Algumas coisas nunca mudam



Capítulo 7


ALGUMAS COISAS NUNCA MUDAM


 


 


 Rony almoçava tranquilamente na cozinha. O dia estava claro, mas uma nuvem cinzenta ameaçava fazer cair chuva sobre Ottery St. Chapole. Era começo de agosto e Rony, Gina, Harry e Hermione haviam combinado de ir ao Beco Diagonal para um passeio à tarde. Dali a oito dias Gina faria aniversário. O aniversário de Harry fora há três dias, uma comemoração simples, sem mais surpresas como no ano anterior. Agora ele e o ruivo conversavam animadamente na cozinha apertada. Lá fora um sol tímido insistia em esconder-se ocasionalmente sobre as nuvens.


De repente, Hermione apareceu ao pé da escada. O queixo de Rony caiu. A garota usava um vestido azul, simples e delicado, com um casaco por cima (o dia, apesar de ser verão, não estava quente) e sandálias baixas de tiras dourada. Seus olhares se encontraram e a garota sorriu, encabulada, do jeito incrédulo com que ele a encarava.


- Calma Rony, você tá babando em cima do prato – Harry riu e o ruivo lançou-lhe um olhar irritado. Entretanto, fechou a boca, um pouco envergonhado.


Então, recompondo-se, levantou-se, foi até a namorada e segurou sua mão de modo que ela desse uma volta no lugar.


- Uau! - foi o que conseguiu dizer – Você está linda!


- Obrigada Rony – ela sorriu, tímida, porém lisonjeada, e sentou-se à mesa – Achei esse vestido nas coisas que eu deixei... vocês sabem, antes de partirmos. Foi um dos únicos que eu trouxe de casa.


Houve uma pequena falha na sua voz ao mencionar sua casa. Os dois perceberam.


- Calma Mione, eles vão achar os seus pais – disse Rony, tentando consolá-la, e abraçou sua cintura.


- É Mione. Logo o Ministério australiano terá notícias deles – completou Harry.


- Eu sei – respirou fundo – É que já fazem mais de dois meses.


- Mas esse tipo de investigação demora mesmo – disse o ruivo – Mas eles tem ótimos aurores, segundo o papai.


Hermione fez um sinal afirmativo com a cabeça, e o namorado apertou sua mão com bondade.


- É, estou sendo boba. Obrigado gente – completou, agradecendo a ajuda dos amigos.


Eles sorriram. Um pássaro cantava lá fora, alheio aos três adolescentes na cozinha. Houve um longo momento de silêncio em que eles ficaram apenas a apreciar seu canto estridente.


- Vocês também se sentem assim? - perguntou a garota repentinamente.


- Ah claro – disse o ruivo ironicamente – Seria um problema se você não tivesse sido totalmente clara.


Ela lhe lançou um olhar zangado.


- É como se, não sei, eu não tivesse rumo... - tentou explicar. O ruivo continuou a exibir uma expressão confusa, mas Harry entendeu o que ela quis dizer:


- É. Parece... depois de toda a guerra, de liquidar Voldemort, depois de todo o horror parecesse que não há mais nada o que fazer – completou ele, um pouco incerto – Mas não é bem isso. É que a gente quase morreu, sentiu a morte, e agora depois de toda a correria estamos só... sem planos. Parece que está calmo demais...


- Que de algum modo precisamos reconstruir a vida, pôr tudo no lugar – completou Rony finalmente compreendendo.


- Exatamente assim que eu me sinto – falou Hermione, com leve exaltação.


Sorriram. A amizade de longos anos manifestou-se ali como uma presença. Depois de todos os anos, todas as aventuras, estavam ali, vivos, sorrindo, três amigos unidos para sempre por todas as experiências que passaram juntos. E o momento de compreensão e cumplicidade durou até que chegada da Sra. Weasley dos andares superiores. Trazia uma grande pilha de roupa de cama.


- Precisam arrumar seus quartos antes de sair – disse, afobada – Cadê a Gina?


Hermione deu um sorriso enviesado:


- Se arrumando, ainda. Acho que já experimentou umas quinze roupas – completou, divertida. Em seguida ergueu uma sobrancelha a Harry.


- Falando de mim?


A mais nova dos Weasleys apareceu ao pé da escada. Foi a vez do queixo de Harry cair. Ela usava um jeans apertado no melhor “estilo trouxa”, maquiagem leve no rosto, os cabelos muito ruivos presos num rabo-de-cavalo e brincos grandes. “Maravilhosa”, era tudo que o namorado conseguia pensar. Gina exibiu seu mais radiante sorriso.


- Você tá babando em cima do prato – disse Rony numa imitação debochada da voz de Harry – E pare de olhar assim pra minha irmã seu babaca, ou quebro seu nariz.


- Cala a boca Rony – replicou o outro, um pouco exasperado.


- Parem vocês dois! - exclamaram Gina e Hermione em uníssono.


- É brincadeirinha – falou o ruivo na defensiva.


- Oh Mérlim! Quatro adolescentes namorando na minha casa – suspirou a Sra. Weasley – Que os céus me protejam!


Eles riram.


 


 


 


 


Londres estava efervescente, cheia de vida. Os transeuntes, ocupados com suas compras, nem notaram a aparição repentina de quatro adolescentes numa rua lateral quase deserta.


- Mas que horror! - resmungou Gina, esfregando os ouvidos, que pareciam ter saído com mais relutância d' A Toca.


- Foi a primeira vez que aparatou? - perguntou Hermione interessada.


- Foi – bufou – Não sabia que a sensação era tão ruim. Ano passado eu saí antes das aulas de aparatação começarem.


- Então como vai fazer o teste? - perguntou Harry, enquanto eles começavam a se dirigir à rua movimentada.


Gina suspirou.


- Provavelmente não vou. Eu não posso treinar fora do curso, muito menos sendo menor de idade. Vou ter de começar as aulas no próximo ano letivo.


- Temos que fazer nosso teste, não é Harry? - lembrou-se Rony.


- Verdade, ano passado não fizemos – respondeu o amigo.


- Não fizeram? Não foi aquele em que você não passou? - alfinetou Gina. O irmão olhou-a com raiva.


- Por meia sobrancelha – resmungou ele.


- Em defesa do Rony, ele foi muito bem no teste. Só errou um detalhezinho – interveio Hermione.


- Espere aí – exclamou Gina - Quer dizer que eu aparatei com dois caras que nem tem licença pra isso ainda?


- Como sempre, Hermione é a única dentro da lei aqui – comentou Rony, e eles riram.


Os quatro seguiram pela rua com lojas dos dois lados até O Caldeirão Furado. O barzinho parecia um pouco menos sujo do que eles se lembravam, mas, no geral, tinha a mesma aparência de sempre.  Eles resolveram ir a Londres aparatando, pois acharam que uma chegada por rede de flu chamaria muita atenção. Entraram no bar ainda conversando animadamente sobre os testes de aparatação.


Ao cruzarem o portal vários olhares se convergiram para eles. Um homem de cartola engasgou com o seu gim.


- Sr. Potter! - exclamou o velho Tom – Sr. Weasley, Srta. Granger e a bela Srta...?


- Weasley – completou Gina.


- Sim, sim, imaginei. Em que posso ajudá-los?


- Obrigado Tom. Estamos só de passagem – disse Harry um pouco desconcertado com a atenção repentina de todo o bar.


- Sr. Potter! Minha filha foi salva do domínio do Lord das Trevas! - uma bruxa precipitou-se até eles, lágrimas escorrendo-lhe pelas bochechas ossudas. Eles ficaram perplexos.


Houve uma confusão de vozes e vários bruxos se aproximaram. De repente eles se viram apertando a mão de quase todos n' O Caldeirão Furado.


- Estou tão orgulhoso de você, sr. Potter, muito orgulhoso.


- Encantado Sr. Weasley, sempre quis apertar sua mão.


- Quanta coragem Srta. Granger!


Eles não sabiam o que fazer diante de toda essa atenção. Hermione apertava, corada, a mão de todos os que se aproximavam. Levou uns bons dez minutos para se livrarem de todos e conseguirem sair dali.


- Não foi a entrada discreta que esperávamos, não é? - disse Rony ao entrarem na rua de pedras irregulares.


- Não, não foi – confirmou Hermione. Harry acrescentou:


- Acho que vamos ter que nos acostumar com isso – os amigos olharam para ele – Tá, eu já estou acostumado. Na verdade, até esperava uma reação dessas.


- Enfim, não sei se gostei disso – disse o ruivo e eles o encaram espantados – Bem, algum tempo atrás eu adoraria. Mas, eu não sei... acho que mudei bastante.


Gina fingiu espanto:


- Isso sim é uma boa notícia!


Harry e Hermione riram. O irmão ignorou-a.


- Ah, meio que receber toda essa atenção me faz lembrar o porquê. Me faz lembrar a guerra.


Eles continuaram seguindo pela rua apinhada de gente. Resolveram que comprariam os materiais escolares só depois. Hoje eles iriam apenas passear. O Beco Diagonal voltava lentamente a sua atividade normal. Várias lojas foram reabertas, não havia mais maltrapilhos nas ruas. Passaram pelo Empório das Corujas, pela loja de caldeirões, por Madame Malkin, pela Loja de artigos de quadribol (Gina, Harry e Rony pararam à vitrine e apontaram animadamente os novos lançamentos, enquanto Hermione revirava os olhos) e foram visitar Jorge nas Gemialidades Weasley (ele parecia um tantinho mais animado). Hermione quase colou o nariz na vitrine da Floreios e Borrões para admirar o livro exposto:


- “Grandes bruxas da história da Magia”? Parece tão interessante! - suspirou – Preciso guardar dinheiro...


Esta última afirmação parecia ser mais para convencer a si mesma do que qualquer coisa. Rony, ao seu lado, olhou do livro para ela e de volta para o livro, de uma forma grave e estranha que Hermione não gostou. Mesmo assim, resolveu não perguntar e depois de mais uns bons vinte minutos olhando lojas (já estavam andando há quase três horas) Harry sugeriu que eles fossem almoçar. Entretanto, Hermione começou a perceber que Rony estava mais calado e carrancudo durante o caminho, coisa que Harry e Gina, tagarelando animadamente, nem notaram.


 


 


O novo pub do Beco Diagonal estava cheio apesar de ser uma segunda-feira. O lugar era aconchegante e familiar, com piso de madeira lustrada e grandes janelas que deixavam o local bem iluminado. Mesas redondas igualmente de madeira tinham sido distribuídas uniformemente pelo salão e cobertas com toalhas vermelhas. A decoração se completava com lanternas flutuantes que deviam ficar acessas durante o expediente noturno.  Era bonito, todavia Harry não pode deixar de se lembrar (sem um pouco de náusea) do Madame Puddifoot em Hogsmead, lugar em que saíra pela primeira (e última) vez com Cho Chang.


Eles se sentaram em uma mesa. O barman saiu de trás de um balcão para atendê-los. Os olhares de várias pessoas se convergiam para eles.


- Eu gostaria que essas pessoas parassem de olhar – comentou Gina.


- Temos que nos acostumar com isso – a frase foi ouvida pela segunda vez naquele dia, vinda de Hermione. Então a garota acrescentou, divertida – Ciúme Gina?


- Não não, cunhadinha, só estou zelando pelo que é meu – brincou a outra.


- O quê? – perguntou Harry, totalmente alheio a conversa.


Elas riram e a ruiva estalou um beijo em sua bochecha. O barman chegou à mesa, cheio de gravidade.


- Posso servir algo para os grandes bruxos que aqui se encontram?


- Um uísque de fogo – pediu Rony imediatamente. Os três olharam espantados para ele, que ficou zangado – Que é? Eu já sou maior de idade!


- Tá... – Harry olhou-o desconfiado. Só agora percebera o estranho mau humor do amigo – Bem, pode trazer um pra mim também.


- E um pra mim – Gina encolheu ao olhar inquisitor do namorado e do irmão – Ah, qual é? Parecem a mamãe...


Hermione encarou-os com reprovação.


- Tá, tudo bem, quero uma cerveja amanteigada – Harry disse por fim.


- Eu vou querer um chá, por favor – pediu a amiga.


- Outro chá pra mim – disse a ruiva cruzando os braços, vendo que não conseguiria a bebida de qualquer jeito mesmo.


Depois pediram o que queriam para comer. O cardápio exalava o aroma das comidas quando as opções eram tocadas, o que Hermione achou realmente fascinante.


- Não conheço o feitiço para isso – disse por fim, depois de recitar uma lista de possíveis técnicas para esse efeito que já tinha lido em dezenas de livros – Se parece com o efeito da amortentia, mas ela se adapta a pessoa, não a induz a cheiros pré-programados. Preciso perguntar ao Flitwick quando voltarmos a Hogwarts...


O amigo e a ruiva reviraram os olhos. Algumas coisas nunca mudariam.


As bebidas chegaram primeiro. Assim que o barman colocou o copo na mesa, Rony, que se permanecera calado durante toda a conversa, virou seu uísque e bebeu um pouco menos da metade antes de colocá-lo de volta na mesa.


- Cara, você tá bem? – perguntou Harry franzindo o cenho – Vai com calma.


- To bem – grunhiu Rony rispidamente.


Os outros continuaram a observá-lo, preocupados.


- Que foi? Já não basta que todo mundo olhe, vocês também vão me encarar? – perguntou, visivelmente zangado.


- Qual é o seu problema? – enfureceu-se Gina.


- Me dá isso Rony – Hermione tirou o copo de sua frente.


- Me devolve – pediu ele entre dentes.


- Que tá acontecendo Rony? – retrucou ela não se intimidando – Você tá estragando o passeio de todo mundo.


Rony olhou raivoso do copo para ela, e daí para todos na mesa. Então, sem aviso prévio, levantando-se saiu pisando porta afora.


- Mas que...?


Harry xingou. Ele e Gina fizeram menção de se levantar, mas Hermione foi mais rápida.


- Deixa que eu vou.


Ela sentiu vários olhares no restaurante seguirem-na enquanto se levantava e ia em direção ao ruivo. Mas que diabos ele tinha?


 


 


 


 Rony caminhava firmemente pela rua apinhada. Não se importava se as pessoas estivessem olhando, não se importava com ninguém ali. Só queria sumir. Uma chuvinha fraca começou a cair, molhando-o de leve. Ele nem sabia por que estava tão bravo. Andou a esmo pelo Beco Diagonal, sentindo-se tonto, nauseado, tentando ignorar a vozinha intrometida em sua cabeça. Mas era impossível. Era impossível ignorar aquilo que ele sabia ser a mais absoluta verdade.


Lembrou-se de Hermione, no dia depois da batalha: fraca, abatida, cheia de cicatrizes e magra devido à viagem perigosa da qual retornara. Relembrou de seu semblante triste, da falta de brilho naquele olhar que tanto amava. Devia ser por isso. Por isso que ela estava com ele. Ela estava insegura, achou que poderia se apoiar em seus braços... Mas Rony falharia, sabia disso, afinal, já falhara em quase tudo o que fizera. Não, não podia ser... E os momentos que passaram juntos? E os beijos e carícias? Mas a voz martelava em sua cabeça, insistente. “Acorde Rony, ela nunca te amou”.


Esbarrou com um transeunte desavisado. Não deu ao trabalho de pedir desculpas, mal viu quem era. Mas de repente, algo fez seu coração disparar. Era uma voz. Era a voz dela.


- Ronald! – ela gritou seu nome, uns vinte metros atrás dele, cercada por um mar de pessoas. Seu tom não era nada convidativo.


Rony esgueirou-se da multidão. Um pânico repentino se apoderou dele. Não podia encontrar-se com ela. Sem pensar, adiantou-se para uma rua lateral, sacou a varinha do bolso e foi engolfado pela escuridão compressora.


- Ronald! Eu sei que está me ouvindo – gritou Hermione, consciente de que devia estar parecendo louca.


Ficou na ponta dos pés para tentar olhar por sobre as cabeças. Nem sinal dos cabelos cor de fogo. Andou, irritada, até a direção onde tinha visto-o pela última vez. Nada. Olhou a sua volta novamente. Nada. Seguiu mais um trecho sobre a rua e olhou dentro de algumas lojas até se convencer de que ele não estava mais ali. Os punhos cerrados, voltou ao pub, onde Harry e Gina a receberam com uma expressão de curiosidade e preocupação:


- Aparatou – anunciou antes de qualquer pergunta, sentando-se na mesa e cruzando os braços, carrancuda.


Harry e Gina se entreolharam. Aquilo não podia significar coisa boa.


 


 


 


 


A toca materializou-se na sua frente. Arrependeu-se de ter aparatado no segundo seguinte. Bufou, xingando baixinho. Droga! Covarde, covarde. Devia ter falado com ela. Mas não conseguiria, sabia. Ele perdera a cabeça ao simples som de sua voz. Passou pelos jardins em direção a casa. A grama alta estava molhada, o que indicava que havia chovido há pouco. Abriu a porta da cozinha um pouco relutante. Sabia que sua mãe perguntaria o motivo de ele ter voltado mais cedo. E não queria responder.


A casa estava silenciosa e calma. Caminhou, pé ante pé, pela extensão do aposento, mas ao chegar à sala ouviu passos que desciam a escada. Molly apareceu de repente, um ar preocupado, a varinha numa mão e um espanador de pó na outra.


- Ronald! Quase me mata do coração! – exclamou ela ao vê-lo, guardando a varinha no bolso do avental – Pensei que fosse... ah, deixa pra lá. O que aconteceu? Voltaram mais cedo?


- Só eu – o ruivo sentiu-se encolher. Parecia um garoto apanhado fazendo algo de que se envergonhava.


- O que houve filho? – perguntou, acompanhando o movimento do filho pela sala, levemente atordoada.


- Nada – mentiu, mal humorado. Nunca tivera o costume de compartilhar seus sentimentos com a mãe e não tinha a vontade de começar agora.


- Brigou com alguém? – a mãe pôs as mãos na cintura, naquele jeito severo e preocupado típico de Molly Weasley. Ao olhar surpreso do filho, acrescentou simplesmente – Mães percebem essas coisas. Foi a Hermione, não foi?


O ruivo ficou aturdido por um segundo. Olhou para a escada, tentado a não responder nada e procurar o isolamento do quarto. Desarmado, no entanto, confirmou com a cabeça.


- Ela não entende mãe – exclamou ele, liberando toda a insegurança reprimida em seu íntimo – Eu não entendo. Como ela pode estar comigo? Ela é tão inteligente, tão incrível, e eu... eu sou uma grande saca de bosta mãe.


- Rony, não fale assim – repreendeu-o.


O ruivo passou a mão pelos cabelos, cansado de descontar sua frustração em todo mundo. Respirou fundo, controlando-se para não brigar com a mãe e mudou a abordagem:


- Olha, eu... sei lá, tenho medo. Tenho medo de ela perceber o que eu sou e não me querer mais. De eu acordar amanhã e descobrir que foi tudo um sonho, que eu me iludi pensando que não seria passageiro. Não vê que isso é passageiro? Ela quer conforto com o fim da guerra, está insegura. Quando tudo isso passar ela vai me deixar. Porque ficaria comigo? – acrescentou, a cabeça baixa.


Ele andou até o sofá e se deitou, os olhos marejados. Ele não iria chorar na frente da mãe, não iria. Escondeu a cabeça nas mãos, desejando que tudo aquilo apenas passasse...


Molly foi até a beirada do móvel em que o filho se deitara e sentou-se ali, uma expressão piedosa no rosto, e começou a acariciar os cabelos ruivos. Ele sentiu suas orelhas ficarem vermelhas.


- Roniquinho, pensa que eu não percebia o modo como Hermione te olhava desde criança? – ele tirou as mãos do rosto, curioso – Ela sempre teve pra você um olhar diferente. Sorria com coisas que você fazia, evitava te encarar nos olhos. Eu sempre observava aquilo e me alegrava. Acha que isso é passageiro filho? Não. Ela sempre te amou Rony. E pare com essa insegurança! Eu tenho tanto orgulho de você. Veja quanta coisa incrível já fez.


Rony respirou fundo, deglutindo as palavras da mãe com cuidado. Passados alguns minutos, sorriu, emocionado.


Não queria ter descontado sua insegurança na namorada, não queria ter ficado bravo com ela. Mas por um momento ele pensou de verdade que ela iria deixá-lo. Será que a garota mais inteligente de Hogwarts não percebia que ele queria apenas uma confirmação de que ela o amava?


- Obrigada mãe – agradeceu o ruivo. Depois suspirou, resignado – Acho que agora Hermione vai realmente terminar comigo pelo que eu aprontei.


- Não diga isso Rony. Vocês ainda me darão muitos netos – ele corou até a raiz dos cabelos. A Sra. Weasley riu e continuou – Ela vai te perdoar, não importa o que você tenha feito. O que é que você fez afinal?


Rony levantou-se depressa.


- Vou para o meu quarto – disse, evitando responder a pergunta.


A matrona sorriu, revirando os olhos. Apesar de crescido, aquele ainda era seu Rony.


 


 


 


Harry, Gina e Hermione apareceram dez minutos mais tarde. Comeram depressa para poder vir para casa o mais rápido possível. A Sra. Weasley recebeu-os como se nada tivesse acontecido.


- Rony voltou para cá? – perguntou Hermione a ela, e, apesar de tentar por tudo disfarçar, havia preocupação em sua voz.


- Voltou sim, está no quarto...


- Hermione, podemos conversar?


O ruivo apareceu ao pé da escada. Recostava-se no portal, os braços cruzados, sério. Com algum esforço, a garota conteve-se e engoliu o monte de impropérios que estava prestes a atirar-lhe.


- Achei que tivesse saído justamente por não querer conversar comigo – disse, fingindo uma segurança que não tinha.


- Por favor.


Hermione estudou-o por um momento, até que, descruzando os braços, aceitou subir com ele escada acima. Harry, Gina e a Sra. Weasley se olharam nervosos.


 


 


O quarto cheio de pôsteres do Chudley Cannons de Rony estava bagunçado como sempre. Ela entrou irritada, e assim que ele fechou a porta atrás de si disparou a falar:


- Rony, que ideia foi essa? Eu fiquei preocupada, Gina e Harry também. Eu te procurei por todo o canto e você me ignorou quando eu te chamei...


- Porque está comigo Hermione?


A garota ficou totalmente estarrecida. Alguns segundos se passaram até que ela se convencesse de que o ruivo estava realmente lhe fazendo aquela pergunta. Sua expressão era grave e exasperada.


- O quê?


Ele chutou alguma coisa no chão, ligeiramente envergonhado. “Vamos Ronald, seu grande idiota...”


- Porque está comigo? Por que está namorando comigo?


- Como assim Rony?


- Eu nunca vou poder te dar essas coisas – disse ele, e lançou-lhe um olhar sombrio que Hermione desejou nunca mais ver em seu rosto.


- Que coisas?


- Livros e... roupas e... – ele parecia atrapalhado – Eu sou um pobretão Hermione. Nunca vou poder te dar nada.


A garota foi do completo aturdimento novamente a raiva em menos de um segundo.


- Acha que eu quero que você me dê presentes? Acha que eu quero coisas? Eu posso comprar se quiser! Você não precisa ficar me dando coisas só porque eu sou mulher.


- Não Mione. Eu quero te dar essas coisas. Quero te dar tudo o que você merece.


 Mas a garota parecia não estar mais ouvindo. Caminhava de um lado a outro do quarto, enraivecida.


- O que está acontecendo com você Rony? Num momento está bem, no outro simplesmente surta e...


- Hermione...


- ...e então você nos deixa assim, sem saber o que fazer, e depois...


- Mione...


- ...e quer me dar coisas como se isso fosse seu papel de homem, provedor da família...


- Me desculpa Mione! – vociferou ele – Me desculpa por ter estragado esse dia, brigado com você, me desculpa por ser um idiota. É que... eu sei lá, sinto que não sou bom o bastante pra você.


- Mas Ronald...


- Me deixa continuar – interrompeu ele – O Krum era um jogador de quadribol, e eu sou o quê? Um Weasley nada especial, que deu sorte de uma garota legal gostar dele. Até quando isso vai durar Hermione? Eu não quero te perder...


Os olhos da garota ficaram marejados, e lançaram ao namorado uma expressão de piedade.


- Oh Ron... - ela adiantou-se e o abraçou – É de você que eu gosto. De tudo em você. Até desse seu jeito bobo de achar que não é o cara mais incrível que eu conheço.


As orelhas dele ficaram escarlates.


- Mas o Krum era um jogador de quadrib...


- Mas é você que eu amo Ron – Hermione interrompeu-o, levemente exasperada por ele insistir em se comparar ao ex-namorado. Depois continuou em tom mais brando – Sempre amei...


Rony a abraçou tão forte com a última frase que ficou com medo de sufocá-la. Era tudo que ele precisava ouvir.


- Eu também sempre te amei Mione.


Eles sorriram emocionados. Lágrimas escorreram pela face da garota. O corpo pequeno dela entre seus braços eram quase que como um calmante para ele. O ruivo afrouxou o abraço para roçar os lábios de leve nos dela. Aquela maciez inebriante, a respiração quente, o corpo colado ao dele... Aproximou-se mais uma vez, como quem sabe o que faz. Beijou-lhe a boca e chupou-lhe o lábio inferior com delicadeza. Aquilo era bom demais. Subiu a mão da cintura de Hermione pelas costas até agarrar-se em seus cabelos fofos. Finalmente invadiu a sua boca com a língua, ansiando por mais contato, o corpo quente dela colado ao seu. Hermione, um pouco assustada, sentiu o desejo dele contra seu ventre. Nunca pensara que podia causar isso em homem nenhum. De repente, o beijo se desenvolveu até uma intensidade inimaginável. As línguas roçavam com volúpia, as mãos dançavam pelos corpos de ambos. Eram assim, inconsequentes, incendiavam-se instantaneamente, às vezes ao simples toque dos lábios.


Eles se separaram, ofegantes, ligeiramente assustados das proporções que o momento tomara. Sorriram, cúmplices, e Hermione puxou-o para deitar-se na cama com ela.


- Nunca mais duvide do que eu sinto Rony – advertiu-o ela quando já estavam acomodados.


Rony abraçou sua cintura e beijou seus cabelos.


- Tem certeza? – ele disse e Hermione virou-se de frente para ele, já ensaiando uma bronca – To brincando, to brincando. Nunca.


Ela sorriu e deu-lhe um beijo rápido. Podiam ficar ali por dias inteiros, apenas sentindo a respiração um do outro e as batidas dos corações no mesmo ritmo, os sinais da vida que eles muitas vezes puderam perder. O ruivo, no entanto, teve que se segurar para não arrancar a roupa dela ali mesmo e amá-la de todas as formas possíveis, tamanha a excitação que sentia.


O sol já declinava quando ouviram barulhos no térreo indicando que o Sr. Weasley chegara. Depois de alguns minutos, a contragosto de Rony, eles desceram para o jantar que seria servido logo.


Gina, depois de vê-los reconciliados, não pode deixar escapar a oportunidade:


- Nossa, já estava pensando que eu teria um sobrinho!


Rony lhe lançou um olhar carrancudo. Harry riu.


- Hermione, era justamente com você que eu precisava falar – disse Artur ao vê-la.


Todos os habitantes d’ A Toca se encontravam na cozinha. Harry arrumava a mesa, supervisionado por Gina e a Sra. Weasley estava ao fogão.


- Que foi Sr. Weasley? – perguntou a garota.


Ele sorriu de orelha a orelha:


- Encontraram seus pais.


 


 



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N/A: Oi!


Mil desculpas a todos. Eu sei que sumi. Desculpa, Desculpa. È que eu viajei as férias inteira e fiquei sem internet. Quando cheguei as aulas já começaram e esse ano é ano de vestibular pra mim *respira fundo*, então possivelmente os capítulos atrasarão um pouco. Enfim.


Deu muito trabalho escrever esse capítulo, não imaginam quanto. Odiei fazer o Rony ficar daquele jeito, mas, fazer o que, foi importante para a história. Adoro tanto escrever R/Hr *sorri*. Mas acho que compensou. Não sei se o capítulo ficou bom, não sei se convenci vocês dos sentimentos do Rony, mas tentem entender o lado dele. Ele é assim, um personagem extremamente complexo, e é isso que eu adoro nele.


O próximo capítulo será mais alegrinho, prometo. Na verdade, agora começam os capítulos em que os personagens estão, pelo menos satisfatoriamente, recuperados da tragédia. Então preparem-se.


*Foge das azarações* Eu posso dizer que estou me divertindo só um pouquinho de terminar o capítulo em um momento tão crucial *risada do mal*. Fiz um propósito para mim mesma de postar os capítulos todo dia 7 de cada mês (já repararam o quanto o número 7 aparece na série Harry Potter? 7 horcruxes, 7 anos, 7 livros, 7 potters, 7 filhos Weasleys). Enfim, não sei se consigo, mas podem me cobrar que eu me adianto mais *sorriso*.


Por fim quero agradecer muitíssimo a todos os comentários, todos os novos leitores, todos os votos, enfim, tudo que me motiva a escrever cada vez mais. Muito abrigado mesmo, já teria desistido da fic sem vocês. Queria muito responder a todos, mas se eu fizer isso não conseguirei postar o capítulo hoje. Mas continuem comentando, leio cada comentário com muito carinho. Deem ideias para a fic também, afinal ela é para vocês.


 


Beijos,


Fernanda S Weasley


 


“Se você quer saber como um homem é veja como ele trata os inferiores, e não os seus iguais.”(Sirius Black)

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Comentários (3)

  • potter e weasley

    que lindo.. comecei a ler sua fic a pouco tempo... ker dizer ontem...kkkk.. mas que historia mais linda... tou amando... e bom ver esse outro lado dos 19 anos.... aguardo anciosamente o proxiimo cap.. por favor ñ demore mt... fiko mt anciosa para ler a fic... amo mt as partes de harry e gina

    2012-03-13
  • Giselle di Launnblecc

    Eu amo a Gina sabia. Ela tem um jeito tão perfeito! amei seu capitulo. Não perde tempo e escreve logo o proximo!

    2012-02-18
  • Juliana Aparecida Chudo Marques

    Meuuu Deus.... ameiiiii o capitulo... amooooo romione.... e o rony é exatamente assim.. inseguro se achando inferior... mesmo tendo todas as qualidades possiveis... acheiii que a mione ia mater ele viu.. kkkk.... achoo que eu quase faria isso.. kk..esse casal passou por muita coisa né.. mas no fundo se amamincondicionalmente.. e isso é muito lindoo.... adorooo harry e gina tbm... amoo sua fic.. e to ansiosa pro proximooo capituloo *-* bjoosss

    2012-02-18
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