AEP que revisavam todas as receitas já vistas e além disso, estudavam a fundo o porquê de se usa-las. Como Snape disse uma vez, eles estudariam poções que nunca poderiam usar na vida, mas era preciso saber de cada uma delas.


- Wiggenweld. Uns dizem sobre seu poder de cura. Outros sequer mencionam tal cura, mas salientam o aumento do vigor do doente. – Snape estava parado, estático no meio da sala. Não tinha uma linha de expressão em seu rosto. – Casca de Wiggentree, Muco de Verme Gosmento, Ditamno – Hermione viu Neville virar para Simas, se vangloriando. – e Moly. Página 413. Agora.


Hermione esperou que todos fossem até a mesa dos ingredientes, que estava no canto direito da sala. Enquanto isso fingia ler a teoria da poção no livro, que já sabia de cor e salteado. Logo que a última pessoa sentou-se de volta, ela levantou e foi até a mesa buscar seus ingredientes, tomando cuidado para não esquecer de levar junto sua bolsa. Olhou para cima, como uma forma de desculpar-se com Merlim pelo que faria agora, mas sabia que era preciso. Rapidamente, sem que ninguém percebesse, pegou uma quantidade suficiente a mais de ingredientes do que era necessário e guardou dentro da bolsa. Pegou o que usaria na aula e voltou a se sentar. Não continuaria pedindo nada a madame Pomfrey. Mesmo com uma culpa enorme sobre os ombros, a partir daquele momento seria responsável pelo seu próprio tratamento.

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