O pedestal negro



Conto 2


O PEDESTAL NEGRO




Sentiram o calor da lareira assim que entraram pelo o buraco do retrato. O grupo de ruivos encarou-os meio aturdidos, talvez por estarem de mãos dadas. Rony levou a mão aos cabelos, constrangido. O silêncio se prolongou até se tornar quase sufocante.


- Oi gente... – arriscou o ruivo.


- Onde estavam? - a mãe atirou a pergunta, ao mesmo tempo temendo e ansiando a resposta.


- Onde estávamos, como assim? - tentou ser displicente.


- São dez horas da noite! - a Sra. Weasley pôs as mãos na cintura. Os outros Weasleys e Harry(achando a cena quase hilária não fosse o constrangimento dos amigos) escutavam atentamente. A diretora havia organizado todos nas outras casas e deixado a sala comunal da Grifinória apenas para eles, para maior privacidade.


- É... nós estávamos só dando uma volta pela escola - Hermione veio para ajudar – McGonagall disse que hoje não tem hora para voltar para cama, ela não conseguiria controlar os “festeiros” mesmo – ela se referia as pessoas “exagerando” na comemoração pela queda de Voldemort.


- Mas por onde...?


- Ah Molly, deixa eles... – o Sr. Weasley veio interferir a favor do filho.


A Sra. Weasley abriu e fechou a boca várias vezes. Apesar de disfarçarem, Rony sabia que os outros esperavam atentamente o desenrolar daquela situação. Quando a mãe parecia prestes a falar alguma coisa, Rony a interrompeu, exasperado:


- É, a gente tá junto, estão felizes?


Hermione e a Sra. Weasley olharam para ele, sorrindo meio incrédulas.


- Oh, Hermione querida! - a matriarca dos Weasley correu para abraçá-la – Sabia que mais cedo ou mais tarde ia entrar oficialmente na família.


Gina, sentada no braço da poltrona de um sorridente Harry, tapou a boca para segurar o riso. Fleur olhou de Hermione para Rony, e deste para ela, surpresa, até meio horrorizada, enquanto o marido sorriu e piscou para Rony como quem diz: “Garanhão!”. Percy, diferentemente do que todos esperavam, se levantou para cumprimentar Hermione, já Jorge, mais diferentemente ainda, não esboçou nenhuma reação. Apenas deu uma olhada no casal e voltou a se afundar em sua própria desgraça.


Rony fugiu dos cumprimentos, impaciente, e foi se sentar na poltrona ao lado de Harry e Gina.


- E vocês dois? - perguntou abruptamente, ainda meio estourado.


- Que que tem? - devolveu Gina, projetando o tronco para frente num sinal de desafio.


- Nada não, passearam a noite inteira colhendo lindas begônias pelos campos da escola – respondeu o ruivo sarcasticamente.


- Não, passamos a noite fazendo sexo selvagem pelos cor...


- Demos uma volta nos jardins e sim, nós voltamos – Harry interrompeu a ruiva antes que Rony começasse a acreditar no que ela dizia.


Rony fechou ainda mais a cara à resposta da irmã, contudo a situação melhorou um pouco quando Hermione se sentou na poltrona ao seu lado.


- E aí Sr. Wesley, quais as novidades?- perguntou ela indicando o Profeta Diário que ele lia. A manchete (“A PAZ É RESTAURADA, VOLDEMORT ESTÁ MORTO”) exibia uma foto do cadáver de Voldemort, com Harry ao seu lado, um sorriso triunfante estampado no rosto.


- Eu sou o que agora? “O Herói”? “O Salvador”? - perguntou Harry displicentemente, mas com um quê de resignação na voz.


- Na verdade Harry, eles foram bem verdadeiros dessa vez, sem exageros nem mentiras. Kingsley deve estar fiscalizando bem o jornal – respondeu ele descansando o Profeta no colo.


- Desta vez, pelo menos, fizeram justiça. Não vejo ninguém melhor para o cargo que Kingsley – comentou Gui.


- É, ele vai fazer um bom trabalho. Muitos Comensais da Morte já foram presos – disse o Sr. Weasley, passando a mão pelos cabelos agora quase totalmente brancos – e os Malfoy serão julgados.


- Finalmente aquele rato do Malfoy vai ter o que merece – comentou Rony, vingativo.


Hermione olhou para Harry, sabendo o que ele devia estar pensando. Apesar de tudo o que Draco já tinha feito a ele, o garoto não conseguia esquecer a imagem dele chorando no alto da Torre de Astronomia, na noite que Dumbledore fora morto. Ou simplesmente não podia ignorar que a mãe, Narcisa, se arriscara mentindo a Voldemort, quando confirmou a morte de Harry. Não sabia se eles realmente mereciam apodrecer em Azkaban. No fundo, ela e o filho foram quase que obrigados a ficar ao lado do Lorde das Trevas. E se tem uma coisa que precisariam exercitar nestes novos tempos era o perdão.


- Mas e aí, o que vocês fizeram depois que saíram da minha casa? Além de assaltar Gringotes, é claro – perguntou Gui rindo – Vocês são malucos!


- Não muita coisa na verdade – respondeu Rony, fingindo vasculhar a memória – Na verdade, fomos dar uma volta em Hogsmead, mas infelizmente uns dementadores insistiram em atrapalhar


nosso passeio.


Todos riram, menos a Sra. Weasley.


- Devem ter se metido em muitos perigos esse ano, fazendo sei lá o que estiveram fazendo – comentou ela séria – Fugir montados num dragão, que ideia!


- Mas afinal, o que andaram fazendo? - perguntou Percy, entretanto se arrependeu logo depois. Todos ficaram sérios, esperando a resposta do trio. Até o vento pareceu se calar.


Os três se entreolharam. Contariam?


- Bem... - Hermione começou – andamos procurando coisas que nos ajudariam a liquidar Voldemort – ela olhou para Harry, pedindo, não ajuda, mas permissão.


- Andamos procurando Horcruxes – disse Harry, decidido, surpreendendo aos Weasleys, contudo nem tanto quanto a Rony, Hermione e Gina, a quem ele já havia contado parte da história. Aquela família que o ajudara tanto, a quem ele devia tanto, merecia saber a verdade.


Então seguiu-se uma longa narrativa, onde os três conduziram a história desde o casamento de Fleur, o ataque dos comensais no café em Tottenham Court, a estadia no Largo Grimmauld, a confusão no Ministério da Magia, a captura na Mansão Black, o assalto a Gringotes e a batalha no castelo, omitindo, é claro, o fato de Harry ser a sétima Horcrux e o que ocorrera na floresta, coisas que até hoje os únicos que sabem são Hermione, Gina e Rony. Quando surgiu a pergunta sobre como Harry sobrevivera, o garoto apenas respondeu que não sabia. Ele preferia guardar a resposta apenas para seus amigos mais leais, aqueles a quem ele mais amava.


Ao final, havia rostos chocados e admirados, e a Sra. Weasley chorava compulsivamente. Até Jorge saíra da sua inanição para ouvir as palavras do trio.


- Oh meninos – a matriarca veio abraçá-los, as lágrimas brotando dos olhos e um sorriso bondoso atenuando a face já coberta pelas marcas da idade – Vocês são tão corajosos!


Depois de toda a narrativa, Harry descobriu que não achava a história heróica, tampouco. Era mais uma história triste, de um tempo de privações e incertezas, a busca por cumprir uma tarefa que ele nem mesmo escolhera realizar, que estava em seu destino, transcrita um uma profecia desde antes de ele nascer. Entretanto, não fizera isso por causa do que diziam as palavras da profecia, mas por que ele não descansaria até salvar do perigo aqueles a quem ele amava. E se pudesse escolher, viveria tudo aquilo de novo, só pra estar ali, naquele momento, sob o calor aconchegante da lareira com aqueles que mais perto chegaram de ser sua família. Ele queria que ali estivessem Fred, Tonks, Lupin e outros tantos que se sacrificaram pelo mesmo motivo, mas sabia, eles estavam em um lugar melhor. As palavras de Dumbledore ecoaram em sua cabeça: “Não tenha pena dos mortos Harry, tenha pena dos vivos, e sobretudo, daqueles que vivem sem amar”


 


 


 


 


O dia seguinte amanheceu claro e nublado, até o tempo parecia estar em comunhão com os acontecimentos daquela manhã. Harry, que dividia seu dormitório com Rony, Jorge e Percy, levantou cedo e ficou se revirando na cama até decidir que não conseguia dormir e levantar para se arrumar. Assim que o começou, os outros se levantaram para fazê-lo também. Menos Jorge, que continuou deitado em sua cama, com as cortinas fechadas. Ninguém se cumprimentou. Ninguém falou. Cada um parecia estar absorto em sua própria reflexão, em seu próprio luto.


Desceram as escadas em direção a sala comunal, onde todos, menos Hermione e Gina, já aguardavam. Carlinhos chegaria da Romênia dali a uns vinte minutos. Eles desceriam para tomar café depois seguiriam para os jardins, onde seria realizada a cerimônia funerária. Não trajavam preto. Orientações da McGonagall. Deveriam escolher roupas bonitas, confortáveis, talvez sua roupa preferida. Não havia regra.


Passados uns bons dez minutos vieram Gina e Hermione. Hermione usava um vestido azul simples e delicado. Gina estava linda numa blusa roxa clara e num jeans apertado, mas seu rosto não podia estar em menor contraste com seu corpo. Não que ela estivesse feia, Harry achava isso impossível, mas estava triste. Ele via a tristeza escondida por trás daquele olhar decidido.


- Todos aqui? Cadê o Jorge? - perguntou o Sr. Weasley, consultando o relógio de pulso, impaciente – JORGE! ANDA LOGO!


Não houve resposta. Todos se entreolharam.


- Eu vou lá falar com el...


- Não, deixa que eu vou – Rony interrompeu Gui e saiu a passos firmes pela sala.


O ruivo subiu as escadas em direção aos dormitórios, decidido. Não bateu a porta, simplesmente entrou. Se assombrou ao constatar que o irmão continuava em sua cama, as cortinas fechadas.


- Jorge! - chamou – Jorge, levanta!


- Eu não vou! - atirou a resposta entredentes por trás das cortinas.


- Aaah, vai sim! - Rony estava impaciente, mas já esperava por isso – É o que o Fred gostaria que você...


- GOSTARIA? ELE NÃO GOSTARIA DE TER MORRIDO, TÁ LEGAL? NEM VEM ME FALAR O QUE ELE GOSTARIA QUE EU FIZESSE! – explodiu ele, afastando as cortinas e sentando-se, o rosto exibia uma raiva quase homicida. Rony, assustado, nunca vira o irmão se descontrolar daquele jeito – Parece que ninguém aqui se importa...


- É claro que eu me importo, ele era meu irmão também Jorge! - vociferou o outro, controlando seu espanto com os gritos do irmão e não deixando-se intimidar – Só porque ninguém está sendo tão babaca como você não quer dizer que não nos importamos! Eu também sinto falta dele, eu também o amava...


A voz dele foi morrendo com a última palavra. Jorge parara de gritar, mas Rony imediatamente desejou que ele voltasse a fazê-lo. O gêmeo ficou encarando-o, o peito subindo e descendo numa respiração descompassada, sem resposta... Sua raiva não passara, mas ele não tinha raiva de Rony, tinha raiva de tudo aquilo, de toda aquela situação. Porque ele tinha que ter morrido? Por quê?


E tão inesperadamente quanto começara a gritar, o ruivo começou... a chorar. As lágrimas escorreram de seus olhos para seu queixo e ele cobriu o rosto com as mãos, talvez por vergonha ou para simplesmente se esconder, se esconder de tudo. E de tudo naquela manhã isso foi o que decididamente mais assustou Rony. Ele ficou pregado no chão de choque. Era uma visão quase nauseante para o ruivo: o irmão com o rosto sem uma orelha entre as mãos e o corpo tremendo e soluçando. Nunca, em momento algum vira Jorge Weasley chorar, e em toda a sua vida essa foi a única vez que o viu.


- Eu não... quero ir – soluçou a frase categórica, que soou infantil.


- Jorge, eu também não queria que isso tivesse acontecido, mas aconteceu – Rony tentou consolá-lo, embora nunca fora muito bom nisso – e a gente tem que se despedir dele, da forma como ele merece, da forma como a McGonagall preparou hoje. E bem... precisamos seguir com a nossa vida né? Fred morreu lutando para tentar dar um futuro melhor. Para todos.


- Óoh, mas que lindo! - disse sarcasticamente. Ele pareceu bem mais controlado quando levantou o rosto e acrescentou sombriamente - Mas isso não muda o fato de ele estar... morto. Nem torna a morte dele mais heróica, se quer saber.


- Não estou tentando transformá-lo em herói - respondeu ele calmamente - Quero apenas que você entenda que ele não morreu em vão. Eu sei que não precisava ser assim... mas é assim que aconteceu. E precisamos aceitar e, sabe, seguir em frente. Olha pra você. Aí, se lamentando... acha que ele gostaria de ver você assim?


Prolongou-se um segundo de silêncio.


- Eu não consigo – disse finalmente, quase suplicante, o rosto rígido e o olhar para baixo.


- É claro que consegue. É só uma cerimônia, todos vão estar lá para te...


- Não isso. Eu não consigo seguir... não consigo continuar. Não sem ele – ele levantou a cabeça para o irmão. Seu rosto estava apenas triste dessa vez - É como se uma parte de mim... fosse embora.


Rony engoliu em seco e sentou ao seu lado na cama.


- Então a parte que sobrou vai ter que aprender a caminhar sozinha – disse simplesmente. Pode parecer rude, mas era do que Jorge precisava naquela hora – e estaremos todos com você, te ajudando. Você não tá sozinho.


Rony pensou ter visto a sombra de um sorriso na rosto do irmão.


- Vamos. Se veste. Acho que deveria usar aquela jaqueta maneira de couro de dragão. Você ainda é o mais rico da família, não?


Ele sorriu. Os dois se levantaram.


- Obrigada – foi o que Jorge conseguiu dizer e em seguida o abraçou. Rony não se recordava se algum dia já tinha recebido um abraço do irmão – Acho que a Hermione está te deixando sensível demais, ein?


Rony riu. Fechou a porta e desceu para a Sala Comunal sentindo-se estranhamente mais leve. Os outros aguardavam, meio impacientes, meio apreensivos, provavelmente teriam escutado os gritos lá de baixo. Jorge só levou uns minutos para descer, vestido e refeito, e juntos, descerem para o café no Salão Principal.


 


 


 


 


Definitivamente eles nunca viram Hogwarts tão lotada. Pessoas de todos os jeitos e idades se faziam presentes. Velhos e novos, ricos e pobres. Algumas vestiam roupas coloridas e outras falavam línguas estranhas que não se pareciam nada com qualquer outra que eles já tinham visto. Era uma mescla de paz, luto e dor, que, diferentemente do dia anterior, proporcionava um clima solene que amenizava um pouco os burburinhos e o barulho dos talheres que normalmente enchiam o salão.


Harry, Hermione e os Weasleys se sentavam ao canto de uma das mesas (as pessoas não estavam sentadas de acordo com as casas) e muitos olhares se recaiam sobre eles. Logo ao lado vinham Luna, Dino, Simas, Neville com sua avó(que passara o dia anterior repetindo em alto e bom som os feitos do neto em meio à batalha), além de Kingsley e outros ex-membros da Ordem da Fênix. Harry deu uma olhada furtiva em todas as mesas e percebeu que os Malfoy não se encontravam mais ali, deviam ter partido no dia anterior.


- Bom-dia a todos – a voz de Minerva McGonagall ressou pelo salão – antes de prosseguirmos eu gostaria de dar alguns avisos.


Cogitou-se a ideia de construir um cemitério em Hogsmead para o sepultamento das vítimas, entretanto achamos melhor que sejam sepultados aqui em Hogwarts, como uma lembrança da bravura e sacrifícios destes tempos para os jovens bruxos das futuras gerações que por aqui passarem. Todos os que estavam na Ala Hospitalar aos cuidados de Madame Pomfrey já foram liberados e poderão participar da cerimônia. Logo após seu término, todos terão um tempo para juntar seus pertencer e o Expresso Hogwarts poderá levá-los de volta a Londres, ou quem preferir pode desaparatar em Hogsmead”.


As aulas em Hogwarts serão interrompidas para total reconstrução do castelo. Retornaremos com as aulas, como de costume, no dia primeiro de setembro. Todos os exames serão realizados no começo do ano letivo, e, no estado conflituoso que foi o ensino desta nobre instituição este ano, infelizmente quem não for aprovado terá que repetir a educação de todo o ano.”


O novo ministro da Magia, Kingsley Shacklebolt, mandou avisar que os nascidos trouxas não serão mais perseguidos e poderão tornar a ocupar o lugar que merecem: o mesmo do dos ditos 'sangue-puro'.”


O corpo de Lord Voldemort”, as pessoas perceberam que não precisavam mais temer esse nome,“já foi removido da escola e será enterrado no lugar para onde ele sempre deveria ter ido: Azkaban. Contudo, o corpo de Severo Snape, que muitos de nós julgamos ser um assassino, será sepultado junto aos outros. Nada mais justo, pois, como foi mencionado ontem, Snape sempre foi um homem de Dumbledore”. Ela fez uma pausa. O silêncio no salão se mortificou.


Foi um ano muito difícil para todos. Cada um aqui testemunhou coisas horrendas acontecerem com suas famílias, seus amigos, e até com vocês mesmos. Mas agora nós os derrotamos” - ela não pode evitar uma olhada para Harry, Rony e Hermione -“ Voldemort foi derrotado e seus seguidores estão sendo presos pelo país. Os inocentes estão sendo soltos de Azkaban e quem estava sobre a maldição Imperius está voltando a si. Os que saíram do país estão retornando e as pessoas poderão voltar a trabalhar muito em breve. O mundo bruxo agora pode, não: irá ser feliz novamente”.


O discurso da diretora foi acolhido com palmas e assobios. Carlinhos tinha chegado um pouco antes do término do discurso e sentara-se do lado de Fleur.


As pessoas foram lentamente se levantando, promovendo uma marcha silenciosa pelo salão, mais tarde pelos jardins. Uma procissão de pessoas marcadas pela guerra e pela opressão, mas que teriam que reconstruir a vida, muitas tendo perdido tudo, absolutamente tudo, que possuíam.


Chegaram enfim ao local da cerimônia. Um lugar a beira do lago, perto de túmulo de Dumbledore. Harry percebeu, com um arrepio estranho nos pêlos da nuca, dezenas de caixões enfileirados às margens do lago negro. Eram em cinza claro, de madeira envernizada e flutuavam magicamente a um metro do chão, mais ou menos. Ao lado dos caixões os buracos da sepultura já haviam sido cavados e atrás de todos jazia um pedestal negro. Foram colocadas fileiras de longos bancos de madeira igualmente cinza para que as pessoas pudessem assistir a tudo, suficientemente grandes para que lá se sentassem umas quinze pessoas. Atrás dos bancos e por toda a volta trepavam flores lindas, dos mais variados tamanhos e cores, dando um toque de alegria a solenidade.


Os Weasleys se acomodaram num dos bancos. Harry se sentou ao lado de Gina, e Rony e Hermione ao lado de Harry. Quando todos já estavam acomodados, o homenzinho de cabelos em tufos do funeral de Dumbledore e do casamento de Gui subiu no pedestal e começou a falar. Falava de bravura, coragem. Não eram palavras vazias, mas Harry sentiu-se incapaz de ouví-las. Seus sentidos estavam entorpecidos pela dor das perdas, mais que isso, pela saudade, e nada que ninguém falasse ia fazê-lo se sentir melhor.


O sol apareceu preguiçosamente de trás das nuvens quando o homenzinho disse suas últimas palavras. Grossas lágrimas escorriam pelo rosto de Hermione quando Rony a abraçou e afagou seus cabelos gentilmente. Ela afundou o rosto em seu pescoço. Harry desejou fazer o mesmo com Gina, que também chorava, mas esta estava abraçada ao pai, sentado do outro lado. Um alto assoar de nariz indicava que Hagrid estava usando seu lenço tamanho toalha. O meio-gigante se sentava no último dos bancos, ao lado de um muito ferido Grope, que parecia muito mais civilizado do que Harry jamais o vira. As famílias foram convidadas a se levantar para que cada uma pudesse se despedir pessoalmente de sues entes queridos. Os Weasleys se levantaram e caminharam vagarosamente, primeiro para o túmulo de Remo Lupin.


O lobisomem parecia muito mais jovem, e usava um bonito palitó preto, não as vestes surradas que costumava vestir. Deitava-se ali tão serenamente que poderia estar dormindo. Alguns membros da Ordem e se despediam também. Harry teve certeza de ver o sr. Weasley murmurar: “Adeus amigo”. Gui estava com os olhos marejados, mas fazia força para não deixar que as lágrimas lhe escapassem. Eles deviam ser bastante amigos, afinal Lupin era o fiel do segredo do chalé das conchas.


Eles ficaram ali por alguns segundos, encarando seu corpo sem vida. O melhor professor que Harry já tivera, amigo de seu pai, o homem que lhe ensinara tanto, partira. E tinha acabado de ter um filho. Isso era tão injusto. Mas ainda assim, a lembrança dele proveniente da pedra da ressurreição pareceu amenizar um pouco a dor do garoto. Ele parecia tão bem. A Sra. Weasley, Fleur e Hermione choravam mais do que nunca quando o grupo se encaminhou para a pessoa ao lado de Lupin.


Tonks estava com os cabelos negros, essa devia ser a cor natural deles, e suas vestes de auror. O anel de casamento jazia em seu dedo. Ela também parecia apenas repousar num sono leve e revigorante sobre o veludo macio e branco do caixão. Gina segurou a mão de Harry e deitou a cabeça em seu ombro, derramando ali algumas lágrimas. Ele apertou a mão dela gentilmente, dizendo que estava ali, que a ajudaria a superar qualquer coisa...


A despedida de Fred foi a mais difícil. Ficar parado parecia que simplesmente não combinava com o ruivo. A Sra. Weasley deitou a cabeça no ombro do marido e chorou compulsivamente, enquanto este também chorava. Na verdade, todos, menos Jorge, choravam. Harry lembou-se da primeira vez que o viu, na plataforma nove e meia, ele e o irmão brincando de enganar a mãe. A verdade o atingiu com a força de um punho. Nunca mais veria isso. Nunca mais se divertiria com ele. Fora-se sua maior fonte de risadas n'A Toca e em Hogwarts. Tão jovem, tão alegre. Fora-se.


- Óh Fred! - a mãe parecia prestes a pular dentro do caixão e abraçá-lo.


- Sentiremos sua falta filho – foi só o que o pai conseguiu sussurrar.


- Tchau mano – Jorge falou, sorrindo enviesado. Encarou o irmão profundamente antes de se afastar.


Seguiu-se um segundo de aturdimento enquanto todos acompanharam Jorge rumar sozinho de volta ao banco.


- Fred! – trovejou Hagrid se aproximando, grossas lágrimas escorrendo pela face até a barba emaranhada.


Era triste, quase desesperador, ver a melancolia em que todos se encontravam. Passados alguns momentos de silêncio, um a um, começaram a deixar Fred e se acomodar novamente nos bancos largos, inspirando profunda e lentamente. Logo não só os Weasleys, mas todos os espectadores já esperavam em seus bancos, os rostos lavados de lágrimas e outros ainda soluçando descontroladamente. Harry não se despediu de Snape nem Colin, não sabia exatamente o por que, só sabia que não conseguiria deixar mais aquele banco, pelo menos não por enquanto.


E com um movimento gracioso da varinha de McGonagall os mais de cinquenta caixões começaram a se mover para o lado, até ficarem perfeitamente alinhados com suas respectivas covas. E então, muito lentamente, eles começaram a baixar sobre sua sepultura eterna. Um leve desespero baixou-se sobre Harry, ele parecia não tê-los olhado o suficiente, não ter apreciado seus rostos adormecidos tanto quanto devia...


Todos os caixões cinza pousaram sincronizadamente no fundo das covas e, finalmente, a terra apareceu magicamente e cobriu-os de uma só vez. Subiram faíscas douradas em espirais para o céu claro e uma lápide de pedra cinza apareceu sobre cada monte de terra recém-formado. Estava acabado.


Ele olhou para Rony e Hermione, sentados ao seu lado. A garota chorava no ombro do ruivo, enquanto este afagava seus cabelos, lágrimas também escorrendo de seus olhos para seu queixo. Algumas lágrimas caíram no colo de Gina quando ela se levantou, assim como a maioria das pessoas agora fazia. Harry levantou e segurou sua mão, enquanto os outros Weasleys fizeram o mesmo. O burburinho das pessoas rumando de volta ao castelo enchia o ar fresco quando eles deixaram o banco largo e começaram sua marcha de volta à escola.


- Harry Potter? - a voz o fez estacar e girar nos calcanhares.


A senhora de olhos castanhos e bondosos sorriu para ele. Trazia no colo um bebezinho inquieto diante da movimentação de pessoas naquele lugar.


- Sra. Tonks! – exclamou ele e os outros se viraram para olhar.


- Andrômeda... como vai? - perguntou a Sra. Weasley se adiantando para abraçá-la.


- Com os recentes acontecimentos, não muito bem, receio – respondeu ela sinceramente, parecendo cansada.


- Este é Ted? - a pergunta óbvia saiu da boca de Harry, que adiantou-se para olhá-lo.


O menino agitou as mãozinhas, indiferente à presença do padrinho. Era um bebê gordinho, de olhos sinceros e um tufo de cabelos agora verde abacates no alto da cabeça.


Óh!” e “Que lindinho!” foram ouvidos aqui e ali na roda dos Weasleys que se amontoavam ao redor da Sra. Tonks e de Ted. Rony e Carlinhos, mais ao fundo, esticaram o pescoço para espiar. Todos sorriam. Era incrível como a presença de um bebezinho podia animar tanto as pessoas.


- Quer segurá-lo? - perguntou a Sra. Tonks a Harry.


- E-eu? Mas eu nem sei...


Mas a senhora Tonks lhe passou o menino antes que ele pudesse responder. Harry o pegou, desajeitado, e aninhou-o junto ao peito com extremo cuidado, como se ele fosse de vidro. O afilhado encarou-o com curiosidade.


- Oi Ted – sussurou Harry, sorrindo radiante – bem, sou Harry, seu padrinho.


- Óh, que bonitinho – Hermione exclamou, meiga, acariciando a cabeça dele com cuidado.


- Eu quero segurar também – disse Gina.


- Eu também!


Houve certo rebuliço, enquanto o menino passava de mão em mão, de colo em colo. Até que Ted, estranhando tanta gente, começou a berrar, pedindo a avó. Andrômeda e ele permaneceram o resto do tempo com eles, até que todos foram para casa no Expresso Hogwarts. Harry, Gina. Rony, Hermione, Neville e Luna foram juntos na mesma cabine, conversando sobre o ano que se passara e sobre planos acerca do novo ano letivo. Quando desembarcaram em King's Cross, a estação nove e meia cheirava mais que a fumaça. Cheirava a juventude, recomeço e liberdade. E foi com essa sensação de liberdade borbulhando em seu estômago que Harry entrou no carro em direção à Toca, apreciando a noite clara e estrelada que se impunha gentilmente sobre Londres.


 


 


 


N/A: - Impervius


nossa, mais quantas lágrimas neste capítulo! Calma gente, eu sei que eu não cumpri com a minha promessa de postar o capítulo até o natal. Foi mal. É que só foram instalar a Internet na minha nova casa hoje, e, eu não confio em computadores de Lan House para colocar PenDrives, tem muito vírus. Tá, mas chega de desculpas e vamos a alguns pareceres sobre o capítulo:


 


1º Sei que tem muita gente que vai achá-lo extremamente chato, mas eu gostei. Acho que é assim que tem que ser. Primeiro a tristeza para que eles possam reconstruir a vida e, então, viver aqueles momentos felizes, de romance, que a gente gosta tanto.


 


2º Gente, não rolou nada entre o Rony e a Hermione tá? Pelo menos nada do que vocês estão pensando seus pervertidos. Brincadeira. Mas, logo no comecinho, quando eles chegam a sala comunal tarde da noite, eles só ficaram nos corredores conversando e perderam a hora. Não rolou nada de mais, não ainda *sorriso malicioso*.


 


3º Sobre a conversa do Harry com os Weasleys no começo do capítulo, em que ele conta que eles ficaram caçando Horcruxes, em todas as fics pós-Relíquias que eu já li o Harry não conta a ninguém o que eles fizeram durante o ano. Mas eu achei, no mínimo, justo que Harry contasse aos Weasleys. Se tia Jo pensou assim ou não eu não sei, mas para mim é o certo.


 


4º A cena do Jorge chorando. Ai, até eu fiquei com dó dele, tadinho. Depois da morte do Fred ele se sentiu sem rumo, desesperado, ele não sabe como é viver sem o irmão, entendem? E J.K. Rowling disse isso, que ele sempre irá sentir que falta um pedaço dele próprio. Ele sentiu raiva também. A raiva é só mais uma emoção de quem não sabe lidar com determinada situação. E, se alguém notou, ele não chorou no enterro, porque para Jorge Weasley, que é sempre tão alegre e brincalhão, chorar é quase uma vergonha, uma humilhação. Ele extravazou toda a emoção que estava sentindo, reservadamente, apenas na frente do Rony, e ele não se atreveria a fazer isso em público. Pelo menos é deste jeito que eu o vejo.


 


5º A cerimônia, na verdade, eu havia planejado de um jeito. Mas depois eu fui lembrando disso e daquilo, e lembrei que eu tinha que colocar Snape, Hagrid, Colin, então, eu tentei fazer o melhor que pûde. Não gosto muito de ler cenas como essa nas Fics por que acho que ninguém tem a maestria de J.K. Rowling (nem um pouco exigente né?) e por isso acabam ficando chatas. Não sei se isso se aplica a mim, deixem comentários dizendo o que acharam. :)


 


6º Óh, o pequeno Ted! Coisinha fofa *-* Amo o Harry de padrinho e de pai. Ele e o Rony serão pais muito fofos, mas já to adiantando os próximos capítulos (como se ninguém soubesse que os dois vão ter filhos, dãa). Eu imagino que neste capítulo O Ted deva ter uns 2 meses de vida, no máximo. Acho que a aparição dele no final deu uma alegrada nesse capítulo triste.


 


7º Este capítulo não teve nada de romance, mas prometo compensar no próximo.


 


E enfim, muito obrigada a lbass, Juh Sparrow, Pauleta Weasley e viviane cipriano, por lerem e comentarem. Espero mais comentários sobre esse capítulo (sem pressões). Vou parar de falar e correr para escrever o próximo. Posto no máximo, daqui a três dias. Beijinhos, Nanda Weasley. 

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Comentários (1)

  • Giselle di Launnblecc

    Chorando horrores por sua causa viu ou por causa de tia Jo que deu fim a essa gente amada, mas foi um fim digno né?   faz a gentileza de continuar!  

    2012-02-04
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