Onde Tudo Começa





 


- Eu não aguento mais! – Hermione bateu a porta do quarto tão forte que a Toca toda pareceu estremecer.


Harry suspirou.


Era a terceira vez que a amiga havia vindo chamar Rony, que ainda dormia como uma pedra na cama ao lado da dele.


- Nós vamos acabar nos atrasando! – Ele ouviu-a resmungar enquanto descia as escadas.


Com bastante lentidão, ele se sentou na borda da cama.


Ficara muito feliz quando o amigo lhe mandou uma carta chamando-o para passar o final das férias com ele, mais ainda ao ser recebido por Hermione, que também fora convidada. Os Dursley, no entanto, eram os mais felizes da equação, embora não aprovassem a ideia de alguém embaixo de seu teto se relacionar com “aquela gente”.


Estavam sendo as melhores semanas da vida dele.


Rony roncou alto e Harry riu rapidamente.


- Hermione, não! – A Sra. Weasley gritou lá de baixo.


- Deixe-a mãe, sabemos que você quer ver isso tanto quanto nós. – Era um dos gêmeos, mas Harry não saberia dizer qual. – Vai nessa, Hermione!


Harry balançou o ombro do amigo enquanto as passadas ficavam mais próximas.  Ele apenas resmungou alguma coisa e se virou para o outro lado.


O moreno deu de ombros. Ao menos tentara ajuda-lo.


A porta se abriu num solavanco e Hermione entrou no quarto, varinha em punho e, em seu encalço, um balde cheio d’água flutuava a meio metro do chão.


- Você não precisa fazer isso, Mione. – O sorriso na cara de Harry dizia totalmente o contrário.


A garota deu um sorriso brincalhão.


- É claro que ela precisa. – Fred, ou George, aparatou bem ao lado dela, uma mão em seu ombro, como que dando forças.


- Sem dúvida. – O outro gêmeo apareceu do outro lado. – Manda ver.


Hermione assentiu e movimentou a varinha, fazendo-a dar uma volta.


O balde começou a se mover, passando por detrás da garota e vindo lentamente para perto da cama do ruivo que roncava alto. Harry ficou olhando enquanto o objeto se aconchegava no espaço acima da cabeça do rapaz e começava a virar.


A água pingou no rosto de Rony, que tentou espantá-la como se fosse um mosquito. Um pouco mais e ele resmungou algo inaudível.


Então o balde virou.


Enquanto todos riam bastante e a água se espalhava por todo o quarto, Rony se levantava aos berros, gritando coisas incoerentes como “ATAQUE! COMENSAIS!” e “NÃO FUI EU!”. Ele se contorcia como numa dança frenética para tentar esquentar o corpo.


A água fria conseguiu acordá-lo. Bem até demais.


- Finalmente você acordou, agora será que poderia arrumar suas malas para irmos embora? – Hermione abaixou a varinha, guardando-a no bolso.


Rony estreitou os olhos, tentando entender o que estava acontecendo. Afinal, se não era um ataque de comensais, o que era então?


- POR QUE VOCÊ FEZ ISSO?! – Ele gritou, ao captar a mensagem do balde que rolava pelo chão do quarto.


- VOCÊ NÃO QUERIA ACORDAR, ALGUÉM TINHA DE DAR UM JEITO NISSO! – Harry revirou os olhos quando Hermione começou a gritar, essa seria a nona ou décima briga dela com o Ron na semana.


- POR QUE VOCÊ QUERIA TANTO QUE EU ACORDASSE? NÃO SE PODE MAIS DORMIR NESSA CASA NÃO?


A essa altura os gêmeos já haviam aparatado, deixando Harry na pior posição possível. No meio.


- EU ATÉ DEIXARIA VOCÊ DORMIR SE NÒS NÃO TIVÉSSEMOS QUE PEGAR UM TREM PARA HOGWARTS!


- VOCÊ ESTÁ SEMPRE QUERENDO MANDAR EM MIM! POR QUE VOCÊ NÃO VAI PREPARAR AS SUAS MALAS?


- PORQUE ELAS JÁ ESTÃO PRONTAS DESDE ONTEM À NOITE!


- ENTÃO VÁ EMBORA E ME DEIXE PREPARAR AS MINHAS!


- EU VOU!


- ÓTIMO!


- ÓTIMO!


A porta do quarto fez a Toca estremecer de novo quando Hermione bateu atrás de si.


- Droga. – Rony murmurou enquanto se levantava da cama para pegar sua varinha. – Aquela garota um dia me mata. Targeo.


A roupa dele começou a secar, à medida que o feitiço sugava toda a água que a havia ficado retida.


Harry se levantou da cama, quase tropeçando nas malas que havia esquecido que ele mesmo colocara ali.


Locomotor Malas! – Harry falou enquanto apontava a varinha para as malas caídas. Elas se levantaram sozinhas e começaram a flutuar atrás dele.


Ele sorriu enquanto via as malas se movimentarem sozinhas pelo quarto enquanto ele andava. Tão mais prático assim.


Magia é o máximo.


E pensar que há algum tempo nunca imaginaria nada disso, que ele era apenas um garoto atormentado pelo primo e maltratado pelos tios que viviam no subúrbio de Londres na Rua do Alfeneiros número quatro. Um simples trouxa, sem conhecimento nenhum do mundo mágico.


Mas foi só um meio-gigante entrar pela porta de sua casa com um convite para a Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts que tudo em sua vida mudou. Ele deixou de ser um Ninguém para ser O-Menino-Que-Sobreviveu, o garoto que derrotou o Lorde das Trevas. Ele era uma esperança, um suspiro de alívio no meio das Trevas.


Mas isso tudo acabara também. Agora não passava de um mentiroso no meio do mundo bruxo. Ninguém acreditou nele quando disse que Voldemort, o Lorde das Trevas, havia voltado. Nem mesmo os que viram o corpo de Cedrico Diggory com os próprios olhos conseguiram acreditar no que havia acontecido. O ministério tentou e conseguiu ofuscar as mentes dos bruxos, jogando-os contra Harry e Dumbledore, o diretor do colégio.


- Harry? – A voz pareceu vir de longe, tirando-o dos pensamentos. – Vamos?


Rony já estava pronto, uma mala laranja abarrotada de coisas flutuava ao seu lado.


- Vamos. – Harry murmurou, descontente.


Ambos desceram as escadas da Toca, aparecendo no térreo, onde a família de Ron os esperava.


O Sr. e a Sra. Weasley estavam parados juntos à porta discutindo sobre a última ida do Sr. Weasley ao mundo trouxa e as encrencas que Ele havia arrumado com a polícia inglesa; Gina, com seu cabelo ruivo amarrado, conversa alegremente com Hermione junto à mesa das refeições. Não havia nem sinal dos Gêmeos.


- Finalmente, Ronald Weasley! – A mãe de Rony exclamou quando percebeu a chegada dos rapazes. – Pensei que teria eu mesma que ir acordá-lo! Você devia agradecer a Hermione por ter te acordado, por que se fosse eu...


As ameaças foram se tornando mais severas à medida que ela agarrava as orelhas do filho e começava a puxá-lo para fora da casa, as bochechas dela ficando vermelhas de raiva.


- Ah! – Ela parou no meio do caminho, ainda segurando a orelha do filho. – Harry, querido, bom dia!


Em seguida continuou a arrastar o ruivo para fora da casa, onde o carro voador do senhor Weasley já estava estacionado.


- Bom dia, Sra. Weasley. –O moreno falou, sem graça.


Edwiges estava empoleirada em sua gaiola em cima da mesa, ele pegou-a e colocou em cima das malas que o seguiam, começando a andar para fora da casa.


- Bom dia, Harry! – Gina bateu levemente em seu ombro enquanto falava. – Dormiu bem?


- Bom dia, Ginny. Dormi bem sim, e você?


- Ótima. – Ela lançou-lhe um largo sorriso enquanto punha as malas dela no carro e se acomodava no banco traseiro.


Ficara uma moça muito linda, havia superado suas expectativas.


Harry pôs as malas no carro e se acomodou no banco traseiro entre Rony e Hermione com Edwiges em seu colo.


- Todos prontos? – Perguntou o Sr. Weasley.


- Sim. – Responderam em uníssono.


O carro então deu a partida e eles começaram a se movimentar em direção à estação de King’s Cross, onde tomariam um trem na estação nove e meia que os levaria para a Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts.



...


 


Naquele dia o lado trouxa da estação estava especialmente lotado por algum motivo desconhecido. Estava cheio o bastante para Harry se perder dos Weasley no meio da multidão.


Ele já havia olhado três vezes para o relógio de parede que estava ao seu lado, depois de vasculhar com os olhos a aglomeração e não encontrar nada, ou melhor, ninguém.


Sabia que deveria estar procurando por eles na plataforma mágica, onde seria mais fácil encontrá-los e, ele imaginava, seria onde estariam. Mas as pessoas eram tantas que não se arriscava a mover o carrinho com suas malas por aquele meio, principalmente com Edwiges tão agitada como estava.


- E agora? – Ele se perguntou, enquanto manejava o carrinho para sair do caminho de outros três que vinham na direção oposta. – Droga.


Desistindo de esperar, ele começou a movimentar o carrinho com dificuldade, na direção em que sabia ficar a estação.


Acotovelado e pisoteado, foi vencendo a multidão em direção à coluna entre as plataformas nove e dez, parando por momentos para respirar e avaliar os caminhos.


Foi quando ele os viu.


Vindo na direção oposta a dele, dois jovens caminhavam graciosamente entre as pessoas, como se o agrupamento não os incomodasse. Harry percebeu então, que não eram eles que abriam caminho por entre as pessoas, mas as pessoas que abriam caminhos para passarem, mesmo que não percebessem.


Como magia.


O rapaz era esguio e quase tão alto como Rony, seus cabelos negros e lisos se movimentavam  como água enquanto ele andava. Já a garota era não muito mais alta que  Hermione e com o corpo já quase completamente maduro, os cabelos dela ondulavam enquanto se movia lentamente em sua direção.


Ambos eram incrivelmente bonitos e atraentes.


Harry só percebeu que vinham até ele quando já estavam bem perto, o movimento era tão gracioso e silencioso que parecia se apresentar em câmera lenta.


- Você é Harry Potter? – O rapaz perguntou, sua voz autoritária, mas ainda assim encantadora, em seu sentido mais literal.


Harry hesitou por um instante, tentando escolher as palavras certas.


- Sim, sou eu. Você seria? – Os olhos verdes do garoto piscaram em uma certa surpresa quando viram o outro abrir um sorriso divertido.


- Meu nome é Peter Draconiam, essa é minha irmã, Katherine Draconiam. Eu estava curioso para conhecer você. – Os olhos de Peter esquadrinharam o corpo de Harry, um verde ameaçador nos mesmos. – Eu queria ver com meus próprios olhos a última esperança dos bruxos. Agora mais do que nunca eu sei que todos vocês estão perdidos, se você é a última esperança.


A garota segurou o braço do irmão.


- Pete, por favor. – Sua súplica era dolorosa e ao mesmo tempo inquestionável. – Nós estamos no meio de humanos, cuidado com o que fala.


Harry deixou a confusão invadir sua mente. O que estava acontecendo? Quem eram eles? E por que falavam como se não fosse nem humanos nem bruxos, quando obviamente eles eram alguma coisa mágica.


- Tudo bem, irmãzinha, eu não falarei mais nada, as ações falam por si só. - Olhou Harry mais uma vez, escárnio e desprezo eram quase táteis em sua voz. – Não se preocupe, Potter, quando um grande poder nasce outro aparece de valor equivalente para contrabalancear seu peso na natureza. Se você é realmente o Grande Poder que vai derrotar o Lord Voldemort, eu não o temeria como os bruxos temem, afinal, não deve ser grande coisa.


- Vamos embora, Peter, o trem parte em cinco minutos. – A garota puxou o braço do irmão, tentando levá-lo para longe.


O rapaz, que aparentava ter a mesma idade que o garoto, virou-se junto com sua irmã e foi andando na direção que o próprio Harry deveria estar seguindo.


Em direção à plataforma Nove Meia.


Harry ficou vendo-os ir embora, embasbacado, sem entender o que havia acabado de acontecer.


- Harry, ainda bem que eu te encontrei! – Hermione apareceu do nada e segurou seu braço fortemente. – Vamos ou a gente perde o trem! – E começou a puxá-lo na direção certa.


Harry olhou mais uma vez para os outros dois que se distanciavam até sumir dentro da coluna. Poderia ter jurado que antes deles sumirem, viu o vislumbre do um olho azul a observá-lo com bastante interesse.

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