O Som do Silêncio

Essas são as primeiras páginas do caderno de Blake, encontrei-as no meio das cinzas de uma lareira na Sala Precisa, pouco depois de Hogwarts ser desocupada para reconstrução:

Meu nome é Blake Makkarios, eu sou um caçador e estou de saco cheio de ficar escrevendo relatórios de busca nesse caderninho.
 

Sério, você provavelmente não sabe como é irritante ficar dias e dias escrevendo que não achou porcaria nenhuma e que não fez nenhum avanço em nada que lhe foi pedido.
 

Vamos aos meus afazeres enquanto eu estou perambulando por Hogwarts:

1. Procurar e neutralizar possíveis ameaças;


2. Desfazer as barreiras mágicas que impedem entrada no castelo;


3. Encontrar o Livro dos Dragões;


4. Impedir que o Louco do Delarius ponha todo plano a perder;


5. MATAR PETER DRACONIAM!

Viram, nem é tão difícil, só as cinco primeiras é que são meio problemáticas.
 

Mas vamos ao que interessa:
 

Estou há mais ou menos um ou dois meses em Hogwarts, entocado numa sala que não existe para quem estiver no corredor. Acho ótimo, mas eu raramente posso sair e, quando saio, tenho que estar invisível.
 

É bem divertido, confesso, mas estou irritado pela falta de interação humana.
 

Ontem foi um dia bem interessante:
 

Eu acordei antes que o sol nascesse, o que é bastante normal para mim, e decidi caminhar um pouco, tentar quebrar a monotonia.
 

O céu escuro tornava todo o ambiente sombrio e imaginei que os garotos demorariam a acordar, portanto, me dei ao luxo de ser um pouco descuidado e saí sem tomar minha poção de invisibilidade.
 

Esse lugar é enorme e velho. Tudo bem, não tão velho, afinal, é mais novo que eu, mas ele é cheio de poeira e teias e essas coisas nojentas que as coisas velhas têm. Mas eu me sinto muito bem aqui, com toda essa magia saindo de não sei onde. Andar pelos corredores dos andares mais baixos não é muito seguro, mesmo assim tão cedo, então eu tentei evitar escadas o máximo possível.
 

Qualquer movimento me alertava e me deixava assustado, fazendo com que me esgueirasse para uma sala vazia, de modo a me esconder.
 

Foi numa dessas fugidas que percebi que o barulho do qual eu tentava me distanciar não era uma mera ilusão de meus ouvidos e decidi, por pura curiosidade, me arriscar a descobrir de onde vinha.
 

Eram passos que lentamente se distanciavam, na direção oposta da qual eu vinha, como se estivessem fugindo, entrando cada vez mais no terceiro piso, em direção à torre das corujas.
 

Eu me esgueirei até conseguir vislumbrar algum relance do meu perseguido. Quer dizer, minha. Era uma garota e ela subia devagarzinho os degraus até parar à porta e abri-la, dando uma olhada às costas para ver se estava sendo seguida, como estava.
 

Felizmente não fui percebido, conseguindo segui-la até o topo do... Como eles chamam? Sim, Corujal, suponho. Ela abriu a porta e se esgueirou para dentro, mantendo-a entreaberta, um vento frio e úmido passando pela fresta, junto com pequenas penas brancas.
 

O cheiro não era especialmente agradável, mas havia um aroma no ar, um aroma mais forte que me lembrava de algo, ou alguém.
 

Eu peguei na maçaneta, sentindo o calor residual da mão da garota, o poder mágico que o simples toque deixava no ar. Era bastante poderosa, devo admitir, com um leve frescor de oliva que o cabelo deixava ao passar, eu parecia estar sendo levado.
 

Abri a porta, deixando a luz do dia bater em meus olhos, esperando que eles se acostumassem, porque, daquela forma, eu só era capaz de ver a silhueta da moça. E, cara, ELA ERA ****** (a palavra em questão fora rasurada no diário).
 

- Finja que não me viu e vamos estar bem. – A garota se virou lentamente.
 

Eu virei o rosto, como um cachorrinho faria ao não reconhecer alguém. Fiquei alguns segundos nessa posição, esperando a informação bater. Demorou só um pouquinho.
 

- Kate? – foi a única coisa que consegui dizer, depois de um minuto.
 

Ela sorriu.
 

- Como eu disse, finja que não me viu.
 

E começou a andar, passando por mim, descendo a escada lentamente como se eu não existisse.
 

Click. Minha mente estalou. Certo, certo, ela não faz isso com muita frequência, mas quando faz eu tenho ideias brilhantes.
 

- Espera. - eu disse, segurando o braço dela enquanto ela já se distanciava. – Você não está nem um pouquinho curiosa? Com saudades? Ou... Sei lá, surpresa?
 

Katherine suspirou, aproximando-se de mim, chegando pertinho, minha mão ainda em seu pulso, sem sinal de afrouxar... Ela era durona.
 

- Olha. - ela disse, tocando minha orelha. Ela estava bem pertinho. Meu coração batia bem rápido. Que garota mais... (essa palavra estava arrancada). - Você sabe que meu irmão está por aqui também, ele têm a incrível capacidade de ler mentes. – ela pôs a mão na boca, como se tivesse chegado a uma incrível conclusão. – Se você bancar o espertinho, vai chegar à conclusão que, quanto mais tempo eu ver você, maior a possibilidade de ele TE encontrar. E, naturalmente, matar todo ser vivo no raio de 10 quilômetros, mas isso é o de menos, certo?
 

Eu olhei para ela e a única coisa em que conseguia pensar era como a boca dela estava perto.
 

- Sabia que tudo que você fala sai: blá-blá-blá... – Eu me aproximei, fingindo um beijo. – Mas, imagino ter ouvido algo sobre seu irmão descobrir que eu estou por aqui.
 

Eu segurei o pulso dela com um pouco mais de força e empurrei-a contra a parede. Ah, está fácil demais.
 

- Você sabe que se eu continuar me sentindo excitada, ele vai perceber cada vez mais fácil.
 

- Eu não me importo.
 

Ela suspirou. Eu entendi, estava na hora de acabar com a brincadeira.
 

Bom, ela sempre fora mais rápida. A bomba de luz azul atingiu meu peito como um taco atinge bolas. Não, não foi SÓ uma metáfora. Eu bati na parede e rolei escada abaixo, chegando ao fim e pulando como um gato, caindo de pé. Ela desceu elegantemente.
 

- Agora suma, finja que não me viu, me esqueça.
 

Eu pisquei com um olho.
 

- Vai ser difícil.
 

Ela riu e me deu um abraço forte.
 

- Tava com saudades, pirralho.
 

Eu sorri, retribuindo o abraço.
 

Também. Eu disse, mesmo sabendo do risco de a palavra ficar marcada em sua mente, deixando mais fácil a percepção da minha presença.
 

Ela se afastou sem olhar para trás, enquanto retirava um pequeno frasco da barra da saia de seu vestido e fez uma gota do liquido roxo e fosforescente cair sobre a cabeça.
 

Eu sabia o que era aquilo. Cheiro de seiva de Ent, usada pra atrair seres mágicos para que as árvores fossem semeadas, seria impossível que Peter sentisse o cheiro de qualquer coisa enquanto tivesse por perto de Katherine.
 

Ok, eu estava sozinho agora. O que diabos eu ia ficar fazendo até que arranjasse algo pra fazer?
 

Draconis. Pensei. Eu acho que vou brincar com meu ratinho de laboratório.
 

Espera um minutinho para a risada maléfica.
 

MWAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHA.
 

Ahhhhh... Bem mais aliviado agora.
 

Eu olhei para todos os corredores possíveis. Não havia ninguém, mas seria arriscado ainda assim. Foi só uma questão de tempo até decidir que seria necessário usar um pouco de mágica.
 

- Unwardem. – O som gutural que saiu da minha voz, salientando que falei diretamente na minha língua natal, fez com que o vento ao meu redor se mexesse e criasse um campo. Enquanto estivesse dentro dele, seria impossível que alguém me visse. – Vamos brincar um pouco.
 

Eu corri.
 

Mas rápido que o som.

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