Prólogo



Prólogo


 









C



om os olhos soltando faísca, com raiva e determinação, Gina entrou no quarto. Então, Ronald e Carlinhos pensaram que seria engraçado vestir o cachorro com seu sutiã novo e sua saia mais bonita? Bem, descobriram o que acontecia a irritantes irmãos mais novos quando punham as mãos no que não lhes pertencia. Imaginou Rony mancando o resto do dia. Melhor ainda: sua mãe os obrigara a lavar o sutiã e a saia. E pendurá-los para secar. Num lugar, pensou com crescente prazer, em que muitos dos garotos da vizinhança, com certeza, os veriam realizando a tarefa.


Ficariam humilhados.


Mamãe sempre agia com justiça, pensou. Castigo melhor do que os pontapés que ela, Gina, dera no irmão.


Voltou-se para o grande espelho na parede e, para se acalmar, fez um plié. O corpo de 14 anos era tão delgado quanto os dos irmãos, com apenas suaves curvas nos seios e nos quadris. Com as aulas de balé, seus membros, articulações e ossos se curvaram, retorceram-se, ajustaram-se às exigências e disciplinaram sua mente. Acima de tudo, proporcionaram ao seu coração a maior das alegrias.


Sabia o quanto as aulas eram caras e como os pais batalhavam para que ela e os irmãos tivessem o que mais desejavam. Por esse motivo, praticava com afinco e se esforçava mais do que qualquer outra jovem de sua turma.


Um dia seria uma famosa bailarina e, toda vez que dançasse, agradeceria aos pais pelo presente.


Imaginando-se num tutu deslumbrante, ouviu a música inundar o ambiente, fechou os olhos castanho-dourados e ergueu o delicado queixo. O cabelo, uma comprida cascata preta encaracolada, esvoaçou levemente quando ela se ergueu na ponta dos pés e girou numa lenta pirueta.


Quando os abriu, viu a irmã na porta.


- Eles estão quase terminando de lavar suas coisas. – anunciou Luna.


Como de hábito, ao olhar Gina era invadida por um misto de orgulho e inveja. Orgulho pelo fato de a irmã ser tão linda e tão adorável quando dançava. Inveja por, aos 8 anos, achar que nunca teria 14 anos, que nunca seria tão bonita, tão graciosa.


As fitas de Gina nunca se soltavam de seus cabelos, deixando-os desarrumados. E os seios cresciam. Eram pequenos, mas estavam lá.


Para Luna, toda ambição, necessidade e desejo concentrava-se em ter 14 anos.


Ginevra apenas sorriu e deu outra pirueta.


- Eles estão reclamando?


- Um pouco. – Luna retorceu a boca. – Só quando a mamãe está longe e não pode ouvir. E Rony disse que você quebrou a perna dele.


- Ótimo. Ele merece uma perna quebrada por pegar minhas coisas.


- Mas foi engraçado. – Luna pulou na cama. – Sasha ficou tão esquisito usando seu sutiã branco e a saia rosa!


- Engraçado mesmo. – admitiu Ginevra. Andou até a penteadeira para pegar a escova. – Mais engraçado ainda quando eles colocaram O lago dos cisnes e começaram a dançar com Sasha. – Passada a raiva, sorriu e penteou os cabelos. – Ah, eles são só dois meninos.


Luna franziu o nariz. Meninos, no momento, ocupavam um lugar insignificante em sua lista de prioridades.


- Meninos são idiotas. Falam alto demais e cheiram mal. Ser menina é melhor. – Embora usasse jeans desbotado, camiseta surrada, um boné dos Yankees e os cabelos louros estivessem sempre despenteados, acreditava no que dizia.


Os olhos, da mesma cor dos da irmã, cintilavam.


- Podemos nos vingar.


Ginevra disse a si mesma estar acima de tais mesquinharias, mas examinou Luna com crescente interesse. Luna podia ser o bebê da família, mas era maquiavélica.


- Como?


- O blusão de beisebol de Rony. Acho que Sasha ficaria muito elegante nele. Quando eles saírem para pendurar as roupas, podemos pegar. – Luna cobiçava o blusão do irmão.


- Ninguém sabe onde ele o esconde quando não o está usando.


- Eu sei. – O sorriso de Luna espalhou-se no rosto bonito. – Sei de tudo. Eu conto para você e ajudo a se vingar se...


Gina levantou uma sobrancelha. Maquiavélica e inteligente. Luna sempre tinha um objetivo.


- Se...


- Se eu puder usar seus brincos de ouro, as argolas com estrelas gravadas.


- Da última vez que deixei você usar meus brincos, você perdeu um deles.


- Eu não perdi. Só não achei ainda. – Se, por um lado, queria fazer biquinho de raiva, sabia ter de esperar até acertarem o negócio. – Eu pego o blusão, ajudo você a vestir Sasha e distraio mamãe. Você me deixa usar os brincos três dias.


- Um dia.


- Dois.


Gina deixou escapar um suspiro.


- Está bem.


Com um sorriso hesitante, Luna esticou a mão.


- Primeiro os brincos.


Balançando a cabeça, Gina abriu a pequena caixa de jóias e retirou as argolas.


- Como você pode ser tão persuasiva aos 8 anos?


- Quando se é a caçula, não tem outro jeito. – Levantou-se e, alegremente, colocou os brincos diante do espelho. – Todo mundo ganha as coisas primeiro. Se eu fosse a mais velha, estes brincos seriam meus.


- Bem, você não é a mais velha e eles são meus. Não os perca.


Luna revirou os olhos e observou o resultado. Tinha certeza de parecer mais velha com os brincos. Parecia ter uns 10 anos!


- Se vai usá-los, me deixe arrumar seu cabelo. – Gina arrancou-lhe o boné e começou a escovar os cabelos compridos e cacheados de Luna. – Vamos prendê-los para trás para os brincos aparecerem.


- Não acho meu prendedor...


- Pode usar um dos meus.


- Quando você tinha 8 anos, era parecida comigo?


- Não sei. – Pensativa, Gina curvou-se para nivelar os rostos e se olhar no espelho. – Temos olhos bem parecidos e as bocas também. Seu nariz é mais bonito.


- É mesmo? – A idéia de ter algo mais bonito ou melhor do que a irmã mais velha era motivo de delírio. – De verdade?


- Eu acho.


Compreendendo o sentimento de Luna, Gina afagou o rosto dela.


- Um dia, quando formos adultas, as pessoas vão nos olhar ao passarmos na rua e dirão: "Olhem as irmãs Weasley! Não são duas mulheres maravilhosas?"


A imagem fez Luna desfilar com ar afetado pelo quarto que dividiam.


- Aí vão ver Ronald e Carlinhos e dizer: "Caramba, lá vêm os irmãos Weasley, e isso quer dizer confusão."


- E vão estar certos. – Gina ouviu a porta dos fundos bater e olhou pela janela. – E lá estão eles! Olhe só, Luna. Perfeito.


Os dois meninos, cabeças baixas de humilhação, arrastavam os pés a caminho do varal enquanto o cachorro corria em círculos em volta deles.


- Eles parecem bem constrangidos. – disse Gina com satisfação. – Olhe como as caras deles estão vermelhas.


- Não é o suficiente. Vamos pegar o blusão! – Brincos balançando, Luna agarrou o boné e saiu correndo porta afora.


Meninos nunca iriam derrotar as irmãs Weasley, pensou Ginevra, correndo atrás de Luna.


 


 


 


 

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