Quando fugir é o melhor...



Lilian amamentava seu bebê recém nascido enquanto ouvia atentamente os murmúrios vindos do andar de baixo da casa onde estava. O dia estava chuvoso, o que combinava perfeitamente com o momento que estavam passando. Ela olhava para o bebê em seus braços, com carinho, e sorria para ele.


_Opa!_ ela disse quando a pequena Hermione engasgou._ Não quer mais? Ok. Não vou insistir.


Batidas na porta a alertaram e ela pediu para que a pessoa entrasse. Sua irmã, Petúnia, entrou timidamente no quarto e disse:


_ Estamos indo para o enterro, você não vem?


_Não, está muito frio e Hermione está um pouco resfriada.


_Tem certeza de que vai ficar bem?


Lilian balançou a cabeça positivamente e pediu para que a irmã fosse logo, senão iria chegar atrasada.


Assim que percebeu que finalmente estava sozinha, ela colocou Hermione no berço e foi para a janela observar a chuva. Tinha ficado viúva aos 24 anos de idade, com apenas um ano de casamento e com uma filha recém nascida para criar. Seus olhos se encheram de lágrimas, mas ela não as deixou rolar. Agüentou firme a dor, pela sua filha.


*-*-*-*-


Do outro lado da cidade, Tiago tinha acabado de dar mamadeira para seu filho Harry e agora tentava organizar suas tarefas. No outro dia voltaria ao trabalho depois de uma semana de licença devido a morte da esposa. Harry tinha apenas cinco meses e nem tinha conhecido a mãe, que morreu devido a uma infecção hospitalar, adquirida logo após o parto.


Tiago tentava não pensar na sua atual situação, procurava fugir da realidade que estava ali, há poucos centímetros de distância, deitado em um berço escolhido com muito amor por ele e sua falecida esposa. Desde a morte dela, ele tinha se isolado de todos, inclusive de sua família. Não atendia as ligações, não respondia cartas e nem atendia a porta. Decidiu que seria assim, dali para frente: apenas ele e Harry.


-*-*-*-*-*


Um mês havia se passado desde a morte do seu marido, e Lilian tentava voltar à normalidade, mas estava difícil. Sua irmã, Petúnia, havia se mudado para o Canadá, por causa do trabalho de seu marido, Valter. A família de seu marido não a procurava mais, ela nem entendia o porquê, mas como nunca gostou muito deles também, não insistiu em manter os laços.


_Vamos querida, vamos dar uma volta no parque._ Ela disse, colocando Hermione no carrinho.


Lilian havia recebido uma herança de seu marido, não era muita coisa, mas era o suficiente para ela e sua filha. Além disso, ela tinha um cargo excelente em uma firma de advocacia. Tirou aquele dia de folga a toa, não estava doente como havia dito, mas sim sem rumo. Percebeu que sua vida havia se resumido em folhas e papinhas. "Sonho americano... Não sei quem inventou isso" ela disse a si mesma, enquanto caminhava pelo Central Park.


_Mamãe! Papai! Olhem só o que eu achei!_ gritava uma menininha loira, segurando um grilo.


Os pais, que estavam fazendo um piquenique, correram até ela e explicaram o que era aquilo. Um aperto no peito fez Lilian querer ir embora imediatamente quando viu que o sonho de uma família unida e feliz havia acabado de forma terrível. Virou-se de imediato, querendo sair correndo dali, quando trombou em algo... Ou alguém.


_Me desculpe!_ ela disse ao homem à sua frente.


Tiago, que também observava a mesma cena, desviou seu olhar para a mulher à sua frente, sem demonstrar reação alguma.


_Tudo bem._ ele disse.


Os dois ficaram se encarando, até que Lilian se apresentou:


_Me chamo Lilian Evans._ estendeu a mão.


_Tiago Potter._ ele aceitou o comprimento.


Mais uma vez o silêncio caiu. Lilian evitava olhar aquela família e por isso fixava seu olhar no homem à sua frente, e ele fazia o mesmo.


_Então... Que bebê mais fofo! _ ela foi até Harry, que estava no carrinho dormindo._ Como se chama?


_Harry.


_Ah... Oi Harry! Onde está a mamãe?


_No céu. _ Tiago respondeu e, sua resposta, fez Lilian sentir-se gelar. Ela pediu desculpas e ele, enfim, sorriu._ Está tudo bem, a culpa não é sua.


_Eu sinto muito... Faz muito tempo?_ ela perguntou, recompondo-se.


_Seis meses, eu acho. E seu marido?


_Ahh, faz pouco tempo também...


Tiago riu e perguntou desconcertado:


_Como assim? Desculpe-me...?


_Ah, nossa! _ Lilian riu também._ Me desculpe! È que também sou viúva e também faz mais ou menos um ou dois meses que ele se foi.


Os dois gargalhavam como nunca! Ou melhor, como há muito não faziam. Lilian sentiu uma pontada de vida voltar ao seu peito, ao seu ser, a cada risada que dava. Tiago, por sua vez, constatou o inimaginável: existia vida após a morte de um ente querido. E ela estava ali, sorrindo para ele.


Recompuseram-se pouco depois e resolveram caminhar juntos pelo parque. O assunto era o mais improvável para qualquer um que os ouvisse naquele momento: a morte de seus respectivos parceiros. Lilian sentiu que precisava desabafar, assim como Tiago. Quando deram por si, o Sol já estava se pondo.


_Nossa, já está tarde. _ ela disse, olhando o relógio de pulso.


_Eu posso te dar uma carona? _ ele ofereceu.


Pouco depois, Tiago estacionava na frente do prédio onde Lilian morava. Ele a ajudou a retirar o carrinho de Hermione do porta-malas e a acompanhou até o saguão de entrada do prédio.


_Foi uma tarde ótima! _ ela disse.


_Sim... Olha,_ ele tirou um cartão do bolso e entregou para a moça._ esse é meu número. Me liga se precisar desabafar ou... De fraldas.


Os dois riram mais uma vez, ela tinha perdido a conta de quantas vezes ele a tinha feito rir naquele dia.


_Com certeza vou ligar.


Ele sorriu e lhe deu um beijo no rosto e seguiu para seu carro. Lilian esperou até que ele sumisse na próxima curva e entrou no seu prédio. Depois de dar um banho em Hermione, alimentá-la e fazê-la dormir, Lilian sentou-se exausta no sofá. Olhou para o telefone na mesinha ao lado e não pensou duas vezes. Discou os números do cartão e se sentiu reconfortada quando ouviu aquela voz dizendo:


_Eu sabia que você iria ligar hoje.


-*-*-*-


O romance entre os dois foi maravilhado, mas ambos queriam mais. Por isso, com 1 e meio de namoro, resolveram oficializar a união. Convidaram alguns amigos íntimos e se casaram no cartório.


A essa altura, Harry e Hermione já conviviam diariamente e Lilian tratava Harry como filho, assim como Tiago via Hermione como sua princesinha... A princesinha do papai.


_O que faremos?_ Lilian perguntou do nada, enquanto Harry mexia em seus brinquedos e Hermione dormia tranqüila em seu berço.


_Em relação a que?_ Tiago perguntou.


_A eles.


_Como assim Li?_ ele sentou ao lado dela, no sofá.


_ Quero dizer, eles não são irmãos de verdade, logo ficarão sabendo, aí vão querer saber o que houve com o pai, ou a mãe e vão crescer rebeldes!


_Lilian calma! Isso não vai acontecer!


_Vai sim... A não ser que...


_Que...?


Ela se ajoelhou no sofá, com o olhar fixo na parede atrás de Tiago. Parecia em transe, enquanto dizia:


_Vamos criá-los sem contar isso.


_Li, isso é impossível! Eles têm familiares que contarão futuramente.


Lilian se desanimou e voltou a se sentar ao lado do marido. Mas desta vez, foi Tiago quem quebrou o silêncio:


_Bom... Eu recebi uma oferta de emprego.


_Que ótimo! Conta mais.


_Em Londres...


Lilian ia falar quando percebeu o sentido daquela conversa. Seu sorriso se alargou e ela disse:


_Londres?


_Sim... Vida nova... Novo país... Acho que você está certa, não tem necessidade de eles sofrerem, já acreditam que são irmãos então, vamos manter isso!


Lilian de um grito de alegria e saltou para os braços do seu amado, enquanto Harry batia palmas ao vê-los  felizes. Ela se emocionou e correu até a criança, o pegou no colo e disse:


_Fala mamãe... Ma... Mãe...


_Ah é assim? Vou ensinar Hermione a falar papai então!


Os risos tomaram conta do apartamento. Na semana seguinte estavam a caminho da vida nova. Londres esperava por aquela família que tinha tudo para dar certo, não fosse um detalhe: a mentira que os rondava.


 

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