Capítulo 5



CAPÍTULO V


 


Gina deteve-se diante do carrinho de compras e estendeu a mão esticada, como uma policial de trânsito impedindo o tráfego.


— Pare, Harry! Não se atreva a colocar mais nada no carrinho. Comer por dois não implica comprar dois de cada produto. — Meneou a cabeça, mal controlando o riso.


Harry contornou Gina e equilibrou dois pacotes de brócolis congelados no topo da pilha de compras no carrinho.


— Pare de se rebater, isto é sério. Seus armários estão vazios, mamãe ganso, e eu não vou viajar  hoje à noite sem a certeza de que você e o bebê estão se alimentando adequadamente, enquanto eu me mato de trabalhar em Lisboa.


— Mas não precisamos disso tudo. Provavelmente, nem tenho espaço suficiente nos armários para tanto.


— Não por isso. Você tem a chave do meu apartamento. Podemos estocar o excedente na minha cozinha, em último caso.


Gina revirou os olhos.


Harry pousou as mãos em seus ombros delicados.


— Quase não nos vimos durante a semana após a festa de casamento de Hermione e Rony, Gi. Sei que esta época é movimentada no Profeta, final de campeonatos de quadribol, e desconfio que anda só beliscando em vez de se sentar e consumir uma refeição balanceada. Certo?


— Não sinto fome — justificou ela. — Esses enjôos que se manifestam a qualquer hora do dia não favorecem o apetite, sabe?


— Bem, de acordo com o material que Hermione lhe deu, os enjôos devem parar logo.


— Hum...  Harry, Hermione não achou estranho você estar tão interessado em gravidez? — questionou Gina. — Porque você foi falar com ela?


— Bem... Queria saber o que está acontecendo a cada momento. Você e o bebê não estão sozinhos, Gi. Quero que se lembre disso. – Passou as mãos pelo cabelo. – Disse a Hermione... Bem, não sei se ela acreditou, mas disse que era para um amigo que iria ser pai...


— Ohhh, que maravilha! Tenho certeza que a bruxa mais inteligente de Hogwarts caiu nessa! — desdenhou Gina, de repente sentindo lágrimas nos olhos. Sacudiu a cabeça. – Droga! Hermione vai saber que você é o pai do meu bebê... E...Pare, pare. Essa emoção por uma bobagem é tão ridícula… - Harry consolou.


 – E mesmo que Hermione desconfie, ela não vai sair por ai contando para todos... É enternecedora. — Harry beijou-a na testa. — Vamos pagar as compras, depois eu guardo tudo no seu apartamento enquanto você descansa. Não quero que fique em pé o dia inteiro, você precisa relaxar.


— Pare de ser tão gentil — ralhou Gina, fungando. — Vai me fazer chorar de novo.


— Pois chore — incentivou Harry, empurrando o carrinho pelos corredores. — É efeito natural do aumento dos hormônios na gravidez. Provavelmente, seria prejudicial ao bebê se tentasse suprimir as emoções.


— Você é estranho, Harry. — Gina tratou de alcançá-lo. — Imagino que não saiba quanto tempo vai ficar em Lisboa.


— Não — respondeu Harry, meneando a cabeça. – Quando você vai contar para Molly e Arthur? Eu queria estar junto... Bom, é o mínimo que posso fazer, já que não quer se casar...


— Ainda não sei... Mas, quanto tempo você vai demorar mesmo? – Gina jogou vários pacotes de biscoito de mel no carrinho. Intimamente, tinha um medo terrível da reação dos pais sobre a gravidez, sabia que a apoiariam, mas seria um grande choque...


— Falo com você todos os dias na lareira... Para saber como você está. Também vou perguntar o que comeu no dia. Oh, e siga o esquema que deixei na porta do armário, para você não se esquecer de tomar leite. Isso é muito importante.


— Sim, senhor.


Harry sorriu e pegou a fila diante de uma caixa registradora.


Olhe para toda essa comida, pensou Gina, fitando o carrinho. Nunca comprava tanta variedade desde que passara a morar sozinha. Teria de se controlar para não virar uma leitoa.


Harry lia as manchetes de vários tablóides nas estantes próximas.


Que homem maravilhoso, pensou ela. Tão preocupado e carinhoso. Sentia-se mimada e especial, em uma quebra de rotina. Era fácil se acostumar àquilo. Porém, uma nuvem pousou em sua cabeça. Nesses últimos anos, Harry foi um verdadeiro galinha, toda semana era uma garota diferente. Estaria preparada para isso sendo a mãe do filho dele? Já sofria bastante sendo amiga dele. Mas ele não foi feliz com nenhuma delas! Nem ela conseguiu engatar um romance promissor. Com certeza, praga de Harry!


Agora ele estava ali, todo gentil e atencioso. Como não ceder? Não, não devia se iludir. Harry agia daquela forma por causa do bebê, não por ela. Ele se concentrava no filho, não na mãe.


Ele sempre criticara sua falta de organização na cozinha, mas nunca a levara ao supermercado trouxa ou bruxo para corrigir a situação. Agora, assegurava-se de que o bebê seria nutrido adequadamente enquanto ele estivesse longe.


Suspirou. Era a mãe do filho dele! Só isso! Harry sempre quis um filho... Desde o namoro na adolescência, ele falava que queria ter um filho, uma família... Por que as coisas saíram tão errado para os dois? Tinham tudo para serem felizes juntos. Tudo! Sua família adorava Harry... Ela nutriu por um bom tempo uma paixão por ele. De alguma forma, sabia que Harry também sentia o mesmo por ela.


Então, porque estavam nessa situação agora! Iam ter um bebê, deviam estar juntos e felizes por isso! Mas ao contrário... Não iria ceder e casar com ele. Não por isso! Não amava Harry. Claro que amava!


Sentia-se estranha novamente, meio triste e… solitária. Observou Harry pelo canto do olho. Será que ele ainda a amava? Bem, ele nunca tentou nada, até aquela noite, nunca mesmo, nenhum gesto que o denunciasse que ainda havia amor. Ao contrário, sempre contava de seus romances... Gina suspirou. Boba, burra,... Ouvia Harry relatar suas conquistas e depois ia para cama chorar.


Porque tinha que ser tão burra! Não queria que Harry fosse para Lisboa e permanecesse lá por tempo indeterminado. Claro, mal o vira naquela semana desde o casamento de Hermione e Rony, mas sabia que ele estava ali, a uma batida na parede.


Meneou a cabeça, desgostosa. Aquilo era loucura. Harry viajava sempre e continuaria viajando. Estava acostumada a lhe dizer adeus e cuidar da própria vida, até ouvir as três batidas dele na parede anunciando que voltara.


Então, por que aquela melancolia à perspectiva de vê-lo partir naquela noite? Provavelmente, eram seus hormônios atuando outra vez, o que começava a irritar.


— Um cachorro de duas cabeças? — leu Harry em voz alta, arrancando Gina de seu devaneio. — Como as pessoas podem pagar por esses tablóides? Idiotas. — Olhou-a por sobre o ombro. — O que me faz lembrar, agora, que estamos conversando sobre leitura. Li um artigo que recomenda contar histórias ao bebê ainda na barriga. Você não tem nenhum dos clássicos, tem?


— Não — respondeu Gina. — E pode esquecer. Não vou voltar para casa após um longo dia no jornal e ler os Contos de Beedle em voz alta!


— É, está bem — concordou Harry, pensativo. — Podemos substituir por música clássica. Eu empresto meus CDs antes de sair para o Ministério.


— CDs... Não! — recusou Gina, as mãos nos quadris. — Odeio esse tipo de música. As valsas são tão compridas que as pessoas podem desmaiar de cansaço se dançarem o número todo, e as marchas militares cansam até os soldados profissionais. Sou fã de rock, Harry, e você sabe disso.


Harry inclinou-se para bem junto dela.


— Meu filho não vai começar a vida acreditando que vida é sexo e drogas, Gi.


Ela riu.


— Esta é a conversa mais insana que já tive. Não há prova nenhuma de que ouvir certo tipo de música ou ler um material específico a um bebê na barriga faça alguma diferença.


— Oh, não sei — interveio uma mulher atrás deles na fila. — Quando estava grávida do meu primeiro filho, meu marido lia a seção policial do jornal para a minha barriga todas as noites. A criança ficou tão preocupada que teve cólicas durante os quatro primeiros meses.


Gina e Harry voltaram-se espantados.


— Estou brincando — adiantou a mulher. — Eu juro, inventei tudo. Vocês são tão bonitinhos. Sabe, pais de primeira viagem, e eu não resisti. Relaxem e aproveitem o momento. Tenho quatro filhos, e eles sobrevivem a todos os erros. Acreditem, vocês vão cometer vários.


— Oh — lamuriou-se Gina.


— O próximo — chamou a operadora de caixa. Harry empurrou o carrinho e começou a descarregar as mercadorias.


Erros? Pensou Gina, pousando uma lata de suco de laranja na esteira rolante. Seus pais haviam cometido erros ao criá-la? Depois de seis filhos... Se sim, não se lembrava de nenhum naquele instante. Bem, ao completar cinco anos, pedira um bolo em forma de hipopótamo, e eles lhe deram um em forma de dinossauro, mas não ficara traumatizada.


Erros? Ora, esse negócio de maternidade parecia complicado. E se cometesse um erro grave?


— Harry?


— Hum? — atendeu ele, sem interromper a tarefa.


— Não sabemos nada sobre bebês — advertiu Gina. — E se cometermos um erro grande? Não acha assustador?


— Por que está sussurrando? — sussurrou Harry.


— Porque não quero que ninguém na loja saiba que sou uma mãe potencialmente inadequada.


— Não fique estressada, Gi — aconselhou Harry — Não faz bem para o bebê. Vamos nos sair bem. Lemos muito, faremos cursos, podemos pesquisar o clã Weasley. Céus, há uma porção de crianças na família e são todas umas fofuras.


— Oh? E quando faremos tudo isso? — indagou Gina. — Você nunca está em casa, lembra-se? Passa mais tempo fora a trabalho do que fica aqui.


— Gi... Vou dar um jeito nisso!  — Falou sério.


— Vai é —Gina questionou sarcástica. – Você adora o seu trabalho, Harry!


— É... Eu adoro! — respondeu Harry parecendo distante. – Agora eu tenho um bom motivo para estar em casa...


— Claro... O bebê! — ironizou Gina.


Era com o bebê que Harry estava preocupado, com o filho dele, não com ela. Sentiu seus olhos úmidos, mas tratou de engolir o choro, que coisa estúpida, até parecia aquela tapada da Cho Chang chorando sem parar.


— Vou tentar agilizar as coisas em Lisboa... Quero ir com você na próxima consulta com a Hermione.  — decidiu Harry, rápido. – Não adianta Gi... Eu sou o pai e quero participar.


— Que seja! — concordou. Não iria questionar, não adiantava.


— Pare de se preocupar — aconselhou Harry a Gina. — Está cansada.


— Não estou cansada! — exclamou Gina, arrependida ao se ver alvo de olhares. — Desisto. Preciso de uma soneca.


Harry gabou-se:


— Vá por mim, Gi, estou entendendo como esse negócio de gravidez funciona.


Oh, sim, pensou Gina, com um suspiro cansado. Definitivamente, acataria as diretrizes de Harry, até entender melhor aquilo com que estava lidando. Afinal, os amigos serviam para estarem presentes, para dar apoio emocional nos momentos de crise. E Harry era só seu amigo.


Não! Era o pai de seu bebê, amor da sua vida, seu amigo, seu, seu... Ai! Gina controle-se.  Ordenou mentalmente. Lembre-se, foi Harry que foi embora depois da guerra, foi ele que não deixou um espaço para você na vida dele...


Mas eu ainda amo esse Potter desgraçado! – Gina pousou a mão no ventre, olhou para Harry ao seu lado e sorriu.


 


******


Nas semanas seguintes, Gina trabalhou muito no jornal. Ao final de cada dia, chegava em casa exausta, mas sempre aguardando ansiosamente Harry a chamar na lareira.


Ele já estava fora da cidade havia dois meses quando Gina voltou ao consultório de Hermione. Após os exames rotineiros, teve de aguardar, pois a medibruxa precisou atender a uma emergência noutra sala.


Gina apertou um dedo na testa, como se desligasse um botão imaginário para se livrar da valsa de Strauss que ecoava em sua mente sem parar.


Considerando o empenho de Harry em compreender todos os aspectos da gravidez, decidira cooperar e pegara emprestado alguns CDs dele, para tocar em alternância com os seus, de rock.


Durante as conversas noturnas, Harry exclamava de prazer ao ouvir suas músicas ao fundo, enquanto conversavam.


Um detalhe ínfimo, pensou Gina, mas Harry parecia deleitado com a inclusão de seus CDs nas horas de lazer dela e do bebê. Ele até admitiu que andava ouvindo rock em Lisboa, tanto que descobrira que as letras não falavam só de sexo, drogas e rock roll, eram  canções até que bonitas, reconheceu ele, sobre amor verdadeiro e duradouro.


Suspirou.


Todas as noites, quando saia da lareira e ia para cama , era doloroso.


Oh, céus, sentia tanta saudade dele. Era uma emoção nova e assustadora porque, quando Harry viajara das outras vezes, quase nem pensara nele. E agora? Queria Harry ali, a seu lado, não a quilômetros de distância.


O que estava acontecendo? Atônita, levou as mãos ao rosto. O que significava aquilo tudo? Nunca se perdoaria se estivesse se apaixonando vagarosamente por Harry Potter novamente. E nunca conseguiria reparar o coração despedaçado por amar um homem que não a amava. Ou melhor, sempre esteve apaixonada por Harry Potter.


Não, não, não estava se apaixonando por Harry. Nunca esteve!


Estava? Claro que estava! Desde que tinha dez anos... Porque deixou Harry partir depois da guerra, porque não se humilhou e pediu para ficar ou então pedira para ir junto. Porque era muito orgulhosa para isso e agora estava nessa confusão. Nada que fez nesses últimos seis anos para esquecer Harry deu certo... Nenhum outro conseguiu despertar nela esse sentimento tão bom que só Harry conseguia.


Era fácil fingir que havia esquecido Harry nesses últimos anos, mas agora com o bebê... Isso era praticamente impossível!


A porta da sala se abriu e Hermione entrou, meneando a cabeça. Ocupou sua cadeira à mesa com um suspiro.


— Este é um daqueles dias. — comentou, sem disfarçar o estresse. — Desculpe-me por fazê-la esperar.


— Sem problema! — afirmou Gina, aliviada por se afastar dos pensamentos inquietantes. — Uma das vantagens de ser chefe no jornal é que posso flexibilizar o horário quando preciso.


— Ótimo.


Gina franziu o cenho.


— Claro, sou eu quem tem de resolver todos os problemas que aparecem também. As pessoas acham que, se grudarem em mim, conseguirão milagrosamente aparecer em uma notinha no jornal... Mas gosto da minha carreira, o que é mais do que muita gente pode dizer.


— E verdade! — afirmou Hermione. — Eu também amo a minha escolha profissional, mas com certeza aprecio meu papel de esposa atualmente.


— Como está o Rony? Acredita faz séculos que não vejo o meu irmão?


— Bem! Estamos em uma eterna lua de mel. Mas, Rony quer saber o que vem fazendo todos os meses no consultório e porque não aparece lá na Toca ou em nossa casa. — A médica fez pausa e fitou Gina com atenção. — E maravilhoso ter um companheiro quando se está criando um filho, Gi. Contou ao pai do bebê?


— Sim, contei. — Gina alisou a calça sobre o joelho e desviou o olhar. — Ele disse que devíamos nos casar, mas recusei.


— Por quê?


— Bom... — explicou Gina, fitando a amiga. — Ele é muito certinho, protetor, teimoso... Fica com essa mania de cuidar de mim. Nossos gostos são opostos em tudo, na música… Bem, não chego a odiar Strauss agora que ouvi algumas melodias, mas… - Continuou, distraída: — Ele acha que bebê tem que ter pai e mãe morando juntos... Que não precisa ter amor... Ele gosta de ficar bancando o herói eternamente, tá sempre viajando, salvando o mundo bruxo...


Gina continuou descrevendo:


—Oh, ele está entusiasmado com o bebê, quer ser o melhor pai possível, mas viaja demais! Casar-me com ele não mudaria esse fato e até poderia destruir nossa amizade, que é muito importante para mim.


Empolgou-se:


— Ele tem sido muito atencioso mesmo a distância… Está em Lisboa no momento… e me chama a lareira todas as noites para saber como estamos, eu e o bebê. De qualquer forma, ele não insistiu mais em casamento…


— Oh… céus… — interrompeu Hermione, abismada. — É Harry. O pai do seu bebê é o Harry!


Gina arregalou os olhos.


— Eu não disse isso, Hermione. De onde tirou essa… ideia maluca?


— Valsas de Strauss. — A médica inclinou-se para frente. — Certinho. Herói. Lisboa. Viajando todo o tempo. Seu amigo.


— Oh. — Gina mexeu-se desconfortável na cadeira. — Acho que me empolguei um pouco, não? Sim, bem… Hermione, sabia que a Corvinal ganhou a taça das casas esse ano em Hogwarts?


— E uma informação fascinante. — reconheceu a amiga, estreitando o olhar. — Harry vai adorar saber disso em Lisboa!


— Oh, sim, ele vai amar… Quer parar, Hermione? — pediu Gina. — Não é justo. Você já foi auror  em outra encarnação? Você me enganou e… Não, não é justo.


— Estou certa em afirmar que Harry Potter é o pai do seu filho? — pressionou a amiga.


Gina suspirou.


— Sim, está. Isso simplesmente… aconteceu só isso. Foi em uma noite… quando estávamos ambos vulneráveis, sentindo pena de nós mesmo porque não conseguíamos encontrar nossa alma gêmea, aquela pessoa que amaríamos e com quem passaríamos o resto da vida, e… concordamos Harry e eu, que isso nunca mais… se repetiria, íamos esquecer o evento e continuar sendo bons amigos.


— Mas você engravidou naquela noite. - Gina assentiu, tentando controlar as lágrimas. – Gi... Você sempre amou Harry... Se isso aconteceu, se vocês deixaram isso acontecer é porque ainda existe amor! Harry ainda lhe ama e você a ele!


Gina mexeu-se impaciente e preferiu ignorar o último comentário de Hermione que continuou:


— E Harry está feliz com tudo isso, com o bebê? Ele deu um passo à frente e a pediu em casamento?


— Sim, mas recusei pelos motivos que eu e minha grande boca já revelamos — resmungou Gina. — Harry e eu jamais sobreviveríamos juntos sob o mesmo teto. Eu preciso dele como meu melhor amigo, Hermione. Não entende? Preciso que ele me apóie, sem restrições, como me apoiou neste último ano.


— Mas…


— Não, não tente me fazer mudar de idéia porque estará perdendo tempo — adiantou-se Gina. — Harry e eu seríamos um desastre completo como marido e mulher. Além disso, não o amo… do ponto de vista romântico, quero dizer. Eu o amo como amigo, camarada, parceiro.


Continuou, determinada.


— Não vou me casar com ninguém, a menos que seja minha alma gêmea. Pretendo amar meu marido de todo o meu coração, sabendo que ele corresponde da mesma forma. Casar-me com Harry só por causa do bebê seria um erro terrível, e não vai acontecer.


— Está bem — concordou Hermione. Gina encarou-a desconfiada. – Mas você foi apaixonada por ele durante anos...


— Eu era uma idiota! Passou! Esqueci... Simplesmente… está bem? Não vai fazer um discurso de vinte minutos listando os motivos para eu me casar com Harry?


— Não. E evidente que já decidiu e pronto. — A amiga refletiu. — Agora, vamos ver como vai essa gravidez. — Concentrou-se no prontuário com as fichas médicas e exames. — Você disse que não tem mais enjôo, isso é bom.


— Estou devorando tudo o que vejo pela frente e até o que não apreciava parece delicioso — comentou Gina. — Não vai dizer que seria melhor me casar com Harry para o bebê ter o nome dele, ser legalmente um Potter?


— Não, não é da minha conta — declarou Hermione. — Sua pressão está ótima, o peso também. É uma futura mamãe em forma.


— Estou gorda. Não consigo mais fechar minhas saias e calças. É normal estar tão gorda ainda no começo? E não vai observar que eu devia aceitar o que me é oferecido, que desposar meu melhor amigo é melhor do que nada, e que devia esquecer a ilusão de viver um conto de fadas?


— Não. Mas vou dizer que considero Rony meu melhor amigo, assim como minha alma gêmea. – Hermione falou seria. – Demorei a chegar a essa conclusão, e teve um tempo que achei que a amizade de Rony seria o suficiente. Mas estava mentido para mim e era só vê-lo com outra que eu quase morria de ciúmes, também não conseguia ser feliz com nenhum outro... Gina, quando aceitei isso, quando me dei conta disso... Bom, deixei meu orgulho de lado e tomei a iniciativa. Rony é meu melhor amigo e minha alma gêmea!


— Oh, céus! — Gina ergueu as mãos. — Você parece George. Ele disse algo assim sobre Angelina. Nem eu nem Harry entendemos. A categoria "melhor amigo" é totalmente diferente da categoria "amante", "alma gêmea", Hermione. E como… maçãs e laranjas.


— É? — Hermione ergueu as sobrancelhas.


— Sim, definitivamente — afirmou Gina.


– Hum... Pois eu gosto de ambas as frutas... Você não?


Gina preferiu ignorar a última pergunta... – Veja, a questão é que não acredito que você ou George tenham tido um amigo de verdade… não como Harry e eu somos.


— Ah. – Hermione abriu a boca, mas achou melhor não argumentar.


— Se tivessem… entenderiam quando afirmo que não se pode comparar esse tipo de relacionamento com o tipo "felizes para sempre". Pronto. Isso explica tudo. Você e George estão falando por falta de experiência.


— Ah.


— Sim, verdade — tagarelava Gina. — Harry e eu… sendo amigos, percebe… sabemos do que estamos falando. Ponto final.


— Ah.


— Quer parar? — pediu Gina, zangada. — Parece alguém em exame de garganta ou algo assim.


Hermione riu.


— Ouvi cada palavra que disse, mas não declarei que concordava.


— Que seja! Mione, acha que o clã Weasley, todos os "zilhões" de vocês, vão aceitar o bebê e o fato de Harry e eu não nos casarmos? São tão convencionais, pessoas orientadas à família e… bem, eu me sentiria péssima se criasse um problema para Harry. Ou para mim, pelo mesmo motivo. Adoro todos vocês.


— Dê-nos algum crédito, Gina. Os Weasley amam incondicionalmente. Ninguém vai julgá-los, e o bebê será recebido de braços abertos. Seus pais ainda não sabem, nem seus irmãos...


— Obrigada por me lembrar desse pequeno detalhe. — Gina suspirou. — Acho que, quando Harry me chamar hoje à noite, terei de revelar que estraguei tudo aqui. Vou esperar ele voltar de Lisboa para contar para meus pais... Harry quer estar junto! Hum...  Está trabalhando sete dias por semana para poder voltar o mais rápido possível e cuidar de mim e do bebê pessoalmente.


— O que só um grande amigo… como nunca tive… faria — analisou Hermione, reprimindo o riso.


Gina franziu o cenho.


— Podemos mudar de assunto e discutir por que estou engordando tão rápido?


— Cada mulher é diferente da outra, Gina. Já vi mulheres usando as mesmas roupas até dar à luz um bebê de nove meses. Outras? Bem, estufam, como se diz, bem cedo. Você não tem uma estrutura óssea grande… é magra, delicada, e provavelmente a gravidez vai aparecer mais cedo do que tarde.


— Bolas — resmungou Gina. — Entendeu? Isso significa que eu e Harry teremos de enfrentar o "por que vocês dois não se casam?" mais cedo do que tarde também. Ugh. — Revirou os olhos. — Todos os "zilhões" de vocês.


— Não se preocupe com a família — aconselhou Hermione, levantando-se. — Quando você e Harry decidirem fazer o anúncio, ficará surpresa com a acolhida que receberão. Confie em mim. Enquanto isso, seu segredo está a salvo comigo.


— E bom saber — afirmou Gina, e levantou-se também. - Rony ainda não sabe?


— Gina... Você é minha paciente, não comento com Rony os casos que tenho aqui. Mesmo você sendo a irmã caçula do meu marido. – Sorriu ao observar Gina. - Por outro lado... Deixe-me ver se entendi direito. Acredita que George e eu não sabemos do que estamos falando quando dizemos que uma alma gêmea é também o melhor amigo, porque nunca tivemos um amigo, exceto nossa alma gêmea. Certo?


— Bem, sim — confirmou Gina, assentindo. — Isso resume bem a questão.


— Estabelecendo um paralelo… é como você e Harry são só amigos. Certo?


— Sim.


— Entendi. —Hermione dirigiu-se à porta. — Marque uma consulta para daqui a um mês. — Na soleira, voltou-se. — Ah, Gina, sabia que meus pais TAMBÉM se consideram melhores amigos antes de perceber que se amavam...  E, além disso... Eu acho que eu tenho um grande amigo... Que não amo romanticamente, mas como irmão...


Gina meneou a cabeça e tomou o corredor.


— O que eu acho… é que você me confundiu ainda mais, Hermione Granger- Weasley — sussurrou consigo mesma. — E conseguiu fazer isso direitinho! Mas... Ainda vou chamá-la para ser a madrinha do meu bebê...


Hermione sacudiu a cabeça... Esses dois cabeças duras... Sabia que com o tempo eles ainda iriam se acertar, até apostou com Rony que em menos de um ano Harry e Gina estariam casados!


 


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N/B: Mas essa história fica cadê vez melhor, não?? Se esta senhora não estivesse em estado interessante, dava uns catiripapos nela!!! Por Merlin, já está me dando agonia a “cabeçadurice” desses dois... Beijos, Alê.


 


N/A: Galerinha... mais um capítulo novo para vocês...  Próximo capítulo, no final da semana que vem. Continuem lendo e comentando... Bom, Harry e Gina estão me dando nos nervos, mas tudo bem, faz parte. Beijos para todos e um especial para:


 


Katharina Rocha, Raissa Duerre, Quézia, Rayane Tavares e Bruna Potter... Valeu!


 


Daiana

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