Quando as lembranças são clara



 


 



 


Cap. 14 - Quando as lembranças são claras...


 


Os risos entusiasmados tomavam conta da sala. Harry se encontrava sentado no chão sobre o tapete felpudo cor marfim, sem os sapatos, avaliando com Will um álbum de figurinhas com jogadores de futebol, o qual o garoto tratava como se fosse um tesouro valioso. Tiago se juntou aos dois, mas preferiu apenas ouvir a conversa. Já Lilian estava na cozinha preparando um jantar perfeito para seu menino grande.


_Não sei se conseguirei completar o álbum. _ dizia Will entusiasmado. _ Mas se eu conseguisse todos os garotos da escola me respeitariam.


Tiago e Harry não conterão a risada, mas isso não intimidou o homenzinho de 10 anos, que continuou:


_Você me ajudaria Harry? Quero dizer, me ajudaria a conseguir as figurinhas que faltam?


_Claro! Na sua idade eu também tive o meu álbum... Não me lembro se completei..._ ele franziu o cenho tentando se lembrar, no entanto foi vencido pela sua memória. _ Mas, enfim, eu ajudo sim, é só você me falar onde comprar.


Neste momento, Lilian retornou ao recinto anunciando:


_Rapazes, o jantar está na mesa! Harry chame sua irmã, sim?


Apenas naquele momento ele reparou que a irmã não estava por perto. Sem demora ele subiu o lance de escadas, foi apressadamente até o corredor e parou em frente à porta dela. Deu três batidas e aguardou. Sua tentativa foi respondida pelo silêncio. Tentou mais uma vez, dessa vez chamando pelo nome dela uma vez. Novamente, obteve o silêncio. “Deve estar dormindo”, ele pensou.


Com cautela, ele virou a maçaneta da porta, abrindo-a devagar. Aos poucos, o quarto foi se revelando e, institivamente, ele olhou para a cama dela: estava vazia. Entrou no quarto sentindo um temor dentro de si, até que se sentiu gelar quando voltou seu olhar para o chão. Inicialmente ele não teve reação, até que seus músculos voltaram a responder e ele foi à passos largos até a irmã. Tocava seu rosto, buscando sinal de vida, enquanto gritava pedindo ajuda. Levantou-a devagar, mas mantendo-se ajoelhado, aninhando-a em seus braços. Continuava a gritar desesperado, até que ouviu passos atrás de si e uma mão pesada sobre seu ombro. Ao longe, ouvia Tiago pedindo à ele que se acalmasse, ouvia Lílian ligando para o médico descontroladamente, ouvia Will chorando, assustado. Mas não ouvia qualquer sinal de vida de sua irmã. Aproximou seu rosto dos lábios dela e, como um sopro de vida sobre si mesmo, ele sentiu o ar passando fraco e lentamente através deles. Era como se tivesse voltado à realidade. Ergueu-se, mantendo-a aninhada em seus braços, e a deitou com cuidado na cama, em seguida sentou-se ao lado dela.


_Os médicos vão chegar daqui a pouco. _ dizia Lílian, sentando-se ao lado do filho na cama. _Preciso que você se acalme Harry.


Harry enxugou as lágrimas com raiva e disse:


_Não consigo entender como vocês estão tão calmos! O QUE ESTÁ ACONTECENDO? _ ele elevou a voz, nervoso, seu olhar furioso indo da mãe para o pai.


_Vamos te explicar mais tarde. Agora se acalme._ disse Tiago.


Mas os dois não sabiam mentir. Tiago mantinha os braços cruzados e andava de um lado para o outro no quarto, enquanto Lilian segurava a mão direita da filha fortemente.


Will, que havia ido até o andar abaixo alegando ter ouvido um barulho estranho, retornava neste momento, um pouco sem folego devido à corrida:


_O médico chegou. _ anunciou, levando as mãozinhas ao peito.


 


 


Pareciam minutos intermináveis para Harry. Sentado no sofá da sala, ele aguardava ansioso o médico terminar de examinar sua irmã. Milhares de coisas passavam pela sua cabeça naquele momento, e a mais assustadora era a possibilidade de Hermione estar grávida. Seria uma razão para um casamento tão repentino. Mas, se isso fosse verdade, por que ela não contou antes? Medo dos seus pais? Ou, talvez, eles já soubessem disso e não queriam contar para ele, isso explicaria a tranquilidade deles naquele momento.


Seus pensamentos foram interrompidos pelos passos na escada. Deparou-se com o médico, sendo seguido pelos seus pais. Aguardou que o mesmo fosse embora e foi logo interrogando:


_O que está acontecendo com ela?


Lílian respondeu sem rodeios:


_Hermione tem tido esses desmaios há um ano, mais ou menos. _ ela interrompeu a fala, enquanto caminhava até o sofá de frente para aquele onde o rapaz se encontrava aflito. Continuou, em seguida. _ Já procuramos os mais diversos médicos, ela já passou pelos mais diversos exames, mas nada é detectado!


_Até que levantaram a hipótese de ser cansaço. _ foi a vez de Tiago dar explicações. Ele acompanhou a esposa, sentando-se ao lado dela _ Stress físico e mental, fraqueza. Por isso, ela ganhou uma licença médica de 20 dias e, após essa licença, Draco concedeu um mês de férias à ela. Melhorou um pouco, mas ela ainda reclamava de fortes dores de cabeça. No entanto, os desmaios pararam.


Um silêncio incômodo se seguiu. Harry o quebrou indagando:


_Por que ninguém me contou nada?


Seus pais trocaram olhares exasperados e iam responder, quando uma voz feminina interferiu:


_Não falaram por que eu não deixei.


Harry se colocou de pé de imediato e foi correndo até a escada, para ajudar Hermione à descer. Mas ela recusou a ajuda:


_Não sou deficiente Harry. _ terminou o lance de escadas, ficando frente a frente com ele. _ Eu preferi não alertar você para algo que, aparentemente, não tem definição. Não posso dizer que é uma doença. Não sei o que é. Alertar você seria uma preocupação à mais.


_Uma preocupação a mais? _ ele estava perplexo. _ Eu estive em diversos países, na presença de vários médicos importantes, renomados! Se eu estivesse sabendo poderia...


_Poderia o que? _ ela elevou o tom de voz, nervosa._ Descrever meu quadro para eles? Desmaios? O que eles iriam supor, sem ao menos me examinar? Harry, eu não tenho nada aparentemente, é apenas cansaço!


Dando as costas ao irmão, ela subiu novamente as escadas, até que parou topo da mesma e voltou seu olhar para ele.


_Desculpe, não queria atrapalhar você em suas viagens. Você sempre enviou e-mails com fotos em que estava tão feliz! Eu não tinha o direito de atrapalhar essa felicidade!


Pela primeira vez, em dez anos, Harry se arrependeu dos e-mails que enviava diariamente aos pais.


Naquela noite, ele não dormiu direito. Um dos motivos era a falta de costume com seu “novo quarto”. Afinal, após sua partida, Will havia tomado posse do aposento (com a plena autorização do irmão mais velho, claro) e transformado as antigas paredes neutras em um universo azul marinho, com estrelas e ônibus espaciais. No teto, um avião - réplica fiel ao famoso 14-Bis - pendia pelo lustre. Will tinha uma adoração por aeromodelismo e tudo levava a crer que seria o único da família Potter a não seguir uma carreira na área da informática.


O segundo motivo que roubava seu sono era Hermione. Ele achou até irônico, afinal, esse motivo o perseguia há anos. Naquele momento, no entanto, uma preocupação incômoda o envolvia. A história dos desmaios estava mal contada e ele não aceitou as explicações que lhe foram dadas. Estava decidido à correr atrás de uma resposta. Orou na calada da noite pela mulher que roubava seu fôlego com apenas um olhar. Orou por si mesmo, para que não o enlouquecesse.


No dia seguinte, no entanto, mal encontrou a jovem em casa, o que o deixou a vontade para colocar seu plano em prática. Arrumou a “cama” (uma cama retrátil, que ficava de baixo da cama de Will), tomou uma ducha rápida, vestiu uma roupa lima e dirigiu-se à porta, mas algo chamou sua atenção, fazendo o rapaz interromper seu caminho. Ao lado da porta do guarda-roupa do irmão mais novo, se encontrava um smoking muito bem alinhado em um cabide branco. Seu coração disparou ao ler um bilhete que pendia do bolso do mesmo: “Para meu homenzinho preferido! O pajem mais lindo do mundo! Ass: Hermione”.


Will seria o pajem do casamento da irmã. Casamento. Nunca essa palavra lhe assombrou tanto como naquele momento. Sentou-se novamente, dessa vez na cama do futuro pajem. “Ela vai se casar!”, pensou em desespero.


 


E para seu desespero maior, o fim de semana seguinte chegou em um piscar de olhos. Era como se alguém tivesse acionado um comando “automático” dentro de si, fazendo-o executar suas tarefas na última semana sem ao menos perceber, entre estas tarefas estava escolher o próprio terno para o casamento. Hermione fez questão de acompanha-lo durante a compra e palpitou na escolha, alegando que os olhos dele precisavam ser destacados.


Para seu desespero maior, aquela manhã de sábado parecia ter sido planejada para uma comemoração: a neve dava um charme à cidade, mas o sol timidamente brilhava entre os montes distantes. É claro que esse cenário agradou mais ainda à Hermione que se deu o direito de permanecer na cama por mais algumas horas naquele dia especial. Seu descanso só foi interrompido por Will, que invadiu seu quarto com um entusiasmo anormal.


_Acorda Mione! _ ele pulou na cama dela. _Acorda logo!


_Eii! Fica calmo! _ ela respondeu rindo. _ O casamento é só à noite!


Ela se sentou, recostada na cabeceira da cama, trazendo o irmãozinho para perto de si, sentando-o no seu colo.


_Eu não quero ir ao salão. _ ele disse, emburrado.


_Posso saber por quê?


_É coisa de mulherzinha!


Hermione ficou boquiaberta, mas não segurou a gargalhada. Após recuperar o fôlego, ela argumentou:


_Posso saber quem foi que te disse isso?


_O Harry!


_Ah, eu sabia! Olha, salão é para homens bonitos, talvez por isso ele tenha dito isso para você.


_Está me chamando de feio?


Já fazia alguns minutos que Harry acompanhava a conversa dos dois, apoiado no batente da porta do quarto. Segurava uma bandeja com frutas, biscoitos, torradas...


_Suponho que isto seja para mim. _ ela apontou para a bandeja.


_Ah sim, a mamãe pediu que trouxesse para você. Mas, para que você se deleitar, o rapazinho aí terá que se afastar um pouco.


Will entendeu o recado e saiu da cama da irmã, sem antes dar um beijo no rosto dela e se despedir dizendo que iria contar ao pai o que conversaram. Harry observou o irmão saindo e então adentrou no quarto. Apoiou a mesa no colo da irmã com cuidado. Hermione percebeu a tensão do irmão quando se aproximou dela e isso a deixou preocupada. Quando ele ia se afastando, ela segurou sua mão, fazendo parar de imediato:


_Está tudo bem? _ Perguntou, sondando-o com o olhar.


_Sim, por que não estaria?


Ela sorriu compreensiva, liberando a mão dele.


_Eu estou um pouco nervosa. _ ela dizia, enquanto passava manteiga na torrada. _ Minha vida vai mudar completamente em poucas horas, isso é um pouco assustador. _ Deu uma mordida na torrada e prosseguiu. _ Que bom que você estará ao me lado Harry! Sabe, eu cheguei a pensar em adiar o casamento caso você não viesse!


“E em cancelar?” ele pensou.


_Mas, graças a Deus, você pôde vir. _ ela continuou. _ Não seria a mesma coisa, sem você.


Harry ficou em silêncio. Continuava de pé, ao lado da cama dela. Percebeu que precisava dizer algo:


_Você não vai para um Spa? Ter o famoso “Dia da Noiva”?


_Não, eu preferi me arrumar em casa mesmo. A cabelereira e a maquiadora virão até aqui._ Deu uma olhada rápida no relógio de cabeceira, enquanto tomava um gole do suco de uva. _ Aliás, acho que já está na hora de tomar um longo banho!


_Vou deixa-la sozinha então.


Antes de sair, ele depositou um beijo na testa dela. Tentou ignorar a embriaguez que o dominava através do perfume dela.


Hermione observou o irmão sair. Sentia que algo estava errado desde o último desmaio. Algo havia acontecido antes do desmaio, algo que a incomodava, mas ela simplesmente não se lembrava! Estava agoniada desde aquele dia, sua mente estava uma bagunça!


Tentava não pensar muito no assunto para não enlouquecer. Por isso, assim que terminou o café da manhã, foi logo tomar um longo banho.


Abriu a água do chuveiro no nível máximo, mantendo-a bem quente. Organizou com carinho o shampoo, condicionador, sabonete líquido, esponja. Seu coração disparava no peito, estava tão ansiosa! Imaginava se tudo sairia conforme fora planejado durante meses: a decoração da igreja, as flores, o vestido, o buquê, o Buffet! E Draco? Como ele estaria naquele momento? Estaria tão nervoso quanto ela estava? Conhecendo seu noivo tão bem como supunha, ele estaria naquele momento tranquilo ao extremo. Já tinha visto Draco passar por situações terríveis, transmitindo uma tranquilidade invejável. Na noite anterior, ele enviou uma mensagem à ela, declarando que a amava profundamente e estava ansioso para o casamento e, principalmente para  a lua de mel. Aliás, este era um outro detalhe que também a preocupava bastante. Durante os dez anos de namoro, o rapaz foi um príncipe, respeitando-a quanto a decisão de se manter virgem até o casamento. Algumas vezes, dúvidas a assombravam, afinal – e ela sabia muito bem – a virgindade mantinha-se apenas no lado feminino da relação.


Hermione fechou os olhos, deixando a água quente correr da cabeça até a ponta de seus pés. Por alguns segundos, sua mente ficou limpa. Não pensou em nada. Era como alguém tivesse passado uma borracha em seus pensamentos. Sentiu-se relaxada como há muito tempo não se sentia. Pena que essa calmaria durou pouco.


Um turbilhão de pensamentos a dominou, como uma onda em plena tempestade. A intensidade foi tamanha, que a fez perder o equilíbrio ao abrir os olhos. Tentou se segurar no box, mas a queda foi inevitável, fazendo-a bater a cabeça na parede atrás de si. Com cuidado, Hermione se sentou no chão do banheiro, dobrando as pernas e repousando a cabeça entre elas. As mãos pressionavam o local da pancada. Tentou manter a calma, estava lúcida e isso era um excelente sinal. Com o maior cuidado do mundo, ela ergueu a cabeça e, conforme, previra, ficou tonta. Mas seu olhar perdeu o foco por um momento. Novamente sua mente foi tomada de... Lembranças. Beijos... Carinhos... Entre ela e... “Harry!”, sussurrou. Lembrou-se das declarações, das brigas. Fragmentos de imagens dos dois povoavam sua mente confusa e ela tentava refrear. Era como se uma represa tivesse explodido e dominado cada milímetro de seus pensamentos. A voz de Harry dominava seus pensamentos com frases desconexas...


“Ela me disse para parar de viver em função de você... Mas eu simplesmente não consigo fazer isso.” 


“Por confiar em mim para protegê-la dos trovões. Deles, eu vou sempre te proteger.”


“Eu não estou feliz!... Hermione olhe para mim!”


Hermione começou a chorar compulsivamente. Colocou-se de pé rapidamente, mantendo os olhos fechados. Deixou a água correr pelo seu rosto, até que sentiu um sabor amargo na sua boca. Abriu os olhos rapidamente e deparou-se com o sangue em suas mãos e descendo pelo ralo, misturado à água. Em desespero, ela saiu do local e foi até a pia. Curvou a cabeça sobre a mesma e ficou observando o sangue manchar o branco da pia. Mais uma vez a voz de Harry invadiu sua cabeça, era como se ele estivesse parado ao lado dela, sussurrando ao pé do seu ouvido...


“POR QUE EU TE AMO!” em seguida, ouviu a própria voz dizendo... “Eu te amo... Harry eu te amo...”


O desespero tomava conta de Hermione. Segurava a borda da pia fortemente, como se temesse cair caso soltasse. Finalmente se lembrou dos beijos, lembrou-se de cada beijo que trocaram. Principalmente, lembrou-se do quanto o amava! Do quanto seu coração disparava a cada olhar dele, a cada toque, a cada beijo!


Ergueu seu olhar para o espelho à sua frente e se espantou: estava muito pálida, mas com o rosto manchado de sangue. Voltou seu olhar para a pia, depois para a mão direita, onde a aliança de noivado se encontrava naquele momento banhada de sangue. Noivado. “Meu Deus! Eu vou me casar hoje!”




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Ei pessoas, pessoinhas, seres humanos em geral (rs)



Mais um cap. On! Capitúlo importantíssimo, diga-se de passagem...



Comentem muito!!



bjs!

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Comentários (3)

  • matthew malfoy

    atualize por favorrr. abraços

    2011-12-20
  • Amanda A.

    AH MEU DEUS, QUE CAP DO CARAMBA. EU TIVE UM SURTO QUANDO VÍ QUE VOCÊ ATUALIZOU. NÃO DEMORE MAIS. AIIN. *-*

    2011-11-28
  • João Ricardo

    Capitulo excelente!!! Por favor, não demore mais para postar! Querendo mto saber o q vai rolar!!! Bjão

    2011-11-27
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