Capítulo 04



Aviso: Bem pessoal, infelizmente meu tempo está mais corrido do que nunca, PORTANTO ESTÁ ME SOBRANDO MUITO POUCO TEMPO PARA AS ADPTAÇÕES E MINHAS OUTRAS FICS, MAS VOU FAZER O POSSIVEL PARA VOLTAR A POSTAR TODAS ELAS O MAIS RÁPIDO POSSIVEL. ABRAÇOS.


 


AGRADEÇO A TODOS OS COMENTARIOS DE APOIO, E OBRIGADO PELA PREOCUPAÇÃO.


PARA COMPENSAR ESTOU POSTANDO DOIS CAPITULOS. ATÉ MAIS. 


 


Capítulo 04


 


Numa loja de brinquedos, os sábados eram barulhentos, lotados e caóticos. Assim devia ser. Para uma criança, a palavra sábado era mágica. Significava 24 horas mágicas, a escola muito distante para ser um problema. Significava bicicletas para pedalar, jogos para jogar, corridas para ganhar. Desde que Ginevra montara a Fun House, gostava tanto dos sábados quanto de sua clientela mirim.


Mais um ponto negativo para Harry por ele ser o motivo de não conseguir aproveitar o sábado.


Ela recusara o convite, recordou ao fechar o caixa, tendo vendido um jogo de montar, três dinossauros de plástico e um punhado de gomas de mascar. E deixara bem claro que a resposta era não.


O homem parecia não compreender inglês.


Caso contrário, por que lhe teria enviado uma única rosa vermelha? E, além de tudo, para a loja! Pensou, na tentativa de recriminá-lo. Que dificuldade conter o entusiasmo romântico de Lilá! Mesmo tendo ignorado a flor, Lilá a recuperou e atravessou correndo a rua para comprar um vasinho de plástico para que a flor ocupasse um lugar de honra no balcão do caixa.


Ginevra fez o possível para não olhá-la nem tocar nas pétalas hermeticamente fechadas, mas não foi tão fácil ignorar o sutil perfume a flutuar em sua direção toda vez que completava uma compra.


Por que os homens acreditavam poder enternecer uma mulher com uma flor?


Porque obtinham êxito, admitiu Ginevra, calando um suspiro ao olhar na direção da flor.


Mas isso não significava sair para jantar com ele. Jogando os cabelos para trás, contou a pilha de moedas que o menino Hampston lhe entregara para pagar sua revista em quadrinhos mensal. A vida podia ser bem simples, pensou quando o menino saiu da loja com as últimas aventuras do Capitão Zark. Droga, era simples assim! Com um profundo suspiro, reforçou sua determinação. Sua vida era simples assim, não importa o quanto Harry tentasse complicá-la. Para provar, pretendia ir para casa, mergulhar na banheira de água quente e passar o resto da noite esticada no sofá vendo um filme antigo e comendo pipoca.


Ele fora esperto. Ela deixou o caixa e foi até o corredor próximo arbitrar uma discussão acalorada entre os irmãos Freedmont sobre como deveriam gastar suas economias. Pensou se o estimado professor encarava o relacionamento deles – ou melhor, o não-relacionamento deles, corrigiu-se – como um jogo de xadrez. Ela sempre fora muito agitada para se dedicar a esse jogo em particular, mas tinha a impressão de que Harry o jogaria com paciência, e bem. De todas as maneiras, se ele pensou poder lhe dar o xeque-mate com facilidade, ia deparar-se com uma surpresa.


Harry conduzira a segunda aula de maneira brilhante, nunca a olhando mais do que a qualquer um dos outros estudantes, respondendo a suas perguntas no mesmo tom empregado com os outros. Sim, um jogador muito paciente.


Depois, justamente no momento em que relaxara, ele lhe dera aquela primeira rosa vermelha quando ela saía da sala. Um movimento inteligente para colocar sua rainha em perigo.


Se tivesse tido mais pulso, pensou Ginevra, teria jogado a flor no chão e a pisoteado. Mas não o fizera, e então precisava batalhar para manter uma jogada à frente da dele. Porque aquela rosa a deixara sem reação, disse a si mesma. Assim como a que lhe fora entregue na loja pela manhã.


Se ele continuasse, o pessoal começaria a comentar. Numa cidade daquele tamanho, novidades como rosas vermelhas corriam da loja para o pub, do pub para a varanda da frente e da varanda da frente para as sessões de fofocas nos pátios dos fundos. Precisava descobrir um jeito de acabar com isso. No momento, não conseguia pensar em nada melhor além de ignorá-la. Ignorar Harry, acrescentou. Como gostaria de obter êxito!


Voltando a atenção para o problema a enfrentar no momento, Ginevra deu uma chave-de-braço de brincadeira em cada um dos briguemos irmãos Freedmont.


- Chega. Se vocês continuarem se xingando de nerd e... qual foi o outro nome?


- Panaca. – disse o mais alto dos meninos, com gosto.


- Sim, panaca. – Ela não conseguiu resistir a guardá-lo na memória. – Esse é um bom apelido. Se continuarem, vou pedir à mãe de vocês que os proíbam de vir aqui por duas semanas.


- Puxa, Mione!


- Isso significa que todo mundo vai ver as coisas assustadoras de Halloween na loja antes de vocês dois. – Deixando a ameaça pairar no ar, deu um rápido aperto nos dois pequeninos pescoços. – Então, vou dar uma sugestão: que tal jogar uma moeda e decidir se vão comprar o jogo de futebol ou o de mágica? O que não ganharem agora, podem pedir de Natal. Gostaram da idéia?


Os meninos, um de cada lado dela, fizeram uma careta um para o outro.


- Nada disso, vocês têm que dizer que é ótima ou vou bater as suas cabeças uma na outra.


Ela os deixou discutindo sobre qual moeda usar para o cara ou coroa decisivo.


- Você perdeu uma chance e tanto! – comentou Lilá quando os irmãos saíram da loja com o jogo de futebol.


- Como assim?


- Você devia trabalhar para as Nações Unidas. – Fez sinal apontando a vitrine da frente. Os meninos jogavam futebol enquanto desciam a rua. – Não há crianças mais teimosas do que os irmãos Freedmont.


- Eu os faço ficar com medo de mim primeiro. Em seguida, lhes ofereço uma saída digna.


- Está vendo? Definitivamente, o estilo Nações Unidas.


Com uma risada, Ginevra balançou a cabeça.


- Os problemas dos outros são mais fáceis de resolver. – Perdendo as forças, voltou a olhar a rosa. Se pudesse fazer um pedido no momento, seria que alguém aparecesse e resolvesse seu problema.


Uma hora depois, sentiu puxarem-lhe a barra da saia.


- Olá, Lily. – Ela passou o dedo num laço que tentava prender o cabelo esvoaçante de Lily. Ela usava a fita azul que Ginevra lhe dera em sua primeira visita – Como você está bonita hoje!


Lily deu um sorriso vaidoso, de mulher para mulher.


- Você gostou da minha roupa?


Ginevra examinou a obviamente nova jardineira jeans, imóvel, com olhar de avaliação.


- Gostei muito. Tenho uma igualzinha.


- Jura? – Nada, desde que Lily decidira fazer de Ginevra sua nova heroína, poderia ter lhe agradado mais. – Meu pai comprou para mim.


- Que legal! – Contra a vontade, Ginevra correu os olhos pela loja à procura dele. – Foi ele quem trouxe você?


- Não, foi Vera. Você disse que eu podia vir só olhar.


- Claro que pode. Estou feliz por ter vindo. – E estava mesmo, se deu conta. Assim como estava estupidamente desapontada por Lily não ter trazido o pai.


- Eu não posso mexer em nada. – Lily enfiou os dedos inquietos nos bolsos. – Vera disse que eu devo olhar com os olhos e não com as mãos.


- Ótimo conselho. – Um conselho que Ginevra não se importaria que outros dessem às crianças de dedinhos nervosos. – Mas você pode tocar em algumas coisas. Basta me pedir.


- Está bem. Vou ser escoteira, comprar um uniforme e tudo mais.


- Que maravilha! Depois você vem me mostrar?


A felicidade iluminou-lhe o rosto.


- Claro. Tem um chapéu e eu vou aprender a fazer travesseiros, porta-vela, um monte de coisas. Vou fazer alguma coisa para você.


- Eu adoraria. – Ela apertou o laço frouxo no cabelo de Lily.


- Papai disse que você vai jantar com ele num restaurante de noite.


- Bem, eu...


- Eu não gosto muito de restaurantes, só para comer pizza, então vou ficar em casa e Vera vai fazer tortilhas para mim e para JoBeth. Vamos comer na cozinha.


- Parece legal.


- Se você não gostar do restaurante, pode ir lá em casa comer um pouco. Vera sempre faz um monte.


Deixando escapar um suspiro desconsolado, Ginevra ajoelhou-se para amarrar o tênis esquerdo de Lily.


- Obrigada.


- Seu cabelo está cheiroso.


Já se apaixonando, Ginevra inclinou-se para cheirar o cabelo de Freddie.


- O seu também.


Fascinada pela cascata de ondas de Ginevra, Lily tocou-lhe os cabelos.


- Queria que meu cabelo fosse igual ao seu. O meu é escorrido como se eu tivesse acabado de sair do banho. – acrescentou, repetindo as palavras de tia Mionr.


Sorrindo, Ginevra afagou os finos fios da trança de Lily.


- Quando eu era pequenina, colocávamos um anjo no alto da árvore de Natal todo ano. Era tão lindo! E o cabelo era igualzinho ao seu.


O prazer deixou as bochechas de Lily rosadas.


- Ah, achei você. – Vera atravessou o corredor lotado, uma sacola de palha num dos braços e uma bolsa de pano na outra. – Vamos, vamos, precisamos voltar para casa antes que seu pai pense que nos perdemos. – Estendeu a mão para Lily e despediu-se de Ginevra. – Boa tarde, senhorita.


- Boa tarde. – Curiosa, Ginevra ergueu a sobrancelha. Ela estava sendo novamente analisada pelos pequeninos olhos escuros e, definitivamente, sendo considerada atraente, pensou Ginevra. – Espero que traga Lily em breve para uma visita.


- Vamos ver. É difícil para uma criança resistir a uma loja de brinquedos como é difícil para um homem resistir a uma linda mulher.


Vera conduziu Lily pelo corredor, sem olhar para trás quando a menina acenou e sorriu por cima do ombro.


- Bem, qual o motivo desse discurso? – perguntou Lilá, a cabeça surgindo no fundo do corredor.


Com um sorriso sem graça, Ginevra prendeu um grampo no cabelo.


- Suponho que ela ache que eu tenho planos para o patrão dela.


Lilá deu um urro que não combinava com os modos de uma moça bem-educada.


- Só sei que o patrão tem planos para você. Quem me dera ter essa sorte! – O suspiro demonstrava um pingo de inveja. – Agora que sabemos que o novo gatão do pedaço não é casado, tudo funciona bem no mundo, por que não me disse que ia sair com ele?


- Porque não vou.


- Mas ouvi Lily dizer...


Esclareceu:


- Ele me convidou, mas recusei.


- Entendo. – Depois de uma breve pausa, Lilá inclinou a cabeça. – Quando foi o acidente?


- Acidente?


- Sim, o acidente que lhe causou danos cerebrais.


O rosto de Ginevra iluminou-se com uma risada. Dirigiu-se para a frente da loja.


- Estou falando sério. – disse Lilá, assim que tiveram cinco minutos livres. – O dr. Harry Potter é maravilhoso, desimpedido e... – Ela inclinou-se no balcão para cheirar a rosa. – Charmoso. Por que não vai mais cedo para casa se ocupar com problemas sérios, como, por exemplo, escolher a roupa para usar hoje à noite?


- Eu sei o que vou usar à noite. Meu roupão de banho.


Lilá não pôde evitar o sorriso.


- Ei, não está se precipitando um pouco? Acho que não deveria usar seu roupão pelo menos até o terceiro encontro.


- Não vai haver o primeiro. – Ginevra sorriu para o novo cliente e fechou uma venda.


Lilá levou 40 minutos para voltar ao assunto.


- De que tem medo?


- Da Receita Federal.


- Gina, estou falando sério.


- Eu também. – Quando os grampos voltaram a se soltar, desistiu e deixou-os de lado. – Todo americano dono de algum negócio tem medo da Receita Federal.


- Estamos falando de Harry Potter.


- Não. Você está falando sobre Harry Potter. – corrigiu-a.


- Pensei que fôssemos amigas.


Surpresa com a entonação de Lilá, Ginevra parou de arrumar a vitrine simulando um autódromo que os visitantes de sábado tinham bagunçado.


- E somos. Você sabe que sim.


- Gina, amigas conversam, confiam uma na outra, pedem conselhos. – Bufando, Lilá enfiou as mãos nos bolsos de seu jeans baggy. – Olha, eu sei que aconteceram coisas com você antes de vir para cá, coisas que ainda a fazem sofrer, mas sobre as quais nunca fala. Supus que, ao respeitar e nada perguntar, estava me comportando como uma amigona.


Era tão evidente? Pensou Ginevra. Todo o tempo estivera segura de ter enterrado o passado e tudo o que representava... bem fundo. Sentindo-se sem saída, tocou a mão de Lilá.


- Obrigada.


Com um dar de ombros indiferente, Lilá foi trancar a porta da frente. Então, a loja estava vazia, a barulheira da tarde apenas um eco.


- Lembra-se daquela vez em que me ofereceu o ombro para chorar quando Don Newman me deu o fora?


Os lábios contraídos de Ginevra formavam uma linha fina.


- Ele não merecia suas lágrimas.


Lilá respondeu com um sorriso alegre:


- Eu gostei de chorar por ele. Precisava chorar, gritar, gemer e me embriagar um pouco. Você ficou ao meu lado, dizendo todas aquelas coisas fantásticas e horríveis sobre ele.


- Esta última parte foi fácil. – lembrou-se Ginevra. – Ele era um panaca. – Ficou tremendamente satisfeita em usar o insulto do jovem Freedmont.


Lilá se permitiu uma breve reminiscência.


- Sim, mas era um panaca bonito para caramba. De qualquer jeito, você me ajudou durante aquele período difícil até eu mesma me convencer de que estava melhor sem ele. Você nunca precisou de meu ombro, Gina, porque você nunca deixou um cara chegar até aqui. – Ela levantou a mão, empurrando a palma da mão no ar.


Divertida, Ginevra recostou-se no balcão.


- E o que é isso?


- A poderosa Força Protetora Weasley. – afirmou Lilá. – Garantia para repelir qualquer pessoa do sexo masculino dos 25 aos 50 anos.


Ginevra levantou a sobrancelha, sem ter certeza se achava graça.


- Não sei se está tentando me elogiar ou me insultar.


- Nenhum dos dois. Ouça só um minuto, OK? – Lilá respirou fundo, evitando falar de supetão algo que julgava dever ser abordado com delicadeza. – Gina, eu já vi você botar pra correr caras com menos esforço do que afugenta um mosquito. E bastante automaticamente. – acrescentou, quando Ginevra permaneceu em silêncio. – Você é sempre muito gentil e também muito objetiva. Nunca vi você voltar a pensar num homem depois de tê-lo, delicadamente, posto porta afora. Eu sempre a admirei por ser tão segura, tão em paz consigo mesma que não precisa de encontros sábado à noite para manter seu ego impecável.


- Não sou segura de mim mesma; apenas apática quanto a relacionamentos. – confessou Ginevra.


- Está bem. – meneou a cabeça devagar. – Aceito. Mas desta vez é diferente.


- Como assim? – Ginevra deu a volta no balcão e começou a calcular as vendas do dia.


- Está vendo? Como sabe que vou mencionar o nome dele, já ficou nervosa.


- Não estou nervosa. – mentiu Ginevra.


- Você tem andado nervosa, mal-humorada e distraída desde que Potter entrou nesta loja, há umas duas semanas. Em três anos, nunca vi você passar mais de cinco minutos pensando num homem. Até hoje.


- Só porque esse é mais irritante do que a maioria.


Diante do olhar oblíquo de Lilá, Ginevra capitulou.


- Está bem, existe... algo. – admitiu. – Mas não estou interessada.


- Você tem medo de ficar interessada nele.


Ginevra não gostou do que ouviu, mas forçou-se a ignorar.


- Dá no mesmo.


- Não, não dá. – Lilá colocou a mão em cima da de Ginevra e apertou-a. – Olha, não estou jogando você para cima desse cara. Não sabemos nada dele. Ele pode ter matado a mulher e a enterrado num jardim de rosas. Tudo o que estou dizendo é que você não ficará à vontade consigo mesma até perder o medo.


 


Lilá tinha razão, pensou Ginevra mais tarde sentada na cama, o queixo apoiado na mão. Estava nervosa, distraída. E com medo. Não de Harry, assegurou-se. Nenhum homem voltaria a assustá-la. Mas tinha medo dos sentimentos por ele despertados. Sentimentos esquecidos, indesejáveis.


Isso significava que perdera o controle sobre suas emoções? Não. Significava que agiria de forma irracional, impulsiva, simplesmente porque seus impulsos e desejos tinham conseguido abrir caminho de volta em sua vida? Não. Significava que se esconderia no quarto, com medo de enfrentar um homem? Definitivamente, não.


Só tinha medo porque ainda precisava se testar, pensou Ginevra, dirigindo-se ao armário. Então, jantaria com o persistente dr. Potter e provaria a si mesma ser forte e perfeitamente capaz de resistir a uma atração passageira. Depois, voltaria ao normal.


Ginevra examinou o guarda-roupa. Com um movimento impaciente de ombros, pegou um vestido de festa azul-escuro com um cinto cravejado de pedras. Não que estivesse se vestindo para ele. Harry era realmente irrelevante. Era um de seus vestidos favoritos, pensou enquanto tirava o roupão, e raramente tinha oportunidade de usar nada além de roupas de trabalho.


Ele bateu às 19h28 em ponto. Ginevra detestou-se por olhar ansiosa o relógio. Tinha passado o batom duas vezes, examinado e reexaminado o conteúdo da bolsa e desejado, fervorosamente, ter demorado a tomar uma resolução.


Agia como uma adolescente, disse a si mesma ao caminhar para a porta. Era apenas um jantar, resmungou ao chegar à porta. E ele era apenas um homem, acrescentou, ao abri-la.


Um homem incrivelmente atraente!


Ele era maravilhoso, tudo com que sonhara, com os cabelos afastados do rosto e aquele meio sorriso nos olhos.


- Oi. – Harry entregou-lhe outra rosa vermelha. Ginevra quase suspirou. Cedendo ao impulso, roçou a flor no rosto.


- Não foram as rosas que me fizeram mudar de idéia. – disse.


- Sobre o quê?


- Sobre jantar com você.


Ela deu um passo atrás. Não tinha outra opção a não ser convidá-lo a entrar, enquanto colocava a flor num vaso. Ele deu um sorriso aberto e exasperou-a por parecer tão charmoso e vaidoso ao mesmo tempo.


- E o que foi?


- Estou faminta. – Colocou o blazer curto de veludo no braço do sofá. – Vou colocar a flor num vaso. Sente-se, se preferir.


Ela não ia ceder um milímetro, pensou Harry, vendo-a afastar-se. Estranhamente, isso só a tornava mais interessante. Deu um profundo suspiro, balançando a cabeça. Incrível! Quando estava convencido de que nada poderia ter um cheiro mais sexy do que sabonete, ela colocara algo que o fizera imaginar som de violinos à meia-noite.


Decidindo que ficaria a salvo se pensasse em outra coisa, observou a sala. Ela preferia cores fortes, refletiu, notando as almofadas cor de esmeralda e verde-bandeira num sofá azul-safira. Ao lado, uma imensa urna de ferro cheia de plumas de pavão. Velas de vários tamanhos e cores, espalhadas pela sala, davam ao ambiente um odor romântico de baunilha, jasmim e gardênia. Uma estante no canto com vários livros, desde romances populares e literatura clássica até manuais de consertos de casas para leigos.


A mesa lotada de suvenires, porta-retratos, flores ressecadas, estatuetas lindas inspiradas em contos de fadas. Uma casa com teto de chocolate não maior do que a palma de sua mão; uma menina vestida de Chapeuzinho Vermelho; um porco espiando pela janela de uma minúscula casa de palha; uma linda mulher segurando um único sapatinho de vidro.


Dicas práticas de encanamento, cores vibrantes e contos de fada, refletiu, tocando com a ponta do dedo o sapatinho de cristal. Era uma combinação tão curiosa e intrigante como a mulher em si.


Ouvindo-a retornar à sala, Harry virou-se.


- São lindas. – disse, apontando uma das estatuetas. – Os olhos de Lily saltariam das órbitas.


- Obrigada. São obras do meu irmão.


- Seu irmão? – Fascinado, Harry pegou a casa de gengibre para observá-la com mais atenção. Esculpida em madeira polida, depois artisticamente pintada para que todos os cremes de licor e pirulitos fossem uma tentação. – Incrível. Você raramente vê um trabalho de arte como este.


Apesar da reserva, ela alegrou-se e atravessou a sala para juntar-se a ele.


- Ele vem esculpindo desde criança. Um dia, sua arte estará em galerias e museus.


- Já deveria estar.


A sinceridade na voz tocou-lhe o ponto mais vulnerável, o amor pela família.


- Não é fácil. Ele é jovem, teimoso e orgulhoso; então mantém o trabalho de martelar na madeira para ajudar a família financeiramente, em vez de esculpir. Mas um dia... – Sorriu para a coleção. – Ele fez estas para mim, porque eu me empenhei muito em aprender a ler os livros de contos de fada em inglês que encontrei nas caixas de coisas doadas pela Igreja quando viemos para Nova York. Os desenhos eram tão bonitos e eu queria tanto conhecer as histórias que representavam.


Ela se conteve, embaraçada por ter falado.


- Vamos.


Ele apenas concordou, tendo já decidido tentar fazê-la contar mais.


- Melhor vestir seu blazer. – Ele o pegou do sofá. – Está esfriando.


O restaurante por ele escolhido ficava a pouca distância de carro, localizado em uma das colinas que descortinavam o Potomac. Se Ginevra tivesse tentado adivinhar, teria acertado que ele escolheria um restaurante sossegado e elegante, e com um serviço rápido e discreto. Tomando a primeira taça de vinho, disse a si mesma para relaxar e aproveitar.


- Lily esteve na loja hoje.


- Eu soube. – Alegre, Harry ergueu a taça. – Ela quer encaracolar os cabelos.


O olhar surpreso de Ginevra tornou-se um sorriso. Pegou a taça de vinho.


- Ah! Que amor.


- Fácil para você dizer. Fui eu quem tive de cuidar das tranças.


Para sua surpresa, Ginevra sem dificuldade o imaginou trançando, pacientemente, os cabelos.


- Ela é linda. – A imagem dele segurando a menina no colo, sentado ao piano, voltou-lhe à mente. – Ela tem seus olhos.


Harry murmurou:


- Não olhe agora, mas acredito que você me fez um elogio.


Sentindo-se constrangida, Ginevra ergueu o menu.


- Para suavizar a bofetada. – respondeu. – Estou morta de fome por ter deixado de almoçar hoje.


E, para provar estar sendo sincera, fez um pedido generoso. Enquanto comesse, calculou Ginevra, o interlúdio transcorreria sem percalços. Durante a entrada, tomou cuidado para manter a conversa nos assuntos discutidos durante as aulas. A vontade, discutiram música do século XV com suas harmonias em quatro partes e os músicos viajantes. Harry apreciou a genuína curiosidade e o interesse, mas estava igualmente determinado a explorar áreas mais pessoais.


- Conte-me sobre sua família.


Ginevra colocou um pedaço quente e amanteigado de lagosta na boca, saboreando o sabor delicado, sutil.


- Sou a mais velha de quatro irmãos. – começou, de repente consciente de que os dedos dele brincavam casualmente com os seus sobre a toalha da mesa. Colocou a mão fora de alcance.


Sua manobra fez com que ele levantasse a taça para ocultar um sorriso.


- Vocês são todos espiões?


As chamas da vela denunciaram a onda de irritação em seus olhos.


- Com certeza, não.


- Pensei, já que você parece tão relutante em falar sobre eles. – Sério, ele inclinou-se. – Pode dizer: "Deixa de ser intrometido."


Os lábios tremeram antes de se render e dar uma risada.


- Não. – Ela voltou a mergulhar a lagosta na manteiga derretida, saboreando-a devagar, apreciando o aroma, o sabor e a textura. – Tenho dois irmãos e uma irmã. Meus pais ainda moram no Brooklyn.


- Por que se mudou para Virgínia do Oeste?


- Queria mudar. – Levantou um ombro. – Você também não queria?


- Sim. – Uma leve linha apareceu entre as sobrancelhas enquanto a examinava. – Você disse que tinha mais ou menos a idade de Lily quando veio para os Estados Unidos. Você se lembra de como era sua vida antes de chegarem?


- Claro. – Por alguma razão, percebeu que ele pensava mais na filha do que em suas memórias da Ucrânia. - Sempre acreditei que as impressões dos primeiros anos permanecem mais tempo. Boas ou ruins, elas nos ajudam a nos transformar no que somos. – Preocupada, inclinou-se, sorrindo. – Conte-me, quando você pensa nos seus 5 anos, do que se lembra?


- De ficar sentado ao piano, tocando escalas. – A memória surgiu com tanta claridade que ele quase riu. – Do cheiro de rosas dentro de casa, de olhar a neve pela janela. De ficar dividido entre terminar meus exercícios práticos de piano e ir para o parque atirar bolas de neve em minha babá.


- Sua babá? – repetiu Ginevra, o riso demonstrando mais divertimento do que deboche. Colocou as mãos no queixo, curvando-se, enfeitiçando-o com o jogo de luz e sombras em seu rosto. – E o que você fez?


- Os dois.


- Uma criança responsável.


Ele passou o dedo em seu pulso e percebeu um arrepio. Antes de ela afastar a mão, sentiu o pulso acelerar.


- Do que se lembra aos 5 anos?


Irritada com a própria reação, estava determinada a não lhe revelar nada. Apenas deu de ombros.


- Do meu pai trazendo madeira para o fogo, dos cabelos e do casaco cobertos de neve. Do bebê chorando, meu irmão mais novo. Do cheiro do pão preparado por minha mãe. De fingir dormir enquanto ouvia meu pai conversar com minha mãe sobre a fuga.


- Você teve medo?


- Muito. – Os olhos ficavam enevoados com a memória. Não costumava pensar no passado, não precisava fazê-lo com freqüência. Mas, quando acontecia, as lembranças não vinham esmaecidas pelo tempo, mas claras como a água. – Se tinha. Muito medo. Mais do que jamais voltarei a sentir.


- Você vai me contar?


- Por quê?


Os olhos intensos a fitavam.


- Porque eu gostaria de entender.


Ela tentou mudar de assunto. Já tinha até o discurso preparado na mente. Mas a memória permanecia bastante vívida.


- Esperamos a chegada da primavera e levamos somente o que podíamos carregar. Não contamos a ninguém, a ninguém mesmo, e partimos no vagão. Papai disse que íamos visitar a irmã da minha mãe que morava no oeste da cidade. Mas acho que algumas pessoas sabiam, pois nos viram partir com rostos cansados e olhos arregalados. Papai tinha documentos falsificados e um mapa e torcia para sermos capazes de evitar os guardas das fronteiras.


- E você só tinha 5 anos?


- Quase 6 na época. – Pensativa, passou o dedo na borda da taça. – Ronald tinha entre 4 e 5 anos, Carlinhos, só 2. A noite, se conseguíamos acender uma lareira, nos sentávamos e papai contava histórias. Eram as noites serenas. Caíamos no sono ouvindo a voz dele e sentindo o cheiro da fumaça do fogo. Atravessamos as montanhas e entramos na Hungria. Levamos 93 dias.


Ele não conseguia imaginar o terror, apesar de vê-lo refletido tão claramente nos olhos dela. A voz dela era baixa, mas as emoções estavam presentes, enchendo de riqueza as palavras. Pensando na menininha que ela fora um dia, pegou-lhe a mão e esperou que ela prosseguisse.


- Meu pai planejara por anos. Talvez tivesse sonhado com a fuga a vida inteira. Tinha nomes de pessoas que ajudariam os desertores. Atravessávamos um período de guerra, a Guerra Fria, mas eu era muito pequena para entender. Entendia o medo olhando meus pais e os outros que nos ajudaram. Fomos contrabandeados da Hungria para a Áustria. A Igreja nos acolheu e nos mandou para a América. Demorei muito tempo até deixar de esperar que a polícia chegasse e levasse meu pai embora.


- Mas isso é demais para uma criança lidar.


- Também me lembro do primeiro cachorro-quente que comi. – Ela sorriu e pegou a taça. Nunca falava dessa época, nunca! Nem mesmo em família. Agora que o fizera com ele, sentiu uma necessidade desesperada de mudar de assunto. – E do dia em que meu pai trouxe a primeira televisão. Nenhuma infância, nem mesmo com babás, é totalmente segura. Mas crescemos. Sou uma mulher de negócios e você é um respeitado compositor. Por que deixou de compor? – Ela sentiu os dedos tensos nos dela. – Desculpe. – disse ela rapidamente. Não deveria ter feito perguntas íntimas.


- Não faz mal. – Os dedos voltaram a relaxar. – Não componho porque não consigo.


- Conheço sua música... – algo tão intenso que não perde a força.


- Não me importei com isso nos últimos dois anos. Só ultimamente comecei a me importar.


- Não seja paciente.


Quando ele sorriu, ela sacudiu a cabeça, ao mesmo tempo impaciente e realista. A mão agora apertava a dele, com força.


- Estou falando sério. As pessoas falam sobre o momento certo, o clima certo, o lugar certo. Perdemos anos assim. Se meu pai tivesse esperado até ficarmos mais velhos, até a viagem ser mais segura, poderíamos ainda estar na Ucrânia. Há coisas que devem ser agarradas com as duas mãos. A vida pode ser muito, muito curta.


Ele podia sentir a urgência na maneira como suas mãos seguraram as dele. E podia ver uma sombra de arrependimento nos olhos. O motivo de ambos o intrigava tanto quanto as palavras.


- Talvez tenha razão. – disse ele lentamente, levando a palma da mão dela aos lábios. – Esperar nem sempre é a melhor opção.


- Está ficando tarde. – Ginevra soltou a mão, depois fechou o punho e repousou-a no colo. Mas não foi o suficiente para interromper o fluxo do calor em seu braço... – Devemos ir.


Voltara a relaxar, quando ele a acompanhou até a porta. Durante o curto trajeto para casa, ele a fez rir com histórias das artimanhas de Lily para convencê-lo a ter um gatinho.


- Acho que cortar fotos de gatos de uma revista para preparar um pôster para você foi muito inteligente. – Ela virou-se para recostar-se na porta da frente. – Você vai deixá-la ter um?


- Estou tentando não ser um ingênuo manipulado.


Ginevra apenas sorriu.


- Casas grandes como a de vocês costumam ter ratos no inverno. Na verdade, numa casa daquele tamanho, seria esperto de sua parte pegar dois dos filhotes de JoBeth.


- Se Lily vier com esse papo, vou saber exatamente de onde ela tirou a idéia. – Enrolou um dos cachos de Ginevra entre os dedos. – E ela ganha um ponto a favor se você for à minha casa semana que vem.


Ginevra levantou as sobrancelhas.


- Chantagem, dr. Potter?


- Pode apostar.


- Pretendo aceitar o desafio e tenho a forte impressão de que Lily vai convencê-lo a aceitar a ninhada inteira sozinha, se estiver decidida.


- Apenas o cinza.


- Você já foi vê-los?


- Umas duas vezes. Você não vai me convidar para entrar?


- Não.


- Está certo. – Ele passou os braços em torno de sua cintura.


- Harry...


- Só estou seguindo seu conselho. – murmurou, passando os lábios por sua mandíbula. – Não serei paciente. – Aproximou-se e a boca roçou-lhe o lóbulo da orelha. – Vou agarrar o que quero. – Os dentes arranharam-lhe o lábio superior. – Não perderei tempo.


No instante seguinte, comprimia a boca contra a dela. Podia sentir o suave sabor de vinho nos lábios e sabia que podia ficar bêbado só com isso. Seu gosto era rico, exótico, intoxicante. Como o prenúncio de outono no ar, ela o fazia pensar no fogo das lareiras, em nuvens de fumaça. E o corpo dela já estava pressionado contra o seu numa compreensão instantânea.


A paixão não floresceu, não despertou suavemente, ela explodiu. Mesmo o ar à volta parecia tremer.


Ela o fazia ficar inquieto. Sem ter consciência do que murmurava para ela, subiu os lábios para seu rosto, voltou, sempre retornando para a boca quente e ávida. Com um áspero toque, afastou as mãos dela.


A cabeça dela girava. Se ao menos pudesse acreditar ser efeito do vinho. Mas sabia ser ele. Só ele a deixava tonta, confusa, alucinada. Queria ser tocada. Por ele. Com um gemido, a cabeça tombou para trás e deixou os lábios sôfregos percorrerem-lhe o pescoço.


Não podia ser certo sentir-se desse jeito. Medos antigos e dúvidas retornavam, deixando espaços vazios implorando para serem preenchidos. E, quando satisfeitos, pelo prazer incompreensível e ofuscante, o medo apenas crescia.


- Harry. – Cravou as unhas nos ombros dele. Travava uma guerra entre a necessidade de interrompê-lo e o desejo impossível de prosseguir. – Por favor...


Tão abalado quanto ela, ele parou, mergulhando o rosto em seus cabelos.


- Não sei o que acontece comigo sempre que estou com você. Não consigo explicar.


Ela queria desesperadamente apertá-lo contra si, mas forçou os braços a tombarem ao longo do corpo.


- Não pode continuar a acontecer.


Ele se afastou o suficiente para segurar-lhe o rosto entre as mãos. O frio da noite e o calor da paixão haviam deixado o rosto dela afogueado.


- Se eu quisesse parar, o que não quero, não poderia.


Ela manteve os olhos no mesmo nível que os dele e tentou não se emocionar com o modo gentil com que ele lhe afagava o rosto.


- Você quer ir para a cama comigo?


- Quero. – Ele não tinha certeza se queria rir ou xingá-la por ser tão direta. – Mas não é tão simples.


- Sexo nunca é simples.


Os olhos dele estreitaram-se.


- Não estou interessado em fazer sexo com você.


- Você acabou de dizer...


- Quero fazer amor com você. É diferente.


- Prefiro não romantizar.


O aborrecimento nos olhos dele desvaneceu-se tão rápido quanto surgira.


- Então, lamento, mas vou desapontá-la. Quando um dia fizermos amor, será muito romântico. – Antes que ela pudesse escapar, ele cobriu-lhe a boca com a sua. – É uma promessa que pretendo manter.


 


 


 


 

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