terceiro.




 


3


 


 - Ele só queria casar comigo por causa da minha família – ela falou, sentindo a voz estranhamente rouca – Eu me arrependeria profundamente depois de ter me casado quando descobrisse isso. Além de que... Eu não estava sendo eu mesma.


 Sirius jogou os braços cruzados atrás da cabeça.


 - Se você for começar a chorar, não fale muito. – ele disse, mais delicado do que ela pensou que fosse falar – Eu não sei o que acontece comigo quando vejo uma mulher chorando.


 - Wooa, alguém aqui tem sentimentos – ela brincou, rindo.


 Sirius fez uma careta de riso falso e deu um soco de brincadeira no ombro dela.


 - Sério, vai. Se quiser chorar eu vou te suportar.


 Lene estreitou os olhos, divertida.


 - Eu não vou chorar.


 Ele ergueu uma sobrancelha, interessado.


 - Porque eu acho que, afinal de contas, isso tinha que acontecer para eu perceber.


 Sirius continuou atento. Marlene pensou que ele arriscaria vários chutes, mas ele continuou ouvindo. Bem, aquilo estava menos pior do que ela imaginava. Suspirou fundo e pensou em como colocaria aquilo em palavras para um ouvinte como Sirius Black.


 - Quando Lily começou a namorar o James, eu me perguntava o que é que a mantinha tão... Leal a ele. Eu simplesmente não conseguia entender porque é que eles... se entendiam daquela maneira, ou se moviam da mesma forma. Era assustador.


 Sirius riu baixinho.


 - Então, eu perguntei pra ela o que é que ela sentia por ele. Preciso falar que fiquei trinta minutos praticamente só ouvindo coisas como “o olhar dele me aquece, as mãos dele fazem loucuras, e blábláblá”?


 Sirius riu alto, meneando a cabeça e mordendo o lábio inferior. Lene riu também, satisfeita pela reação positiva dele.


 - Mas o que eu mais me lembro foi o que ela me falou sobre... O que ele fazia com o coração dela. Só de estar por perto. Ela disse que o coração dela batia tão rápido.


 Lene passou as mãos pelos cabelos, suspirando outra vez, e olhou para o chão.


 - Eu não sei o que Amos faz com o meu coração. Quer dizer, não o fazia bater loucamente, e nem me aquecia com o olhar, disso eu tenho certeza.


 Sirius balançou a cabeça, entendendo.


 - Então você não estava apaixonada por ele?


 - Eu acho que estava mais acomodada do que qualquer coisa. Acostumada com a idéia de viver com ele e... Pela primeira e última vez na vida, eufórica por causa de uma festa de casamento.


 Ela riu baixinho, mas Sirius continuou com os lábios franzidos, pensativo.


 - Você não sabia se estava apaixonada por ele, e mesmo assim aceitou se casar?


 - Ah, Sirius... – ela afundou a cabeça entre as mãos – Você não entende. Eu queria me apaixonar por ele. E ainda havia toda a pressão da minha família de que já estava passando da hora de me casar e...


 - Pensei que você não ligasse para isso.


 - E eu não ligo! Mas minha família é tão tradicional quanto a sua, embora tenha as severas diferenças de...


 - Demonstrações de afeto – ele completou com um sorriso cínico que ela sentiu na voz macia.


 - Exato. Eu não ia me casar por eles. Mas Amos ia.


 Sirius passou as mãos pelos cabelos.


 - Ele só estava atrás do dinheiro, afinal.


 - Mas, Lene... Como você sabe disso? – ele perguntou tentando ser delicadamente curioso.


 Marlene deu uma risada amarga e ergueu a cabeça.


 - Sabe como eu descobri toda a coisa?


 - Não, e estou ansioso pela sua história. – ele deu uma risadinha irônica.


 - Ótimo...


 Marlene ajeitou o próprio cabelo no elevador, e passou um pouco de blush nas bochechas pálidas. Borrifou um líquido na boca, que tirava o cheiro e o gosto do cigarro, e afastou minimamente o casaco cáqui no busto para conferir se estava tudo certo. Tudo certo. A lingerie vermelha que havia comprado com Lily e Alice mais cedo havia caído perfeitamente em suas curvas. Ela tinha que fazer uma surpresa para ele, qual é, tinham andado tão ocupados nos últimos dias com os preparativos do casamento! E este seria em uma semana. Ela não tinha certeza se teriam momentos como aquele depois, com toda a pressão do casamento e...


 - Pode pular as partes constrangedoras? – pediu Sirius, erguendo uma sobrancelhas, aparentemente interessado.


 Lene riu e continuou.


 Amos viajaria no próximo dia, e só voltaria em uma semana, realmente próximo do casamento. Retocou o batom vermelho, ainda no espelho do elevador, e segundos depois este parou. Sorrindo torto, ela guardou o batom na bolsa e saiu pelo corredor, radiante. Caminhou devagar até o escritório dele, cumprimentando casualmente alguns executivos conhecidos que passavam por ela. Ignorando o olhar preocupado da secretária dele, ela foi até o cômodo e abriu, fechando atrás de si. Não havia ninguém na sala bem arrumada, ele devia estar no banheiro. E ela já ia tirando o casaco quando ouviu umas risadas sussurradas. Risadas femininas sussurradas. Franzindo a testa, Marlene aproximou-se da porta do banheiro do escritório. Ouviu o chuveiro ligado, e achou estranho. Ele não usava o lugar para banhos. De qualquer maneira, pregou o ouvido na porta, desconfiada.


 - ...fetiches por frutas com chantilly, não é?


 - Hei, você é a tarada por aqui, Sophie. – a voz de Amos respondeu, risonha.


 A mulher deu uma risada alta e abafada pela porta. Marlene grudou a orelha ali, ela quase não podia ouvir por causa do som da água caindo no chão.


 - Mal posso esperar para rir de longe da noivinha no próximo fim de semana.


 - Deixe-a em paz, So.


 - O quê? E deixar de ver aquela cara de apaixonada iludida? Nunca! Ela vai ter chifres oficiais logo, logo...


 - Não brinque muito com o que paga as suas dívidas, querida.


 - Arght, não sei o que te atrai naquela escocesinha sem vida...


 - Nada, além da fortuna, é claro.


 Marlene não suportou mais um segundo sequer. Pronta para fazer um barraco, abriu a porta do banheiro com força. Mas quando viu Amos e uma mulher de cabelos louros, o primeiro no chuveiro e a outra na frente do espelho gigante da pia, nus e assustados com a repentina presença, não sentiu nada além de um vazio enorme.


 - Nojentos como vermes. – falou, calmamente - É isso o que vocês são.


 - Lene, querida, eu não... – Amos desligou o chuveiro e puxou uma toalha para a cintura.


 - Oh, não precisa dizer nada, amor. A noivinha rica já entendeu tudo.


 E saiu do escritório sem dizer mais uma palavra, sem nem ao menos olhar para a cara de piedade que com certeza a secretária estava. É claro que ela não se livrou da presença dele depois, quando foi direto para o apartamento buscar suas coisas. O idiota parecia realmente arrependido, e se não tivesse ouvido ela própria...


 - Marlene, querida... vamos conversar sobre isso, ok? A gente vai se casar. É uma coisa muito mais séria do que um casinho do trabalho e...


 - Amos, pode calar essa boca? Eu não consigo lembrar do feitiço para transferir essa merda toda pra casa dos meus pais. – ela apontava a varinha calmamente para uma caixa cheia de roupas suas.


 - Lene, meu amor, por favor, não me ignore. Eu não falei aquilo com a real intenção. Por favor, me deixa explicar...


 - Primeiro, eu não sou mais seu amor. – ela falou, sentindo a voz tremer – E segundo, porque você estaria mentindo para uma mulher nua no seu banheiro quando é a gente que vai se casar?


 - Ela é... Filha do meu chefe e eu precisava de...


 - Urght, isso só te torna mais nojento! – ela alterou a voz por um instante, sentindo a bochecha arder.


 - O que você vai falar pra sua mãe? Pro seu pai, Lene?


 - Que eu conheci o retardado com quem estava prestes a me casar?! – atirou, indignada.


 - Marlene... Eu amo você.


 Lene parou tudo o que estava fazendo, largou a varinha encima da cama e o encarou. Sua boca relutou um pouco para se fechar, de tão estupefata que ela ficou. Não havia nada que dissesse a ela que era mesmo verdade nos olhos verdes dele. Só medo. Um medo idiota de perder toda a herança dos McKinnon. Então, ela realmente sentiu a raiva subir. Ele achava mesmo que ela era fútil o suficiente para acreditar nele? Depois de ter visto e ouvido? Depois de... Esbofeteou a bochecha dele com toda a força que foi capaz de concentrar. Ele ficou impassível, e levou a mão até o lugar que as aulas de box haviam avermelhado imediatamente.


 - Desaparece da minha vida, Diggory! – ela gritou.


 E então o barraco começou. Mas Sirius não estava muito interessado em saber dessa parte.


 - Uau, você quase se meteu na pior da sua vida, hein, Lene – ele riu, baixinho – Quase a pior de todas, e olha que você sempre foi boa pra se meter em encrencas.


 Lene sorriu para ele e passou as mãos pelos próprios cabelos. Dizer aquilo realmente tirava um peso de seus ombros. Ah, aquele peso ela podia suportar sem tensão. Respirou fundo e levantou-se, indo até a sua bolsa na mesinha da entrada e dizendo:


 - Ah, eu preciso de um cigarro.


 Ela ouviu Sirius bufar e ir para a cozinha. Lene lembrou-se que precisava separar a roupa da noite, mas fumar e mexer em malas não combinava, principalmente se a sua experiência própria gritasse para que não fizesse isso. Pegou o celular e ligou para Lily. Teve que esperar ela sair de choque e acreditar que ela e Sirius estavam dormindo no mesmo teto.


 - Quer dizer que você e o Sirius... quer dizer que...


 - Ah, Lil, pelo amor de Merlin, qual é o seu problema? Você mesma sugeriu que eu o procurasse!


 - Mas não para dormir no mesmo apartamento que ele! Como duas pessoas como vocês dois vão sobreviver sob o mesmo teto uma semana sem se matar ou... sem dormir juntos?


 - Sobrevivendo – Lene garantiu, puxando a fumaça para dentro dos pulmões.


 - Ah, Marlene, você tinha prometido para todo mundo que ia parar com isso. – a voz da ruiva parecia realmente desapontada.


 - Lil, eu estou um caco – ela se apressou a explicar, sentindo os olhos arderem – Acabei de terminar o noivado, estou dormindo de favor em um apartamento de um homem em Vegas e quase não tenho dinheiro para a próxima noite!


 - Se a solução que você vê é fumar, você deveria procurar uma ajuda. Já faz tempo que eu e Alice estamos fal...


 - Eu não preciso da ajuda de ninguém. – cortou, irritada.


 - Ahm, ok, Lene, você é quem sabe da tua vida. Eu sou sua amiga, só quero ver o seu bem, você sabe disso, não é?


 Lene sentiu uma vontade tremenda de desabafar pelo telefone com Lilian, mas sabia que aquilo não adiantaria nada. Quer dizer, pessoalmente seria mais reconfortante.


 - Eu estou com saudades de você. – ela disse.


 - E eu de você, idiota! Por que raios você e a sua cabeça insana saíram correndo de Londres para essa cidade pervertida logo agora?


 - Eu preciso relaxar, Lily. Não há cidade melhor para isso. Além de tudo, já tenho um jantar amanhã com Josh Miller.


 - Ai. Meu. Deus. Marlene, fuja! Qual é o seu problema? Você sabe como esse cara é e você sabe o que você virou depois que começou a sair com ele.


 - Ah, adoro a sua sinceridade feroz. Quem vê assim virei uma prostituta!


 - Não chegou longe, né?


 - Lílian, francamente, eu não tenho que ouvir isso.


 - Lene, espera aí. Espera só um segundinho. Você não... Você não vai sair com ele só pra que ele te ajude, não é? Ele não é uma espécie de... Oh, Jesus, Marlene! Pode ir parando com seus plan...


 - Lílian, tenho que desligar. Tenho a impressão de que tem um intruso ouvindo a nossa conversa. Depois eu te ligo, beijo! Te amo.


 - Te amo também, mas, Len...


 Ela não terminou de ouvir e fechou o telefone, sorrindo torto para Las Vegas, que se estendia na janela na sua frente. É, aquilo estava começando a funcionar. Largou o celular na mesinha e virou-se. Sirius estava encostado na porta da cozinha tomando alguma coisa fumegante em uma xícara branca enorme, e o cheiro se espalhou por toda a sala de uma vez só.


 - Urght. – ela fez, antes de tragar o cigarro com uma careta.


 Café.


 Ele sorriu e bebeu um gole, fazendo uma sincera expressão de prazer depois.


 - Isso é curioso – ele comentou, aproximando-se para sentar no sofá de novo – Nós dois odiamos o vício um do outro.


 - Desde quando café é vício de alguém, Sirius?


 - Tente tirar de mim, Lenezinha, querida.


 - A única coisa curiosa por aqui é você.


 Sirius riu e passou um braço pelas costas do sofá, folgado, ainda bebendo seu líquido marrom. Com uma careta para ele, Lene deu a última tragada e, enquanto soltava a fumaça, amassou o toco no cinzeiro limpíssimo encima da mesinha de cabeceira, percebendo o olhar safado de Sirius em suas coxas, e foi direto para a sua mala, atrás dele e do sofá branco. Suspirando, agachou e puxou o zíper, e começou a fuçar nas roupas.


 Sirius empertigou-se mais no encosto do sofá para olhá-la.


 - Sabe, eu estava pensando. Nós somos compatíveis.


 Marlene revirou os olhos e sorriu torto, ainda fuçando nas roupas.


 - E porque você, ser de inteligência suprema, acha isso?


 - Bem, nós dois ainda não nos apaixonamos realmente por alguém, embora você tenha me acusado bravamente mais cedo – ele disse, esperando uma pior reação da parte dela, mas Lene apenas riu baixinho.


 - Isso não quer dizer que devemos fazer isso imediatamente.


 - Tudo bem, mas... Continuando. Nós dois somos... Independentes. Gostamos de novas experiências, de coisas finas e somos...


 - Somos luxuriosos – ela completou, sabendo que ele estava pensando na palavra.


 - Na mosca – ele falou, parecendo realmente interessado naquilo.


 Lene suspirou enquanto puxava um vestido amarelo vivo de dentro da mala.


 - E também, nós somos parecidos na maneira de pensar... Veja, não é toda mulher que entende que dormir duas vezes com alguém significa apenas que você curtiu a primeira, e não que você não está apaixonado por ela.


 - Oh, meu Deus, Sirius – ela falou, levando uma mão à boca, como se tivesse a melhor idéia de todas – Tem toda razão! Por que não vamos a uma dessas capelas e nos casamos essa noite mesmo?


 Sirius riu baixinho enquanto Marlene se levantava e contornava o sofá. Ela pegou uma almofada e tacou nele, dizendo:


 - Pode parar com as suas tentativas de me seduzir já, canalha.


 E ele ainda estava rindo quando ela fechou a porta do banheiro.


 -


 Marlene passou a noite em uma boate no terraço de um prédio loucamente iluminado por luzes azuis e vermelhas, absolutamente apinhado de gente de todo tipo, e encontrou alguém com quem conversar perto do bar, quando já terminava a terceira garrafinha de vodka, e, de repente, sua mente começou a girar junto com as luzes e ela foi pra pista, dançar com o homem. Como era o nome dele mesmo? Ah, que seja. Ela se lembrava que ele era dono de alguma coisa com nome de comida que parecia importante, e dançou com ele até as cinco da manhã, quando a décima garrafinha rolou pelo chão junto com seu equilíbrio e ela pediu que ele a levasse para qualquer lugar onde pudesse melhorar. E ele a levou para o apartamento dele, a duas quadras dali – Lene dançou com uma velhinha que fazia caminhada na rua ainda escurecida de Vegas, até que o homem, gargalhando, a levasse – e, depois que Lene vomitou no banheiro e tomou um remédio trouxa de outro nome estranho, ela saiu na porta e olhou para o quarto.


 Victor. Este era o nome daquele homem de cabelos escuros e olhos verdes que estava ali, sorrindo gentilmente, sentado na cama. E ela havia se lembrado de escovar os dentes. Sorrindo torto, Lene se aproximou perigosamente dele, que logo se pôs em pé e colocou as mãos em sua cintura, puxando-a para tão perto que não seria possível distinguir um dos dois. E do resto, bem, você pode ter uma idéia.


 -


 Ela atravessou o saguão de entrada com as sandálias nas mãos, os cabelos molhados e a pele livre de maquiagem pelo recente banho em dupla. Marlene só percebeu um olhar tão, mas tão curioso, quando já estava apertando o botão do elevador. Suspirando, encostou-se na parede, observando a recepcionista loira se aproximar dela com seus saltos batucando no piso. “Lo-go ce-do”, Lene revirou os olhos, impaciente.


 - Bom dia, senhora Black – ela sorriu com todos os dentes para ela – Teve uma boa noite na cidade que não dorme nunca?


 - Uma ótima noite – ela vasculhou o crachá da moça, incomodada por não saber o nome dela pela primeira vez – Anne... Anne Flinch, certo?


 - Isso – ela ainda sorria debilmente.


 Ah, francamente. Marlene perguntou-se até onde uma mulher poderia ir para caçar um homem.


 - Viu se o meu marido saiu esta noite?


 - Na verdade... – ela começou, aproximando-se, como se fosse contar um segredo – Ele ficou um pouco no bar aqui, e depois saiu. O meu turno acabou, então não pude ver se ele voltou acompanhado ou...


 - Oh, sim – Lene sorriu – Era tudo o que eu precisava saber.


 E o elevador abriu no mesmo momento, fazendo-a suspirar de alívio e sorrir para a mulher de crachá antes de entrar ali. Anne acenou e correu saguão afora, seu salto ainda batucando.


 Marlene sentiu o corpo pesar e encostou-se perto do espelho, pensando no que a esperava naquele dia. Seria a grande jogada. Se Josh conseguisse ajudá-la com o dinheiro ainda hoje, poderia pagar o dinheiro a Ambruzzi o mais rápido possível e então aproveitaria de verdade Vegas. Como havia feito naquela noite, só que muito melhor. E então poderia ir atrás de um apartamento decente onde pudesse ficar. Isso.


 Plano perfeito. Sorriu para si mesma quando a porta do elevador se abriu e entrou no corredor estupidamente claro. Havia uma mulher ruiva, os cabelos tão vermelhos que pareciam fogo, saia curta e blusa apertada, em um salto que a deixava mais alta que Marlene, indo na direção do elevador. Ela sorriu torto ao passar pela mulher, e meneou a cabeça para Sirius que estava na porta, apreciando a outra por trás.


 - Que patife de marido o meu – Lene riu, entrando no apartamento.


 Havia uma garrafa de vodka vazia encima do sofá que lhe servia de cama. Ela ergueu uma sobrancelha enquanto jogava a bolsa no chão ao lado das malas, e começou a falar quando ouviu a porta fechar:


 - Por favor, não me diga que usou a minha cama para as suas promiscuidades.


 Com o pijama entre os dedos, ela levantou-se e viu o sorriso cínico de Sirius por cima do sofá.


 - Eu estava aqui me perguntando, o que aconteceu com o seu discurso “eu sou uma fantasma por aqui?”


 Lene mostrou a língua para ele enquanto ia para o banheiro se trocar. Ficou surpresa quando saiu do banheiro, com os cabelos presos em um rabo de cavalo alto e já vestindo o pijama de seda preto, um shortinho curto e uma blusinha de alça fina, e viu Sirius encostado na janela, olhando para fora.


 - Sem sono? – ela perguntou, aproximando-se do sofá.


 - Acabei de tomar café – ele disse, sem se virar.


 - E aquela coisa tira o seu sono?


 - Me deixa... Mais... – ele virou-se para falar, e quando viu o que ela usava suas palavras se perderam em um sorriso malicioso – Vai dormir assim?


 Lene revirou os olhos.


 - Eu durmo sempre assim.


 - E eu deveria te ver dormir mais vezes.


 - Você deveria é tomar vergonha nessa sua cara.


 Ele riu baixinho, mas continuou olhando-a. Marlene deitou-se no sofá, cobrindo-se com o edredom e se perguntando até que ponto Sirius seria tão inconveniente.


 - Eu posso ao menos dormir aí com você? – ela o ouviu perguntar.


 Sim, ele poderia ser muito inconveniente.


 - Vai se ferrar, Sirius.


 Ela virou o corpo de lado, respirando fundo, e a sala escureceu quando ele puxou as cortinas. Em questão de minutos estava apagada.


 -


 


 Marlene ajeitou no nariz os óculos escuros que havia colocado para esconder as olheiras. Finalmente, havia conseguido acordar na hora do almoço do hotel. Meio dia e meia, e seus olhos não conseguiam mais pregar. Sirius provavelmente ainda estava dormindo, mas, bem, ela não estava se importando muito com isso.


 O refeitório estava cheio de hóspedes se servindo, além, é claro, dos funcionários. Ela suspirou e engoliu com dificuldade quando notou que Anne se aproximava dela, sorrateira, com uma bandeja já servida de comida.


 - Olá, se importa me sentar aqui com a senhora?


 Lene ergueu os olhos para ela, por um segundo, avaliando se ela estava zoando ou falando sério. Quando a loira não se moveu e manteve o sorriso absurdamente doce nos lábios rosados, ela assentiu, e respondeu rouca:


 - Não, pode sentar.


 - Acordou cedo – a outra ia comentando enquanto se ajeitava ao seu lado – Sabe, a maioria dos hóspedes costuma acordar muito tarde por aqui, e acaba sem aproveitar a estadia por inteiro.


 - Eu que o diga – Lene sorriu torto.


 - Verdade. Nunca a vi na piscina, embora seu marido já tenha visto diversas vezes e...


 - Vocês têm uma piscina aqui? – ela ergueu as sobrancelhas, interessada, observando a outra comer.


 Depois de engolir a comida, ela respondeu:


 - Claro, é aquecida, depois do salão de jogos dos fundos. Você não sabia, senhora Black?


 - Ah, pode me chamar de Marlene – ela disse, incomodada com aquilo – aliás, não sabia, não.


 - Que estranho seu marido não ter comentado, não acha? – a outra atiçou.


 Lene pôde ver labaredas de fogo nos olhos da outra, e riu por dentro. Aquilo era divertido, ah, se era. Se ela fosse mesmo mulher de Sirius, talvez nem pudesse notar a ironia e a provocação na voz da outra.


 - Meu marido é totalmente amnésico – ela sorriu, simpática, limpando a boca com o guardanapo – às vezes até esquece que é casado, o coitado.


 Os olhos da outra se arregalaram um tantinho, mas ela não quis deixar transparecer tanta surpresa. “Ela está pensando se ele a esqueceu”, Lene riu consigo mesma, “adoro isso”. E de repente teve uma idéia.


 - Mais de uma vez – inclinou-se levemente para falar, como se fosse um segredo constrangedor – Eu fui buscá-lo em motéis com mulheres estranhas e ele simplesmente não sabia como havia ido parar lá.


 Anne engoliu seco, sem comida.


 - E a senhora não... Quer dizer, você não fica chateada com isso?


 - Oras, se eu ficasse, ele não se lembraria para pedir desculpas, de qualquer maneira.


 - Céus, isso deve ser... Terrível. – ela disse, sinceramente tocada.


 Lene quis gargalhar. Sirius arrancaria seu pescoço fora se a ouvisse.


 - Não notou que não usamos aliança? – ela ergueu os dedos da mão esquerda – É porque ele a perderia em qualquer lugar. Ou se assustaria quando visse que estava usando uma.


 - Tão triste. – Anne mordeu o lábio inferior, e de repente, estava juntando suas coisas para sair – Ahm, perdi a fome. Vejo você depois, Marlene.


 - Ok – Lene acenou para ela, sorrindo.


 A loira se afastou, desviando dos hóspedes ainda com o semblante meio torturado. Marlene pensou que, afinal, talvez tivesse feito uma coisa boa em inventar aquilo.


 Ela terminou de almoçar e voltou ao apartamento, onde vestiu uma roupa de banho e foi para a piscina. Enquanto ignorava os assovios excitados de uns caras que pareciam universitários e se deitava na parte mais rasa, ela pensou em como convenceria Josh a ajudá-la com os trouxas. Encostou a cabeça no degrau mais baixo e fechou os olhos, relaxando e sentindo o corpo pesar.


 - Lene? – alguém a cutucava.


 Sonolenta, abriu os olhos. Espantou-se ao ver Sirius e empertigou-se na piscina. Ainda estava na mesma posição de antes, mas sua nuca doía pelo mau jeito e seus dedos estavam franzidos pelo contato demorado com a água. Irritada, ela ergueu o óculos na cabeça e olhou para a expressão divertida do homem, que já enfiara as pernas na piscina e já tirara a camiseta.


 - Que horas são? – ela coçou os olhos com os punhos.


 - Três e vinte. – ele falou com um sorriso, e deixou-se cair dentro da piscina, jogando água para todo lado.


 Bufando, Lene limpou o rosto. Sirius surgiu da superfície com os cabelos negros todos puxados para trás e, a pele parecia mais pálida do que já era de verdade e os lábios mais avermelhados, se encolhendo como se estivesse fria, e se aproximando devagar dela.


 - Obrigada por me molhar inteira, sabe, eu já ia pedir para alguém fazer isso, de qualquer maneira. – ela atirou, desgostosa.


 - Ah, Lene, relaxa... quem vê assim até parece que você está tensa por causa de um encontro que vai decidir seu destino em Vegas.


 Ela estreitou os olhos, sorrindo torto.


 - Você é um mau-caráter, Sirius. Ouvir a conversa dos outros é realmente coisa de garoto mau.


 Ele sorriu e se aproximou o suficiente para segurá-la pelos pulsos. Lene sentiu o toque e pensou que as mãos dele estavam mais quentes que a água, já que fizeram um choque em sua pele.


 - Eu sou um garoto mau... Alguém devia me castigar – ele falou, mordendo o lábio inferior.


 Lene sorriu com os lábios, pensando, de novo, quem é que Sirius Black estava querendo provocar. Ela deixou que ele a puxasse lentamente para a parte mais funda da piscina.


 - Ok, eu tenho chicotes e algemas na minha mala – ela brincou, rindo.


 - Sabia que você era profissional. – ele riu também.


 Lene fingiu-se indignada e jogou água nele com as mãos. Sirius riu e protegeu-se com os braços por cima da cabeça enquanto ela continuava o atacando com aguadas, indo cada vez mais para trás, fazendo Marlene ter de andar para frente para atacá-lo aos risos. Foi quando... bem. Os seus pés não alcançaram o fundo. Puxando ar, ela preparou-se para ser sugada pelas águas, já apavorada. Ah, maldição, porque nunca havia seguido o conselho de Lílian e entrado para as malditas aulas de natação que o Ministério fornecia? Seu medo de se afogar era uma coisa primitiva.


 Ela sentiu os seus pulmões pedirem por oxigênio mas sabia o que ia acontecer: era impossível que voltasse à superfície. Estava entregue e... o que estava acontecendo? Que raio... que raio era aquilo que a puxava? Ah, sim, eram braços fortes. E quentes. Por um segundo se esqueceu que Sirius poderia salvá-la. Ele a levantou pela cintura até que sua cabeça e seu colo ficasse acima da água e levou-a até a parte mais rasa, onde ela sentiu o chão liso nos pés. Ah, Deus, obrigada. Depois que ela se recuperou, passando as mãos pelos cabelos nervosamente, olhou para o homem à sua frente, e arqueou as duas sobrancelhas para a expressão divertida e preocupada dele.


 - Ok. Que diabo foi isso, McKinnon?


 Lene respirou fundo mais três vezes antes de responder.


 - Isto foi eu quase morrendo.


 - Eu percebi. – ele falou, agora parecendo zangado por algum motivo.


 - Qual foi o problema? – Lene quis saber, indo para a parte realmente rasa, que só cobria até a metade de suas panturrilhas. Sirius a seguiu, é claro.


 - Problema?! Você é louca? Nós estávamos brincando numa boa e do nada eu olho pra trás e você está se fazendo de morta da água. É claro que eu achava que você estava brincando, mas... espere aí. Você não fez de propósito, fez?


 - Sinceramente, você merece um troféu por sua inteligência excepcional. – ela ironizou, sentando-se na beirada e sentindo o sangue fluir quente por suas veias.


 Oh, não, não, não. Um ato constrangedor de cada vez, por favor. Sua pressão simplesmente não podia abaixar. Sirius ficou na água, de frente para ela, ainda com aquele jeito inquisidor.


 - O que aconteceu? – ele preferiu perguntar mais delicadamente.


 Aaarght. Ele sabia ser irritante. Por outro lado, falar as coisas para ele a acalmava. E precisava se acalmar, antes que sua pressão fosse para o chão e ela tivesse que ir parar na Enfermaria, ou onde quer que os trouxas cuidam dos doentes.


 - Quando eu tinha sete anos... – ela começou a explicar com a voz calma, olhando diretamente para ele – Meus pais tinham uma casa de férias no norte da Suíça. Fomos passar o Natal lá uma vez e, bem, no Natal os lagos congelam.


 A expressão de Sirius tornou-se tão ressentida que chegou a tocá-la por dentro, de alguma forma. Os olhos cinzas, rápidos para entender, miravam os seus com um sentimento profundo, meio inexplicável. Sentindo que o equilíbrio havia voltado, Lene sorriu torto.


 - E você pode imaginar o que acontece quando uma criança levada desafia a coragem dos primos.


 - Lene...


 - Ninguém sabe disso. – ela cortou qualquer comentário – Só pra você saber.


 Ah, quando aquilo havia se transformado em lembranças da infância? Aborrecida consigo mesma, Lene levantou-se da beirada da piscina e pegou sua toalha, que estava esticada no chão ali do lado, e foi para o vestiário de trocar. Depois de tomar um banho, colocou um vestido florido de verão, solto pelo corpo, e ajeitou a bolsa nos ombros.


 Sirius estava perto da porta de saída do vestiário, sentado em uma das cadeiras brancas, ainda só de short, todo molhado. Quando ele a viu, levantou-se e saiu com ela da área da piscina sem dizer nada. Ele parecia realmente... tocado por aquilo. “Quanta besteira”, Lene estava pensando, sem se deixar emocionar, enquanto apertava o botão do elevador.


 E, como não podia deixar de ser, alguém os alcançou.


 - Senhores! – Anne saltitou em seus saltos altos.


 - Hey – Sirius sorriu para ela. Marlene fez o mesmo.


 - Ahm, me desculpe, Sirius, mas... você não pode andar molhado no saguão. Quanto mais sem camisa. – o olhar dela no corpo dele era quase assustador de tão intenso.


 Sirius olhou para Lene com cumplicidade.


 - Ah, me desculpe, Anne, mas sabe o que é? Esqueci de pegar a toalha quando saí para ir pra piscina.


 - Não se preocupe, amor, eu trouxe uma! – Lene puxou a bolsa para frente e a abriu, tirando uma toalha branca de lá de dentro.


 Sirius sorriu com todos os dentes perfeitos e brancos e Anne mordeu um lábio inferior para aquele gesto.


 - Viu? Problema resolvido! – ele falou, esticando a mão para pegar a toalha.


 Foi aí que Marlene teve uma idéia que sabia que não deveria ter tido. Uma daquelas idéias que ela tinha e sabia que se arrependeria depois, mas mesmo assim executava. Com um olhar malicioso e um sorriso torto, ela ignorou a mão pedinte de Sirius e começou ela mesma a enxugá-lo. Pela visão periférica, ela viu Anne Flinch corar e pigarrear umas licenças envergonhadas, para então sair rapidamente. Lene riu baixinho e se concentrou nas costas do homem.


 Perfeitas. Levemente bronzeadas, os músculos bem trabalhados sobressalentes e úmidos. E quentes, tão quentes. Mordeu o lábio inferior quando apertou a toalha nos ombros dele, na parte de trás, e ouviu um suspiro suspeito vir dele.


 O elevador se abriu e Sirius a puxou lá para dentro. Lene seguiu, sentindo o corpo ferver sem saber o porquê. Ele tinha aquele olhar de fogo que ela havia visto alguma vez em alguma parte daquela amizade/assanhamento que eles tinham há anos, mas ela não se lembrava quando. Aquele olhar cinza que intimidaria qualquer mulher que não fosse ela... Calmamente, sorrindo, ainda maliciosa demais para se conter, Lene esticou as mãos com a toalha e começou a secar o peitoral de Sirius, devagar, provocando-o. Como se eles tivesse acabado de tomar banho juntos.


 Às vezes suas unhas arranhavam a pele dele, e isso só servia para avisá-la da temperatura abrasante daquele corpo escultural. Suspirando, ela desceu com a toalha para a parte de baixo da barriga de Sirius, onde os músculos se revelavam mais. Alargou o sorriso torto quando o sentiu estremecer. E de repente, sem perceber, ela estava respirando ofegante, e sabia que suas bochechas estavam coradas.


 O ápice foi quando secou as entradinhas da barriga de Sirius e o viu empinar um pouco o queixo e morder o lábio, parecendo segurar-se fixamente para não revirar os olhos, e o seu corpo inteiro pareceu resfolegar.


 Então, ela percebeu que aquilo tinha que parar por ali. Qual é, ele era Sirius Black. O seu amigo desde sempre, com quem festava junto, aquele que a estava ajudando quando ela não tinha praticamente um centado ou qualquer coisa assim no bolso. Ele era aquele que a provocava e que era provocado, mas eles não podiam se deixar cair no jogo. Era loucura demais. Lene afastou-se o suficiente, até encostar no espelho, sob o olhar duro dele. Então, ele sorriu.


 - Este elevador está demorando um bocado, não?


 Lene riu baixinho, dobrando a toalha para guardá-la.


 - Você tem que apertar o botão do andar.


 Sirius fez uma careta.


 - Ahm, certo.


 Ele apertou o botão e eles ficaram em silêncio enquanto a caixa de ferro subia. Quando abriu, Sirius fez um gesto para que ela passasse em sua frente, e ela assim o fez, ainda sem falar nada. Seguiu pelo corredor sentindo o olhar dele sobre si, principalmente quando passaram por um trio de homens que saía de uma porta ali perto, rindo e conversando alto, e eles não disfarçaram quando lançaram olhares para ela.


 Lene sorriu torto enquanto esperava Sirius abrir a porta. Ele enfiou a chave no buraco, impaciente, e a surpreendeu no próximo ato. Invés de abrir a porta, Sirius segurou-a forte pelo braço direito, aproximando-se do corpo e do rosto dela consideravelmente. Seus lábios estavam a poucos centímetros de distância, e ela ainda mantinha o sorriso cínico ali, percebendo o quanto aquilo o irritava. Embora seu corpo tenha esquentado de repente, é claro, enquanto seu sangue fervia.


 - Se eu não te conhecesse, diria que você estava querendo me provocar – ele falou quase entre os dentes, com uma voz que ela achou muito sexy.


 Lene empinou um pouco o queixo, de modo que seus lábios quase se tocassem, e falou:


 - E pelo jeito eu consegui.


 - Não me subestime – ele alertou, estreitando um pouco os olhos na direção dos dela – Eu não estou acostumado com pressão.


 - Engraçado você dizer isso – ela sussurrou, ainda perto demais – Porque uma frase como “eu sou Sirius Black e não vou me apaixonar” está ecoando pela minha cabeça agora?


 - Quem está falando em se apaixonar, Marlene? – ele quis saber, sorrindo com os olhos.


 Ela ergueu uma sobrancelha.


 - Você sabe que eu sou toda pressão, assim como você é. Me expulse da sua vida ou se acostume com isso.


 Sirius sorriu torto, mas soltou o braço dela e se afastou um pouco.


 - Mas que você estava excitada, você estava.


 - Ah, poupe-me! – ela riu, entrando pela porta que ele abriu.


 Marlene ainda sentia os poros gritando por algum tipo de calmante. E tinha que ser forte. Começou a revirar a bolsa à procura de cigarros enquanto Sirius ia para a cozinha, para provavelmente já se intoxicar com cafeína. Frustrada, ela lembrou-se do último cigarro do maço que havia fumado no mesmo dia, quando os primeiros raios de sol tocavam a cidade, na sacada de um prédio longe dali, acompanhada por Victor, ambos enrolados em lençóis.


 Roeu as unhas e procurou dinheiro trouxa na carteira. Certo. Ainda tinha um pouco. Não sabia exatamente o quanto aquele pouco duraria, mas com certeza poderia comprar um maço de cigarro no marcadinho ali perto. Enfiou o dinheiro no sutiã e levantou-se, inquieta. Foi até a cozinha.


 - Sirius? – chamou, hesitante.


 Sirius estava agachado nos armários brancos, parecendo tão irritado quanto ela.


 - Pode ir comigo até o mercado ali na frente?


 Ele ergueu a cabeça para olhá-la.


 - Só se você me disser se jogou meu café fora por vingança ou não.


 Ela riu e ergueu as duas sobrancelhas.


 - Eu não tocaria nessa coisa marrom por nada na vida... Aliás, porque raios eu me vingaria de você?


 - Não sei, talvez seus ciúmes por causa da mulher fenomenal que dormiu comigo hoje...


 - Ah, certo – Lene revirou os olhos e passou as mãos pelos cabelos – Estou me mordendo de ciúmes de você, Sirius. Pode ir ao mercado ou não?


 - Posso – ele levantou-se – Mas vai ter que esperar eu tomar um banho.


 - Cinco minutos – Lene estreitou os olhos.


 - Está achando que eu sou uma mulherzinha que precisa demorar horas?


 - Você ainda está falando?


 Sirius riu e levantou-se. E, ainda rindo, passou por ela e beijou sua bochecha, muito perto dos lábios, antes de ir para a suíte e trancar a porta. Lene escorregou para o sofá, pensando se seriam horas de ligar para Lily. Ah, não. Provavelmente a amiga só começaria com o discurso “desista de encontrar Josh Miller” e a chatearia. Pensou em ligar para sua mãe também. Mas precisava de tempo para falar com ela, então descartou a possibilidade. O que precisava mesmo, era de um cigarro e de uma janela para se escorar, então poderia pensar claramente no que fazer em seguida. Até mesmo Dorcas poderia esperar.


 Hiperativa, levantou-se e foi até o barzinho, começando a fuçar nas garrafas e ver os nomes. Chivas Regal. Ballantines. José Cuervo. “Huuh, alguém investiu em alguma coisa boa por aqui...” pensou enquanto planejava o que faria com a tequila. Porque é claro que faria alguma coisa, nem que tivesse que chamar Sirius para acompanhá-la – e mesmo que a garrafa fosse inteira dele. Ele não estava... Necessitado. E Lene precisava de uma coisa assim para relaxar, por Deus. Fuçou mais um pouco e achou um caderninho preto com receitas de drinks e o slogan do hotel desenhado de prata na capa. Folheou algumas páginas e, quando sentiu-se entediada o suficiente, Sirius abriu a porta da suíte e fez com que seu perfume preenchesse instantaneamente toda a sala.


 - Só vamos ao mercado, Black – ela disse, saindo de trás do balcãozinho e indo até a mala.


 Sirius riu e não comentou. Enquanto Lene procurava pelas sandálias plataforma, avaliou o homem. Ele usava uma calça jeans escura e uma camiseta vermelha com desenhos loucos e abstratos em preto, e um tênis branco e vermelho. Os cabelos negros ainda molhados e puxados para trás.


 Suspirando, ela calçou a sandália e foi até ele, percebendo que nem naquele salto conseguia ficar mais alta.


 Sirius, no seu surto cavalheiresco, abriu a porta e fez um gesto para que ela passasse. Lene revirou os olhos enquanto ele ria.


 - O tal do café mexe mesmo com você – ela murmurou enquanto saíam.


 Já no saguão, não deixou de perceber com certa satisfação o olhar curioso e atormentado de Anne, por trás do balcão de recepção. Lene acenou, sorrindo simpática, e a moça cumprimentou-os vagamente com a cabeça.


 O sol começava a sumir quando eles chegaram à calçada. Havia gente de todo tipo para todos os lados. Sirius sorriu para um grupo de mulheres que passaram por eles, e Lene sentiu-se estranha. Quer dizer, estava fingindo ser a mulher dele. Ela passou as mãos pelos cabelos negros de novo, pensativa, e nem percebeu quando um homem loiro de ombros largos passou encarando-a tão profundamente que fez Sirius pigarrear. Ela riu enquanto atravessavam a rua.


 - Quer dizer que agora você afasta os homens de mim?


 - Os que eu puder, sim.


 Lene sorriu torto.


 - Você está fingindo ser a minha mulher, é por isso.


 - Claro que é.


 - Não está pensando que eu estou... Atraído por você, está?


 - Sirius, querido... Eu só quero comprar uns cigarros – ela virou a cabeça para olhá-los enquanto empurrava a porta de vidro do mercado.


 Outra atendente loura de roupas curtas. Aquilo era um padrão? Onde estavam as morenas? Lene respondeu o sorriso que ela deu enquanto dizia “Bem-vindos ao Green Alexis” e se apressou em escolher um maço de cigarros atrás dela, no balcão. Sirius sumiu entre as prateleiras e quando voltou Lene já havia pagado e o esperava do lado de fora.


 Ela viu quando a mulher inclinou-se de forma insinuante no balcão e segurou as mãos dele para receber o dinheiro, e também viu quando ela foi dar o troco e passou um papelzinho amarelo, provavelmente com o numero do telefone, para ele. Sirius saiu sorrindo meio debilmente, na opinião dela.


 - Essas mulheres do comércio em Vegas são meio fáceis – ela provocou, parando perto do meio-fio para esperar o sinal fechar.


 - E isso é realmente bom – ele completou, sorrindo com todos os dentes.


-


 Lene ajeitou os seios mais uma vez no vestido preto, no espelho do elevador. “O senhor Josh Miller já está aqui, devo avisar o senhor Black ou a senhora?” a vozinha enjoativamente doce de Anne ainda aterrorizava sua mente. Inesperadamente, Marlene sentiu-se realmente calma. Sabia como lidar com ele. Algumas insinuações físicas e psicológicas, umas conversas quentes, e ele cairia no seu papo.


 Saiu do elevador e atravessou o saguão apressada, fugindo da figura sempre presente de Anne ali pelo fundo. Lá estava ele, olhando-a com curiosidade e satisfação, e ofereceu o braço quando ela chegou perto. Ele usava um terno cinza escuro que o deixava impressionante.


 - Está linda, Marlene – ele sorriu.


 Lene pegou o braço dele e sorriu, antes de beijar sua bochecha e responder:


 - Você também não está nada mau, Josh.


 - Isso é realmente bom de ouvir de uma mulher como você.


 - Uma mulher necessitada? – ela sorriu torto, acompanhando-o pela saída.


 - Uma maravilhosa mulher necessitada.


 - Huh... então há um jogo de interesses – ela riu, jogando os cabelos para trás. Eles estavam lisos como uma cortina até a metade de suas costas.


 - Sempre houve um, Lene. – ele disse.


 Lene sorriu, tentando ignorar o aviso que a sua própria mente lhe lançava agora. Não era saudável pedir ajuda daquela maneira – Lily já havia dito isso. E a maioria dos conselhos de Lílian davam certo. Bem, tinha alguém com quem poderia falar, alguém que a entenderia perfeitamente e não acusaria suas decisões. Ela sorriu com os lábios para Josh quando este abriu a porta do Corolla, pensando em que hora daquela noite poderia puxar o celular para ligar para Dorcas Meadowes.











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n.a: oi galerinha :) tô passando rapidex - mistura de rápido com sedex, ou seja, LIGEIRAMENTE! (eu sei, não colou, mas deixa eu ser feliz) - pra dizer MUUUUUITO OBRIGADA por todos os comentários, eu amei amei amei cada um deles e adorei ouvir as opiniões e os chutes sobre o que vai acontecer.. não vai dar tempo de responder todo mundo mas eu juro que no próximo eu vou tentar! hm, esqueci de dizer isso no capítulo passado mas considerem-se pessoas com muita sorte - ou muito azar? - bem, eu salvo TUDO no meu precioso pen drive e o rascunho dessa fic inteira estava salvo lá tambem, e digamos que o meu pen drive não era um dos objetos mais bem cuidados pela srta. Nah. ele tomou uns tombos ridiculamente feios e deu pau total. eu quase chorei, acreditem. quer dizer, eu não podia perder cem páginas de rascunho, que tipo de idiota eu sou? hm, os carinhas da informática são gênios e deveriam receber sei lá, um prêmio por salvar a vida dos outros. porque eles salvaram a minha. tá, exagerei TOTAL, não é como se eles estivessem salvando vidas na África o que eu apoiaria muito mais do que ficar salvando arquivos de pen drives de garotinhas estabanadas, mas eu fiquei realmente agradecida. e só pra ser mais tagarela, eu ainda falo PORQUE eu estou com tanta pressa e estou postando esse capítulo imenso e essa NA assustadora hoje: amanhã eu vou viajar e só volto ano que vem. HAHAHA tá, quem não deu pelo menos um sorrisinho debochado com essa piadinha idiota é meio mau-humorado, huh. então vocês só vão ter UIV de novo o quê? lá pela primeira semana de 2010? assustador, huh? até porque vocês não podem mais viver sem UIV, fica a dica. EHSAUHEIUSA quem merece uma autora que escreve uma coisa desse tamanho? vocês deveriam me linchar da f&b. até porque eu, ser de inteligência suprema, esqueci da pressa que estava e estou sufocando vocês de informações. falei.
Feliz Natal e Feliz Ano Novo pra todos vocêeeeeeeees, meus lindos! :D aproveitem muito a virada e as festas e me contem como foi. só não vão pra Vegas sem me chamar, por favor. eu poderia trombar com o Sirius por lá *--------------------*
Um beeeijo, Nah Black.

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