primeiro.







1
 

 


 Marlene bateu o salto do sapato prata com ritmo enquanto esperava, a testa colada na parede do corredor. Odiava esperar. Deu uma tragada no cigarro e soltou a fumaça devagar, sentindo os ombros relaxarem enquanto observava a nuvem cinzenta espiralar entre a parede e os seus olhos até sumir. Virou-se para encostar a parte de trás do corpo na parede, e tornou a dar uma tragada, tentando se distrair com a decoração moderna do corredor do hotel.


 Então, antes que pudesse suspirar de novo de impaciência, ouviu as vozes e risos ficarem mais altos do outro lado da porta bem ornamentada. Em segundos ela se abriu e deixou passar duas japonesas magrelas de saltos gigantes e roupas curtíssimas, de aparência idêntica, não fosse pelo cabelo – o de uma estava amarrado em dois rabos de cavalo cumpridos, cada um de um lado da cabeça, e o da outra estava solto e ia até os ombros. Lene ergueu uma sobrancelha para as expressões de felicidade das gêmeas. Elas ignoraram a sua presença por ali e ficaram de costas para ela para se despedir do homem que estava na porta, apenas com uma toalha na cintura.


 - Senhor Black – a dos rabos de cavalo falou – Tem nosso number.


 - É – a outra concordou, cheia de sorrisos – Se não tiver compromisso pra esta noite, é só ligar.


 - Nós com certeza viremos aqui.


 Ele sorriu torto e coçou a barba.


 - Pode deixar, garotas.


 - Ok, então, até a próxima!


 E as duas saíram pelo corredor, acenando e fazendo as sainhas de prega balançarem, mostrando propositalmente a polpa da bunda. Marlene segurou-se para não revirar os olhos e deu uma tragada no cigarro enquanto voltava o olhar para o homem na porta.


 Ele estava com os cabelos negros desgrenhados e ela tinha certeza que não tinha roupa de baixo da toalha branca do hotel que ele havia amarrado na cintura. Admirou o peitoral musculoso dele por um instante antes de soltar a fumaça pelos lábios, no espaço entre eles, quando tornou a encontrar seus olhos azuis.


 - Las Vegas deve ser o paraíso pra alguém como você – ela finalmente disse, com um sorriso cínico.


 - Ora, ora, ora – ele se encostou na porta folgadamente – O sujo falando do mal lavado. Aliás, sabia que é proibido fumar no corredor, McKinnon?


 - E desde quando eu ligo?


 - Desde que eu não suporto fumantes.


 - Ah, claro. – ela deu uma risadinha.


 - É verdade – ele ergueu as duas sobrancelhas juntas.


 Marlene, por um segundo, considerou a hipótese de gargalhar. Afinal, ela pensava que Sirius Black fosse o maior maconhado de toda a Europa.


 - Está falando sério?


 - Não gosto... Do cheiro.


 - É pra isso que servem feitiços, querido – ela disse, e, para provocar, deu uma tragada e dois passos para frente, soltando a fumaça perto do rosto dele.


 Sirius estreitou os olhos, repentinamente sério, e cruzou os braços. Marlene tentou não prestar atenção nos músculos nos ombros dele.


 - Mas não vim aqui para lhe falar sobre meus maus hábitos, claro. – ela sorriu, de repente doce, e passou por ele para entrar no apartamento sem ser convidada a fazer isso.


 Ela procurou um cinzeiro na mesinha e o achou, limpinho, e esfregou a ponta da bituca do cigarro ali. Ouviu Sirius fechar a porta enquanto avaliava as dimensões do apartamento em que havia entrado. O luxo era indescritível. Havia um carpete branco e fofo que subia cinco centímetros no chão, alguns sofás escuros muito fofos também, e um barzinho com um estoque recentemente abastecido, pelo que ela percebeu. Havia também um som com caixas enormes e uma vidraça que servia de porta para a sacada. Umas portas aqui e ali indicavam os outros cômodos.


 - Juro que eu fiquei surpreso quando te vi na minha porta – ele disse, referindo-se à vez em que ela batera na porta pela primeira vez e ele estava relativamente ocupado demais com umas japonesas, e a mandara esperar lá fora – Mas é como dizem... Se você é bom, elas sempre voltam.


 - Como você é patético, Black – ela jogou a bolsa no sofá, e foi até o barzinho. – Eu preciso da sua ajuda.


 - Oh, como nos tempos de Hogwarts! – ele abriu um sorriso irônico e aproximou-se do barzinho também, sentando-se em um dos bancos altos de madeira.


 - Com a diferença que eu não vou beijar você no fim do dia – ela sorriu torto.


 - Isso é ruim – Sirius fez uma careta – Mas então, qual é o problema?


 Marlene encontrou um copo de whisky e serviu dois dedos com Blue Label, pegou gelo no frigobar e deu um gole. Saboreou o sabor amargo enquanto percebia as várias expressões do homem à sua frente.


 - Não tente adivinhar – ela falou – Não é algo que eu já tenha feito.


 - Uau – ele provocou – Então, o que diabo você fez dessa vez?


 - Bem, digamos que... Eu confiei muito em um Full House.


 Sirius ergueu as duas sobrancelhas de novo, reprimindo um sorriso nos lábios vermelhos. Os olhos dele brilharam quando ele terminou de deduzir:


 - Está falida?


 Lene deu de ombros enquanto dava outro golico de whisky.


 - Qual é, Marlene. – ele passou as mãos nos cabelos de uma maneira folgada – Eu te conheço muito bem pra saber que não viria atrás de mim se estivesse apenas zerada de dinheiro trouxa. Você pode estalar os dedos e conseguir algum. Qual é o real problema?


 Ela mordeu o lábio inferior, sorrindo torto como uma criança que fez arte. Estava morrendo de vontade de tirar aquele vestido de festa e dormir até dizer chega.


 - Bem... Eu não gastei só o que eu tinha.


 Ele sorriu, entendendo.


 - Huh, você está devendo pra um desses sacanas trouxas. Acertei?


 - É, estou.


 - Certo. Isso não é problema. É só você trocar o dinheiro e pagar. O que há de complicado nisso?


 - Acontece que... Não é uma quantidade que se possa trocar em cinco minutos, Sirius. – foi a vez dela passar as mãos pelos cabelos negros e longos.


 - E quanto é?


 - Cinqüenta.


 Sirius havia pegado o drink e engasgou no primeiro gole quando ouviu.


  - Você está brincando, certo?


  - Não! – ela gemeu – Como eu poderia imaginar que um canalha filho de uma puta de praça consegue uma Quadra na mão em plena Vegas?


  - Lene. Você está devendo cinqüenta mil dólares por causa do pôquer?


  - Eu não jogo com crianças, Sirius. – ela deu um sorrisinho – Isso foi o mínimo que eu poderia ter apostado fiado.


  - Você só pode estar de brincadeira. Quem é o cara?


  Marlene surpirou.


  - John Ambruzzi.


  Sirius riu alto.


  - Cara, você está tão ferrada!


  - Eu sei! – ela bateu o punho no balcão – Por isso eu vim atrás de você. Primeiro, estou sem lugar onde dormir, porque tinha pagado até ontem a hospedagem, e eles praticamente me expulsaram quando eu disse que precisaria de um prazo para pagar.


  A expressão de Sirius se suavizou, e ele a fitou, descrente.


  - Você está vindo aqui pedir para ficar comigo no meu quarto em Vegas?


  - Eu já pensei em tudo – ela explicou calmamente – Eu só vou precisar de um lugar para dormir e tomar um banho, por uma semana, mais ou menos, até que eu consiga o dinheiro. Você quase não vai me ver e eu não vou atrapalhar as suas noitadas.


  - Lene, não é que eu não queira te ajud...


  - Eu sei que não, docinho. É mais como se você não quisesse deixar de aproveitar suas férias pervertidas. Mas é como eu disse, eu vou ser um fantasma pra você, ok?


  A testa de Sirius franziu um pouco enquanto ele avaliava a idéia.


  - Como você sabia que eu estava aqui? – ele quis saber.


  - Ahm, digamos que é preciso... Se informar. – Sirius ergueu uma sobrancelha, incrédulo, e Lene sorriu, entregando: - Eu liguei pra Lily depois que fui despachada, e ela me disse sobre você.


  - Da próxima vez que eu vier, juro que vou fechar o bico pro James.


  - Hei, está tudo bem, eu me mando – ela deu a volta no balcão do barzinho, mas a caminho do sofá para buscar a sua bolsa sentiu uma mão forte segurar seu pulso.


  Ela virou-se e encontrou aquela cara de cachorro que caiu da mudança bem respectiva de Sirius.


  - Fica. Eu me acostumo com fantasmas.


  Lene riu e sentiu as bochechas arderem.


  - Ótimo. Eu fico com o sofá, mesmo. Mas eu preciso urgentemente de um...


  - Banho – ele falou, dando uma boa olhada de cima a baixo na mulher.


  Ela deu uma avaliada em si mesma, constatando que não estava tão mal assim pra ele ter percebido. O vestido preto decotado e curto estava limpo, e os sapatos de salto prata machucavam seus pés, mas não havia nada realmente... oh, merda. Ela passou as mãos nos cabelos, lembrando-se da maquiagem escura que havia produzido antes de sair do apartamento no outro prédio, na noite passada.


  - Eu não estou tão má assim – ela fez um muxoxo de desagrado, fazendo Sirius rir.


  - Claro que não, querida. Onde estão as suas coisas?


  - Lá embaixo – ela disse – Tem uma mulherzinha loira lá que não acreditou muito que eu era sua esposa, então não deixou que eu trouxesse a bagagem, mas... nada que um suborno no cara que leva o carrinho pra descobrir o número do quarto.


  - Eu nem ouso pensar no que você ofereceu a ele.


  - Sirius Black, que mente poluída. – ela riu.


  Sirius ligou para alguém levar as coisas de Lene enquanto ela tomava banho. Ela sentiu a água quente em sua pele e pensou que tivera sorte na última jogada da noite. Que diabos, azar logo na primeira rodada de apostas com um jogador de alto nível. Ela já havia ouvido falar das façanhas de Ambruzzi no pôquer, mas não imaginava que ele pudesse ser tão filha da mãe. Desgraçado, ela xingava, a água caindo em suas costas e fazendo a tensão se dissipar dali.


  Quando saiu do banheiro, com uma toalha branca amarrada no corpo, suas malas estavam na sala e havia um travesseiro fofo e um cobertor no sofá. Sirius devia estar no quarto de porta fechada ali perto. Marlene foi até lá e deu duas batidinhas na porta antes de enfiar a cabeça ali.


  - Sirius?


  Ele apareceu, erguendo o que faltava de um short de dormir.


  - Sim?


  - Obrigada. – ela disse, e fechou a porta, antes que ele dissesse algo. Não era exatamente do seu feitio ser simpática demais com ele. 


  Marlene se trocou e caiu pesadamente no sofá fofo, pensando que aquela podia ser sua cama por anos, de tão macia e acolhedora e... Nem notou quando o sono veio, sem sonhos, e quando acordou, teve a sensação de ter fechado os olhos por apenas alguns segundos.


 



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na: huum, pra mim esse foi o capítulo/prólogo mais pra informar a situação da Lene, mesmo. então isso é tipo um aviso de que os próximos serão maiores e mais emocionantes :B e ai gente, eu tô tão agradecida por TODOS os comentários! tomara que eu atinja (com j ou g? cara, isso me ferrou total no enem) as expectativas de vocês HAH e tomara qe gostem mesmo e continuem comentando! :D todos lindos, e no próx. capítulo respondo! beeeijo meus amores, Nah Black.

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