Uma tarde quente de verão




Capítulo 6


UMA TARDE QUENTE DE VERÃO


 


 


 O céu estava claro e nublado. Aquele lugar era desesperadamente familiar. Uma brisa leve beijou o seu rosto. Ela olhou a volta, um pouco desconcertada.


E de repente se deu conta de onde estava. Estava em Hogwarts. Reconhecia o castelo há distância, o lago negro se esparramando à borda do penhasco. Havia cinquenta caixões cinza enfileirados na margem. Já estivera ali antes. Era a cerimônia do enterro.


Olhou a sua volta. Viu sua família parada ao redor de um caixão a pouca distância. Não podia ser. Ela não podia estar ali de novo, Fred já havia sido enterrado. Cautelosa, se aproximou da família de ruivos.


Todos olharam-na quando se aproximou, mas ninguém lhe dirigiu a palavra. Espiou para dentro do caixão do irmão. Ele estava lá. Deitado solenemente, como se dormisse. Ela não compreendia. Eles haviam enterrado Fred, como ele continuava ali, exposto no caixão flutuante? E se não haviam enterrado-o? E se ela estivesse enganada?


Ela respirou com dificuldade, o coração ribombando no peito. Apoiou-se no pai, de pé ao lado do caixão. Levantou o rosto para o castelo. Alguma coisa a desesperava. Ela não queria estar ali, tinha que ir embora. Havia algo estranho, algo muito errado.


Então tudo aconteceu. O vento mudou, abrandou-se. O céu cobriu-se de nuvens negras e um estranho tom avermelhado despertou dele como fogo. Ela sacou a varinha do jeans. Vários relâmpagos irromperam das nuvens.Mas não eram relâmpagos.


No centro do espaço destinado aos bancos surgiram figuras encapuzadas, altas e esguias. As pessoas gritaram e correram para todos os lados. E os gritos... os gritos eram terríveis, agourentos, horrorosos. Penetraram em seu corpo, arranharam sua alma. Ela quis correr, mas seus pés pareciam pregados ao chão. O céu parecia se mover sobre sua cabeça, os gritos e o clarão vermelho davam um aura infernal ao lugar outrora bonito. Ela quis gritar também, quis pedir ajudar, mas a voz simplesmente não conseguiu se projetar no espaço, aumentando ainda mais seu desespero, fazendo com que ela tivesse vontade de chorar e se estrangular. Aquilo era pior do que qualquer tortura.


Feitiços voavam para todos os lados. Explosões enchiam o ar. Pessoas corriam para lá e para cá, desesperadas. Finalmente ela conseguiu correr. Disparou, não para fugir, mas para as figuras encapuzadas que agora se espalhavam pelo jardim, o coração martelando no peito com toda a força.


Estupefaça”, gritou ela, e um comensal caiu. Se abaixou bem em tempo de desviar-se de um feitiço verde que por pouco não atingiu sua nuca.


Ela subiu num pequeno declive, seguindo uma das figuras encapuzadas que se afastava do caos da multidão. No meio do caminho tropeçou. Caiu de bruços no chão, sujando a roupa de terra. Com o rosto ralado, virou-se para ver em que tropeçara.


Seu estômago afundou. Ela toda afundou. Estava caindo, caindo, nas profundezas de um mundo que não tinha mais importância. Frio, ensanguentado, morto. Era um corpo. Era Harry.


 


Gina acordou bruscamente, suando e respirando rápido. A imagem do corpo de Harry ainda parecia gravada em sua retina. Lágrimas marejaram seus olhos, mas ela engoliu qualquer choro que estivesse prestes a sair. Estava tremendo. “Se acalme Gina, foi só um sonho, só um sonho.”


Teve ganas de acordar Hermione. Ela não estava. Tinha esquecido que ela não dormia mais em seu quarto. Com a saída de Percy e de Jorge da casa naquela semana havia quartos de sobra para que todos os quatro adolescentes restantes dormissem sozinhos. Inspirou fundo. Com o coração mais calmo, ela olhou o relógio na mesa da cabeceira. Marcava duas e sete da manhã. Tinha que tentar dormir de novo.


Pensou em Harry. Chacoalhou a imagem do sonho que voltou a sua cabeça. Estaria ele bem? “É claro que o Harry está bem Gina, não seja ridícula, foi só um sonho!”


Resistiu a ideia de levantar-se da cama para vê-lo. Ele estava bem, tranquilo e feliz em sua cama. Dormindo. “Que é o que você devia estar fazendo, durma Gina!”


A ruiva se deitou novamente, cobrindo-se até o queixo. Fechou os olhos. Definitivamente tinha que tentar dormir novamente.


Mas por mais que ela tentasse e se revirasse, não conseguia adormecer. Duas e vinte, duas e trinta, duas e cinquenta, três e cinco... a hora ia passando mas o sono não vinha.


Ela não conseguia parar de pensar no pesadelo. Talvez se desse uma espiadinha em Harry... só pra confirmar que ele estava bem e silenciar esse pedacinho obscuro da sua mente. Ela iria entrar em seu quarto, vê-lo e voltar para a cama. Nada de mais. Ciente do quanto estava sendo ridícula, mas crendo que esse era o único jeito de acalmar-se e voltar a dormir, ela levantou-se da cama, vestiu suas pantufas e esgueirou-se silenciosamente pelo corredor.


Harry estava dormindo no quarto andar, no antigo quarto de Gui, um andar acima do dela. Deixou o próprio quarto iluminado para tentar diminuir a escuridão das escadas. Subiu-as devagar, com medo de acordar alguém. Seria um pouco estranho ter que explicar a sua mãe o que fazia indo ao quarto do namorado as três da manhã. Tentou não sorrir. “Deixa de ser safada Gina.”


Chegou ao andar desejado. Por destino ou sorte, a porta do quarto estava aberta. Ela entrou vagarosamente, evitando até respirar. Na escuridão do quarto, pode vislumbrar Harry deitado na cama encostada a parede, dormindo em sono profundo. “Viu Gina! Não precisava se preocupar.”


Ela deu mais alguns passos na direção de Harry, apenas por puro capricho de vê-lo dormir. Sorriu. Mas quando deu meia volta para sair, tropeçou na ponta do malão de Harry, jogado no meio do quarto. O barulho do tombo pareceu-lhe equivalente a uma explosão no silêncio da casa. Seu coração disparou. Se alguém acordasse ia perguntar com certeza o que fazia no quarto de Harry. Não que realmente tivesse feito alguma coisa.


O garoto acordou assustado e ergueu-se nos cotovelos. Apanhou os óculos na mesinha de cabeceira.


- Gina? - chamou ele sonolento.


- Harry, desculpe – disse ela sincera, que sentia o rosto corar na escuridão do quarto. Percebeu, muito constrangida, que ainda estava estatelada no chão.


- Que aconteceu? - perguntou o namorado, esfregando os olhos e se sentando na beirada da cama.


- Não consigo dormir – sua voz foi sumindo. Sentiu-se extremamente idiota e ergueu-se do chão – Pode voltar a dormir.


- Não consegue dormir? - repetiu ele, bocejando.


- É... - a ruiva desejou intimamente não ter tido a infeliz ideia de ir até aquele quarto – Não foi nada, volte a dormir.


- Com você aqui no meu quarto, acha que eu vou conseguir?


Gina não pôde deixar de sorrir.


 


Alguma coruja piava além das paredes da cozinha da A Toca. Gina estava sentada na bancada ao lado da pia, com Harry de pé na sua frente. Tomavam suco de abóbora que havia sobrado do jantar. O garoto fazia com que ela lhe contasse de cada detalhe do pesadelo, o que ela fazia de má vontade. A ruiva se sentia uma garotinha de seis anos contando o pesadelo de bicho papão para a mãe.


- Bem, e eu tropecei. Então vi o seu corpo – Harry arregalou os olhos para ela. Gina prosseguiu dando de ombros, já que não queria mostrar o quanto o pesadelo a abalara – E foi isso.


- Os comensais da morte atacaram no enterro do Fred?


- Não eram exatamente comensais da morte. Eram umas figuras encapuzadas. Mas na minha cabeça eram comensais – falou, irritada por Harry ainda insistir nesse assunto.


- Não acha que, bem, esse sonho significa alguma coisa? - disse, tomando um gole de suco de abóbora, consciente da irritação da namorada.


- O quê? Meu irmão morreu. Isso é horrível. Acabou - respondeu, seca.


- Acho que tem medo – disse Harry.


- Medo?


- Medo que aconteça de novo. De perder alguém que você ama novamente.


A ruiva olhou-o com uma expressão que mesclava admiração e tristeza. O garoto prosseguiu, levemente cauteloso:


- Você tenta parecer durona Gina, mostrar que isso não te afetou, mas está muito abalada por dentro. Eu também estou, todos estamos – sorriu, encarando seus olhos castanhos - Não precisa guardar suas emoções pra si mesma.


Gina sorriu, impressionada. Ficou alguns segundos digerindo as palavras de Harry.


- Desde quando ficou tão sensível? - perguntou estarrecida.


- Não fiquei – respondeu, um pouco impressionado com si mesmo também– Mas eu tenho meus momentos. Só não vai se acostumando.


Ela riu.


- Obrigado Harry – disse, abraçando-o. Sentiu-se muito mais leve e segura, e, como uma sombra que se afasta, sentiu que o medo não tinha mais poder sobre ela. Não o medo do pesadelo. O medo que se sentia após a guerra, após o horror que vivenciara.


O garoto retribuiu o abraço, sentindo o cheiro de seu perfume floral invadir suas narinas. Aqueles dois corações mutilados pela guerra e pela separação ficaram mais leves aquela noite. Porque os traumas que haviam vivenciado ainda pareciam gravados em suas retinas, os assustando, mas sabiam: precisavam um do outro para se recuperar.


Ele se afastou dela, pegou os copos da bancada e depositou-os na pia. A única iluminação provinha da luz do luar que entrava pela janela.


Gina respirou fundo e parou para admirar o a namorado. Enquanto a calça de pijama era um pouco mais folgada, a camiseta sem manga estava justa no corpo, deixando-o muito sexy, tinha que admitir. Os músculos das costas estavam levemente tensionados enquanto ele se curvava para lavar os copos. Ele não era mais aquele garoto magricela. Era quase um homem.


O olhar dela fez com que Harry corasse.


- O que é que está olhando? - perguntou sorridente, virando-se de frente para ela.


- Só estou admirando como meu namorado é lindo.


- A é? - ele chegou perto da ruiva, que continuava sentada na bancada, e puxou-a pela cintura. Tentou admirá-la também, pelo menos o que a fraca iluminação o permitia.


Ela usava uma camiseta larga e um short curto, que mostrava suas belas pernas. Gina desejou internamente ter dormido com algo mais sensual. Harry nem ligou, a amava daquele jeito: solta, despreocupada, os cabelos desarrumados e a pele alva e sardenta a mostra.


E o beijo aconteceu. Profundo e sedento, espalhou ondas de prazer pelo corpo dos dois. Gina agarrou os cabelos dele e sentiu-o pressionar os lábios macios ainda mais contra os dela. Eles se aproximaram até que não sobrasse a mínima nesga de ar entre os dois. Harry interrompeu o beijo momentaneamente e desceu a boca até seu pescoço, beijando e sugando sua pele macia. A ruiva fechou os olhos, sentindo seu coração disparar aquele simples contato, e jogou a cabeça para trás para dar-lhe mais espaço. O garoto beijou seu pescoço com ainda mais volúpia e Gina teve que morder o lábio inferior para conter um gemido de prazer. O namorado descobriu a satisfação que sentia ao fazê-la conter um gemido ao toque de seus lábios...


Levada pelas sensações, ela enlaçou a cintura dele com as pernas. Sem pensar, Harry a pegou no colo e a colocou em cima da mesa da cozinha. A temperatura aumentava gradativamente conforme conforme o beijo ficava mais intenso. Gina o interrompeu momentaneamente para deitar-se na mesa.


Por uma fração de segundo o garoto ficou a admirá-la. Os cabelos ruivos bagunçados em contraste com a madeira escovada do móvel, os lábios vermelhos tamanha a intensidade dos beijos, o sorriso convidativo e provocante...


Gina sorriu ao seu olhar. Era flamejante, intenso, desejoso. Ela ergueu-se nos cotovelos antes de passar a mão em seu pescoço e puxá-lo para outro beijo, fazendo-o se deitar sobre ela na mesa. Harry desceu a mão até achar suas coxas macias. Aquilo não era certo, era de madrugada, na cozinha escura d' A Toca. Mas tudo perdia a importância comparado a sensação do contato dos corpos, das línguas se enroscando, da respiração quente. Gina tirou as mãos de seu pescoço e foi seguindo caminho até a ponta de sua camiseta, que ela tirou rapidamente...


De repente, Harry interrompeu o beijo e saiu de cima dela, muito mais bruscamente do que pretendia. A ruiva abriu os olhos e o encarou sem entender.


- Gina, eu... - tentou, a respiração um pouco descompassada pelos momentos anteriores, mas nada conseguiu dizer além disso.


Um momento de silêncio constrangedor se seguiu. Eles se encararam sem nada dizer. A garota corou. Sentiu-se vulgar, deitada ali, com Harry de pé se recusando a continuar a beijá-la.


Mas antes que eles pudessem falar algo, ouviram um som que fez seus corações dispararem ainda mais: passos.


Eles se encararam sem saber o que fazer, então desesperaram-se. Harry pegou a camiseta jogada no chão e a varinha (que levara por precaução) e Gina desceu de cima da mesa e puxou o namorado para a dispensa, fechando a porta sem barulho atrás dela. Seria uma cena engraçada não fosse a gravidade do momento. Eles ficaram na mais absoluta escuridão. Fizeram silêncio. Os passos continuavam. Os dois o ouviam descendo as escadas, cada vez mais perto. A ruiva sentiu um movimento atrás dela, que significava que o namorado estava tentando recolocar a camiseta. Tentou não lembrar do acontecimento anterior, sentindo raiva de si mesma.


A pessoa que produzira os passos agora se aproximava da cozinha. Podia até ouvir as engrenagens de seu cérebro trabalhando para pensar num jeito de saírem dali. Se pudessem aparatar n' A Toca poderiam usar a varinha de Harry para saírem dali antes que a pessoa chegasse ao cômodo. Mas não podiam. Não havia outra saída da dispensa. Nenhuma janela, nada. Teriam de ficar ali até que o autor dos passos voltasse para a cama.


Harry parecia estar pensando o mesmo que ela. Sentiu-o recostar-se na parede, pouco à vontade. Tentou acalmar o coração. Daqui a pouco a pessoa iria embora, e eles voltariam para seus quartos. Mas e se ela os pegasse ali? Ela não queria nem imaginar as consequências se algum Weasley a flagrasse dentro da dispensa às quatro da manhã com Harry Potter...


- Gina... - o garoto sussurrou em seu ouvido direito, mas ela fez um som como para que ele se calasse:


- Shhh!


Gina descobriu que tinha receio de ouvir o que Harry tinha a dizer. Na verdade, estava um pouco ressentida com ele. Porque ele não quis ir adiante? Porque ele interrompeu o beijo? Talvez achasse que era muito nova... Talvez ele não a quisesse... E esses pensamentos davam a ela uma sensação de frio, de solidão que não tinham nada a ver com a quietude da noite e o isolamento da dispensa.


Os pensamentos rodavam na cabeça de Gina e os minutos foram passando, um a um, naquela espera angustiante. Eles bem que podiam estuporá-lo, pensou, rindo-se internamente. É claro que isso não aconteceria. Os dois não ousavam fazer o melhor barulho que fosse, nem o mínimo entrar e sair de ar dos pulmões. Ela não via nada na escuridão do lugar, mas podia adivinhar que Harry estava a menos de um palmo dela. Seu coração batia rápido pelo medo de serem pegos. Desejou fervorosamente não ter tido a ideia estupida de sair da cama. O autor dos passos já se retirava, ela podia ouvi-lo subindo escada acima. Dali a pouco ela e Harry se esgueiraram como fantasmas pela casa, e voltaram a seus quartos sem trocar mais nenhuma palavra.


 


 


 


 


O almoço estava servido. Vapores subiam pela mesa cheia de gente, e o cheiro da comida deliciosa da Sra. Weasley os enchia de fome. Hermione, Rony, Harry, Gina, Molly e Jorge, que dera uma escapadinha da loja para almoçar com a família, se sentavam a mesa. O Sr. Weasley fora trabalhar. Era uma sexta-feira. Já haviam se passado um mês desde a batalha da II Grande Guerra Bruxa (mas é claro que não a chamavam assim na época, esse nome só passou a ser empregado alguns anos depois).


Harry e Gina traziam olheiras sob os olhos. Se sentavam um ao lado do outro, tratando-se com uma estranha cordialidade. Os outros conversavam animadamente sobre as notícias do profeta. Tudo indicava que Kingsley estava tentando retirar os dementadores da guarda de Azkaban. A notícia gerara polêmica entre os ingleses.


Todos davam sua opinião sobre o assunto, mas Harry e Gina se sentavam quietos a um canto. Não tiveram a oportunidade de conversar a manhã inteira, devido a carga de trabalho passada pela Sra. Weasley. Uma nuvem de constrangimento pairava entre os dois.


- …mas vai ficar muito mais fácil dos comensais fugirem se os dementadores não estiverem em Azkaban – argumentou Rony engolindo um pedaço de batata.


- Rony, imagine passar parte da sua vida guardado por uma criatura daquelas? Nenhuma pessoa merece isso. Elas simplesmente enlouquecem, sei lá – disse Hermione.


- Mas vão haver fugas em massa a cada mês! E eu prefiro um comensal louco em Azkaban que solto por aí – objetou o outro - Eles já são loucos naturalmente Hermione, os dementadores não fazem diferença alguma.


- Rony!


- Quem quer mais salsichas? - perguntou a Sra. Weasley pegando a travessa sobre a mesa.


Rony e Jorge fizeram que sim, mas a Sra. Weasley colocou uma salsicha extra no prato de todos. “Vocês estão muito magros”, falou antes que qualquer um pudesse protestar.


- A noite ontem foi boa, ein?– comentou Jorge rindo para Harry e Gina.


Os dois, pegos de surpresa, coraram até a raiz dos cabelos. Os olhares se voltaram para eles. Rony engasgou com sua salsicha.


- Cala a boca Jorge! - respondeu Gina brava.


- Só estou falando o que eu vejo irmãzinha. Os dois com essas olheiras enormes no meio da cara, quietinhos...


- Eu só não dormi bem ontem, só isso - respondeu a outra, corando.


- Ah Ginevra, pensa que eu sou idiota?


- Já chega vocês dois – interrompeu a Sra. Weasley querendo evitar uma briga – Jorge, vai pegar a travessa de sobremesa na cozinha.


Jorge abriu a boca para protestar, mas emudeceu ao olhar severo da mãe. Levantou-se rápido e foi fazer o que esta havia pedido. O almoço discorreu sem mais surpresas, e ao final deste todos, satisfeitos, saíram da mesa para aproveitar o agradável dia de verão que se fazia no jardim. Gina, entretanto, seguiu para seu quarto, enquanto Jorge aparatou de volta para a loja.


A garota fora a única a restar na mesa comprida d’ A Toca. Apoiava a cabeça na mão esquerda, pensativa. O jornal em que Harry aparecia na capa estava jogado no balcão, e na manchete se lia “Entrevista exclusiva com Harry Potter, o menino que derrotou o Lord das Trevas, por Zamira Gulch”. A jornalista, muito simpática aliás, viera entrevistar o amigo a algumas semanas. Numa edição um pouco mais nova jogada sobre esta a seguinte manchete era visível:


Harry Potter, Hermione Granger e Ronald Weasley condecorados com a Ordem de Mérlim em cerimônia no Ministério da Magia”


 


Sob o título estava uma foto de Harry, Rony e Hermione, sob um pedestal a frente da fonte dos irmãos mágicos, os três muito elegantes, e Harry apertando a mão de Kingsley e recebendo um emblema dourado. Fora uma noite até agradável, pensou Hermione consigo mesma. Kingsley entregara-lhes os prêmios, eles conversaram com os presentes na festa e comeram um pouco. O que a irritou mesmo foram os boatos no Semanário das Bruxas sobre o suposto namoro entre Harry e Gina, e ela e Rony, que foram vistos na festa “de mãos dadas e trocando olhares apaixonados”. Bem, podia até ser verdade que eles estivessem namorando, mas isso não era da conta de ninguém.


- Hermione, querida, podia me ajudar a tirar a mesa? - perguntou a Sra. Weasley, tirando-a de seus devaneios.


- Claro, claro – respondeu a outra de súbito, acordando para a realidade.


Ela e Molly rapidamente recolheram os pratos e os restos de comida e colocaram tudo na pia.


- Oh, acho que vou aproveitar que o Artur não está... que eu tenho tempo – corrigiu-se a mulher – e vou fazer uma limpeza naquele barracão cheio de tralhas. Aposto que o Artur anda escondendo alguma coisa de mim, ele anda muito estranho. Pode pôr os pratos para lavar pra mim?


E sem esperar resposta a matrona saiu apressada da cozinha. Hermione agitou a varinha. A água escorreu da torneira e os pratos começaram a se lavar sozinhos. Rony surgiu na porta do jardim, rindo de alguma brincadeira que estava fazendo com Harry.


- Tudo bem Mione? - perguntou ele.


- Claro, só estava ajudando sua mãe – respondeu ela despreocupadamente, virando-se para olhá-lo.


Rony observou-a colocar o resto da louça na pia, e uma ideia travessa clareou-lhe a cabeça. Quando a namorada deu meia volta para sair ele sacou a varinha. Hermione gritou quando um jato de água gelada a atingiu em cheio nas costas.


- Rony! - vociferou ela, virando-se para ele e agitando a parte de trás da blusa – Tá fria!


O ruivo riu, divertido do feito, indiferente à expressão ameaçadora com que ela o olhava.


- Ah é? - Hermione foi até a pia e, antes que ele pudesse impedi-la, encheu a mão com água suja e jogou na parte frontal da camiseta do namorado.


- Ah sua...


A garota riu quando Rony começou a persegui-la pela cozinha. Eles correram feito crianças para lá e para cá. Ela tentava contornar a bancada quando o ruivo a agarrou pela cintura e a puxou para junto dele.


- Não, não... - ela se debateu enquanto ele a arrastava de volta até a fonte de água.


O ruivo encheu a mão de espuma, enquanto ela lutava tapando parte da saída de água com a mão e espalhando água pela cozinha inteira. Rony virou-a de frente para ele, mantendo-a firmemente presa pela cintura.


- Não! - Hermione levou uma porção de espuma em cheio no pescoço.


A garota revidou com um jato de água no rosto do namorado. Rony se protegeu com um braço, e com o outro, cegamente, atirava água do fundo da pia na direção dela. Água e espuma voavam para todo o lado e eles já estavam molhados até os ossos. A garota gargalhou quando uma porção particularmente grande de espuma acertou o cabelo do ruivo.


- Ah, vem cá!


Rony avançou sobre ela e abraçou-a pela cintura, erguendo-a e colocando-a sobre o ombro esquerdo. Ela riu e se debateu, de cabeça para baixo com o ventre apoiado em seu ombro. Não conseguia ver nada a não ser o pano da camiseta escura e molhada que ele usava. O namorado rodopiou com ela pela cozinha, as costelas doendo de tanto rir da histeria de Hermione.


- Me põe no chão Ron!


Depois de persistir mais um pouco apenas para vê-la mais histérica, o namorado colocou-a sobre a bancada. Ela deslizou para frente, balançando as pernas dos lados dos quadris do ruivo, que tomou-a pela cintura. Os olhos dele já estavam fechados, preparando-se para beijá-la, quando sentiu uma porção de espuma fria atingir-lhe em cheio o pescoço. A garota caiu na gargalhada, enquanto o ruivo, ainda de olhos fechados , respirou fundo e crispou os lábios, tentando em vão limpar a espuma. Retirou um pouco e passou sobre o nariz da namorada. Hermione sorriu, despreocupada e deliciada com o gesto carinhoso, e jogou os braços sobre seu pescoço. Mesmo sentada na bancada ele continuava ligeiramente maior do que ela. Seus lábios se encostaram, displicentemente, sem pressa, aproveitando a sensação dos lábios frios e do contato dos corpos molhados...


- MAS O QUE ESTÁ ACONTECENDO AQUI!


Eles se separaram sobressaltados diante do grito da Sra. Weasley.


- O que aconteceu na minha cozinha? - a matrona colocou as mãos no quadril largo – Parece que um tsunami passou por aqui!


A água transbordava da pia, espuma escorria da bancada e dos armários, e no chão se espalhavam grandes poças de água suja. Os dois tentaram explicar:


- Eu estava lavando...


- Nós só estavamos...


- ...o Rony me acertou...


- ...e acabamos nos descontrolando...


- Vão se limpar! – ordenou Molly. Depois foi até a pia resmungando para si mesma – Não posso deixar a cozinha por cinco minutos e olha o que acontece. Perecem crianças...


Os dois não esperaram outro aviso. Saíram depressa dali para o banheiro, pingando água pelo caminho. O ruivo esperou que Hermione fechasse a porta e caiu na gargalhada.


- Rony! Não tem graça. - censurou a garota, enquanto o outro se dobrava de tanto rir – Sua mãe agora vai ter de limpar a cozinha inteira.


- Tem muita graça sim – respondeu o outro, entre uma gargalhada e outra.


Hermione ficou encarando-o por alguns segundos, mas não aguentou. Fez coro as gargalhadas do namorado, sentando-se por fim ao lado dele no chão, as costelas doendo de tanto rir, a água escorrendo dos cabelos cacheados e caindo-lhe sobre o rosto. Uma sensação de paz e júbilo se espalhou pelo banheiro apertado. E aquela tarde quente esteve em suas lembranças pelo resto de suas vidas.


 


 


 


 


Gina olhava pela janela, pensativa. O céu estava claro, um perfeito dia de verão.


Alguém bateu na porta, e, para o nervosismo da ruiva, a cabeça de Harry surgiu no vão quando ele a abriu.


- A gente precisa conversar – disse este simplesmente, um pouco constrangido. A namorada fez um sinal afirmativo com a cabeça, e ele entrou e fechou a porta com um baque surdo.


Por um momento ficaram a se encarar sem nada dizer. O silêncio pareceu se solidificar entre eles, como gelo. O garoto se perguntou porque é que ele não saía correndo dali e voltava outra hora, mas Gina finalmente disparou:


- Você não sente... desejo por mim?


A ruiva se arrependeu de ter dito isso. Ela passara a última hora pensando no que diria para Harry quando os dois tivessem tempo para conversar sobre a madrugada anterior, ensaiara dezenas de frases, e no final conseguira dizer apenas isso, a pergunta que não queria calar em seu íntimo.


- Não sinto Gina?! - Harry ficou um pouco indignado – Eu mal consegui dormir ontem pensando... no seu corpo, no seu toque. Você não viu o estado em que me deixou?


- Então porque interrompeu tudo? - a pergunta saiu se seus lábios antes que ela pudesse contê-la, um pouco petulante.


Ele foi se aproximando enquanto falava, sentou-se na cama ao lado dela e projetou-se para frente, até que seus rostos ficassem a centímetros um do outro:


- Gina, é claro que eu estava morrendo de vontade... Mas eu não quero que seja assim... Às pressas, no meio da noite, na mesa da sua cozinha, com seus irmãos podendo acordar a qualquer hora... Eu queria que fosse especial pra você.


A ruiva encarou-o, derretida com aquelas palavras, deliciada pelo modo intenso com que aqueles olhos verdes a olhavam. Toda a sua desconfiança, toda a insegurança, abandonaram-na involuntariamente.


- Oh Harry – ela abraçou-o e trouxe-o para perto, fazendo com que ele se deitasse ao seu lado.


O garoto se acomodou na cama, abraçando-a pela cintura, e beijou-lhe a testa.


- Eu te amo – sussurrou a ruiva com um sorrisinho bobo que o namorado adorou. Depois seu tom mudou - Desculpe ser um pouco “afobada” as vezes. É que a gente passou tanta coisa para ficar junto...


Harry ajeitou-se na cama para encará-la melhor, sorrindo também bobamente ao declarar:


- É esse seu jeito que me faz te amar ainda mais.


Gina sorriu. Deu-lhe um beijo rápido nos lábios e aconchegou-se em seu peito, respirando fundo. Pensou que podia passar a vida inteira assim, ali naquela cama com Harry, todas as preocupações de fora do quarto, naquela tarde perfeita de verão.


 


N/A: Olá!


Sim, sim, estou de volta!


É, eu sei, demorei meses para postar o capítulo. É que, bem, além de todos os afazeres e talz, me senti desmotivada. Pensei até em abandonar a fic. Mas aqui estou eu de novo, como Fawkes renascida das cinzas *sorri de orelha a orelha com a comparação*. Adoro as fênix.


Bem, quanto ao capítulo, só digo que adorei, não sei vocês. Peguei uma onda de inspiração e fiquei ontem até as 3 da manhã o escrevendo. Quis começar com uma cena um pouco tensa, um pouco de ação nessa fic romântica, não sei se ficou bom.


Momento quente H/G. A relação deles começa a evoluir a partir desse ponto. Adoro o jeito com que eles se completam. Já vou avisando que na minha fic eles vão ter a primeira vez deles primeiro que R/Hr. Tanto porque eu acho que eles se dão tão bem que não demoraria nada *suspiro*, quanto porque eles já tiveram um tempo de namoro antes, mesmo que pouco. Isso pra mim já quer dizer que eles tem uma certa intimidade.


Agora a cena da cozinha entre o Rony e a Mione *sorriso bobo e suspiro*. Confesso que já a tinha escrita há muito tempo, e estava só esperando esse capítulo para encaixá-la. Adorei escrevê-la. Na verdade adoro escrever R/Hr, as cenas simplesmente fluem na minha cabeça sem esforço, eu não fico pensando: O que ele falaria agora? Sai naturalmente. Ao contrário do Harry e da Gina, acho que é agora que o Rony e a Mione estão começando a ter intimidade, estão se descobrindo e se soltando um perto do outro. A relação ainda vai se estreitar muito, esperem pra ver.


Enfim, capítulo felizinho, pra quem reclamou que o outro estava triste, sem muitas novidade nem reviravoltas. Espero que as cenas românticas tenham convencido vocês. Eu tento conciliar a personalidade das personagens com meus sonhos românticos (se bem que na vida real não sou tão romântica, mas enfim). Para o próximo capítulo: acho que os quatro vão dar uma volta no Beco Diagonal. Vamos ver no que isso dá. Estou cansando de escrever sobre A Toca, então acho que daqui a um ou dois capítulos já vou mandá-los para Hogwarts. Nossa, me senti poderosa agora escrevendo isso *risada de superioridade*.


Se ouve algum problema de ortografia no capítulo me perdoem, fiz ele correndo. Não vou responder comentários hoje porque, se não, não consigo postar o capítulo, mas fiquem sabendo que tenho andado muito feliz com os comentários. Continuem comentando e me motivando por favor, com elogios ou críticas (mesmo que seja só pra dizer que minha fic é um lixo).


 


Beijos,


Fernanda S. Weasley


 


 


Porque, para a mente bem estruturada, a morte é apenas a grande aventura seguinte” Alvo Dumbledore

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Comentários (4)

  • Juliana Aparecida Chudo Marques

    Capitulooo perfeitoo.... adorei o momento rony e mione.. amo esse casal...o momento harry e gina tbm... concordo que eles tem mais intimidade... e a insegurança da gina foi de certa forma fofa.. kkk .. sua fic é muitoo linda.. mesmo com os momentos tristes.. mas eles fazem parte né.... to super ansiosa pro proximo capitulo.... naum pare de escrever viu... *-*

    2011-10-18
  • Gemeas Potter

    AAA, Eu simplesmente AMEI o momento H/G e R/Hr! Nem pense em abandonar a fic pq eu não iria aguentar!! kk. Estou amando. Aguandando ansiosamente o próximo capítulo. =*

    2011-10-17
  • sophya black

    AAAAA adorei o cap.perfeito momento H/Gpor favor não deixe de postaresperando anciosa o proximo cap.Bjsss!!

    2011-10-16
  • maribsousaxx

    awnt, adorei! Não deixe de atualizar! 

    2011-10-16
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