Capitulo 7



Capitulo 7

                                                 XXX--XXX


Muito mais tarde, naquela noite intensa e incrível, soltara-a das algemas, mas a corrente com que a mantivera presa era muito mais difícil de quebrar, Hermione pensou vários dias depois, ainda na ilha, mergulhada ao encanto de Harry. No dia seguinte, levantara-se dolorida, não fisicamente, que seria mais fácil de suportar.


 


Fisicamente sentira-se maravilhosa, viva, vibrante, como se finalmente soubesse o que seu corpo fora criado para fazer, embora tentasse não pensar nele desse jeito. Não. As feridas que ardiam eram emocionais, e só desejara correr de volta para o hotel, trancar-se no quarto e enfiar-se num banho quente para amenizá-las. Libertara-se do peso delicioso do braço de Harry e deslizara para o outro lado da cama.


 


Percebera que para apanhar suas roupas teria que enfrentar o frio para ir até a cozinha, e isto havia bastado para que preferisse ficar na cama, e quando Harry estendera a mão e a abraçara, não opusera resistência e contivera um suspiro de contentamento só por tê-la tocado.


 


Pensara que sua fraqueza era impressionante, que tinha muito em que pensar e resolver, que a noite passada ainda a iluminava por dentro, que não estava certa de ser a mesma pessoa que fora no dia anterior, e que não fazia ideia em quem se transformara. E tudo que fizera havia sido se aninhar junto a Harry e se perder, como se nada mais importasse, prometendo que pensaria em tudo depois que a tempestade passasse, quando a fumaça daquela fogueira se dissipasse. Quando recuperasse a razão.


 


— Preciso algemá-la à cama novamente? — perguntara em voz sonolenta, passando a mão nas suas costas.


 


— Desta vez está pedindo permissão? — perguntara. Puxara-a e a fizera deitar de costas para ele, como se fossem duas colheres encaixadas, e beijara o canto da orelha dela. Hermione havia sentido o calor dos seus braços, a firmeza do seu peito contra as costas, e a evidência inquestionável da ereção nas nádegas. Pensara com desespero que não deveria ser tão bom a ponto de ela tremer de satisfação.


 


A noite anterior deveria ter sido suficiente. Deveria se desvencilhar dos braços de Harry e ir embora, por instinto de preservação. Porém, muito pelo contrário: ela virara a cabeça e lhe oferecera a boca, como se a atração que existia entre ambos não fosse destrutiva, como se de alguma maneira fosse purificá-la, em vez de arruinar.


 


— Fique — murmurara, colocando a mão em seu seio, causando-lhe uma sensação de formigamento na pele. — Para o café da manhã.


 


— Não tomo café da manhã — respondera Hermione com a voz ofegante, derretendo-se novamente. Colocara-se em cima dela, olhando-a avidamente, e entrara em seu corpo com uma firmeza devastadora. Ela não deveria ter gostado, mas gostou.


 


— Então precisamos arranjar outra coisa para fazer — murmurara junto aos seus lábios, começando a se movimentar. Ela parar de pensar durante um longo tempo.


 


 


Harry não demonstrara interesse que ela fosse embora naquele dia, ou no dia seguinte. Depois de uma caminhada no bosque, alguns dias depois, como uma tentativa de saírem de casa que terminou com os dois fazendo sexo em cima de um arbusto e com ele sussurrando coisas que Hermione temia ouvir de perto, colocara-a dentro no carro. Ela havia tentado se mostrar calma, por mais que ainda tremesse como resultado do êxtase que lhe proporcionara.


 


Ele dirigira até o vilarejo sem fazer qualquer comentário, mas ela sentira o peso do silêncio. Levara-a até o seu quarto no sótão do hotel, e desconfiara que ele simplesmente a deixaria ali. Era o que merecia por ter sido tão tola. Como achava que iria terminar?


 


— Embale as suas coisas — dissera-lhe depois de um longo silêncio, com uma expressão impenetrável. A tensão tinha crescido e ela sentira o peito se apertar e precisara fazer força para respirar.


 


— A balsa chegou? — Ficou orgulhosa por falar calmamente, como se não se importasse, como se nada pudesse afetá-la, de uma maneira ou de outra. Como se ainda não sentisse o corpo vibrar com o que acontecera no bosque. — Está me jogando para fora da sua ilha, como prometeu? — Não havia gostado do jeito que a olhava, como se a avaliasse, como se fosse um problema que planejava resolver.


 


— É isso que você quer? — perguntara Harry com estudada casualidade. Ela desejara que sua indiferença tivesse significado, que indicasse algum sentimento que escondia. Como sempre, ela queria demais. — Uma balsa com destino à segurança e à sanidade?


 


Ela rira, mas se pusera na defensiva e cruzara os braços. E se dera conta de que ainda usava um dos suéteres que Harry lhe dera, explicando que fora seu quando criança. Proibira-se de imaginar como ele deveria ser naquela época, jovem, desengonçado, luminoso. Vestir suas roupas velhas tinha sido um castigo e uma conveniência, não algum tipo de ligação.


 


— Achava que a embarcação ia a Bar Harbor... Sanidade e segurança são paradas ao longo do trajeto?


 


Ficara parado, olhando-a como um predador prestes a atacar a presa, e sentira a pulsação latejar nas têmporas, na nuca e nos pulsos.


 


— Começo a compreender o seu jogo — dissera no tom deliberadamente indiferente, que ela mais tarde aprendera ser indicação de um perigo mortal. — Responde cada pergunta com outra, jamais revelando seus sentimentos ou desejos verdadeiros. E o mundo julga o que lhe parece, não é? Ninguém discute o quanto deve ser esperta para fazer isso sempre e tão bem.


 


Odiara-o naquele momento, detestava o modo como a olhava, como se fosse capaz de lê-la à maneira de um livro aberto, como se adivinhasse seus pensamentos e os dissecasse.


 


— Ninguém o questiona também — respondera. — Não mais. Este é o perigo de se tornar aborrecido e comportado, quando se costumava ser Harry Evans Potter.


 


Ele havia estreitado os olhos e ficado tenso, mas logo se controlara. Continuara encostado na porta, dominando o quarto, ainda que não tivesse entrado. Pensara novamente que ele era um jogo perigoso demais para jogar, mas não se mexera.


 


— Você se esquiva e contra-ataca. — Parecia tê-la resumido. — Faz isso toda vez que se espera que expresse seus sentimentos ou desejos. Sempre reage, nunca age. — Os olhos verdes de Harry pareciam penetrá-la, queimá-la. — Por quê? — perguntara com uma calma mais ameaçadora que a raiva que demonstrara naquele mesmo lugar, na primeira noite em que se encontraram, c ela entrara em pânico ao perceber que tinha o impulso suicida de confiar nele. Ficara impressionada com sua capacidade de se iludir.


 


— Diga você... — Ela dera de ombros. — Pensei que estava tentando convencê-lo a ser meu noivo. Esta não seria a melhor maneira de conseguir? Não ficou tentado?


 


— Claro — respondera com desprezo. — A sua fortuna e a Granger Mídia. Como poderia esquecer?


 


Deixara-se envolver por uma nova suspeita: por que estaria tão interessado na Granger Mídia? Por que insistia em mencioná-la? Seria como todos os outros, como Theo, que faria de tudo para colocar as mãos em suas ações? Não que isso lhe importasse, pensara, embora sentisse um espasmo de dor. Já deveria ter se acostumado com isso.


 


— Se quer que eu vá embora, Harry, basta dizer. Não precisa cutucar meus demônios desnecessariamente. — Estremecera dramaticamente. — Garanto que isso seria uma tarefa de tempo integral, e você está de férias.


 


Havia espremidos os olhos novamente e a observado por longo tempo. Hermione precisara manter a calma, apesar de sentir o corpo reagir ao seu olhar como se nele houvesse algo de positivo, de sexual, e se desesperara novamente.


 


— E se eu quiser que fique? — perguntara, e ela quase suspirara de alívio por causa de algo perigoso e ameaçador, que se recusava a reconhecer!


 


— Não parece o mesmo homem que me algemou à cama. Esperava um pouco mais de autoridade e de controle em situações como esta, e menos perguntas e cenas melodramáticas. Ou quer que eu fique, ou não quer.


 


— Nada com você é previsível, Hermione — falara, desencostando da porta.


 


— Enquanto você é transparente? — perguntara, fingindo que nada estava acontecendo dentro dela. — Ah, por favor, Harry. É tão transparente quanto um pântano.


 


— Quero que empacote as suas coisas, entre no carro e leve o seu lindo traseiro para minha casa, para minha cama — dissera com deliberada indiferença, atingindo-a como um raio. Os olhos dele haviam se escurecido de um desejo que nada parecia extinguir. Aproximara-se, até quase tocá-la, e ela contivera a respiração, sem saber se devia se sentir preocupada com o que ele queria ou procurava. Harry percebera e a provocara. — Isto é suficientemente transparente para você?


 


Transparente ou não, produzira efeito, pensava agora, enroscada no sofá da sala de Scatteree Pines, enrolada num cobertor macio, lendo uma revista. Quando estava com ele, perdia a noção do tempo. Sentia-se absolutamente perdida. Exigira que ela deixasse o hotel há vários dias, e não pensara no que significaria ficar na sua casa, em como isto a afetaria.


 


 Perderia os próprios rastros? Ou já seria tarde demais? Temia saber a resposta, e nem queria ouvi-la. Harry lhe ensinara algo mais além das necessidades do próprio corpo e da capacidade de sentir. Ensinara-lhe também a ter esperança, e isto a apavorava.


 


Podia ouvi-lo no corredor e, pelo tom contido e respeitoso, sabia que falava com o avô. Ela reconhecia o mesmo tom que costumava usar quando falava com seu pai, embora sempre fosse menos gentil. A lembrança desagradável de Bradford lhe deu a sensação de frio e ela se aninhou ao cobertor, tentando se defender da sensação que ele lhe causava a milhares de quilômetros.


 


Durante as últimas duas semanas, seu pai deixara mensagens em sua caixa postal, mas não se dera o trabalho de ouvir. De que adiantaria? Poderia recitar de cor os próprios pecados: não precisava ouvi-los naquela voz fria e cruel.


 


 Também não precisava ouvir as constantes censuras e acusações que só faziam diminuí-la. Podia fazer isso sozinha, obrigada. Já passara tempo demais pensando nas pessoas que havia magoado com seu comportamento autodestrutivo, assim como passara os últimos dias imaginando por que não sentia a mesma angústia quando estava ali, com Harry, e podia ser simplesmente ela mesma. Bradford não iria ajudá-la, quando estava fragilizada por um novo sentimento.


 


Ficou calada quando Harry entrou na sala. Olhou-a, caminhou até a lareira, pegou um atiçador e remexeu a lenha com mais energia que o necessário. Não sabia por que, mas sentia o impulso de ir até ele e confortá-lo, como se ela fosse o tipo de pessoa capaz de confortar alguém, principalmente uma pessoa como Harry Potter.


 


Como se ele permitisse... Quanto mais tempo ficava ali, mais lhe ocorriam ideias absurdas! Sabia que aquilo acabaria mal, mas não se mexia. Não conseguia. Não ainda, pensou, ignorando a dor no peito ao pensar no que enfrentaria. Não ainda... Porque ela tivera um traço de esperança, uma visão fugidia de algo que não sabia desejar, de algo melhor do que ousaria imaginar, e não conseguia desistir. Não suportaria desistir de Harry.


 


Estava irremediavelmente perdida, e sabia disso com um inevitável senso de fatalidade. Talvez tivesse se perdido no instante em que o vira; com certeza, no momento em que a beijara. Com um lampejo de humor negro, concluiu que era uma princesa às avessas: ao invés de se recuperar no primeiro beijo, perdera-se.


 


Observou-o e admirou a perfeição do seu físico, a maneira como usava o jeans com naturalidade. Ele se integrava à terra, à casa, à vegetação: elegância, força, perigo e desejo num delicioso pacote. Não admira que ela não conseguisse questionar as suas razões e desejasse ficar ali, fora do tempo e do espaço, para sempre.


 


— Espero que tenha mandado meus cumprimentos ao seu avô — falou ela, voltando a olhar a revista. — Não o vejo há anos.


 


— É este o seu jogo, Hermione? — perguntou bruscamente. — Esta é uma tentativa desesperada de cravar as garras no meu avô? Deveria ter previsto.


 


Foi como levar uma bofetada. E forte. Precisou recorrer a todos os seus anos de experiência em ocultar emoções, em se controlar, em manter a respiração compassada e em ignorar o golpe. Não tinha o costume de relaxar, de se expor, de esquecer as coisas que a acusavam de fazer, de planejar, de querer.


 


Realmente achara que Harry esqueceria a desconfiança, a crença de que ela possuía motivos escusos, apenas por causa da atração que os unia? Ele acabara de mostrar claramente o que pensava a seu respeito.


 


— Vou me casar — falou Harry friamente. — Logo. Meu avô selecionou um grupo de candidatas adequadas, e espera que escolha uma que honre o nome da família. Não está entre elas. Suponho que ele seja a sua próxima escolha mais lógica, não é?


 


Hermione sentiu o coração se despedaçar, e por longo tempo não conseguiu se mexer ou respirar. Chamara-a de vagabunda, e dormira com ele. Várias vezes. O que isto fazia dela? Por que se espantava com o que pensava? Ela sentiu um nó no estômago, um espasmo, e pensou que iria vomitar, mas engoliu em seco e, de alguma maneira, conseguiu conter as lágrimas que ameaçavam rolar e que a envergonhariam ainda mais. Se era isso que significava sentir, teria sido melhor ficar anestesiada como fazia há anos.


 


Espreguiçou-se languidamente sobre as almofadas, e deu um jeito de encará-lo. Estava furiosa, mas reconhecia que sempre se esforçara para que todos, inclusive o próprio pai, acreditassem no mito que criara com tanto cuidado, de ser uma mulher descontrolada, de excessos, fútil, preguiçosa, gananciosa, para quem a vida não passava de uma interminável festa. Fizera a própria cama, e nela deveria se deitar para sempre. Não era de Harry que deveria sentir raiva, mas de si própria.


 


— Seu avô está solteiro? — perguntou como se não estivesse profundamente revoltada pelo fato de ele ter tido aquela ideia. Charles Talbot Evans deveria ter 85 anos. O que pensava dela? Bem sabia... — Sempre gostei de homens mais velhos. E não precisaria me preocupar que estivesse atrás do meu dinheiro, não é? — Ela deu o sorriso misterioso sob o qual sempre escondera seus sentimentos. — Daria uma ótima primavera para o inverno do seu avô, não acha?.


 


Harry lançou - lhe um olhar feroz, mas Hermione pensou que era preferível a outro sentimento que pensara ter visto em seus olhos, e a levava a querer abraçá-lo como se fossem outras pessoas e que a deixava vulnerável a ataques como o que acabara de receber. Ele gosta de fazer sexo com você, pensou friamente. Não gosta de você. Ninguém gosta. Não se esqueça disso.


 


— Meu avô não tocaria em alguém como você nem com uma vareta de três metros — disse com desprezo. Mas também com algo mais sombrio que ela não podia ver, mas sentia. De repente, deu-se conta de que era tão bom em se esconder quanto ela.


 


— Suponho que com isto você queira dizer que sou delicada — disse, fingindo-se de inocente, como se os insultos não a atingissem. Tornando-se inatingível, talvez não sentisse mais nada. — Ficaria surpreso ao saber quem consegue arranjar uma vareta de três metros, quando sou eu quem está do outro lado.


 


Harry deu uma falsa risada e percebeu que o atingira. Parabenizou-se por sustentar a imagem que mostrava ao mundo. Embora tivesse mudado e começasse a se conhecer, talvez devesse aceitar que esta imagem a definia, mas, naquele momento, com Harry a olhando com tamanho desprezo, ficava difícil encarar este fato com tranquilidade. Não era a primeira vez na vida que Hermione sentia vontade de desaparecer.


 


— Meu avô foi acometido do desejo extremamente suspeito de estreitar os laços de família no próximo feriado — falou em tom casual. Ela esperou pelo próximo golpe, que viria tão certeiro como o sol. — Não passamos o Dia de Ação de Graças juntos desde antes de a minha mãe ficar doente, mas parece que este ano ele resolveu mudar tudo.


 


— Uma ocasião para tirar uma foto da família...? — perguntou ela, dando de ombros ao vê-lo admirado com a pergunta fútil. — É assim que nós, os Granger, mostramos nossos laços: posando para as câmeras. — Harry pareceu olhá-la com uma intensidade penetrante, mas logo sacudiu a cabeça.


 


— Meu avô prefere que a família se reúna mais discretamente. — Fez uma careta. — É mais adequado para ele manifestar seu descontentamento, sem macular o nome dos Evans.


 


— Sem dúvida, não tem o que reclamar de você. — Imaginou por que começava a se cansar de fingir que não se importava com alguma coisa, com ninguém, nem mesmo consigo, e especialmente com ele, mas continuou a fingir, como se não percebesse o frio do ambiente e a amargura na voz dele. — Você é o protótipo da virtude. Um verdadeiro santo, dedicado a causas filantrópicas e outras tarefas tediosas. Do que pode reclamar?


 


Harry se serviu de uma bebida com movimentos tensos e controlados. Jogou-se numa poltrona diante do sofá e esticou as pernas no espaço que havia entre os dois. Os olhos dele brilhavam, e embora ela sentisse vontade de abraçá-lo, não tinha coragem de se mexer.


 


Sempre a veria como uma conquista sexual, como uma leviana de cabeça vazia com quem poderia conversar de vez em quando, por terem a mesma educação e status social e por não a achar importante a ponto de precisar fingir quando estavam juntos. Não, não era importante como as valiosas herdeiras decentes que serviriam para se casar com ele, e que deveriam estar à sua espera em Manhattan. Queria murchar ou morrer, mas contraiu o queixo para evitar explodir e dizer o que lhe vinha à cabeça.


 


Harry tomou um generoso gole de bebida e olhou-a por longo tempo.


 


— Meu avô detestou meu pai desde o momento em que o conheceu — falou por fim, quando Hermione já achava que não iria responder. — Pediu à minha mãe que não se casasse, argumentou, implorou. Mas era jovem e tola, e, pelo que pude entender, naquele tempo meu pai era muito bom no que fazia.


 


— Bom em quê? — perguntou gentilmente, temendo quebrar o que lhe parecia ser um delicado momento de paz, temendo que parasse de falar e voltasse a fustigá-la com a maior facilidade. Preferia o perigo da falsa intimidade a ouvir a amarga opinião que tinha a seu respeito.


 


— Em fingir que tem alguma integridade — respondeu sarcástico. — Em fingir que tem algum valor. Mas era bonito e encantador. A minha mãe dizia que parecia iluminar os lugares onde entrava. Como ela poderia resistir? — Deu uma risada desagradável. — Só mais tarde, percebeu que tudo não passava de um grande ego. Se não seria um Potter, e não teria a fortuna e os privilégios que achava que merecia, seria reconhecido pelo que realmente era: um trapaceiro. — Fitou-a, esperando que reagisse à sugestão de que era igual ao seu desprezível pai, mas Hermione ficou impassível. — Na opinião do meu avô, eu sou o fruto da árvore envenenada. — Deu um sorriso debochado. — E passei trinta anos da minha vida provando que ele tinha razão. Deixei meu pai orgulhoso: tornei-me mais inútil que ele, se é que isto é possível, mais egocêntrico, degenerado. Assumi a tarefa de gastar tudo que me era dado. Eu era um tesouro!


 


— Por que me diz isso? — perguntou cautelosa, porque sabia que não ligaria para os motivos. Encarou-a fixamente, com um olhar impenetrável e frio. Teve a mesma sensação de ser esbofeteada que tivera quando lhe lançara as palavras cruéis de alguns minutos atrás.


 


— Porque quero que você compreenda claramente o que está acontecendo aqui — falou, e as palavras a feriram como lâminas. — Minha mãe era a única que acreditava em mim sem nenhum motivo, e morreu antes que eu pudesse provar a ela que não era tola por acreditar em mim, como fora ao se casar com meu pai. Meu avô jamais me perdoou por ser filho de quem eu sou e por partir o coração da minha mãe com minhas loucuras. — Harry olhou-a com uma expressão de raiva e culpa. — Meu casamento com uma mulher de boa família e bom caráter é o único jeito de me redimir aos olhos dele — falou com a maior naturalidade, como se concordasse com cada palavra. Hermione pensou que talvez concordasse.


 


— Não sei o que quer que eu diga — falou ela calmamente.


 


— Você é tudo que o velho detesta, Hermione — garantiu, com uma espécie de satisfação nos olhos, um ar atormentado de triunfo. Como se não conseguisse resolver se gostava de dizer aquilo ou odiava. — Um problema para seus pais, uma mancha no nome da família, conhecida pelo comportamento depravado e terrível, sempre falada da pior maneira pela cidade. É o pesadelo do meu avô.


 


Felizmente, Hermione já conhecia a letra daquela música, mas isto não fazia com que a facada doesse menos.


 


— Um desperdício inútil e sem valor do legado dos Granger, que não considero com a devida gratidão e reverência — ecoou. — Um peso para o meu pai sofredor. Sempre exposta, ousada, sem remorso. Ofensiva, amoral, estúpida e sem limites. — Sentiu o rosto doer, mas manteve o sorriso. — Você me conhece bem...


 


— Fui como você — interrompeu-a. — Não vê? Não há nada que possa fazer que me deixe chocado. Já fiz o mesmo. — O sorriso dele era desdenhoso, mas havia algo nos seus olhos que fez com que o coração de Hermione se dilatasse e ficasse vazio ao mesmo tempo.


 


— Acho que não entendo aonde quer chegar, Harry — falou com indiferença. Sentia a cabeça vazia, seus olhos ardiam pelo esforço de conter as lágrimas que preferiria secar a deixar rolar. — Devo entender que nunca vai pedir à garota desprezível que se case com você? E eu, que alimentava esperanças...


 


— Nunca me enganou — falou severo. — Não sei o que veio procurar aqui, mas não vai conseguir. Sou esperto demais para acreditar em uma palavra do que diz, e o meu avô jamais deixaria que manchasse o nome dos Evans. Perde seu tempo, e o problema é seu, mas também está fazendo com que eu perca o meu.


 


— Que quadro adorável você pintou — observou Hermione depois de um instante, com um fiapo de voz. Já havia passado por coisas piores e sobrevivido. O que era um pouco mais de sofrimento? Cometera um erro ao ceder a algo que tanto desejava, e isto sempre dera errado.


 


— É a pura verdade — retrucou Harry. — O que não entendo é por que, sendo tão inteligente, insiste em aparentar o contrário e em levar a vida que leva. Isso não faz sentido.


 


Ela sabia que existiam várias verdades, mas que nenhuma delas era simples. A raiva, o sofrimento, e a vergonha — velha companheira —, se misturavam, e tinha vontade de gritar, de sacudi-lo, de forçá-lo a vê-la da mesma maneira que começava a se ver, mas talvez não estivesse preparado para enfrentar a verdade a seu respeito, sem a rejeitar. Concluiu que seria melhor guardar seu segredo, porque era tudo que lhe restara.


 


— Desmascarou os meus planos — falou com displicência, resolvida a continuar a farsa, passando a mão nos cabelos curtos e olhando o teto. — O que me resta a fazer agora?


 


— Acha que isto é brincadeira, Hermione? — perguntou irritado. — Não deveria estar aqui. Jamais deveria sucumbir ao que não passa de uma lamentável fraqueza. Sei o que você é, e, apesar disso, trouxe-a até aqui.


 


— Sou uma desgraça — disse com indiferença, encarando-o e sustentando seu olhar. Desvencilhou-se da manta e sentou. — Sou um exemplo didático para as jovens herdeiras do mundo. Sou o bicho-papão, o símbolo do mau comportamento. Os outros me olham e não se sentem tão mal com eles mesmos. Quando as pessoas chegam ao fundo do poço, ficam felizes por poder olhar para baixo e me ver.


 


— Pare! — falou rispidamente, como se o que ela dizia também o ferisse. — Isto não está ajudando.


 


— É a pura verdade — repetiu o que ele dissera. — E há mais. Você se odeia por me querer. Odeia a atração que existe entre nós e o fato de o sexo ser tão bom. Sempre me odiou porque o faço encarar coisas a seu respeito que jamais quis enxergar. —


 


Viu-o ficar pensativo e, depois, perturbado. Não sabia se ele queria negar ou torcer linda mais a faca na ferida que lhe provocara, mas de uma coisa estava certa: desejava, do mesmo jeito que ela. Desgraçadamente. De maneira destrutiva, intensa e Irracional. Estava escrito no rosto de Harry, assim como também parecia evidente que tentava combater a verdade. Ela esperava que o desejo mudasse alguma coisa, que vencesse.


 


— Aonde quer chegar? — perguntou ele com voz tensa.


 


Hermione pensou que talvez aquilo também o magoasse... Talvez os porcos voassem ao redor de Evans Island... Era uma idiota.


 


— Convidou-me para vir aqui — observou. A raiva contida na sua voz se dirigia mais a ela própria, do que a Harry, mas atingia os dois. Levantou-se e alisou o suéter, ciente de que o gesto revelava suas curvas. Afinal, não estava acima do jogo sujo. — Ficarei feliz por partir. A última coisa que quero é ficar aqui, ajudando-o a se afundar na auto piedade.


 


Harry também levantou, e de repente estavam muito próximos. Não sabia se queria esbofeteá-lo ou beijá-lo, qual dos dois lhe doeria mais, e a qual gesto sobreviveria. Pior: não sabia o que sentir ao perceber que, apesar de tudo, ficava ofegante só de pensar em beijá-lo novamente, seus seios intumesciam, os mamilos despontavam, o corpo amolecia, preparando-se para ser possuído.


 


Traíra-se mais uma vez. Harry olhou-a com um ar torturado, acariciou lhe o rosto e pegou o queixo. A delicadeza do gesto, a ternura implícita, era mais do que ela poderia suportar.



— Dane-se, Hermione — resmungou. — Mas ainda não quero que você se vá.



                                                                         
XXX--XXX

Obrigada Juliana de Barros Cadan e Pacoalina  por seus comentários, vocês são ótimas.. e obrigada tb a todos os vcs que continuam acompanhando essa fic, espero que estejam gostando..


Para aqueles que acompanham a minha fic Harry Potter e as Novas Oportunidades, eu vou estar atualizando muito em breve..ALELUIA..kkkkkkkkkkk

Se vcs encontrarem algum erro com os nomes, por favor me digam onde esta que eu arrumo..

Brigada pessoal.. Até a proxima..

 

Compartilhe!

anúncio

Comentários (3)

  • kellycl potter

    VC VAI ME MATAR SE DEMORAR MAIS POR FAVOR AMIGAAAAAA POSTA LOGO OS CAPITULOS, BEM QUE A MIONE PODIA LOGO ENGRAVIDAR E DEIXAR O HARRY MAIS LOUCO AINDA MAIS SEI QUE TEM UM MISTÉRIO TODO DA MIONE AI ,NÃO DEMORA VIU BJS

    2014-01-08
  • Pacoalina

    essa conversa do harry está meio cansativa já e hermione tb é meio estranha!vamos ver no que vai dar!!

    2013-12-12
  • Laauras

    Essa história tá mais enrolada que nó cego! Esperando que tudo se resolva logo!Um bjão e tô amando a fic! 

    2013-12-11
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.