Garota com Tatuagem de Dragão



Sirius sentou-se à mesa empoeirada do número doze do Largo Grimmauld. O sono não chegaria nunca, ele tinha certeza. Andava de um lado para o outro, sem preocupar-se se esbarrava ou não em Monstro.


- Mestre traidor do próprio sangue, impede Monstro de arrumar a casa dos Black. Se minha senhora estivesse... – Começou o elfo doméstico.


Sirius chutou o balde que Monstro carregava, fazendo-o rolar pelo corredor.


- Mas ela não está! Vá espanar o quarto daquela velha e me deixe em paz! – O fugitivo exclamou, ficando só quando o elfo saiu da sala de jantar resmungando palavras incompreensíveis. – Ela não está aqui para me dizer o que é certo ou errado.


Segurou um bule de água fervente, despejando o líquido numa xícara. A água subiu agitada, envelopando o pacote de chá de amoras que repousava no fundo. O líquido transparente em contato com as ervas gradativamente foi se tornando acobreado, como se tivessem jogado ferrugem ali. O reflexo do seu rosto apareceu mais claramente, ele sentiu um calafrio subir pela nuca. Estava decrépito.


Desde que fugira de Hogwarts não vira outro lugar senão sua velha casa. E passou a maior parte desse tempo só, a Ordem ia e voltava, mas ele ficava, na maioria das vezes, sozinho. Sem contar com a presença de Monstro, e o elfo merecia o nome que tinha.


Tomou um gole do chá. O calor da bebida quente reanimou-o. Levantou-se e, ainda com a xícara em mãos, caminhou através do corredor, cuidando para não melar-se na poça de água com sabão que se formara com a queda do balde. O sol estava alto, deveriam ser aproximadamente 11 horas, e ele ainda não comera, nem tinha previsão para se alimentar, a Senhora Weasley não viria hoje e a comida de Monstro era uma droga.


Em um novo gole, terminou de beber o chá. Esperando que o calor que invadiu seu peito se esvaísse, ele despiu-se, ficando apenas com sua calça. Retirou os sapatos e os colocou de lado da porta. Não aguentava mais ficar em casa, precisava de um ar, luz do sol e, além do mais, quem o reconheceria? Todos os aurores estavam caçando bruxos das trevas, a cidade estava cheia de trouxas, mas só. Teria o cuidado de evitar lugares mágicos. Visitar praças, talvez? Não importa, só queria sair dali.


Abriu a porta e virou-se.


- Monstro, feche a porta! – Gritou.


Em um segundo, não havia mais Sirius Black, não havia mais nenhum ser humano, apenas um enorme cão negro.


...


 


- Tédio, do Latim, Taedium, significa “cansaço, desprazer”. – Cantarolou a garota enquanto andavam no corredor, ela segurava um dicionário com a mão direita, enquanto com o braço esquerdo enlaçava a cabeça do rapaz numa chave. – É assim que você se sente, Potter?


Ela riu.


- Kate, qual é? Só reclamei que não acontecia muita coisa ultimamente. – Disse o rapaz. – As aulas estão tão paradas que se cair uma pedra faz onda.


Haviam acabado de sair da aula de Defesa Contra as Artes das Trevas. Delarious passara um trabalho sobre fungos assassinos e ele ficara em dupla com a Draconiam, o tema deles era o Lodo Comecarne encontrado em algumas partes da África e usado em rituais de xamanismo.


Eles caminhavam em direção ao pátio, conversando animadamente sobre as estatísticas dos órgãos sobreviventes a um ataque do lodo, quando Hermione, Rony e Monique se aproximaram.


- Hermione, eu não vou, nem por um decreto, me aproximar der um Cogumelo Roubanariz. Não importa o quanto o Neville tenha dito que eles são inofensivos se você estiver usando máscara, não vou arriscar meu nariz. Delarious não merece tanto. – Resmungava Rony.


Todos riram.


- Harry. - Hermione começou, ignorando Rony com um revirar de olhos. – Está tendo treino de quadribol, porque você não está lá?


O rapaz maneou a mão, como se estivesse espantando uma mosca.


- Ah, Katie Bell disse que ia treinar as meninas hoje. Acho que a Gina já deve estar por lá. – Ele colocou os braços atrás da cabeça. – Porque a gente não vai assistir?


Todos assentiram alegremente e atravessaram o jardim, em direção ao campo que se erguia mais a frente. Forçando os olhos, podiam ver manchas não maiores que pombos voando na distância, as vassouras cortando o ar e zunindo em baixa frequência.


- Peter... Onde ele está? – Harry perguntou, deixando Rony, Hermione e Monique irem à frente, ficando para trás com Katherine. – Ele gosta de quadribol?


A garota Draconiam parou e segurou a mão dele.


- Que interesse repentino no meu irmão é esse, Harry? – A garota tinha um brilho estranho nos olhos, viu os amigos caminhando a uma distância maior e voltou-se para o rapaz. – Ele não gosta. Por que a pergunta?


Harry passou uma mão no cabelo desgrenhado, apertando a mão dela na dele.


- Não sei, os Draconians me fascinam, eu acho. – E deixou os olhos vagarem. – Vocês são como seres diferentes. Parecem alheios a tudo, como se não precisassem estar aqui, ou como se já soubessem de tudo.


A garota mordeu o lábio e o rapaz deu um sorriso de lado. Estou notando um pequeno desconforto? Será que eu encontrei um ponto fraco nessa barreira? No instante seguinte, ela recuperou a compostura, sorrindo brincalhona.


- Está me chamando de prepotente, Potter? Na minha terra matariam por menos. – E deu um tapa na cabeça dele. – Segure a língua, rapaz, ou eu posso ter de segurá-la por você. – Em seguida caminhou em direção aos amigos, que esperavam e acenavam, deixando o garoto para trás, apenas sussurrando consigo mesmo.


- Eu gostaria disso. – O sussurro chegou aos ouvidos de Kate quase como um zumbido, um escape da mente do moreno. – Eu gostaria muito disso, Draconiam. – E seguiu os amigos, enquanto Katherine sorria.


 


...


 


O enorme cachorro passeou pela Tower Bridge como se fosse sua caminhada matinal. Desfrutava do vento no rosto, os raios de sol que acariciavam seu pelo, olhava para o Tâmisa e a água turva o fazia se sentir bem.


Era bom estar fora de casa.


Transpirar pela língua era irritante, as pulgas o matavam, mas estar fora de casa era tudo que ele mais queria.


Atravessou a ponte, deu uma volta no quarteirão do Big Ben, roubou um cachorro quente de um vendedor que perambulava por ali e perseguiu um gato durante uma ou duas quadras.


Estava cansado demais quando parou frente a um prédio no centro da cidade, os ônibus de dois andares atravessando as ruas e assustando um grupo de pombos, que revoaram. Acompanhando o revoar dos pombos foi quando ele o viu, parado do outro lado da rua, conversando com outro rapaz, deveriam ter entre 45 e 50 anos, estavam vestindo um casaco e uma calça jeans, meio que não combinando, como um bruxo não versado nos conhecimentos trouxas se vestiria. Mas foi o rosto do homem que chamou a atenção.


Ele tinha um rosto deformado, como se pequenos tumores crescessem acima de seus olhos, no lugar de suas sobrancelhas. Os olhos injetados eram negros, e o nariz era torcido para a esquerda, as mãos tremiam e, por baixo do casaco, os olhos de cão de Sirius podiam ver o cabo da varinha.


Sektor Crawler. Líder das Adagas de Cristal. Meu vizinho de cela.


Quem era aquele com quem ele falava, era Greyback? Não tinha certeza. Do que estava vestido com um sobretudo, todo coberto, mal podia ver o pouco do cabelo escuro que escapava por baixo do chapéu.


Comensal e mercenário. Deu mais alguns passinhos, atravessando a rua e parando ao lado de um poste, a menos de dez metros da dupla. O que Voldemort está planejando?Esse movimento é novo.


Ele conseguia ouvir pedaços cortados da conversa. Londres, segurança, Hogwarts. Falavam tudo muito rápido e muito baixo, com medo de serem notados. Quando a conversa diminuiu o ritmo, Greyback olhou ao redor, fungando.


- Eu conheço esse cheiro. – Ele fungou outra vez e Sirius percebeu que era hora de sair. – Cão Sarnento. – Foi quando viu o cão parado ali perto. – Cão Sarnento.


Maldição. Ele viu a mão de Greyback correndo para sua cintura, onde sua varinha estava guardada. Saída pela esquerda. E desapareceu por entre os carros, antes de ter certeza que um feitiço estaria o seguindo.


Greyback e as Adagas de Cristal. Voldemort tinha um plano muito bom, o que significava que eles estavam muito ferrados.


Harry, eu preciso avisar Harry. E correu direto para o local onde não queria estar.


Largo Grimmauld, número 12.


 


...


 


Tudo começou quando Katherine decidiu pegar uma vassoura.


- Diga que você duvida. – Kate disse, andando em direção ao armário de vassouras. – Diga que você duvida e eu vou enfiar aquele pomo pela sua goela abaixo.


Gina sorriu, desafiadora.


- Aquele pomo é mais rápido que seus pensamentos, você nunca vai pegar aquilo, Kate. Quantas vezes você subiu numa vassoura mesmo?


Todos davam risinhos, Monique balançava a cabeça, a brincadeira divertindo-a. Harry correu, adiantando-se a Kate e abrindo a porta, fazendo um gesto cavalheiresco para que ela pegasse uma vassoura. A garota não fez questão de escolher, apenas pegou a primeira que viu. Harry pegou sua Firebolt. Isso vai ser divertido.


- Kate, você vai cair. Isso é uma Goldenmogne, não tem nenhuma aerodinâmica. Confortável, mas não deixa ninguém em pé por mais que cinco minutos. – Gina segurou o ombro da amiga, enquanto ela subia na vassoura, a madeira escura se prendendo entre suas coxas.


- Ótimo, um minuto é o bastante. – E decolou.


Harry balançou a cabeça e com um pulo e um movimento rápido já planava a alguns poucos metros do chão.


- Eu vou cuidar para que ela não se machuque... Muito.


Gina assentiu.


- Vou com você, por precaução. – Subiu em sua Ironwood e tentou seguir o rastro de Harry.


Katherine não sabia voar com um pedaço de madeira entre suas pernas. Embora a sensação fosse excitante, ela não estava se sentindo verdadeiramente segura. Asas, era isso que estava faltando nas vassouras, asas.


Um rastro dourado passou frente a seu rosto, seguido de um zumbido. O pomo. Ela acompanhou o rastro, seus olhos se perdendo por diversas vezes, era muito rápido, até para ela. Não mentiria, se perdia constantemente com a paisagem. O verde da Floresta Proibida crescia ao longe, esmaecendo até virar não mais que névoa. Hogwarts se erguia atrás dela, subindo até perto das nuvens mais baixas, sua sombra tomando conta de uma área considerável.


O rastro zuniu novamente e, dessa vez, a garota fixou sua mente na tarefa de capturar o pomo e provar que Gina estava errada. Ela podia, sim, voar e capturar aquela bola de pingue-pongue hiperativa.


Só precisava descobrir como manobrar a vassoura.


Inclinou o corpo na direção do rastro e a vassoura obedeceu. Certo, entendi como é o processo, agora é só fazer funcionar. Inclinou o corpo para frente e a vassoura acelerou, o rastro, a essa altura, perdido novamente.  Agora, hora de pegar o pomo.


- Vai vomitar, princesinha? – Gina voava em círculos ao redor da garota, um sorrisinho divertido no rosto. – Ah, vamos lá, Kate, foi só uma brincadeira, não precisa levar a sério, vamos descer, você pode cair.


A garota balançou a cabeça, orgulhosa. Girou um pouco o corpo e a vassoura fez uma curva, descendo em direção ao campo, depois ergueu a empunhadura e subiu até o limite. De lá, conseguia ver tudo, das planícies às montanhas. Tudo, menos o pomo.


- Onde está essa... – ela tentou xingar, mas mal teve tempo. O Pomo saltitou pelo ar na frente de seu rosto, como que provocando-a. – Sua coisinha insolente.


Com uma manobra tremida ela impulsionou-se para frente, atacando não muito sorrateiramente a bolinha de ouro, que escapuliu, voando numa velocidade monstruosa à sua frente.


- Fique parado, droga, eu preciso pegar você. – Mas o apelo não foi o bastante e o Pomo continuou a ziguezaguear por entre as barras do gol, subindo e descendo sorrateiramente no campo, fazendo curvas abruptas e fechadas. Katherine não tinha chance.


Ah não, eu não vou perder não. Acelerou, chegando a sentir a madeira entre suas pernas tremer. Agora não.


A vassoura estava no seu limite quando Katherine tocou no Pomo, correndo para se aproximar mais, Ela forçou e se esforçou. Mais alguns instantes! Só precisaria fechar a mão.


Foi quando a vassoura quebrou.


Ela estilhaçou-se, para ser mais exato. Uma rachadura atravessou a madeira escura, soltando farpas que velozmente sumiam no ar. A dor na mão de Katherine só durou até que o encontrão com o chão chegasse.


Ela sentiu o braço deslocar e a terra entrar em sua boca. A vassoura havia rasgado sua coxa e deixado alguns pedaços de madeira por ali.


Merda.


Rolou até acertar a parede, perdendo o ar. Sua visão parecia um borrão e algumas manchas voavam em sua direção, gritando.


- Katherine! – Gritou Harry, aproximando-se pelo céu, sua voz entrecortada com a dos outros, especialmente uma Gina perceptivelmente desesperada.


Merda, merda, merda! Ela não estava realmente dolorida, não mais, pelo menos. A constituição draconiana impedia que a dor se alastrasse muito além do momento de impacto. Todo o problema era que as feridas estavam sarando, rápido demais para os humanos. Eles iriam perceber. Um humano normal teria morrido.


- Kate! – Hermione correu até ela, junto com Monique.


Com um movimento rápido, Harry desceu da vassoura.


Katherine sua idiota. Repreendeu a garota a si mesma. Agora arrume o que você começou. Seus olhos rapidamente brilharam, antes que alguém pudesse perceber, um azul intenso, como se a cor quisesse se tornar viva. A dor se alastrou e ela deixou percorrer o corpo, a ferida estancou e o sangue percorreu sua perna, a dor de cabeça quase fez com que ela se desconcentrasse, sua visão voltou a embaçar.


Ela sentiu mãos agarrarem sua cabeça e levantarem-na, sentiu o cheiro do sangue e viu que o mesmo manchava suas vestes em manchas assimétricas.


- Eu preciso... De um banho. – Ela disse, sorrindo fracamente, antes de encostar a cabeça no peito de Harry e desmaiar.


...


 


Porque que ela fez isso? Peter estava olhando para sua irmã, o corpo dela deitado sobre uma maca na enfermaria. Ele parecia visitar aquele lugar mais vezes do que precisava. Isso estava ficando irritante. Porque diabos ela faria uma porcaria dessas?


- É sua irmã e você está com essa cara de paspalho, sério? – Harry disse, cruzando os braços.


- Eu vejo sua boca se mexendo, mas não falo a língua dos idiotas. Cale-se, se não pretende ajudar, ou você esquece quem tem culpa nisso? – E apontou indiferente para a maca. – Se não gosta da minha presença, suma daqui, eu não ficaria menos que satisfeito.


Harry olhou para Peter, seus olhos quase fuzilando o outro.


- Você... É nojento. – Ele disse, balançando a cabeça e voltando-se para Katherine. – Sua besta, não deveria ter ido tão rápido.


Peter sentia raiva. Ele havia chegado vinte minutos antes, quando ouviu uma conversa sussurrante nos corredores sobre sua irmã ter se machucado num voo de vassoura.


- COMO É? – Ele aproximou-se do grupo que conversava, dois ou três integrantes apressaram-se a sair de perto. – O que você disse sobre a minha irmã?


O rapaz, deveria ser um sextanista, deu passos para trás enquanto Peter aproximava-se perigosamente, suas vestes esvoaçando. Tommy, era o nome do garoto, levantou as mãos no ar, assustado.


- Calma. – Disse, quando o Draconiam parou, o rosto enfezado e desfigurado em raiva. Peter bufou em resposta. – Duas garotas estavam conversando e parece que sua irmã caiu da vassoura enquanto...


Caiu da vassoura? Peter se resignou a não ouvir, raciocinando por alguns instantes. Porque diabos ela subiria em algo que nem sequer sabe usar? Katherine e seu orgulho ainda iriam colocá-lo em situações mais complicadas.


- Cale-se. – Peter disse e o rapaz sentiu um pouco do poder draconiano percorrer suas veias enquanto ele era obrigado a parar de balbuciar palavras desconexas.


Virando-se, o Draconiam seguiu o rastro do poder de sua irmã, deixando o grupo desnorteado para trás, atravessando corredores e andares em direção à torre de relógio onde ficava a Enfermaria.


AH! Incrível. Ele atravessou a enorme porta dupla, o ar gélido e enfermo subia por sua narina enquanto ele sentia o piso ranger em meio ao silêncio da sala. Harry Potter e seu grupo de bruxos patéticos estavam próximos à cama onde Katherine repousava.


- Quantos de vocês têm culpa nisso? – Perguntou, dirigindo o olhar a cada um lentamente. – Quem teve a ideia cretina de deixa-la fazer algo assim?


O pequeno grupo virou-se, os rostos fechando rapidamente enquanto o dragão diminuía o espaço entre eles. Gina sutilmente tocou o pescoço, os dedos roçando a pele frágil.


- Eu perguntei: “Quem. Tem. Culpa. Nisso?” – Peter aproximou-se, tocou o lençol que cobria o corpo da irmã, sentiu a vibração de vida entre suas células, o fogo em seu coração. Ela está bem. Ela está perfeitamente bem, apenas dormindo. Ele relaxou. – Pelo Fogo Sagrado.


Monique sentiu a tatuagem se agitar em seu ombro, correr por seu braço, brincar pelo seu pulso, sua cauda enrolar sua mão.


- Ninguém tem culpa nisso, Peter. – Hermione começou. – Sua irmã foi um pouco mais rápido que o recomendado, ninguém a obrigou a subir na vassoura. Ela fez porque quis.


Peter analisou-a, seus olhos subindo e descendo.


- Que seja. – Sussurrou, afastando-se da cama.


O silêncio subsequente foi extremamente desconfortável, quebrado apenas pelas poucas tosses dos enfermos, o chiar do bule de remédios e o vento uivando pelas brechas das paredes.


 Peter grunhiu algo, depois de um tempo, seus olhos fixos no braço de Monique, com um sorriso de canto de boca. Harry seguiu o olhar por alguns instantes, percebendo a tatuagem aninhar-se no antebraço da garota, chamas negras e avermelhadas subindo, partindo da imagem.


- Nique? – Harry olhou, estático. – Desde quando você tem uma tatuagem no seu braço? – Ele esticou a mão e segurou a garota, aproximando-se do desenho para ver melhor.


Monique dá um sorriso gentil, como apenas ela sabe fazer, deixando-o levar o braço, enquanto o dragão negro brincava com o dedo do rapaz.


- É uma tatuagem mágica. Normalmente, ela fica parada nas minhas costas, mas parece que eu venho perdendo o foco ultimamente, por isso não consigo controlá-la direito. – Monique encara Peter inexpressivamente por um segundo, depois desvia o olhar e retorna a Harry com um sorriso divertido - Tenho também mais algumas no corpo que você ainda não teve oportunidade de ver...


Harry segurou o braço da garota, observando o dragão brincar ali.


- Divertido. – Ele sorriu, fascinado, observando o dragão se esconder novamente por baixo da camisa da garota.


Katherine ouvia tudo isso com displicência, quase como se presa num torpor autoimposto. Sentia as vibrações dos risos de Harry, a mão de Gina no seu pé, o olhar fixo de Hermione, tudo parecia um tanto enevoado, entretanto. Ela precisava desse torpor para que seu corpo regenerasse com a velocidade comum a um humano. Mesmo assim, seriam poucos minutos até que ela finalmente sarasse.


Por quê? Ouviu, quase como que um cochicho em seus ouvidos. Por que fazer isso?


Ela moveu-se, desconfortável ante à presença de Peter em sua mente.


Eu caí da vassoura, Peter. Ela murmurou mentalmente. Não tive escolha a não ser autoinfligir um torpor para que eles não percebessem.


Eu quero saber por que você caiu da vassoura. Ele falava de forma incisiva, mas calma, o que era uma novidade.


Katherine franziu o cenho, ainda fingindo estar dormindo.


Por que eu não sei voar numa vassoura, Peter. A resposta parecia óbvia em sua mente.


Então por que voou? Indagou, calmamente, seu irmão.


Porque eu fui desafiada.


Peter sorriu, respirando profundamente.


Reflita sobre isso, lembre-se disso da próxima vez que me repreender, suas atitudes são inconsequentes tanto quanto as que você abomina.


Aproximando-se da maca Peter tocou o rosto da irmã de forma terna, o sorriso sarcástico brincando em seu rosto. Sabe, irmãzinha, acredito que você está reclamando com você mesma, quando se irrita comigo. Virou-se, olhando cada um dos presentes e rumou em direção à porta, sem dizer uma palavra.


- Qual o problema dele? – Perguntou Rony, olhando o rapaz atravessar a porta.


- EU diria que ele precisa de uma namorada. – Disse Katherine, abrindo os olhos lentamente e levantando-se. – Mas, a julgar pelas opções, eu sinto que demorará um pouco até vermos ele mais calmo.


Todos riram, os rapazes ajudando a garota a se apoiar num amontoado de travesseiros. Ela não estava vestida com a parte de cima, que permanecia enfaixada dos seios até o umbigo, por causa de uma pequena fratura nas costelas, o que a deixava um pouco desconfortável, mas dava para sobreviver.


- Quanto tempo eu estive descansando? – Ela perguntou, olhando a luz do sol acertar as janelas da enfermaria, os folículos de poeira flutuando a frente de seus olhos.


Harry deu de ombros.


- Algumas horas. Pedimos licença da professora McGonagall para podermos ficar por aqui e repormos a aula de transfiguração depois. – Ele apoiou-se na cama, dando um beijo rápido na testa dela. – Não estava com cabeça para aprender a transformar um copo em peixe com você aqui.


Ela deu um sorriso simpático, uma pontada de dor percorreu seu peito. Dor humana. Aquilo era deveras desconfortável. Dragões não se machucam, existe apenas um limiar entre a vida e a morte. A única experiência real de dor que eles podem experimentar é através da magia, e nem de longe elas se comparavam.


- Obrigado, pessoal. Não precisavam, é claro. – Por um instante, enquanto a garota observava seus amigos, Hermione parecia especialmente interessada no ombro de Katherine, o que a levou a se cobrir com o lençol, o material fino arrepiando sua pele. – Vocês não teriam roupas para mim por aí, teriam?


Harry olhou para Gina e Hermione, que balançaram a cabeça.


Monique avidamente retirou a mochila que carregava, vasculhando por entre os materiais de desenho e estudo, até encontrar uma muda de roupas.


- Monique? – Gina começa. – Eu não perguntei antes, mas nunca vi você no dormitório feminino, tipo, para dormir. Te vejo passando por lá, ficando com a gente, mas não dormindo.


Bem dito isso, todos os presentes viraram-se para a garota, como que enfim uma constatação há muito tempo procurada houvesse sido feita.


- Como meu pai é professor e mora aqui no castelo, ganhei um quarto privado, para deixar minhas coisas. Costumo dormir por lá mesmo também. – Ela falou de forma simples, dando de ombros.


Hermione, que parecia distraída, se voltou para a garota de forma curiosa, seus cabelos castanhos movendo-se rápido quando ela virou a cabeça.


- Você... Mora... No castelo? – Os olhos brilhantes da garota pareciam entrar em devaneio. – Você realmente mora aqui?


- Sim. – Monique respondeu, sem entender a reação da amiga - Se quiserem, posso até levá-los pra conhecer o local qualquer dia, mas não tem nada de tão interessante assim lá...


Um sorriso se estendeu no rosto da amiga.


- Seria divertido. – Disse Harry, levantando da cama. – A gente poderia se reunir lá, melhor que ficar à vista de todo mundo.


Katherine ergueu uma sobrancelha.


- O que você pretende fazer longe da vista de todo mundo, Sr. Potter?


Harry passou a mão nos cabelos, desconcertado. Rindo, os amigos continuaram conversando animadamente, especialmente sobre a queda de Kate, a qual mostrou-se solicita a brincadeiras. Hermione, no entanto, parecia distraída, como quando sua mente maquinava acerca de uma aula ou tarefa um pouco mais complicada que o normal.


- Pessoal, eu e a Gina tínhamos marcado de nos encontrar com a Parvati... Estudar, tudo bem? – Hermione apertou a mão de Gina de uma forma sutil. – A gente se encontra depois, certo?


Todos assentiram, observando enquanto as garotas saiam.


- O que a Mione tinha hoje? – Rony perguntou, aproximando-se do círculo. – Ela parecia distraída.


Katherine deu de ombros, olhando a porta fechada.


- Talvez ela tenha visto algo que a deixou pensativa. – A garota de olhos azuis tocou o ombro, onde repousava uma pequena tatuagem de dragão. Ela está pensando demais. Teria de conversar com a amiga em algum momento.


 


...


O caminho até a biblioteca foi recheado de pensamentos. Hermione estava ás voltas com imagens dos irmãos Draconiam, esquecendo-se de olhar para frente e trombando diversas vezes com pessoas no corredor.


- O que houve? – Perguntou Gina, andando poucos passos atrás da amiga. – Percebi que você observou a Kate, depois que ela se levantou. Algum problema?


Hermione parecia não ouvir, seus olhos vidrados em seus pés.


- Você viu que ela tinha uma tatuagem no ombro? – Perguntou Hermione. – Um pequeno dragão, simples, tribal. Bem bonito por sinal. Você percebeu?


Gina assentiu.


- Vi, vi sim. Qual o problema?


- Você lembra onde já o viu outra vez?


- Não.


- No ombro do irmão dela.


Uma tatuagem, com a mesma forma e tamanho. Poderia ser apenas uma coincidência, mas não custava investigar. Talvez, só talvez, valesse a pena. Ela sentia que estava prestes de descobrir algo.


Ah! Ela descobriria. Estava cada vez mais próxima de desvendar o segredo dos irmãos Draconiam.


Perigosamente próxima.

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