Em família



Capítulo 5


Em família





O almoço na A Toca foi o mais alegre desde o fim da guerra. O Sr. Weasley havia recebido um generoso aumento no trabalho e toda a família se alegrara por isso. A mesa fora posta no jardim, mesmo depois da chuva recente, e Gui e Fleur se juntaram a eles pouco antes de a comida ser servida.



Gina e Hermione brincavam com Teddy, que mamava em seu carrinho de bebê ao lado da mesa. Molly conversava animadamente com a Sra. Tonks, que, embora abatida, fazia de tudo para compartilhar da alegria da família. O Sr. Weasley e Percy contavam aos outros a loucura em que se encontrava o Ministério.



- Está sendo muito caótico reorganizar tudo, entendem? - comentou Percy, que voltara ao seu cargo de assistente do ministro – Muitos funcionários estão fora do país, os arquivos foram bagunçados, precisamos julgar os Comensais da Morte, uma loucura.



- Alguém já foi preso? - perguntou Harry, no meio da mesa entre Gina e Rony.



- Ah, sim – respondeu o Sr. Weasley lentamente – Dolohov, os irmãos Carrow, Yaxley, Rookwood... e os Malfoy também – este último nome o homem pronunciou com certo triunfo na voz.



Harry ficou um tanto incomodado. Teria que falar com o Ministério logo, ou seria tarde demais. Tinha que saber quando seria o julgamento dos Malfoy. Não acreditava: depois de todos esses anos ele iria, afinal, ajudá-los a se livrar da prisão... Mas seus pensamentos foram desviados por Gui e Fleur, que se levantaram de suas cadeiras de repente, parecendo um tanto ansiosos quanto apreensivos. Na verdade, o rosto de Gui adquirira um ligeiro tom púrpura.



- Eu e Fleur – começou o homem em voz alta. Pigarreou – temos um anúncio a fazer.



O clima morno do dia baixou sobre eles e uma brisa preguiçosa farfalhou as copas das árvores nodosas à volta do jardim. Todos se calaram, esperando, os pratos quase limpos e os estômagos saciados. Foi Fleur quem falou:



- Er, eu estou grrávida.



Exclamações de alegria correram pela mesa, enquanto alguns se levantavam para dar os parabéns ao casal e outros permaneciam, petrificados, em seus lugares, estarrecidos com a notícia. A Sra. Weasley foi a primeira a chegar, às lágrimas, aos dois:



- Meu primeiro netinho! - soluçou ela, abraçando Fleur com força.



Hermione guinchou:



- Parabéns! – Enquanto Percy exclamava a plenos pulmões:



- Eu vou ser tio!



O Sr. Weasley foi o segundo a dar parabéns ao casal, enxugando as lágrimas por trás dos óculos. Rony permaneceu em seu lugar, perplexo como se nunca tivesse ouvido falar de tal coisa. Gina,feliz, logo puxou Harry para darem os parabéns a Gui e Fleur. Uma garrafa de uísque de fogo foi aberta, e todos brindaram felizes:



- Ao novo membro da família Weasley!



Eles riram, brindaram e esvaziaram a garrafa. A notícia daquela nova vida pareceu coroar o dia com uma auréola de felicidade lúcida e pura, se misturando com o ar morno do jardim, onde a comemoração durou até o final da tarde.












O bebezinho dos cabelos em tufo se debatia, enquanto a ruiva sorria para ele. Gina ninava o menino no colo, rindo e fazendo-lhe caretas.



- Não não – ralhou quando Ted tentou puxar seus cabelos com as mãozinhas sem coordenação.



Ela segurou seus punhos gordinhos e sorriu para ele, roçando o nariz cheio de sardas em seu narizinho.



Harry encostou-se no portal para observá-la. Sorriu enquanto ela fazia careta e balbuciava. Ele achou-a ainda mais bonita, se é que isso era possível. “Ela será uma ótima mãe”, pensou distraído. Então, lentamente, seu cérebro foi inundado com a compreensão do que aquilo realmente significava. O monstro em seu peito se enroscou e ronronou, aprovando a idéia, em uma oposição insana ao cérebro do garoto. Assustou-se, logo antes de sorrir, enviesado: “Acho que você está indo rápido demais Harry.”



Gina o notou parado a porta da sala e piscou para o namorado, enquanto balançava Teddy calmamente. O garoto chegou perto dos dois. O bebê já fechava os olhinhos, quase adormecendo. Eles se encararam e sorriram um para o outro. A ruiva entoou uma canção sussurrada, de melodia triste, e Teddy piscou os olhos pela última vez e adormeceu.



Gina esperou alguns segundos antes de colocar o bebezinho no colchão improvisado na sala de estar, o mais cuidadosamente que pôde. O silêncio parecia ecoar nas paredes, de modo anormal e solene. A Toca silenciosa era algo realmente impressionante.



O casal se sentou no sofá, apreciando o sono do bebê e a atmosfera raramente calma da casa. Era fim de tarde e raios de sol alaranjados entravam pela janela, dando aquele ambiente simples um aspecto dourado e majestoso. A ruiva recostou a cabeça em seu ombro. Ele a abraçou, trazendo-a para perto de si. O peito de Teddy subia e descia numa respiração tranqüila, parecia apreciar um belo sonho.



- Acho que ele é como eu, sabe? – disse Harry baixinho, observando-o com o olhar penetrante – Ele perdeu os pais quando bebê, por causa de Voldemort. Mas a sorte dele é que ele não vai crescer com uma cicatriz idiota na testa – sorriu, resignado.



“Quero dar para ele tudo o que eu não tive. Amor, carinho, alguns brinquedos... Sei que não vou conseguir lhe devolver a família que ele perdeu, mas, sei lá, não quero que ele tenha uma infância igual a minha.”



Gina olhou o namorado, emocionada com suas palavras. Toda a preocupação em seu olhar, o cuidado, a faziam amá-lo ainda mais.



- Mas eu espero que ele se torne igual a você. Uma pessoa boa, corajosa, inteligente, amável –ela segurou sua mão – Um namorado maravilhoso. E muito sexy também – acrescentou, rindo, e ele passou a mão nos cabelos, sem jeito.



– É, eu sei, todas as garotas caem aos meus pés – falou, fingindo-se de convencido.



- Como é, senhor Potter? – falou Gina rindo, encenando um tom de desafio – pois então vou ter que dar um jeito nesse seu poder de sedução.



Eles riram e Gina atirou-se sobre ele, distribuindo beijos em sua face. O namorado gargalhou enquanto ela salpicava beijos em sua bochecha e seu queixo.



- Eu te amo.



Foi Harry quem falou. Ela interrompeu a brincadeira, desconcertada. Aquelas três palavras penetraram nos ouvidos de Gina: sussurradas, simples, espontâneas, maravilhosas. Suas entranhas pareceram derreter diante daquela verdade que ele confessava, um pouco nervoso, mas ainda assim doce e profundamente.



- Eu também te amo Harry – sussurrou de volta.



Eles se encararam nos olhos, o verde e o castanho mergulhados um no outro, o encontro de duas almas machucadas e unidas por aquelas simples palavras. E antes que percebessem já seus lábios já estavam colados, movendo-se tranquilamente, aproveitando a sensação das línguas macias e da respiração quente. Gina agarrou os cabelos negros do namorado, aprofundando o beijo e ele virou-se de frente para ela no sofá.



Harry agarrou sua cintura, colando seu corpo ao dela. Vagarosamente, ele foi deitando-a no sofá, levado pela sensação do beijo que ficava a cada segundo perigosamente mais intenso. A mão de Harry chegou a sua perna, na altura da coxa, apertando-a contra seu lado. O beijo ficava cada vez mais profundo, mais sedento, até que...



- Ei, Uhuul!



Eles se separaram sobressaltados, ofegantes e corados. Jorge estava parado junto ao portal, alarmado e enraivecido. Entrou na sala, numa impaciência que não era de seu feitio, e se sentou na poltrona em frente a eles:



- Fiquem sabendo que isso é uma sala, não um quarto de motel - e virou-se para o garoto, o dedo em riste - e tome cuidado com essa mão, Harry, ou não vou ser o único aqui a ter uma parte do corpo decepada.



Indicou o buraco ao lado da cabeça com um sorriso maldoso. Harry engoliu em seco, sentindo o rosto corar ainda mais. Se arrependeu por passar tanto dos limites em plena sala d' A Toca. Gina ficou escarlate também, num misto de vergonha e raiva. Muita raiva.



- Por que esse mal humor todo ein? - perguntou em tom de acusação.



- Ah, não sei, acho que é porque eu não gosto de ver você e o Harry se pegando desse jeito no meio da sala...



- Ah, fala sério Jorge! Você tá com esse mal humor desde antes do almoço. Tem mais alguma coisa.



- Mais alguma coisa? Mais alguma coisa?! - sussurrou para si mesmo, de modo meio doentio - Meu irmão morreu! Isso é mais uma grande coisa.



Na primeira semana Jorge evitara falar da morte de Fred, sequer pronuciara o nome dele. Depois deste tempo, pareceu-lhes que o garoto aceitou aquele fato, mas isso não melhorou a situação nem um pouco. Ele voltava a aquilo constantemente, e assim, fazia com que todos na casa também o fizessem. Estava quase sempre de mal humor, isso quando era visto, pois passava a maior parte do tempo isolado em seu quarto.



- Eu sei, e eu também estou sofrendo por isso - disse Gina pacientemente - Mas seu outro irmão vai ter um bebê, não pode ficar feliz com isso?



Jorge ficou anormalmente quieto, com a cara fechada. Depois anunciou, meio que de má vontade:



- Vou fechar a loja.



- O quê?! - exclamaram Harry e Gina juntos. Teddy acordou chorando.



- Você não pode! - dsse a ruiva alarmada, enquanto Harry corria para acalmar o bebê.



Nesta hora chegaram Rony e Hermione. A morena perguntou cautelosa:



- O que aconteceu?



- Jorge vai fechar a loja! - anunciou a ruiva a eles, ainda em choque.



- Fechar a loja?! - repetiu Rony perplexo.



- Sim, vou fechar a loja, já decidi - confirmou Jorge em tom de desafio.



- Por quê? - perguntou Hermione igualmente perplexa. Apesar de nunca ter aprovado as atividades dos gêmeos, sabia o quanto a loja era importante para ele.



- Porque eu não quero mais continuar com ela - respondeu o outro, simplesmente.



- Não quer continuar? Mas esse sempre foi o sonho de vocês! - disse Rony como se achasse que o irmão havia enlouquecido.



- Você não pode desistir! - disse Harry, que finalmente fizera com que Teddy parasse de chorar - Não se esqueça que fui eu que dei o capital inicial para que vocês começassem.



Jorge mandou-o enfiar o "capital inicial" em um lugar que Harry não gostou nada.



- Ei! Nós estamos tentando te ajudar Jorge! - disse, exasperado.



A Sra. Weasley entrou na sala e juntou-se a confusão também.



- Mas o que está havendo aqui?



- O Jorge está desistindo...



- Vai fechar a Gemialidades...



- ... jogando fora o sonho dele...



- O quê? - disse ela sem entender muita coisa com a chuva de respostas.



E inesperadamente, Jorge soltou um urro enraivecido e deixou a sala a passos largos. A escuridão da noite despontava lá fora, e a alegria do almoço pareceu se esvair deles como fumaça em direção ao céu.











 



Eles não entendiam. Eles nunca intendiam. Socou a parede com força. O quarto estava escuro e frio, assim como ele se sentia no momento. "Combinou", pensou num sorrisso sarcástico sem graça nenhuma.



- Jorge, abre a porta! - disse a voz que conhecia bem a desesseis anos, socando a porta com o punho.



- Vamos Jorge! - falou outra voz masculina.



Gina e Rony continuaram a socar a porta, mas ele não respondeu. Não sentia vontade de ver mais nenhum Weasley naquele momento. Sentou-se na beirada da cama, apoiando a cabeça nas mãos.



- Jorge, sabemos que está aí dentro!



As batidas na porta continuaram, cada vez mais fortes. Jorge tentou ignorá-las, mas aquilo começou a incomodá-lo profundamente. Enraivecido, ele se levantou e girou a chave com violência.



- Que é?!



- Deixa a gente falar com você – Gina disse. Não era uma pergunta.



Jorge olhou dela para Rony, cruzando os braços e apoiou-se no portal. Achou melhor parecer indiferente, desfarçar seu espírito conflituoso.



- Falem.



- Deixa a gente entrar – pediu a irmã, com aquele seu jeito “Molly Weasley” que deixava Jorge irritado.



Ele abriu espaço no portal, indicando que passassem. Quanto mais rápido fosse o sermão, melhor.



Os dois entraram, e Jorge fechou a porta atrás deles. Gina vinha decidida, enquanto Rony parecia pouco à vontade.



- Quando decidiu isso? - perguntou a ruiva cruzando os braços.



- Ontem a noite – devolveu o outro – Mas já vinha pensando nisso desde o funeral, na verdade.



- Por quê? - perguntou Rony, e parecia temer a resposta.



- Porque encontrei a fonte mágica da sorte – respondeu ele, sarcástico.



Os irmãos olharam-no duros, sem se deixarem abalar.



- Não vejo mais utilidade para ela – respondeu simplesmente.



- Não vê mais utilidade? - repetiu Gina.



- É.



- Não pode desistir de tudo! – disse Rony alarmado.



- Não estou desistindo – retrucou o irmão bruscamente – Só não a quero mais.



A noite avançava lá fora. Um vento entrou pela janela, esfriando ainda mais o quarto abarrotado de montes de caixas com produtos das Gemialidades Weasley. Jorge odiava olhar para elas naquele momento.



- Jorge, sabemos que está mal – disse Gina, tentando ser gentil – Mas não pode deixar tudo pelo que vocês batalharam, ele não ia querer que você fizesse isso.



- Gostaria que parassem de me dizer o que Fred queria ou não que eu fizesse – falou o outro sombriamente.



- Jorge, sabemos como é...



- Não, vocês não sabem – havia uma raiva reprimida em sua voz – Acham que eu gosto de ficar naquele lugar agora? Tudo lá me lembra... ele.



- Jorge... - disse Gina com piedade.



O outro apenas soltou algo que lhes pareceu uma risada sarcática. Sentou-se na cama, apoiando os antebraços nas coxas. Sentiu, levemente incomodado, o olhar dos irmãos o acompanharem, prestando atenção a cada movimento seu. Eles finalmente entenderam. Jorge sozinho na loja, cercado por quatro paredes de coisas que lembravam-lhe o irmão... Revivendo aquela noite horrorosa... Com tudo aquilo sussurrando maldosamente em sua cabeça, não apenas que Fred não viveria mais, mas que estava, acima de tudo, sozinho.



- Você não está sozinho Jorge – disse Gina – Estamos com você.



A sombra de um sorriso se formou no rosto do irmão.



- Olha Jorge, não precisa dizer a resposta agora. Mas, quem sabe, dê um tempo de loja. Se afaste por alguns meses. Quando as coisas se acalmarem você pode decidir se irá realmente fechá-la ou não. Eu posso trabalhar lá, se quiser – ofereceu-se Rony com cautela, mas ainda assim firme.



Jorge inspirou, um pouco mais tranquilo.



- Tudo bem.



Gina e Rony se sentaram na cama, um pouco receosos, um de cada lado do irmão. Jorge levantou a cabeça:



- Droga. Eu podia ter qualquer família, mas não! Eu tinha de ter irmãos tão insuportáveis como vocês.



Eles riram. A lua começou a despontar no céu claro de primavera. Talvez fosse um bom presságio. Ou apenas um fenômeno normal da existência.











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N/A: Oie.



Desculpem-me por favor! *autora implora* Eu postei a um tempão que o capítulo 5 sairia em breve, mas acabou que eu levei muito mais de dois meses para postá-lo. É que começaram as provas, trabalhos, e eu também estou fazendo alguns cursos, então meu tempo no computador que já era reduzido ficou menor ainda.



Mas enfim, ninguém quer ouvir as minhas desculpas então... vamos ao capítulo. Em primeiro lugar devo dizer que a minha intenção era colocar esse capítulo junto ao capítulo anterior. Era na verdade o final do capítulo 4. Mas como o último capítulo já estava grande e eu queria postá-lo logo, acabei que deixei essa parte para o próximo capítulo. Eu pretendia escrever um capítulo curto, umas 2 páginas (no final acabei por escrever 7!), e logo pular para o próximo. Mas quis explorar mais as emoções do Jorge.



Segundo JK Rowling ele nunca realmente superou a morte do irmão. Nas fics pós-RdM que eu já li ele fica triste, mas logo se recupera. Eu procuro sempre ser fiel aos personagens criados por nossa autora querida. E mas que isso, tento lhes dar humanidade, fraquezas, qualidades, habilidades e decepções que lhes tornem humanos. E esse é meu maior desafio ao escrever essa fic.



Mas por outro lado... Fleur está grávida, que gracinha! *faz carinha feliz* Ela tem apenas um mês de gravidez, caso ficaram em dúvida. Coloquei para representar a recuperação da família Weasley, o começo de uma vida nova.



O Teddy é muito fofo não é gente? Adoro escrever sobre ele, apesar de esse capítulo não ter tido tanto dele assim. Espero que os meus leitores R/Hr não tenham ficado decepcionados com esse capítulo. Eu não tenho shipper favorito, só pra avisar. Eu achei que era mais H/G, porque eu adoro o jeito como eles se compreendem só com o olhar (pelo menos é o que eu imagino, tá?), mas quando eu comecei a escrever essa fic eu vi o quanto eu amo escrever R/Hr! As cenas simplesmente fluem na minha cabeça! Eles brigam, se amam e se completam *olhinhos brilhando*. Prometo que o próximo terá mais cenas R/Hr gente, esse não teve só porque eu já tinha planejado assim.



Gente, não vou responder comentários nesse capítulo. Simplesmente porque quero postá-lo ainda hoje, já enrolei demais. No próximo responderei todos.



E para o capítulo 6... um pouquinho de ação, umas cenazinhas um pouco mais, digamos, calientes, e... ah, esperem que logo vão saber. Vai ser um capítulo mais alegrinho, posso dizer isso para vocês.



Enfim, já falei demais. Como no capítulo anterior eu coloquei o beijo do Harry e da Gina, nada mais juto que, bem... leiam vocês mesmos.



Beijos,



Fernanda S. Weasley




Correndo para Rony, ela se atirou ao seu pescoço e chapou-lhe um beijo na boca. Rony largou os dentes e a vassoura que estava carregando e retribuiu com tal entusiasmo que tirou Hermione do chão.”

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