quinto.




 


5




 Marlene acordou com um susto, olhando ao redor com o coração batendo rápido. Estava na cama de Sirius, sozinha. Levantou-se rapidamente, puxando o lençol por instinto. Mas o largou no chão quando notou que estava com o vestido da noite anterior. “Graças a Deus eu não dormi com ele, graças a...”, ela estava pensando, quando uma pontada de dor pareceu rachar sua cabeça.


 - Whisky, idiota – murmurou, rouca, começando a sair do recinto.


 Nem prestou atenção em nada. O chão parecia girar em seus pés e seus olhos demoraram a se acostumar com a claridade que tudo exalava. Ouviu barulhos na cozinha e foi até lá. Encontrou Sirius fazendo café, e passou as mãos pelos cabelos com uma careta.


 - O que aconteceu? – perguntou, sentindo um gosto ruim na boca.


 - Você cochilou. – ele respondeu, mexendo na cafeteira com habilidade.


 - Você não dormiu? Só porque eu estava na cama? Que horas são?


 Sirius riu baixinho.


 - Você é muito confusa pela manhã, Lene. São seis horas, e eu ainda não dormi porque não me deu sono. Nada me impediria de dormir se o sono viesse. – ele piscou marotamente para ela.


 Lene revirou os olhos, jogando-se no banquinho do balcão.


 - Tome – Sirius acordou-a de um novo cochilo, dessa vez no balcão de mármore – Engula isso.


 Ele estava sem camisa, os braços erguendo-a. A cabeça de Lene parecia prestes a estourar de dor, e esses detalhes passaram quase despercebidos. Quase. Ela pegou o comprimido que ele estava oferecendo e o copo de água, e engoliu sem nem perguntar que diabo era.


 - Vai melhorar daqui a pouco. Acho melhor você dormir mais.


 - Óbvio. – ela falou, saltando do banquinho.


 E, antes de fazer isso, sua cabeça nunca tinha doído tanto. Ela gemeu e segurou as têmporas, como se de alguma maneira isso ajudasse. Maldito, maldito, maldito whisky.


 - Wooa – Sirius a pegou pela cintura, antes que ela escorregasse para o chão – Por que você acordou? Cara, você tá podre. Pode ir dormir na minha cama, se quiser.


 - Eu vou para o sofá. – ela gemeu de novo, afastando-se dele para a sala.


 Achou o pijama e, de alguma forma, conseguiu tirar o vestido e se enfiar nele. Não procurou saber se Sirius estava ou não a olhando – que se danasse. Sua cabeça estava a um triz de explodir.


 Escovou os dentes praticamente de olhos fechados e se jogou na cama fofa de Sirius. Afinal, depois daquela noite, merecia um descanso bom, pra variar.


-


 Dessa vez, ela acordou bem consciente do próprio corpo e do calor que estava sentindo. Empurrou o edredom com os joelhos e abriu os olhos devagar. Uma sensação boa a preencheu. O quarto estava escuro, mas uma olhadela no despertador do lado em que Sirius dormia e ela soube que já eram duas horas da tarde.


 Espreguiçou-se tentando não acordar o outro, e se levantou. O remédio havia feito mesmo um efeito milagroso – ela tinha que saber o nome e ter sempre um em mãos. Enquanto caminhava descalça para a porta que a levava à sala, Lene avaliou o lugar. A cama era gigante, lençóis brancos e edredom vermelho, e travesseiros macios, brancos com listras vermelhas. Havia um carpete fofo no chão, também, e seus pés afundaram deliciosamente na sensação de serem sugados por uma nuvem. Havia uma televisão que Lene apostava que nunca tinha sido ligada por Sirius, um som com caixas grandes, um pouco menor que o da sala, um guarda-roupa branco embutido na parede, mesinhas de cabeceira com abajures modernos e uma cortina de um vermelho escuro que segurava praticamente toda a claridade do dia, deixando apenas um fosco e propício ambiente para as noitadas de Sirius.


 Entrou na sala, ainda asfixiada por se sentir deliciosamente bem. Inspirou o ar repentinamente puro, percebendo pela primeira vez o quanto o perfume de Sirius impregnara o quarto. Foi até a janela e puxou as cortinas. As silhuetas dos prédios imensos de Las Vegas se desenharam diante de seus olhos, e ela sorriu.


 Com um clique, percebeu um fato. Talvez fosse por estar na janela, o lugar mais propício para o que ela era acostumada a fazer. Não havia fumado um só cigarro na noite passada. Quer dizer, antes do encontro sim, mas era quando ela fumava um ou dois apenas sob situação de emergência. Mas, à noite, quando ela botava pra quebrar no cigarro, mesmo, não havia acendido nem um. Se lembraria de falar sobre isso com Lily mais tarde. Não que estivesse planejando parar de fumar, francamente.


 Esticando-se, foi até a cozinha e procurou alguma coisa para comer. Seu estômago roncava. Surpresa, encontrou comida trouxa congelada, e se perguntou quando é que Sirius havia saído para fazer compras. Tirou a lasanha do plástico e programou o microondas no tempo que falava no pacote. Foi quando ouviu um gemido vindo da porta.


 - Bom dia pra você também – ela disse, escorando-se na pia e virando para ele.


 Sirius esfregou os olhos enquanto caminhava tropegamente até um banquinho no balcão. Ele bocejou e sorriu, com os olhos inchados. E depois esticou os braços por cima do balcão, mostrando um envelope cor de creme para Lene.


 - O que é isso? – ela perguntou, já pegando o envelope nas mãos.


 - Veja você mesma, gracinha – ele piscou devagar, e então se levantou e foi fazer o maldito café.


 Lene deu de ombros e abriu o envelope que ele já havia aberto, e, antes de começar a ler, Sirius disse:


 - Estava na soleira da porta.


 Ela puxou uma folha de dentro do envelope, e leu rapidamente a caligrafia bem feita. Depois, ergueu os olhos para ele, assim como as sobrancelhas.


 - Uau, nós somos mesmo um casal ilustre – ela falou, fazendo Sirius sorrir torto enquanto abria as portas do armário.


 - Como você é inocente – ele resmungou, coçando a nuca, a voz ainda embargada pelo sono.


 - Oras, o que pode haver de errado em uma festa beneficente no terraço do proprietário?


 - Pode haver uma coisinha mínima de errado. Há pelo menos uns mil hóspedes neste hotel. Quer apostar quanto que não foram todos convidados?


 - Já ouviu falar em preferência pessoal, querido?


 - Já ouviu falar em desconfiança, querida?


 Marlene franziu a testa sem entender. Então, sua expressão se suavizou e ela bateu com a mão na testa.


 - Merda.


 - Não somos exatamente bons em se fazer de casal apaixonado.


 - Mas que merda, Sirius. E agora?


 - Agora, eu te digo. Não faça planos para esta noite com o seu salvador Miller, porque nós vamos nessa festa. – a voz dele foi decidida.


 Lene ergueu as duas sobrancelhas.


 - Desde quando você decide o que eu vou fazer?


 - Desde que você precisa de um lugar para dormir. A escolha é só sua. Se não quiser ir, tudo bem, eles vão aparecer com nossos dados pessoais aqui amanhã cedo e nos expulsar. Vai ser uma escolha inteligente ir, pois não haverá problema para nenhum de nós. E, oh – ele fez uma expressão falsamente chocada – eu tenho dinheiro para ficar em outro lugar, e sinto que sou o único por aqui.


 Ela estreitou os olhos para ele, sentindo o rosto corar de raiva. Havia acordado em um estado de espírito tão bom e agora vinha esse cretino e mudava tudo só com comentários idiotas. E verdadeiros.


 - Por acaso é crime um casal dormir junto sem estar casado? – ela quis saber, empinando o queixo.


 - O seu nome não está registrado lá embaixo. Eu acho que manter uma inquilina num lugar onde já se é um inquilino deve provocar, no mínimo, raiva entre os caras que recebem no final do dia. Aliás. Você não está assim tão popular para ficar desfilando por aí em Vegas...


 O microondas apitou antes que Lene pensasse em algo para dizer. Não que estivesse realmente chateada por ter que ir à festa – pelo contrário, as festas particulares em Vegas costumavam ser as melhores. O problema era não se encontrar com Josh. Sim, aquilo era uma merda completa. Tinha que falar com ele, mesmo tendo sido praticamente abandonada na noite passada.


 Lene suspirou enquanto puxava o pacote com um guardanapo para a pia e começou a abri-lo. O perfume de Sirius – aquele que havia entrado em todos os seus poros na noite passada – acentuou-se mais na atmosfera e ela percebeu que era porque ele estava com a cabeça por cima do seu pescoço, espiando o que ela fazia.


 - Isso está com um cheiro realmente bom – ele disse, colocando uma mão na base das costas dela.


 - Pena que você não vai comer nem um pedacinho.


 - Lene, você não pode comer uma lasanha inteira. – ele sorriu torto.


 - E por que não?


 - Porque você seria a nova Mulher-Gorda e arrumaria um emprego em Hogwarts.


 - Suas piadas são terríveis, Sirius.


 - Geralmente elas são melhores quando meu corpo não pede por cama.


 - Vai dormir, então, paspalho.


 - Eu precisava de café. – ele disse, e suspirou perto do pescoço dela, fazendo-a se arrepiar – E agora preciso de lasanha.


 - Sabe ali na frente? Então. Tem um mercado onde uma loira, que até já te deu o número do telefone dela. Liga pra ela, quem sabe ela não prepara uma lasanha deliciosa pra você?


 - Você vai mesmo ser tão má? – ele perguntou, rouco, e Lene sentiu os lábios dele perto da sua nuca.


 E ele distribuiu beijos doces e calmos por ali, abraçando-a por trás e fazendo Lene parar tudo o que estava fazendo só pra sentir. Não porque os braços dele seguraram os seus – mas porque um fogo indecente atravessou suas células e ela ficou incapaz de se mover.


 - Se eu quiser, eu te deixo sem lasanha, casa e cigarros – ele continuou falando, rente ao ouvido dela, e mordeu ali antes de continuar – Tudo o que você precisa fazer é ser gentil.


 Lene riu pelo nariz, fechando os olhos quando ele deixou um beijo e mordiscou atrás da orelha dela.


 - Você está errado sobre mim se pensa que isso vai me induzir a algo – ela disse com a voz falha, e teve vontade de se socar por isso.


 - Eu só estava pensando... por que você é tão severa comigo, Lene. – e delicadamente, ele sugou o lóbulo da orelha dela entre os lábios.


 - Six, deixa de ser... estúpido... – ela esticou o pescoço devagar enquanto ele beijava ali, ainda de olhos fechados.


 Sirius riu baixinho e, quando Lene menos esperava, afastou os lábios do pescoço dela ao mesmo tempo que as mãos da cintura dela e, rapidamente, pegou a lasanha e saiu correndo para a sala. Ela ouviu um berro de dor e algo caindo no chão. “Ah, Sirius, Sirius.”, ela revirou os olhos enquanto ia até a porta e o via, abanando as mãos, a lasanha espatifada no chão, quase alcançando o carpete.


 - Ótimo, agora somos dois esfomeados sem nenhuma comida na casa. Que belo marido você é. – ela estreitou os olhos para ele.


 Sirius fez uma expressão indignada enquanto soprava as mãos, e não respondeu nada, parecendo realmente ofendido. Marlene quis rir, mas se segurou e se aproximou dele devagar, e delicadamente puxou as mãos dele entre as suas para ver melhor as palmas. Estavam vermelhas e em alguns pontos inchada e reluzente. Ela realmente teve que se segurar para não gargalhar.


 - Ok, eu devo ter alguma pomada na minha mala. – ela disse, sorrindo torto.


 Sirius ainda parecia ofendido quando ela se afastou, pois estreitou os olhos e a observou, desconfiado. Ela fuçou nas coisas dela e, quando achou, tornou a contornar o sofá e se aproximar dele.


 - Vai dar vontade de coçar, mas acredite, se você fizer isso vai doer mais que da primeira vez. – ela falou enquanto girava a tampinha.


 - Onde arrumou isso? – ele perguntou, vendo ela apertar e a pasta branca sair em seu dedo.


 - No Beco. – respondeu, concentrada nas mãos dele.


 Ainda tentando não rir do berro que Sirius havia dado, ela espalhou a pasta pelas piores marcas vermelhas nas mãos dele. Sirius parecia uma criança irritada por ter aprontado. Pensar nisso só a fazia querer rir mais. Sem se conter, Lene riu baixinho quando terminou de passar e deu as costas para ir guardar.


 - Deve ser mesmo engraçado ver os outros se foderem. – ele alfinetou, jogando-se no sofá.


 - Não mandei você dar uma de espertinho, querido.


 Sirius bufou.


 - Vai demorar pra passar?


 - Algumas horas... – ela falou, escolhendo uma roupa na mala.


 - Horas? – ele perguntou, indignado – Então eu não vou poder tomar café ou tomar banho ou...


 - Acertou! – ela sorriu enquanto ia para o banheiro se trocar.


 - E você ainda vai por uma roupa? Deve ser mesmo o pior dia da minha vida. Pelo menos continua com esse pijama, Lene, ele tá ótimo em você e...


 - Falou demais, idiota – ela disse, fechando a porta do banheiro na cara dele.


 Depois que tomou banho, colocou a jeans e a bata preta, escovou os dentes e ajeitou o cabelo, Lene saiu do banheiro e encontrou Sirius no mesmo lugar do sofá de quando ela havia o visto, a cabeça jogada para trás e as mãos viradas para cima.


 - Por favor, me salve do tédio – ele gemeu, ainda encarando o teto.


 - Eu vou sair – ela disse, puxando a bolsa para o ombro.


 - Vai comprar comida? – Sirius perguntou, esperançoso, abaixando os olhos para ela.


 - Não, cigarros – ela cortou a felicidade dele. Não havia se esquecido que, apesar de queimado, ele ia deixá-la sem comida. Embora pensasse que ele não fosse capaz de tanto... ela achava.


 - Oh, céus, eu vou morrer – ele continuou com o drama – Minhas mãos estão debilitadas e eu não posso fazer nada sem elas... se ao menos a minha mãe me amasse, talvez ela pudesse vir cuidar de mim e...


 - Cala a boca? – Lene riu baixinho, indo para a saída – Eu vou comprar comida, sim, Six, comprei cigarros ontem. Não é como se eu fumasse um maço por dia. – ela revirou os olhos.


 - É sim – ele imediatamente respondeu – Mas você não fumou ontem à noite, né?


 Lene virou a cabeça com a mão já na maçaneta.


 - Isso não te diz respeito.


 - Eu estou cuidando de você, Marlene, sabe dis...


 Plaf. Ela revirou os olhos mais uma vez no corredor bem iluminado, jogando os cabelos negros para trás.


 A mulher do mercado da outra rua a atendeu ironicamente pior do que no dia anterior, quando aparecera com Sirius. Lene comprou uma lasanha e pizzas congeladas, além de uma garrafa de suco de laranja. Não ter tempo para compartilhar das refeições do hotel era tão desgastante! Suspirando, ela atravessou a rua com as sacolas de papel.


 O porteiro se ofereceu para ajudá-la até o apartamento, e Lene aceitou imediatamente, sorrindo para ele. Anne a pegou no meio do saguão.


 - Então, vão à festa? – foi a primeira coisa que disse.


 Lene sorriu com todos os dentes.


 - É claro que vamos! – e enfiou-se no elevador, onde um homem careca segurou a porta para ela.


 Pelo menos dessa vez, quando entrou no apartamento, Sirius não estava no sofá. Mas haviam uns barulhos estranhos vindos da cozinha. Lene pegou as sacolas de papel e deu uns trocados para o porteiro, e fechou a porta atrás de si. Curiosa, foi até a cozinha e viu Sirius lutar contra a cafeteira, mexendo nela apenas com as costas das mãos e parecendo realmente contrariado. Ela largou as compras no balcão e foi até ele.


 - O que aperta?


 - O vermelho, duas vezes – ele falou depois de tentar mais uma vez. Homens eram mesmo difíceis para aceitar ajuda de mulheres. – E depois confere se o café vai até a marca azul.


 - Foi. E agora?


 - Agora, obrigada. – ele beijou a bochecha dela – E faz o almoço.


 - Cretino – ela riu, mas foi preparar o almoço.


 Estava faminta também. Sirius ocupou-se em quase derrubar todas as xícaras de porcelana no armário, mas não pediu ajuda de novo. Duas vezes devia mesmo ser demais para um homem orgulhoso como ele.


 Como o termo ‘preparar o almoço’ para Lene compreendia em tirar a lasanha do plástico e programar o horário no microondas, ela sentou-se encima do balcão, com tédio, pensando em algo que poderia fazer enquanto seu estômago roncava. Seus olhos vagaram pela cozinha até encontrar as costas nuas de Sirius, ligeiramente inclinadas para frente, enquanto ele estava em sua missão para servir-se de café. Ela se lembrava bem delas, mas na claridade da cozinha e com aquele short branco de dormir que ele vestia, parecia melhor ainda.


 Lene passou as mãos pelos cabelos, tentando imaginar porque diabos estava pensando no corpo de Sirius. Tudo bem, ele era forte. Os ombros dele eram másculos e os braços definidos. Não exageradamente, como se ele fosse fissurado por aparência – mais como algo natural, sensualmente natural. E estupidamente perto.


 - Pode vestir alguma roupa? – ela perguntou, cruzando as pernas e checando as unhas.


 Sirius riu baixinho pelo nariz.


 - Talvez quando a gente for sair.


 - A gente vai sair, Sirius? – ela frisou – Eu tenho coisas a fazer esta tarde.


 - Sim, comigo. – ele ignorou-a, dando de ombros levemente. – A gente tem que disfarçar melhor isso de marido e mulher.


 - Não. – ela respondeu, quase infantilmente – Não vou fazer nada com você.


 - Não se preocupe, querida, eu vou estar de roupa e não vou deixar você me agarrar.


 - Você se acha mesmo o centro do universo.


 - Você deveria ouvir a sua voz, tentando não cair na tentação de tirar toda a roupa e se jog...


 Marlene ignorou o resto da frase e saltou do banquinho, indo para a sala e ouvindo que Sirius ainda continuava falando. Ah, ele gostava mesmo de falar besteiras. Só na cabeça dele mesmo que ela estava resistindo a alguma coisa... humpf. Nunca se entregaria para ele, fato. Nunca cairia na tentação de estar entre aqueles braços fortes e firmes, sob os carinhos das mãos quentes. E muito menos distribuiria beijos por aquele pescoço másculo, blah. Quanta besteira.


 Indignada com os próprios pensamentos, Lene escorou-se na janela, sentindo o estômago roncar. A cidade se estendeu em sua frente novamente, linda, mas ela não conseguiu prestar atenção em nada. “Oras, Marlene, onde está o seu senso de bom humor?”, pensou, irritada, passando as mãos pelos cabelos novamente.


 - Hei, furiosa – Sirius a chamou.


 Ela se virou a tempo de vê-lo entrando pela porta do quarto.


 - Não fique tão brava, eu já vou me vestir pra você não ter que ficar à flor da pele, ok?


 - Vá se ferrar, Black. – ela disse com um tom de desprezo.


 Quando ele saiu do quarto, Lene estava na cozinha e já havia preparado os pratos e talheres no balcão, mesmo. Na verdade, ela estava lavando a pouca louça que ela mesma sujara, pois havia terminado de comer um pedaço de lasanha.


 Ela suspeitava que nunca, naquela estadia, alguém tocaria na mesa de mármore que havia em um espaço rebaixado, de frente para enormes vidraças. Pelo menos não para se alimentar.


 Sirius tinha colocado apenas uma camisa azul, e ainda vestia aquele short branco obsceno. Ele estava com as palmas das mãos esticadas e ficou rodeando por ali, cheirando e dando a volta no balcão, aparentemente sem rumo.


 - Não vai comer? – ela perguntou quando fechou a torneira da pia.


 - Como eu vou comer sem minhas mãos? – ele quis saber, verdadeiramente preocupado.


 Lene riu.


 - Não está esperando que eu dê comida na sua boca, está?


 - Eu sei que você não se importaria, mas em todo caso... Pode me fazer um favor?


 Ela ergueu as duas sobrancelhas e cruzou os braços.


 - Depende.


 - Se pegar a minha varinha que está no fundo do guarda-roupa debaixo de um monte de coisas, talvez a gente possa evitar mais uns trezentos favores nas próximas horas.


 - Uau, esse vai ser o favor, então.


 - Eu sabia que na sua imensa sabedoria interior, você ia entender.


 Marlene revirou os olhos: - Me mostre onde está.


 Sirius sorriu largamente e a arrastou para o quarto. Depois que ela pegou a varinha e estendeu para ele, com uma sobrancelha erguida, ele falou, parecendo preocupado e confuso:


 - Espera que eu acabei de entender uma coisa.


 - Woa, seu cérebro está funcionando. Bem que eu notei alguma fumacinha saindo pela sua orelha.


 - Você não trouxe sua varinha – ele disse em afirmação, gesticulando na direção dela.


 - Não. – ela sorriu com os lábios, desviando dele para sair do quarto.


 Sirius continuou falando.


 - E porque diabo não?


 - Eu sigo algumas regras por aqui.


 - Ahã, certo.


 - Tudo bem, não precisa acreditar, marido. – ela piscou um olho e foi para a cozinha.


 Sirius a seguiu em silêncio, e Marlene se perguntou se era porque estava mesmo impressionado ou se estava tentando lembrar o feitiço. Ela serviu-se de suco em um copo grande e colorido e sentou-se na bancada, observando Sirius por cima enquanto dava um gole. Ele a olhava com uma expressão dividida entre incredulidade e divertimento.


 - Você está mesmo bem, Sirius? – ela perguntou, dando outro gole no suco.


 Sirius piscou rapidamente.


 - Eu é quem deveria estar perguntando isso. Marlene, você é a mulher menos seguidora de regras que eu já conheci.


 Ela franziu as sobrancelhas e fez um gesto com o copo:


 - Hei, isso ofende.


 - Saber que você não traz a sua varinha para Vegas... Me deixa em dúvida em relação a muitas coisas.


 - Francamente, não me interessa em nada saber como funciona a sua filosofia, Sirius.


 - Quer dizer que, lá no fundo, há algo que age para o bem dentro de você.


 - Ah, isso é deprimente – Marlene suspirou e olhou para cima, como se não houvesse nada mais entediante no mundo para escutar.


 Embora algo dentro dela estivesse bem confuso com as palavras dele. Mesmo assim, Sirius continuou como se ela não estivesse fazendo comentários.


 - Quer dizer que você segue as regras, apesar de tudo.


 Por um segundo, ela pensou que ele estivesse... admirado. Então revirou os olhos, tentando não se levar muito por aquilo. Só queria saber desde quando Sirius dizia tanto sobre o que pensava realmente sobre as pessoas.


 - Você segue as regras por algo que você gosta – ele espreitou na direção dela, os olhos cinzas subitamente brilhantes.


 Marlene pigarreou, tentando desfazer o bolo que se formara em sua garganta.


 - Você ainda está falando? – ela perguntou, erguendo uma sobrancelha, se fazendo de desinteressada.


 Sirius riu.


-



 Depois de uma tarde inteira tentando ligar para Josh Miller, enquanto Sirius ia à piscina, cassino e confirmava a presença deles na festa daquela noite, Marlene jogou-se no sofá, desapontada e cansada. Não era como se Josh ignorasse mesmo suas chamadas, nem quando ela estava em Londres e precisava de alguém para ouvir suas bobagens ou sobre como estava Vegas. Ele sempre havia se mostrado muito interessado pelos assuntos dela – até mesmo desta vez, quando ela dissera que era por dinheiro – e sempre respondia, mesmo quando estava no meio de encontros. E dessa vez, era como se tivesse evaporado no ar. Escorrido por entre seus dedos. “E eu fui incapaz de segurá-lo, merda!”, ela pensou, bufando alto.


 Acendeu um cigarro enquanto ia até a janela. Não havia saído do apartamento o dia todo, e suas esperanças de fazer isso estavam ralas. A ameaça da noite passada a havia feito fraquejar quanto àquela possibilidade: era mais sério do que havia previsto. Quer dizer, havia um hematoma roxo gigante em seu braço, onde o oriental estúpido segurara.


 Ao soprar a fumaça pela segunda vez, Marlene estreitou os olhos suavemente, sentindo o corpo se arrepiar pelo vento frio do fim da tarde. O sol ia embora. Assim como suas chances de falar com Josh. Isso era terrível.


 Refletiu por um segundo uma possibilidade. Mas, bem, não. Ligar para seus pais significaria estar sinceramente desesperada. E ela ainda considerava Josh uma chance, embora ele parecesse distante demais...


 - Hei, autista – a voz de Sirius chamou-a.


 Lene virou a cabeça e fez um cumprimento rápido, voltando-se para frente. “Vai dar tudo certo, você vai ver”, ele havia dito na noite passada. Parecia mesmo disposto a fazê-la sentir-se melhor.


 - Não saiu? – ele quis saber, se aproximando.


 Ela apenas deduziu isso. Afinal, de uma maneira que não sabia explicar, sentiu o corpo dele mais perto. E aquilo era estranho.


 - Por acaso uma loira saltitante foi te avisar que sua esposa querida estava fugindo de você ou algo assim? – ela perguntou antes de dar uma tragada.


 Sirius riu baixinho.


 - Ela estava me encarando, desconfiada – ele disse – Me encarando mais do que o normal, como se de repente eu fosse gritar que não somos mesmo casados.


 - Mais do que o normal? Ah, tem razão, você parece mais magro – ela deu uma risada pelo nariz depois de lançar uma olhada para ele.


 Sirius trombou levemente o ombro com o dela, e ficou ali, encostado, admirando a cidade tornar-se escura e perfeita à medida que o sol fugia.


 - Você podia pegar um apartamento aqui perto, quando Miller arrumar o dinheiro para você. – ele falou de repente, a voz rouca.


 Lene ergueu os olhos para ele. Sirius nem se mexeu, só suas mandíbulas que se enrijeceram levemente, e as sobrancelhas franziram devagar. Ela deu mais uma tragada, observando a fumaça em espirais pelo ar. Ele não estava parecendo se importar realmente com aquilo tão perto do seu rosto.


 - E você podia tentar parar de bancar o gentil, Six – Lene falou, desviando os olhos para o cinzeiro bem ao lado na mesinha, onde quicou o cigarro para derrubar algumas cinzas.


 - Eu sou um cavalheiro, querida – ele deu um sorriso torto.


 - E eu sou uma donzela – ela ironizou.


 Sirius riu baixinho.


 - O par do cavalheiro é uma dama, e não uma donzela, Marlene.


 - Que se dane. Eu não sou seu par.


 


 


 


 


 


 


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n.a: podem me esfolar. achei esse capítulo tão fraquinho, uma coisa tão.. Six e Lene nos bastidores. enfim, dêem as suas opiniões, amores, estou amando cada vez mais os comentários e muito agradecida por todos aqueles que comentam e acompanham a fic ;)
mt obrigada principalmente a Cecília Potter., MMcK, Carol Peeters, lizzie b., Lúuh McKinnon Black, Michelle Freire, Rosana Lobato, Sophie P. Black, Chel Prongs, eugênio, Feh Potter, Viic B., Gaby Black, luise mau, LúH .Potter, Marys., Mary Malfoy, Anna.Weasley e
Rebecca Malfoy.
continuem comentando porque é a coisa mais linda ouvir opiniões :) ehsuahiesa juro que não demoro pro próximo, no máx. quando atingir 1OO comentários. e aí galera? ;*

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