Dúvidas n' A Toca



Conto 4


DÚVIDAS N’ A TOCA


 


- AAAI! – urrou – Droga, Mione! Porque deixou essa gaveta aqui?


A ruiva pulou num pé só, a dor latejando em seu dedão direito, e foi mancando até a cama.


- Desculpe – pediu Hermione meio histérica, que até aquele momento se ocupava em arrumar sua cama. Ela agitou a varinha e a gaveta voltou à escrivaninha. Gina suspirou. Ainda faltavam quatro meses para fazer dezessete anos e poder usar magia.


As duas estavam no quarto de Gina, que dividiam desde o momento em que chagaram a Toca. Tinham acabado de tomar café e agora arrumavam suas camas. Um agradável raio de sol entrava pela janela do quarto, deixando-o claro e aconchegante. Gina olhou desconfiada para a amiga, segurando o pé machucado. Ela andara muito distraída e calada desde o dia anterior.


- Tudo bem Hermione? – começou, puxando um travesseiro e deitando-se na cama recém-arrumada – Quer dizer, você anda tão distante...


A amiga continuava de costas para ela, terminando de esticar os cobertores. Ela se mexeu, incomodada, parecia travar uma grande batalha interna.


- Ah Gina! É tudo! - exclamou por fim, aborrecida. Ela se sentou na cama e abraçou um travesseiro. A ruiva endireitou-se para ouvir – Tem os meus pais, que é o que mais me preocupa. Eu nem sei onde eles estão, nem como estão! Podem estar em qualquer lugar da Austrália. E se eu não conseguir encontrá-los? E se estiverem... - ela não ousou pronunciar o restante da frase, seus olhos se encheram de lágrimas – E tem o Fred. Bem, eu vejo o quanto vocês estão sofrendo e isso me deixa triste também. Eu me sinto um estorvo aqui, como se vocês tivessem me aceitado só por obrigação ou por pena.


“E tem... o Rony. Ontem eu e ele estávamos abraçados, então ele tentou me beijar. E eu virei o rosto. Eu sou uma idiota! Mas é que... ele me deixa nervosa Gina! Quando ele me beija eu fico toda vermelha, não consigo evitar. Fico parecendo, sei lá, uma menininha ingênua. E ele tem sido tão doce, tão fofo...”


- Meu irmão? Doce e fofo? - perguntou a amiga entre a incredulidade e a hilariedade – Tem certeza que é do mesmo Rony que estamos falando?


- Gina, ele é diferente comigo. Ainda é o Rony, só que mais gentil e carinhoso – falou entre suspiros - Acho que é por isso que, sabe... eu gosto tanto dele. Ele sempre me surpreende – suas entranhas se reviraram de contentamento.


A ruiva sorriu e ela afundou a cabeça nos travesseiros, sentindo calores gostosos subirem-lhe até a raiz dos cabelos. Gina encarou-a, sorrindo ao ver sua face apaixonada.


- Fala com o Rony – propôs a ruiva após alguns segundos.


- Falar o que? – perguntou a outra levantando uma sobrancelha – Que fico vermelha toda vez que eu o beijo? Por acaso, acho que ele já percebeu – completou, amarga.


- Não, dizer que você gosta dele. Que você está preocupada com tudo isso. Meu irmão pode ser um trasgo, mas ele vai te entender.


Ela pareceu considerar a proposta, mas o que ela decidiu Gina nunca soube. Ouviu-se uma batida na porta.


- Entra Harry! – Gina exclamou.


A figura do garoto apareceu do outro lado do portal.


- Como sabia que era eu? – perguntou admirado, fechando a porta ao passar.


- Ah, fácil. Papai e Percy saíram para resolver um problema no Ministério, Carlinhos foi embora para a Romênia já faz três dias, Jorge não sai do próprio quarto, minha mãe teria gritado do outro lado da porta e Rony não tem educação pra bater antes de entrar. Então, só sobra você – Harry riu.


- Sua mãe me mandou ver se vocês já terminaram de arrumar o quarto – informou, sentando-se na cama ao lado dela.


- Já – respondeu, aconchegando-se mais para perto dele.


Por alguns segundos tudo o que os três ouviram foi o pio distante de algum passarinho nos jardins.


- Tudo bem Mione? – perguntou Harry franzindo o cenho.


A garota assentiu, os olhos fixos em algum ponto no lençol da cama, o que só a fez parecer mais doentia.


Harry olhou para Gina a procura de uma explicação para o estado da amiga. A garota só devolveu-lhe um olhar nervoso e ele preferiu não tocar mais no assunto.


- A Sra. Tonks vai trazer o Teddy hoje – disse, tentando animá-la – logo depois do almoço.


- Ah, que bom – Gina sorriu – Já estou sentindo falta dele.


Hermione pareceu um tantinho mais animada, mas não disse nada. Harry e Gina ainda conversaram mais um pouco, até se convencerem de que não conseguiriam animá-la mais do que isso. Então a convidaram a descer, o que ela aceitou simplesmente por não ter outra opção.


 


Na cozinha, a Sra. Weasley vinha carregando uma pilha enorme de roupas lavadas. Ela pousou as roupas numa cadeira, olhando nervosa para os jardins.


- Calma mãe, eles já vem – Gina tentou tranqüilizá-la – Não há mais nada pra se temer lá fora.


- Eu sei filha – disse, mas não deixou de lançar um último olhar nervoso através da janela – É mais hábito que outra coisa. É difícil se desfazer do medo, mesmo sabendo que está tudo acabado. E onde já se viu? Trabalhar no sábado! Mal voltaram e o Ministério já quer matá-los de tanto trabalhar...


- É que eles têm muito a fazer – falou Hermione – precisam reconstruir um Ministério inteiro.


- É claro que sim, mas não poderia ser em outro dia? – disse a matrona meio zangada – Eu só queria um dia tranqüilo com a minha família. E cadê o Rony afinal?


- Tá lá em cima, terminando de arrumar a parte dele do quarto – informou Harry depressa – Já deve estar descendo.


- Ah, eu vou lá em cima levar estas roupas e já aproveito para chamá-lo – falou ela mal-humorada, pegando novamente a pilha de roupas mal equilibradas – e vocês, por favor, poderiam descascar as batatas para mim?


- Claro Sra. Weasley – respondeu Harry.


- Obrigada – disse sorrindo gentilmente.


E com isso subiu as escadas.


- Ela parece estar voltando ao normal não? – comentou Gina com um sorriso enviesado. Nos últimos dias não era raro (mas extremamente constrangedor) encontrar a Sra. Weasley chorando em cantos escondidos da casa. Eles não podiam culpá-la. Todos sentiam a falta de Fred.


- Parece – confirmou o namorado com os olhos fixos na escada pela qual ela acabara de subir – Mas acho que ainda vai demorar muito tempo para ela realmente se recuperar de tudo isso. Para todos nós nos recuperarmos.


Não houve nenhuma objeção. Então eles foram descascar as batatas para o almoço. O trabalho, sem o auxílio de magia, não durou mais de vinte minutos, alegrados pela chegada de Rony à cozinha apertada. Depois de alguns momentos, Gina fez sinal a Harry para que deixassem o irmão e a amiga a sós. Sorrateiramente, os dois se esgueiraram pelo corredor apertado até a escada e desapareceram.


 


 


 


 


O quarto pequeno e claro da mais nova dos Weasleys era um bom refúgio para os dois. Todos n’ A Toca ainda estavam em clima de luto, e havia certa tensão quando a família estava reunida. Ali, a sós, eles podiam conversar tranquilamente. A lembrança do primeiro momento naquele aposento, antes de partir em sua caçada, ainda assombrava Harry de alguma forma. Não sabia se aquela era uma boa ou má lembrança. Gina o beijara no dia do seu aniversário até serem interrompidos por Rony. Aquele beijo... ela nunca o havia beijado daquele jeito. É, até que poderia ser uma lembrança feliz...


Ele confessou seu sentimento a Gina. Elas riram relembrando a cena. Causava uma sensação boa quando momentos desastrosos como aquele pudessem fazê-los rir depois.


- O que o Rony te disse depois daquilo? – perguntou Gina se recuperando de um recente ataque de risos. Eles se sentavam na cama da ruiva, encostados na parede fria.


- Ah, disse: “você não deu o fora na minha irmã?” e “você não pára de se atracar com ela sempre que tem chance...” – respondeu, tentando se lembrar. Gina revirou os olhos e murmurou algo como: “idiota” – e eu basicamente prometi que não ia acontecer de novo.


- Acho que você não é muito bom em cumprir promessas ein? – disse, sorrindo sapeca. Harry riu. Ela beijou-o de leve, aconchegando-se em seu abraço. Aquela cama nunca parecera tão confortável.


- Sabe... – começou Gina após alguns minutos de silêncio – eu pedi a Hermione para me deixar ir com vocês. Na viagem à procura de Horcruxes. Mas ela me disse que você ou o Rony nunca deixariam...


- E não deixaríamos mesmo! – confirmou Harry alarmado. Ele se mexeu de modo que Gina teve que tirar a cabeça do seu ombro.


- Eu sabia que ela estava certa – disse dando de ombros. Havia algo sombrio em sua voz. Eles puderam sentir a tensão crescendo entre eles  - Mas lá no fundo eu tinha uma esperança de que você mudasse de idéia. Não sabe o quanto foi difícil para mim ver você aparatar no casamento. Foi quando tudo se tornou mais real do que nunca...


Harry olhou-a, os olhos arregalados.


- Mas eu só estava tentando te proteger. Acha que foi fácil pra mim também? – exclamou indignado. Ela não podia estar dizendo aquelas coisas para ele – Não sabe o que nós passamos enquanto você estava segura e feliz em Hogwarts.


- SEGURA E FELIZ?! – vociferou ela com igual indignação. Sentiu a cólera borbulhar em seu estômago e levantou-se da cama como se o namorado tivesse alguma doença contagiosa – Segura e feliz?! Ah claro, porque eu não estava passando pelos problemas que o grande Harry Potter estava passando – sua voz adquiriu um perigoso tom de sarcasmo. Harry se levantou também.


“Eu só estava em Hogwarts, onde Snape tinha assumido o controle. Coisas horríveis estavam acontecendo, os alunos estavam sendo castigados e torturados. Mas era o lugar que eu precisava ficar não?! E... eu me sentia tão incapaz e inútil, eu me sentia um lixo Harry! Impossibilitada de agir, com todos dizendo o quanto eu era criança demais para tudo! Eu precisava fazer alguma coisa!”


As nuvens cobriram o sol lá fora, roubando a claridade do quarto.


“Combinei com Neville e Luna de roubarmos a espada de Gryffindor. Eu fiquei tão animada e no final estraguei tudo!” Era como se a raiva e a frustração de um ano inteiro se esvaíssem dela naquelas palavras. “Ah, claro. EU ESTAVA MUITO FELIZ! Eu ficava noites me revirando na cama, sem conseguir dormir, tentando imaginar onde vocês estavam, o que estavam fazendo e se estavam bem. E toda manhã, meu maior medo era acordar, receber o Profeta e descobrir que você estava morto. T-toda manhã”.


Deste ponto Gina não agüentou mais. Lágrimas de raiva vazaram de seus olhos contra a sua vontade. A ira que sentia de Harry naquele momento por pensar daquela forma só não era maior que o horror daquelas lembranças. Harry ficou paralisado enquanto o impacto daquelas palavras o atingia. Ele se sentiu o maior idiota do mundo por ter dito aquilo. Gina desviou o olhar dele, dando meia volta para sair dali. Não podia mais continuar naquele quarto com ele...


Harry seguiu-a até a porta, desesperado.


- Gina! – ele a agarrou pelo pulso – Me desculpe... eu realmente não... eu nunca poderia imaginar...


Ela o ignorou, mais lágrimas escorrendo-lhe dos olhos. Ficou imóvel, resistindo à força que ele fazia para impedir que ela saísse dali.


- Desculpa – suplicou. Sabia que não suportaria vê-la se afastando dele – Eu não sabia o que você passou... não pensei antes de falar...


Harry sentiu Gina hesitar e puxou-a para um abraço, a envolvendo por completo, aliviado por tê-la nos braços. Sentiu a ruiva amolecer ao seu toque.


- Você-é-um-completo-idiota - disse, soluçando, pontuando cada palavra com um soquinho em seu peito.


- Eu sei – falou ele, porém sorria. A ruiva descansou a cabeça em seu tórax, se acalmando.


Harry entendeu naquele momento o quanto ela também tinha sofrido naquele ano, o quão abandonada e frustrada ela se sentiu por ele tê-la deixado para trás.


- Me desculpe – repetiu, num sussurro, afastando os cabelos dela do rosto delicado.


Gina inspirou. Sentia-se, de algum modo, mais leve.


- Tudo bem. Me desculpe também. Não é culpa sua o que aconteceu. Aliás, você é a razão de tudo isso ter acabado. Eu só... não achei justo você falar daquele jeito, como se eu não tivesse passado por coisas ruins.


- Eu sei. Me desculpe – pediu novamente, sem ousar se afastar mais que um centímetro dela.


Por quanto tempo eles ficaram ali abraçados, eles não souberam dizer. Só souberam que foram despertados por um alvoroço na sala, andares abaixo. Alguém parecia ter chegado à casa.


 


 


 


O sol estava quase a pino lá fora. Algumas nuvens no céu, entretanto, indicavam que choveria dali a pouco. Hermione fingia examinar a maior destas através da janela. O ruivo a encarava, curioso com o seu silêncio. A garota respirou fundo. Porque ela estava tão nervosa? Qual era o problema com ela? Tá, você cora quando o beija, e daí? Droga, ele é só um garoto. Não. Hermione sabia que para ela esse Weasley sempre seria muito mais que isso...


- Hermione, tá tudo bem? - perguntou ele preocupado.


- Tá – mentiu, evitando encará-lo.


- Mione... - Rony a pegou pelos ombros e a virou de frente para ele.


Ela olhava para tudo, menos para seus olhos. A garota se apoiou na bancada, as pernas bambas, mantendo a maior distância possível dele que, naquela situação, não passava de meros vinte centímetros. Porque tinha tanto medo assim?


- Mione, me diz a verdade – era quase uma súplica. O silêncio dela começou a chateá-lo – Porque você não confia em mim?


- Ron... - ela encontrou seu olhar pela primeira vez e então compreendeu: podia contar-lhe qualquer coisa. Ele sempre a daria segurança. Ela sempre encontraria conforto naqueles olhos azuis de céu que tanto amava e poderia voar... voar para longe de tudo, para longe de todas as preocupações, num mundo em que só existiriam os dois e mais ninguém...


E tão subitamente o abraçou que Rony ficou pregado no chão de susto.


- Mas que...?


- Me desculpe Rony – pediu ela numa voz esganiçada que fez o namorado retribuir o abraço tão forte que a ergueu alguns centímetros do chão – Eu estou só preocupada, com meus pais e tudo. Me desculpe por ser tão boba. É que... você me deixa nervosa.


- Eu te deixo nervosa? - Hermione se arrependeu na hora de ter dito aquilo. Rony sorriu de orelha a orelha, tão abobalhado quanto convencido – Há! Eu te deixo nervosa!


Ela ficou tão vermelha quanto os cabelos dele. O ruivo gargalhou, bobo, e começou uma espécie de dança da vitória pela cozinha apertada. Hermione cruzou os braços, irritada. Não em pior hora, chegaram Jorge e a Sra. Weasley, que vinham discutindo sobre alguma coisa no corredor.


- O que é isso filho? – perguntou a mãe, assim que chegaram à cozinha, olhando para Rony quase que assustada.


- Eu diria que ou ele pegou varíola de dragão ou tá cheio de fadas mordentes no...


- Jorge! – interrompeu Molly, zangada.


- Calma mãe, brincadeirinha – disse ele rindo, colocando as mãos pro alto em modo de rendição.


Rony parou, olhando da mãe para o irmão. Virou-se nos calcanhares para falar com Hermione. Mas ela tinha sumido.


Não demorou muito tempo para que o ruivo a avistasse de novo. Ela já tinha cruzado a porta e andava a passos duros em direção ao jardim, parecendo irritada.


Rony deixou a mãe e Jorge e seguiu-a, xingando baixinho.


- Hermione! – chamou, vendo o movimento dos cabelos castanhos enquanto ela andava.


Ela não parou, sequer olhou para trás.


- Hermione – tornou a chamá-la, alcançando-a e parando em frente a ela.


- Me deixa em paz Ronald – falou aborrecida. Parara de andar e cruzara os braços em frente ao corpo.


- Que foi que eu fiz? – perguntou, irritando-se também.


- Que foi que você fez Rony?! Conseguiu transformar um momento lindo em... sei lá, tudo por causa da sua grande capacidade de ser um idiota!


Ele olhou-a zangado, sem entender.


- Eu estava me abrindo com você Ron! – explicou ela irritada – Aí é só eu dizer uma coisinha que você começa a se achar o máximo e pára de me ouvir!


- Mione... – o ruivo se aproximou alguns passos, praguejando-se intimamente por seu momento de imaturidade. Mas a namorada virou o rosto, arrogante – Mione, eu não quis... Olha pra mim. E pára com essa sua arrogância, pra que sair daquele jeito? Você tá exagerando.


O ruivo engoliu as desculpas que ia pedir ao ver o orgulho exacerbado da namorada. Odiava quando ela se mostrava arrogante daquele jeito.


- Exagerando?! – um vento gelado açoitou os cabelos dela e as copas das árvores do jardim farfalharam a sua volta – Rony, eu acreditei que você escutaria o que eu tinha pra falar!


- E eu estava escutando! – exclamou ele na defensiva.


- Mesmo? Então saiba que eu vou viajar para a Austrália pra procurar meus pais – atirou as palavras sobre Rony, que ficou petrificado – E eu não deixei nenhum meio de fazer contato. Achei que assim... bem, eu poderia não aguentar ficar sem falar com eles. E talvez eu passe meses lá os procurando.


- M-meses? – repetiu o ruivo sem acreditar. Hermione olhou-o maldosamente, satisfeita do efeito que causara.


- É Rony, pode demorar muito até que eu os encontre. Pode ser que eu só volte a tempo para o começo do ano letivo.


- Mas Hermione... – Rony deixou cair por terra sua raiva e orgulho – Você não pode.


- Por que não Rony? – perguntou ela brava.


- Por que... eu não vou aguentar – disse ele, desesperado e sincero. Era verdade. Ele sabia que não aguentaria ver-se longe dela novamente – Não dá Hermione.


A garota derreteu-se com suas palavras. Sentiu a raiva evaporar dela sem que ela quisesse. Como aquele ruivo conseguia fazer isso com ela?


- Ron, eu preciso – suspirou a garota, mordendo o lábio inferior – Preciso desfazer o feitiço da memória que implantei neles.


- Eu sei. Mas é que... – o ruivo passou a mão pelos cabelos, as orelhas muito vermelhas. Andou de um lado para o outro na frente dela, ligeiramente nervoso, até finalmente exclamar – Kingsley! Posso pedir a ele pra entrar em contato com o Ministério Australiano! Aí eles poderão fazem uma busca, ou o que seja, pelos seus pais. Então você só viajaria a Austrália pra pegá-los ou sei lá.


Hermione encarou os olhos ansiosos e intensos do namorado, numa mescla de nervosismo e piedade.


- Não sei Rony... acho que eu prefiro fazer isso sozinha. O feitiço da memória só pode ser desfeito por aquele que o lançou. Mesmo que o Ministério Australiano os encontrasse... não sei...


Uma nuvem grande cobriu o sol nessa hora, conspirando com o íntimo indeciso da garota. Eles se encararam intensamente por alguns segundos, Hermione parecia a beira de lágrimas. Rony andou até ela, um pouco desengonçado, e a abraçou.


- Apenas pense nisso, tá bem?


Ele sentiu-a confirmar com a cabeça, recostada em seu peito. Abraçá-la, sentir seu cheiro, davam-lhe uma paz enorme. Ele pensou num momento vertiginoso o que seria dele se ela não tivesse sobrevivido... se não pudesse mais senti-la, falar com ela, vê-la apenas... uma sensação ruim comprimiu sua garganta. Foram tantos anos para que eles finalmente se entregassem aquele sentimento que sentiam um pelo outro. E agora ela queria deixá-lo por meses...


- Hermione, eu não sei o que seria de mim sem você.


Hermione sorriu, lacrimosa, à afirmação espontânea e sincera. Levantou a cabeça para encarar o ruivo e colou seus lábios aos dele, sentindo o maravilhoso cheiro dos seus cabelos que tanto entorpeciam seus sentidos.


O beijo perdurou alguns segundos intensos, ao final dos quais eles se separaram. Rony             abriu a boca para falar, mas foi interrompido por uma exclamação histérica da garota:


- Teddy!


Hermione quase correu em direção à casa. Parados a porta se encontravam Harry com o pequeno Ted Lupin ao colo. Ela estacou em frente a eles, sorrindo para o bebê.


- Oi Ted! Você continua muito lindinho sabia? – disse, fazendo a típica voz boba que se usa para falar com bebês – Parece que cresceu tanto!


O garotinho agitou os punhos, alheio a ela e a toda a sua falação sem sentido. Hoje seus cabelos estavam castanho claro, idênticos aos do pai. Ele realmente se parecia muito com Lupin. Rony chegou logo depois, parando atrás de Hermione, um pouco a contragosto.


- Não tem nem um mês e já rouba minha garota, né moleque? – disse, cutucando de leve o peito dele.


- Rony! – ralhou a garota.


- Só estou brincando Mione – disse, rindo. Mas logo depois se virou para Ted, fingindo seriedade – mas se continuar assim eu posso te arrebentar, ein? Não pense que eu vou aturar isso só porque você tem é bebê e tem essa carinha bonitinha.


A garota lançou-lhe um olhar de censura, mas, incrivelmente, Teddy sorriu. Um esboço de um sorriso, mas definitivamente foi alguma coisa. Hermione exclamou, meiga: “Ooh!”.


- Ele sorriu para você?! – disse Harry incrédulo – Mas eu sou o padrinho dele!


Rony continuou olhando para o bebê, sem acreditar, embora o sorriso dele já tivesse desaparecido. Ted encarou de volta os rostos do trio, com uma expressão de ligeira curiosidade na face de bochechas grandes.


- Há! Ele gosta mais de mim – Rony riu-se do amigo.


Vozes femininas eram ouvidas dentro da casa, mas ali, parados sob o portal, não era possível distingui-las.


- Não gosta não – falou Harry virando-se para Teddy – Vamos, ri pro padrinho Teddy.


Os três riram sob as nuvens de chuva que avançavam sob o céu de Ottery St. Catchpole, mas o bebê não esboçou mais nenhum sorriso, apesar das muitas tentativas frustradas do padrinho. Eles foram obrigados a adentrar a cozinha quando a chuva caiu, límpida e reconfortante, sob aquela casa que voltava, lentamente, à harmonia de outros tempos.


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N/A: Oi.


Gente, eu sei que o capítulo demorou, e desta vez não tenho nenhuma desculpa, eu só... demorei pra escrever mesmo.


Esse capítulo, tenho que admitir, deu muito trabalho. Devo ter escrito pelo menos 4 cenas alternativas daquela conversa R/Hr na cozinha, até chegar a essa, que definitivamente ficou a melhor. No final, sobraram essas 3606 palavras que escrevi, li, li novamente, reescrevi, revisei, tudo para vocês, meus leitores maravilhosos!


Quanto ao capítulo, não tenho muito a dizer. Essa briga H/G eu já a tinha gravada a anos(sim, anos!), foi só preciso escrevê-la e reeditá-la para a fic. Quando eu digo gravada, é que quando eu tenho uma inspiração, mas fico “sem saco” para escrever em meu caderno, eu me gravo narrando a estória pra escrever depois. Meio esquisito, mas funciona :D


Eu quis que a cena da briga fosse intensa, não sei se atingi meu objetivo, mas eu realmente tentei. Acho que é assim que a Gina se sentiria. Ela não é do tipo de garota que fica ‘quieta’, vamos dizer assim, ela quer participar da ação, quer saber o que está acontecendo, e isso é mais uma coisa que ela e o Harry tem em comum. Então ela se sentiu realmente abandonada e frustrada quando Harry partiu. Foi como liberar esse sentimento acumulado. Ela ficou um ano sendo obrigada a se esconder. Ninguém perguntou como ela se sentiu, como ela passou por tudo, só perguntaram sobre a aventura do Harry. E foi bom para ela liberar tudo isso.


Não é definitivo ainda que a Hermione vá mesmo viajar para a Austrália. São só os planos dela. Quem sabe ela muda de idéia? Ou não né. *risada do mal*


Ah, o pequeno Teddy! Ele é muito fofo não é gente! Eu adoro escrever sobre ele, parece que ele deixa tudo mais alegre *olhinhos brilhando*


Na verdade, eu pretendia que esse capítulo durasse pelo menos mais três páginas (o capítulo teve nove), mas no final eu achei melhor deixar o resto para o próximo. Não foi algo totalmente planejado, eu só cheguei a certa parte do capítulo, escrevi esse último parágrafo, e pensei: nossa, eu posso acabar aqui. No final ficou mais coerente, do que ficar dando voltas e voltas num capítulo só.


Com isso, espero que vocês encarem como uma boa notícia, tenho uma do próximo capítulo escrita. Mas isso quer dizer que vou ter que adaptar essa parte ao que eu pretendia escrever. Eu tinha todo o começo planejado, ia ter até um pouco de ação e tal, mas vou ter que planejar de novo agora. Enfim, espero que tenham gostado desse capítulo, que escrevi com muito carinho.


Vou parar de tagarelar agora, vocês devem se cansar das minhas N/A’s. No próximo capítulo: mais Teddy, e... bem, é só isso que eu tenho realmente planejado.


Aos comentários:


viviane cipriano: que bom que gostou *-*ah, sugirão sim, e antigos personagens retornarão para apimentar essa história. Te fiz chorar? *-* bem, era esse meu objetivo. Olha, sobre se irei escrever romances de outros Weasleys, eu sempre tive a idéia de escrever um capítulo Jorge/Angelina, mas ele viria como um bônus da fic, um capítulo meio anexo, sei lá. Mas isso seria mais para frente. Ultimamente ando meio fascinada por Remo/Tonks também, mas ainda nada escrito. Enfim, muito obrigado por estar acompanhando a fic e comentando, é o que me dá vontade de continuar escrevendo *-* Espero que tenha gostado desse capítulo.


 Pauleta Weasley : nossa, que bom que gostou! Espero que tenha gostado desse também.


Juh Sparrow: Nossa, eu também adoro, praticamente só leio fics sobre Pós-Hogwarts ou Pós-Relíquias aqui na FeB. Com certeza, as vezes eu acho que muitos dos personagens de Harry Potter são muito mais reais pra mim do que gente com quem eu convivo quase todos os dias. Para nós essa série é muito mais que tinta e papel: é real, é tridimensional, ela salta diante dos nossos olhos, nos faz vibrar e chorar. É por isso que a amamos tanto. HAHAHA’ é, eu queria que as pessoas rissem mesmo. Eu adoro a Gina e todas as suas loucuras. Sou fascinada pela personagem dela. Tomara que esteja gostando da fic tanto quanto eu estou amando escrevê-la *-*


 lbass: Muito obrigado por seus comentários, significa muito para mim quando você diz: ta linda, amei, você escreve muito bem, sabe? Isso dá um novo ânimo de escrever, como um vento fresco que entra pela janela de uma casa abafada (eu e minhas comparações poéticas –‘).  Pois é, quis retratar bem a dor do Jorge. Acho que foi uma das mortes que eu mais senti em todos os livros. Eu realmente adoro os gêmeos e fiquei muito triste por ele. Eu sou de uma família grande também (5 filhos HAHA’) e nem quero imaginar como seria perder um dos meus irmãos. É horrível. Espero que continue apreciando a fic.


cacá lanziotti: que bom que gostou *-* continue acompanhando, tenho ótimas idéias para os próximos capítulos.


Jessi : Que bom que está gostando. Obrigada *-* o Teddy é muito lindo né?


Glória Lovegood: Nossa, Glória, seus comentários me deixam tão feliz. Obrigado, eu realmente me dedico e adoro escrever aqui. Escrevia para mim mesma já faz muito tempo, porque sempre tive aquele desejo de saber o que aconteceu nesses momentos ocultos, e não me satisfazia só imaginar. Mas essa é a minha primeira fic, e é legal esse reconhecimento. Porque sempre bate aquela insegurança. Desculpe pela demora para postar, mas é que eu sou meio lerdinha mesmo HAHA’ brincadeira, prometo agilizar nos próximos. Continue acompanhando.


Piti Potter: muito obrigado, que bom que gostou *-* perfeita? Será que mereço tudo isso? HAHA’ me diz o que achou da continuação, escrevi pensando em vocês!


 Victoria Black Potter: nota mil? Nossa, me senti agora! HAHA’ você estava louca para o próximo capítulo, bem, aí está ele, espero que tenha sido, no mínimo, satisfatório.


E AGORA, A TODOS, MUITO OBRIGADO POR COMENTAREM, SEM VOCÊS EU NÃO TERIA FORÇAS PRA CONTINUAR!


Enfim, decidi que vou criar o hábito de colocar uma citação em cada capítulo. A primeira é uma das frases que mais gosto(e a que mais me assustou, tenho que dizer) em todos os livros.


Beijos,


Fernanda S. Weasley


“E, sem pensar, sem planejar, sem se preocupar com o fato de que cinqüenta pessoas estavam olhando, Harry a beijou.” 

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Comentários (1)

  • Mcpd

    Maiis um capítulo , por favor ! morrendo de curiosidade aqui --'Parbéens , está muiito legal essa fic ! :D

    2011-04-13
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