CAPÍTULO DEZOITO



CAPÍTULO DEZOITO

Se o comportamento recente de Harry podia servir de exemplo do que era ter um marido, Gina disse a si mesma que não era tão mau. Ela tinha sido colocada na cama, o que foi obrigada a reconhecer que foi o melhor a fazer, para ser acordada cinco horas mais tarde pelo aroma de café quente e waffles recém-preparados.
Harry já estava em pé, vestido, e recebia uma importante transmissão de negócios.
Gina ficava incomodada, de vez em quando, com o fato de que ele parecia necessitar de menos horas de sono do que um ser humano normal, mas ela não mencionava isso para ele. Este tipo de comentário só faria com que ele lhe lançasse um daqueles risinhos.
Foi um bônus o fato de ele não ter lembrado a Gina a forma com que estava cuidando dela. Sentir aquilo já era estranho o bastante, sem ter ninguém para apregoar o fato.
Assim, ela foi em direção à Central de Polícia descansada, bem alimentada e em um veículo totalmente consertado, o qual, em menos de cinco quarteirões, decidiu surpreendê-la com um novo defeito. O indicador de excesso de velocidade no painel mudou para vermelho, embora ela estivesse completamente parada em um engarrafamento. Ela foi avisada por uma voz agradável:

ATENÇÃO: O MOTOR VAI SUPERAQUECER EM MENOS DE CINCO MINUTOS SE O VEÍCULO CONTINUAR NESTA VELOCIDADE. POR PAVOR, REDUZA A MARCHA OU COLOQUE O CARRO NO PILOTO AUTOMÁTICO.

- Pode me prender. - sugeriu ela, de forma não tão agradável, e dirigiu o resto do caminho com o aviso constante, dado em um tom de voz animado, de que a velocidade deveria ser reduzida, senão o motor ia pifar.
Gina não queria deixar aquilo afetar seu estado de espírito. As horríveis nuvens escuras de chuva que passavam e provocavam caos no trânsito aéreo também não a incomodaram. O fato de que era um sábado, faltava apenas uma semana para o casamento e ela ia enfrentar um dia difícil e potencialmente brutal no trabalho não diminuía o seu prazer.
Entrou a passos firmes na Central de Polícia com um sorriso fixo e sombrio.
- Você parece ávida para devorar carne crua. - comentou Neville.
- É o melhor jeito de comer carne. Alguma informação nova?
- Vamos pelo caminho mais comprido para eu colocá-la a par dos novos dados.
Ele entrou em uma das passarelas aéreas deslizantes, quase vazias no meio do dia. O mecanismo estremeceu um pouco, mas levou-os para cima. Manhattan se transformou em uma linda cidade de brinquedo, cheia de avenidas que se entrecortavam e carros com cores brilhantes.
Relâmpagos cortavam o céu seguidos pelos respectivos trovões, que balançavam a estrutura de vidro em volta da passarela. A chuva penetrava por fendas e caía alegremente em imensos recipientes.
- Eu acabei de chegar. - Neville olhou para baixo, olhando pedestres que pareciam bater uns de encontro aos outros como formigas enlouquecidas. Um ônibus aéreo buzinou com fúria e tirou um fino do vidro ao lado deles. - Nossa! - NEville colocou a mão sobre o coração, que estava aos pulos. - Onde foi que estes palhaços tiraram carteira?
- Qualquer pessoa que esteja viva consegue licença para dirigir um desses monstros que entopem o céu. Você não vai me ver dentro de um deles nem sob a mira de um laser.
- O transporte público nesta cidade é uma vergonha! - e pegou um saquinho de amêndoas com cobertura doce, para se acalmar. - Enfim, seu palpite sobre as ligações feitas de Maui estava certo. Justin Young ligou para Jerry Fitzgerald duas vezes antes de pegar um vôo de volta para casa. Também pagou pela transmissão de todo o desfile direto para o telão do quarto do hotel. Foram duas horas de transmissão.
- Você verificou o sistema de segurança da casa dele na noite em que apagaram o Barata?
- Justin entrou, com sua mala de viagem, mais ou menos às seis da manhã. Seu vôo, porém, pousou à meia-noite. Não há registros de onde ele passou as seis horas do intervalo.
- Não tem álibi então. E teve tempo suficiente para ir do aeroporto à cena do crime. Temos como confirmar a localização de Jerry nessa hora?
- Ela ficou no salão de festas até pouco depois das dez e meia da noite. Ensaios para o desfile da noite passada. Não apareceu no apartamento dela antes das oito da manhã. Fez um monte de ligações: para a cabeleireira, a massagista, o escultor de corpo. Passou quatro horas ontem no Salão Paradise, embonecando-se toda. Quanto a Justin, ele passou o dia conversando com o agente, com o consultor financeiro e... - Neville sorriu ligeiramente -... com um agente de viagens. Nosso rapaz está interessado em fazer uma viagem para a colônia em Éden.
- Eu amo você, Neville!
- Eu sou do tipo que todas amam. Apanhei o relatório do pessoal do laboratório que vasculhou a casa deles. Não foi achado nada que possamos usar, nem no apartamento de Justin nem no de Jerry. O único traço de substância ilegal estava no suco azul. Se eles têm mais, estão guardando em outro lugar. Não achamos registros nem gravações de transações, nenhum sinal de fórmula. Ainda falta remexer nos computadores, para ver se eles esconderam alguma coisa lá, encriptada. Só que, se quer saber, aqueles dois não são gênios da alta tecnologia não.
- Não, não são. Paul Redford é capaz de entender mais disso do que eles. Aqui nós temos mais do que assassinato e tráfico de drogas, Neville. Se conseguirmos que o bagulho seja classificado como veneno e pudermos provar que eles tinham conhecimento prévio de seu perigo letal, vamos poder enquadrá-los em formação de quadrilha e conspiração de assassinato.
- Ninguém foi enquadrado em conspiração de assassinato desde as Guerras Urbanas, Weasley.
- Mas eu acho que soa bem legal. - A passarela parou de se mover assim que tocou o solo.
Gina encontrou Hermione esperando do lado de fora da sala de interrogatório e perguntou:
- Onde está o resto do nosso grupo?
- Os suspeitos estão em reunião com os advogados. Malfoy foi pegar café.
- Certo, ligue para a sala de reuniões e avise que o tempo deles já acabou. Alguma notícia do comandante?
- Ele já está chegando. Quer acompanhar tudo. A promotoria vai participar via tele-link.
- Ótimo! Neville vai dar mais uma olhada nos registros dos três suspeitos. Não quero nenhuma mancada quando esta história for a julgamento. Você pega Jerry Fitzgerald para a primeira rodada e Malfoy fica com Redford. Eu quero Justin.
Gina fez um sinal com a cabeça ao ver Malfoy chegar com uma bandeja de café nas mãos.
- Neville. - disse ela. - Comunique a eles todas as novas informações. Com parcimônia. - acrescentou enquanto pegava uma xícara de café. - Trocamos de equipe daqui a meia hora.
E entrou na sala de interrogatório onde ia trabalhar. O primeiro gole do café medonho da lanchonete a fez sorrir. Aquele dia prometia!

- Ora vamos, Justin, você pode fazer melhor do que isso! - Gina estava animada e mal tinha atingido o seu ritmo normal de trabalho. Já haviam se passado três horas de interrogatório.
- A senhorita quer saber o que aconteceu. Os outros tiras já me perguntaram o que aconteceu. - e bebeu um copo d'água. Ele estava completamente fora do seu ritmo normal, e quase cedendo. - Eu já lhe disse.
- Você é um ator. - lembrou ela, cheia de sorrisos. - Um bom ator. Todos os críticos dizem isso. Outro dia, li uma crítica que falava que você consegue fazer um diálogo ruim parecer música. Não estou ouvindo nenhuma canção aqui, Justin.
- Quantas vezes quer que eu repita a mesma história? - e olhou para a advogada. - Por quanto tempo vou ter que ficar aqui, aturando isso?
- Podemos parar o interrogatório a qualquer tempo. - a advogada lembrou a ele. Era uma loura de olhar penetrante e olhos firmes. - Você não tem obrigação de fazer mais nenhuma declaração adicional.
- Exato! - cantarolou Gina. - Podemos parar por aqui. O senhor volta para a detenção. Não vai conseguir fiança por causa das acusações de envolvimento com drogas, Justin. - e se inclinou, certificando-se de que os olhos dele estavam focados nos dela. - Ainda mais quando há outros quatro casos de assassinato pendendo sobre a sua cabeça.
- Meu cliente não foi acusado de nenhum crime além de posse de drogas. - A advogada abaixou o nariz afilado. - A senhorita não tem nada de concreto contra ele, tenente. Todos nós sabemos disso.
- O seu cliente está à beira de um precipício muito profundo. Todos nós sabemos disso. Quer cair no abismo sozinho, Justin? Isso não me parece muito justo. Seus amigos também estão respondendo a perguntas neste exato momento. - e levantou as mãos, abrindo os dedos. - O que vai fazer se eles conseguirem tirar o corpo fora?
- Eu não matei ninguém. - Lançou o olhar na direção da porta e depois para o espelho. Ele sabia que havia uma platéia do outro lado e, pela primeira vez na vida, não sabia como controlar o público. - Eu não conheço e nem mesmo ouvi falar dessas outras pessoas mortas.
- Mas conhecia Cho.
- É claro que eu conhecia Cho! Isso é óbvio!
- Você esteve na casa dela na noite de sua morte.
- Já disse que estive, não disse? Escute, Jerry e eu fomos à casa dela a convite da própria Cho. Tomamos alguns drinques, e aquela outra mulher apareceu. Cho começou a ficar insuportável e nós saímos.
- Com que freqüência você e a senhorita Fitzgerald usam a entrada não monitorada do seu edifício?
- É uma questão de privacidade. - insistiu ele. - Se a senhorita tivesse a mídia na sua cola a cada vez que quisesse ir ao banheiro, compreenderia o problema.
Gina sabia exatamente sobre o que ele estava falando e sorriu abertamente.
- Engraçado, nenhum de vocês pareceu particularmente incomodado pela exposição na mídia... Na verdade, se eu fosse cínica, chegaria a dizer que vocês dois exploraram isso. Há quanto tempo Jerry é viciada em Immortality?
- Não sei. - Seus olhos voaram para o espelho novamente, como se esperasse a voz de um diretor gritando "corta" no fim da cena. - Já lhe disse que não sabia o que havia naquele drinque.
- Você tinha uma garrafa no quarto, mas não sabia o que ela continha. Nunca experimentou?
- Nunca toquei naquilo.
- Isso é engraçado também, Justin. Sabe, se alguma coisa estivesse na minha geladeira, eu ficaria com vontade de experimentar. A não ser que eu soubesse que era veneno, é claro. Você sabia que Immortality era um veneno de ação lenta, não sabia?
- Mas não precisa ser assim. - Ele parou de falar de repente e respirou ofegante, pelo nariz. - Não sei de nada a esse respeito.
- A droga causa uma sobrecarga no sistema nervoso, de ação lenta, mas letal do mesmo jeito. Você serviu um drinque para Jerry e o entregou a ela. Isso é assassinato.
- Tenente... - interrompeu a advogada.
- Eu jamais faria mal a Jerry! - explodiu ele. - Estou apaixonado por ela, jamais a prejudicaria.
- É mesmo? Várias testemunhas disseram que você fez exatamente isso há alguns dias. Justin, é verdade ou não que você agrediu a senhorita Fitzgerald nos bastidores do salão de festas do Hotel Waldorf no dia 2 de julho?
- Não, eu... Nós ficamos nervosos. - As falas decoradas pareciam estar se misturando em sua cabeça. Ele já não conseguia lembrar a sua deixa para continuar a cena. - Foi tudo um mal-entendido.
- Você bateu no rosto dela.
- Sim... Não. Sim, nós estávamos brigando.
- Estavam brigando, e então você deu um soco na mulher que ama, derrubando-a no chão. Você ainda estava violentamente zangado com ela quando ela foi ao seu apartamento na noite passada? Quando serviu a ela uma taça do veneno de ação lenta?
- Já lhe disse, aquilo não é veneno, não do jeito que você está dizendo. Eu jamais a machucaria. Jamais fiquei zangado com ela. Não conseguiria.
- Você jamais ficou zangado com ela. Jamais a machucaria. Eu acredito em você, Justin. - Gina amaciou a voz, inclinou-se para a frente novamente e colocou a mão, de forma gentil, sobre a mão dele, que tremia. - E você jamais bateu nela também. Foi tudo uma encenação, não foi? Você não é o tipo de homem que agride a mulher que ama. Você encenou aquilo, como se fosse um dos seus personagens.
- Eu não... Eu... - Ele olhou desarmado para Gina, e ela sentiu que o pegara.
- Você já fez um bocado de vídeos de ação. Sabe como dar um soco sem machucar, como simular uma agressão. Foi isso o que fez naquele dia, não foi, Justin? Você e Jerry fingiram brigar. Você jamais encostou a mão nela. - sua voz era suave, cheia de compreensão. - Você não é um tipo de pessoa violenta, certo, Justin?
Quebrado, ele pressionou os lábios um contra o outro e olhou para a advogada. Ela levantou a mão para impedir outras perguntas e se inclinou, cochichando coisas no ouvido de Justin.
Com o rosto sem expressão, Gina esperou. Ela sabia a sinuca em que ele estava. Admitia a encenação da briga e provava que era um mentiroso ou mantinha a versão de ter agredido a namorada, provando que era capaz de atos violentos? Não era um limite muito seguro de ultrapassar.
A advogada se recostou na cadeira e cruzou as mãos sobre a mesa, informando:
- Meu cliente e a senhorita Fitzgerald estavam realizando uma pequena brincadeira inofensiva. Tola, eles admitem, mas não é crime alguém fingir que está brigando.
- Não, não é crime. - Gina sentiu a primeira rachadura no álibi deles. - Também não é nenhum crime ir para Maui e fingir que está flertando com outra mulher. Tudo aquilo fez parte da brincadeirinha, não foi, Justin?
- Nós apenas... Acho que ainda não tive chance de analisar tudo com calma. Ficamos preocupados, foi o que aconteceu. Depois que você pressionou Paul, ficamos achando que viria para cima de nós logo em seguida. Nós três estávamos lá naquela noite; portanto, isso parecia o mais lógico.
- Sabe, foi exatamente isso que pensei. - Gina lançou um sorriso largo. - É uma suposição bem lógica.
- Nós dois tínhamos vários projetos importantes pela frente. Não podíamos nos dar ao luxo de passar pelo que estamos passando agora. Achamos que, se fingíssemos ter terminado o relacionamento, isso daria mais força para o nosso álibi.
- Porque os dois sabiam que o álibi era fraco. Sabiam que nós íamos acabar sacando que qualquer um de vocês, ou os dois, poderia ter deixado o apartamento sem registros da segurança na noite do assassinato de Cho. Vocês poderiam ir ao ateliê de Leonardo, poderiam matá-la e voltar para casa sem deixar pistas.
- Não fomos a parte alguma! Você não pode provar que nós fomos. - Seus ombros se elevaram. - Você não consegue provar nada!
- Não esteja tão certo disso... Sua amante é uma viciada em Immortality. Você estava com a droga em sua posse. Como foi que a conseguiu?
- Eu... Alguém deve ter dado aquilo para ela. Eu não sei.
- Foi Paul Redford? Foi ele que a viciou naquilo, Justin? Você deve odiá-lo, se ele fez isso. A mulher que você ama. Ela começou a morrer, Justin, na primeira vez em que experimentou a droga.
- Ela não é venenosa. Não é. Jerry me disse que esse papo todo era para Cho manter a substância só para ela. Cho não queria que Jerry se beneficiasse com a bebida. A vadia sabia o bem que aquilo faria a Jerry, mas queria... - e parou de falar, sentindo a advertência no olhar da advogada um pouco tarde demais.
- O que ela queria, Justin? Dinheiro? Muito dinheiro? Você? Ela provocava Jerry? Ela ameaçou você? Foi por isso que você a matou?
- Não. Eu nem toquei nela. Estou lhe dizendo que nem toquei nela! Nós brigamos, certo? Tivemos uma discussão terrível depois que aquela mulher que está com Leonardo foi embora, naquela noite. Jerry ficou aborrecida. Devia ficar, depois de tudo o que Cho falou. Foi por isso que eu a levei embora dali para tomar alguns drinques e acalmá-la. Disse para ela não se preocupar, pois havia outras formas de conseguir a substância.
- Que outras formas?
Sua respiração ficou mais ofegante. Freneticamente, ele se desvencilhou da mão da advogada, que tentava segurá-lo.
- Cale a boca! - gritou para ela. - Fique calada! Em que você está me ajudando? Ela quer me jogar atrás das grades por assassinato, e vai conseguir isso. Quero propor um acordo. Por que você não está aceitando que eu proponha um acordo? - e passou as costas da mão sobre a boca. - Quero um acordo!
- Vamos ter que pensar no assunto. - disse Gina, com calma. - O que você tem para me oferecer?
- Paul. - disse ele, e soltou o ar com força. - Eu vou lhe oferecer Paul Redford. Ele a matou. O canalha provavelmente matou todos eles.

Vinte minutos depois, Gina entrou na sala de reuniões.
- Quero que Redford fique em banho-maria por algum tempo. Deixe que ele fique se perguntando o quanto os outros contaram.
- Não conseguimos muito da moça. - De forma casual, Malfoy colocou os pés em cima da mesa e cruzou as pernas na altura dos tornozelos. - Ela é dura na queda. Está quase entregando os pontos. Tem a boca seca, está tremendo e ocasionalmente perde o foco da visão, mas está agüentando firme.
- Ela não toma uma dose há quanto tempo? Mais de dez horas? Quantas horas mais acha que ela vai suportar?
- Não sei ao certo. - Malfoy abriu as mãos. - Ela tanto pode agüentar as pontas até o fim quanto pode se transformar em um mingau humano daqui a dez minutos.
- Certo, então não podemos contar com isso.
- Redford está começando a rachar. - informou Hermione. - Está morrendo de medo. O advogado dele é que é um osso duro de roer. Se conseguíssemos ficar com Redford sozinho por cinco minutos, ele se quebraria como uma noz.
- Isso não vai ser possível. – Lupin analisava o papel com a transcrição das recentes entrevistas. - Mas você tem a declaração de Justin Young para pressioná-lo.
- Aquilo é fraco. - murmurou Gina.
- Então você tem que fazer com que pareça mais forte. Ele afirmou que Paul Redford apresentou Jerry Fitzgerald à Immortality há uns três meses e sugeriu uma parceria.
- E de acordo com o nosso rapaz louro, o negócio era para ser legalizado com as cartas todas na mesa. - Gina soltou um resmungo de sarcasmo. - Ninguém é tão ingênuo.
- Não sei. - murmurou Hermione. - Ele está por conta com Jerry Fitzgerald! Eu diria que talvez ela o tenha convencido de que era um negócio vantajoso. Pesquisa e desenvolvimento de uma nova linha de saúde e beleza que ia levar o nome de Jerry.
- E tudo o que eles precisavam fazer era tirar Cho do caminho - sorriu Malfoy - para o dinheiro começar a entrar.
- No fim, continuamos na questão dos lucros. Cho estava no meio do caminho. - Gina se jogou em uma cadeira. - Os outros estavam no caminho. Talvez Justin seja apenas um panaca inocente ou talvez não. Ele entregou Redford, mas acho que não pensou que poderia estar entregando Jerry ao mesmo tempo. Ela contou muita coisa a ele, a ponto de fazê-lo planejar uma viagem à colônia em Éden, na esperança de que os dois juntos pudessem criar um espécime próprio.
- Vocês já têm a sua conspiração de drogas ilegais. - assinalou Lupin. - Se Justin Young entregar o resto do ouro, pode aceitar o acordo. E ainda há um grande caminho pela frente, até chegar à acusação de assassinato. No ponto em que estamos, o seu testemunho não vai pesar muito. Ele acredita que Redford matou Cho. Deu-nos o motivo. Podemos comprovar a oportunidade. Mas continuamos sem nenhuma prova física, nem testemunhas.
Ele se levantou e prosseguiu:
- Consiga-me uma confissão, Weasley. O promotor está aumentando a pressão. Eles estão retirando as acusações sobre Luna Lovegood. Se não tiverem alguma coisa para alimentar a mídia, vamos todos ficar com cara de idiota.
Malfoy pegou um canivete, começou a limpar as unhas no instante em que Lupin saía da sala e disse:
- Deus é testemunha de que nenhum de nós quer que o promotor fique com cara de idiota. Merda! Eles querem tudo entregue de bandeja, não é? - Seus olhos se levantaram e olharam para Gina. - Acusação de assassinato para cima de Redford não vai colar, Gina. Ele podia até aceitar acusação de envolvimento com a droga. Afinal, é quase uma coisa moderna, um lance atual, só que jogar quatro homicídios nas costas dele vai ser difícil. Temos apenas uma chance para enquadrá-lo.
- E qual é essa chance?
- A de que ele não tenha cometido os crimes sozinho. Se quebrarmos um dos outros, o quebramos também. Minhas apostas estão em Jerry Fitzgerald.
- Então, pode pegá-la para interrogar. - Gina soprou com força. - Vou trabalhar Paul Redford. Hermione, pegue uma foto de Redford. Volte na boate, volte à casa de Boomer, vá à casa do Barata e depois à de Hetta Moppett. Mostre a porcaria da foto a todo mundo. Só preciso que uma pessoa o reconheça.
Ela fechou a cara ao ouvir o tele-link tocar, e o atendeu, dizendo:
- Aqui é Weasley falando, estou ocupada, não me aborreça!
- É sempre maravilhoso ouvir a sua voz. - disse Harry implacável.
- Estou em reunião.
- Eu também. Estou embarcando para o Satélite FreeStar One em trinta minutos.
- Você vai sair do planeta? Mas... bem, faça boa viagem.
- Não consegui evitar. Devo estar de volta em três dias. Você sabe como entrar em contato comigo.
- É, eu sei. - Ela queria dizer coisas para ele, coisas tolas, coisas íntimas. - Eu também vou ficar meio presa, por algum tempo. - disse, em vez disso. - Vamos nos ver quando você voltar.
- É melhor verificar os recados na sua sala, tenente. Luna está tentando falar com você o dia inteiro. Parece que você não apareceu para a última prova do vestido. Leonardo está... histérico.
Gina fez o possível para ignorar a risada curta de Malfoy.
- Harry, estou com outros problemas na cabeça.
- E não estamos todos? Veja se acha um tempinho para resolver as coisas com ele, querida. Por mim. Vamos nos livrar de todas aquelas pessoas que invadiram a nossa casa.
- Eu queria colocá-los para fora uns dias atrás. Achei que você gostava de ter toda aquela gente em volta.
- E achei que ele fosse seu irmão. - murmurou Harry.
- O quê?
- Nada, uma velha piada. Não Gina, eu não gosto de ter toda aquela gente em volta de mim. Eles são, para encurtar a história, loucos. Encontrei Galahad se espremendo embaixo da cama ainda agora. Alguém colocou miçangas e laçinhos vermelhos nas pontas dos seus pêlos. É torturante para nós dois.
Ela teve que morder a ponta da língua para conseguir segurar a explosão de risos. Harry não parecia estar se divertindo.
- Agora que eu sei que eles o estão deixando maluco, me sinto melhor. Vamos enxotá-los!
- Faça isso. Ah, e tem alguns detalhes para o sábado que vem que acho que você vai ter que resolver enquanto eu estiver fora. Moody tem todos os detalhes. Meu transporte já está esperando. - Ela o viu fazendo um sinal para alguém fora da tela, e então os olhos dele voltaram a se fixar nos dela. - Daqui a alguns dias a gente se vê, tenente!
- Sim. - murmurou ela, enquanto a tela apagava. - Droga! Faça uma boa viagem!
- Ora, ora, Gina. Se você precisa ir correndo para atender o seu costureiro ou talvez levar o seu gato ao psicólogo, Hermione e eu podemos lidar com esse problema banal de assassinatos.
- Não me enche, Malfoy! - os lábios de Gina se abriram em um sorriso feroz.

Apesar de suas muitas características irritantes, Malfoy tinha instintos sólidos. Redford não ia se deixar quebrar assim tão fácil. Gina jogou duro com ele e teve a leve satisfação de conseguir enquadrá-lo nas acusações relacionadas com envolvimento com drogas, mas uma confissão de múltiplos assassinatos não ia acontecer.
- Vamos ver se entendi isso direito... - ela se levantou. Precisava esticar um pouco as pernas. Serviu-se de café. - Foi Cho quem lhe contou a respeito da Immortality? Quando foi isso?
- Como eu já disse, há mais ou menos um ano e meio, talvez um pouco mais. - Ele já estava mais calmo agora, frio, totalmente controlado. O envolvimento com drogas era algo com o que ele poderia lidar, particularmente pelo ângulo que escolhera. - Ela me procurou com uma proposta de negócios. Pelo menos foi assim que ela chamou. Afirmou que tinha acesso a uma fórmula, algo que ia revolucionar a indústria da saúde e beleza.
- Um cosmético. E não mencionou as características perigosas ou ilegais.
- Não nesse momento. Precisava de apoio financeiro para dar início à produção da linha. Uma série de produtos que pretendia lançar sob o seu nome.
- E ela lhe mostrou a fórmula?
- Não, não mostrou. Como já lhe disse, ela me seduziu com a história, fez promessas. Admito que foi uma falha de julgamento de minha parte. Eu estava sexualmente viciado nela, uma fraqueza que ela explorava. Ao mesmo tempo, sob o ponto de vista dos negócios, o produto parecia ter potencial. Ela o estava usando sob a forma de tabletes. E os resultados eram impressionantes! Dava para ver que aquilo a tornava mais jovem, mais saudável. Aumentava a sua energia e o desejo sexual. Se colocado no mercado da maneira correta, um produto como este podia gerar uma quantidade espantosa de lucros. Eu precisava do dinheiro para alguns projetos comercialmente arriscados.
- O senhor precisava do dinheiro. Então continuou a pagar a ela uns centavos aqui, umas migalhas ali, mesmo sem estar a par de tudo.
- Durante algum tempo. Comecei a ficar impaciente e fazer exigências. Ela fez mais promessas. Comecei a suspeitar que ela pretendia me tirar do negócio e continuar sozinha ou que ela estava trabalhando com outra pessoa. Estava me usando. Assim, peguei uma amostra para mim mesmo.
- Pegou uma amostra?
Ele levou algum tempo antes de continuar, como se ainda estivesse escolhendo as palavras.
- Peguei a chave enquanto ela estava dormindo e abri a caixa onde ela guardava os tabletes. No interesse de proteger os meus investimentos, peguei um pouco para mandar analisar.
- E quando foi que o senhor roubou a droga, no interesse de proteger os seus investimentos?
- Roubo não foi caracterizado aqui. - interrompeu o advogado. - Meu cliente pagou, em boa-fé, pelo produto.
- Certo, deixe-me então refazer a pergunta. Quando foi que o senhor decidiu demonstrar um interesse mais ativo nos seus investimentos?
- Há mais ou menos seis meses. Levei as amostras para um químico que conheço, a fim de analisá-las, e paguei por um relatório particular.
- E descobriu...
Redford fez uma pausa para analisar os dedos.
- Descobri que o produto tinha, realmente, as propriedades que Cho apregoara. Entretanto, deixava o usuário viciado, o que o colocava automaticamente na categoria de droga ilegal. Era também potencialmente letal quando tomado com regularidade por um longo período.
- E, sendo um homem íntegro, o senhor aceitou os prejuízos e desfez a parceria.
- Integridade não é uma exigência legal. - respondeu Redford com suavidade. - Eu tinha um investimento para proteger. Decidi realizar algumas pesquisas para ver se os efeitos colaterais inaceitáveis poderiam ser diminuídos ou eliminados. Acho que conseguimos isto ou quase.
- Então o senhor resolveu usar Jerry Fitzgerald como cobaia.
- Isso foi um erro de cálculo. Talvez eu estivesse me sentindo pressionado, pois Cho continuava a forçar a barra para conseguir mais dinheiro e fazia declarações que mostravam que estava disposta a ir a público para divulgar o produto. Eu queria fazê-lo antes e sabia que Jerry seria a porta-voz perfeita. Ela concordou, por uma comissão, em experimentar o produto que os meus pesquisadores refinaram. Sob a forma de líquido. A ciência comete erros, tenente. A droga ainda continuava, como descobrimos tarde demais, a causar dependência.
- E era fatal?
- Parece que sim. O processo estava mais lento, mas, sim, infelizmente, ainda havia o potencial de danos físicos a longo prazo. Um possível efeito colateral sobre o qual alertei Jerry há várias semanas.
- Antes ou depois de Cho descobrir que o senhor estava tentando tirá-la da jogada?
- Acredito que foi depois, logo depois. Infelizmente, Jerry e Cho se encontraram em um evento profissional. Cho fez alguns comentários sobre seu antigo relacionamento com Justin. Pelo que eu soube, e isso foi o que me contaram, Jerry jogou na cara de Cho a parceria de negócios que fizera comigo.
- E Cho não aceitou aquilo muito bem.
- Ela ficou, naturalmente, furiosa. A essa altura, as nossas relações ficaram abaladas. Eu já havia procurado um espécime da Flor da Eternidade, determinado a acabar com todos os efeitos colaterais da fórmula. Não tive a intenção, tenente, de lançar uma droga perigosa para o público. Meus registros podem confirmar isto.
- Vamos deixar que a Divisão de Drogas Ilegais pesquise isso. Cho o ameaçou?
- Cho vivia ameaçando os outros. As pessoas acabavam se acostumando. Eu sentia que estava em uma posição que me permitia ignorar as ameaças, até mesmo reagir a elas. - e sorriu, mais confiante agora. - Entenda tenente, que se ela tivesse ido adiante com aquilo, já sabendo das propriedades negativas da fórmula, eu poderia arruiná-la. Não havia motivos para matá-la.
- Suas relações estavam abaladas, e mesmo assim o senhor foi à casa dela naquela noite.
- Na esperança de que pudéssemos chegar a algum tipo de acordo. Foi por isso que insisti para que Justin e Jerry também estivessem presentes.
- E o senhor fez sexo com ela.
- Ela era uma mulher lindíssima e desejável. Sim, eu fiz sexo com ela.
- Ela estava de posse de tabletes da droga.
- Estava. Como já lhe disse, ela os mantinha em uma caixa sobre a penteadeira. - Seu sorriso voltou. - Eu lhe contei a respeito da caixa e dos tabletes porque imaginei, corretamente, que uma autópsia mostraria sinais da droga. Pareceu-me mais sábio ser prestativo. Não fiz nada a não ser cooperar com as investigações.
- Era fácil cooperar comigo, já que o senhor sabia que eu não ia encontrar os tabletes. Depois que ela morreu, o senhor voltou para apanhar a caixa a fim de proteger os seus investimentos. Se não houvesse nenhum outro produto no mercado a não ser o seu, sem concorrentes, o lucro seria muito maior.
- Eu não voltei à casa dela naquela noite depois que fui embora. Não havia motivos para isso. O meu produto era superior.
- Nenhum dos dois produtos conseguiria ser liberado para lançamento no mercado, e o senhor sabia disso. Distribuído nas ruas, porém, o dela faria sucesso, muito mais do que a sua versão refinada, aguada e provavelmente mais cara.
- Com mais pesquisas e mais testes...
- Mais dinheiro? O senhor já colocara trezentos mil dólares na mão dela. Teve despesas elevadas para procurar um espécime, pagou pelas pesquisas e pelos testes até aquele momento do seu próprio bolso, pagou Jerry Fitzgerald. Suponho que o senhor estivesse ficando um pouco ansioso para ver os lucros. Quanto o senhor cobrava de Jerry por dose?
- Jerry e eu tínhamos um acordo de negócios.
- Dez mil dólares por entrega. - interrompeu Gina, notando que conseguiu atingi-lo. - Foi esse o valor que ela transferiu, três vezes em um período de dois meses, para a sua conta na Estação Starlight.
- Era um investimento. - argumentou ele.
- O senhor a viciou e depois a deixou presa à droga. Isto o transforma em um traficante, senhor Redford.
O advogado entrou com o jargão legal de rotina, tentando transformar um caso típico de tráfico de drogas em acordo de perdas e danos entre parceiros de investimento.
- O senhor precisava de contatos. Contatos de rua. Boomer sempre fazia qualquer coisa para colocar a mão em uma grana. Só que ele se empolgou demais e quis testar o produto. Como foi que ele conseguiu a fórmula? Aquilo foi um furo gigantesco de sua parte!
- Não conheço nenhuma pessoa com esse nome.
- O senhor o viu dando com a língua nos dentes, na boate. Quando ele foi para um quarto privativo com Hetta Moppett, o senhor já não podia mais ter certeza do quanto ele contara a ela. Mas, quando ele o viu lá e fugiu, o senhor teve que agir.
- A senhorita está na pista errada, tenente. Eu não conheço essas pessoas.
- Talvez o senhor tenha assassinado Hetta por pânico. Na verdade, não planejara fazê-lo. Mas, quando viu que ela estava morta, teve que esconder aquilo. Foi aqui que a matança exagerada começou. Talvez ela tenha contado alguma coisa ao senhor antes de morrer, ou talvez não, mas o senhor tinha que pegar Boomer a partir desse ponto. Diria até que estava começando a gostar daquilo, pelo jeito com que o senhor acabou com ele e o torturou terrivelmente, antes de matá-lo. Só que o senhor ficou confiante demais em si mesmo e não foi ao apartamento dele para vasculhá-lo, antes de mim.
Gina se levantou da mesa, começou a andar em volta da sala e continuou:
- Agora, o senhor estava com grandes problemas. A polícia tinha uma amostra e estava com a fórmula e Cho estava fugindo ao seu controle. Que escolha tinha? - Colocando as mãos sobre a mesa, ela se inclinou até chegar bem perto dele. - O que mais um homem pode fazer quando vê o seu investimento e todos aqueles lucros futuros escorrerem pelo ralo?
- Meus negócios com Cho já estavam encerrados.
- Sim, o senhor os encerrou. Levá-la até o ateliê de Leonardo foi esperto. O senhor é um homem esperto. Ela já tinha se atracado com Luna. Se a matasse na casa de Leonardo, iria parecer que ele já aturara demais. O senhor teria de matá-lo também, se ele estivesse lá, mas a essa altura o senhor já tomara o gostinho. Mas ele não estava lá. Então foi ainda mais fácil. Mais fácil ainda quando Luna entrou e o senhor teve a chance de armar uma cilada para ela.
A respiração de Redford estava um pouco forçada, mas ele estava agüentando firme.
- A última vez que eu vi Cho ela estava viva, furiosa e louca para descontar em alguém. Se Luna Lovegood não a matou, meu palpite é que foi Jerry Fitzgerald.
- É mesmo? - Com ar intrigado, Gina se atirou novamente na cadeira e se recostou. - E por quê?
- Elas se detestavam, viviam em competição constante, agora mais do que nunca. Para piorar as coisas, Cho estava planejando conquistar Justin de volta. Isso era uma coisa que Jerry jamais ia tolerar. E... - ele sorriu -... foi Jerry que colocou na cabeça de Cho a idéia de ir até o ateliê de Leonardo para armar um escândalo.
Isso é novidade, Gina pensou e levantou uma das sobrancelhas, perguntando:
- Foi mesmo?
- Depois que a senhorita Lovegood saiu, Cho ficou nervosa, agitada, zangada. Jerry parecia estar adorando aquilo tudo e também o fato de que a mulher mais jovem havia conseguido dar alguns socos na rival. Então, Jerry colocou pilha em Cho. Disse que, se fosse ela, jamais iria tolerar uma humilhação como aquela e perguntou por que ela não ia até o ateliê de Leonardo para mostrar de vez quem é que mandava. Houve mais algumas insinuações a respeito de Cho não conseguir segurar um homem, e então Justin carregou Jerry dali.
O sorriso de Paul Redford se ampliou.
- Eles odiavam Cho, entende? - explicou ele. - Jerry por motivos óbvios e Justin porque eu lhe contei que a droga aparecera através de Cho. Justin faria qualquer coisa para proteger Jerry. Tenho certeza de que ele faria qualquer coisa. Eu, por outro lado, não tinha nenhuma ligação emocional com nenhum dos participantes desta história. Tratava-se apenas de sexo com Cho. Apenas sexo, tenente, e negócios.

Gina bateu com força na porta da sala onde Malfoy estava interrogando Jerry. Quando ele colocou a cabeça para fora da sala, ela desviou o olhar e avaliou a mulher que estava sentada à mesa.
- Preciso falar com ela.
- Ela está quase apagando, está muito fraca. Você não vai conseguir muita coisa dela hoje. O advogado já está forçando a barra para conseguir um intervalo.
- Eu preciso falar com ela! - repetiu Gina. - Como é que você está lidando com ela nessa rodada?
- Estou fazendo o policial durão, implacável!
- Certo, então eu vou pegar mais leve. - e entrou na sala.
Ela ainda era capaz de sentir pena, compreendeu de imediato. Os olhos de Jerry estavam trêmulos e com olheiras. Ela estava muito abatida e suas mãos tremiam quando ela as passava pelo rosto. Sua beleza estava fragilizada, naquele momento, e ela parecia um fantasma.
- Quer comer alguma coisa? - perguntou Gina baixinho.
- Não. - O olhar de Jerry vagou em volta da sala. - Quero ir para casa. Quero Justin.
- Vamos ver se podemos conseguir uma visita. Vai ter que ser supervisionada. - e serviu água. - Por que não bebe um pouco disso aqui e faz uma pausa? - Cobrindo as mãos de Jerry com as suas, Gina levou o copo até os lábios dela. - Isso é difícil para você. Sinto muito. Não podemos lhe dar nada para contrabalançar a droga. Não sabemos o bastante sobre ela, ainda, e qualquer coisa que a gente dê para você pode piorar as coisas.
- Eu estou bem. Não é nada.
- Isso é podre! - Gina se sentou na cadeira. - Foi Paul Redford quem a colocou nisso. Ele mesmo confirmou.
- Não é nada. - repetiu ela. - Estou apenas cansada. Preciso de um pouco do meu drinque energético. - e olhou com esperança, de modo doloroso, para Gina. - Não posso tomar um pouquinho só para me refazer?
- Você sabe que é perigoso, Jerry... Você sabe o que aquilo está fazendo com você. Senhor advogado, Paul Redford declarou oficialmente que apresentou a senhorita Fitzgerald à substância ilegal sob a desculpa de um negócio de risco. Estamos supondo que ela não sabia das propriedades de causar dependência que a substância possui. Não temos intenção, neste momento, de acusá-la pelo uso da droga.
Como Gina imaginava, o advogado deu visíveis sinais de alívio.
- Bem, nesse caso, tenente, - disse ele - gostaria de solicitar a liberação da minha cliente e a sua internação em uma clínica de reabilitação. Internação voluntária.
- A internação voluntária pode ser conseguida. Se a sua cliente puder colaborar por mais alguns minutos, isso me ajudaria a completar as acusações contra Redford.
- Se ela cooperar, tenente, todas as acusações de envolvimento com drogas serão retiradas?
- O senhor sabe que eu não posso prometer isso, doutor. No entanto, vou recomendar clemência nas acusações de posse com intuito de distribuição.
- E Justin? Você vai liberá-lo? - perguntou Jerry.
Gina olhou de volta para ela. Amor, pensou ela, era um sentimento estranho...
- Ele estava envolvido nos negócios com a substância?
- Não. Ele queria que eu desistisse daquilo. Quando descobriu que eu estava... dependente, ele fez força para que eu fosse para uma clínica de reabilitação a fim de parar de tomar a bebida. Mas eu precisava dela. Eu ia parar, mas ainda precisava dela.
- Na noite em que Cho morreu, aconteceu uma discussão.
- Sempre havia uma discussão com Cho. Ela era detestável! Achou que podia conseguir Justin de volta. A piranha nem se importava com ele. Queria apenas me magoar. E magoá-lo.
- Ele não teria voltado para ela, teria, Jerry?
- Ele a odiava tanto quanto eu. - Levando as unhas maravilhosamente bem tratadas até a boca, Jerry começou a roê-las. - Estamos contentes por ela estar morta.
- Jerry...
- Não me importo! - explodiu ela, olhando com raiva para o advogado, que a tentava impedir de continuar. - Ela merecia morrer. Queria obter tudo, nunca se importava com o modo de conseguir. Justin era meu. Eu teria sido a estrela do desfile de Leonardo se ela não descobrisse que eu estava interessada. Ela veio procurá-lo a fim de seduzi-lo, para conseguir que eu fosse cortada e ela pudesse pegar o lugar. Porque aquele teria sido o meu desfile, era para ser meu desde o início. Da mesma forma que Justin era meu. Como a droga era minha. Ela faz você ficar linda, forte e sexy. E todas as vezes que alguém a tomar, vai se lembrar de mim. Não dela, mas de mim.
- Justin foi com você até o ateliê de Leonardo naquela noite?
- Tenente, o que é isto?
- Apenas uma pergunta, doutor. Ele foi, Jerry?
- Não, claro que não. Nós... nós não fomos até lá. Saímos para tomar uns drinques. Depois, fomos para casa.
- Você a provocou, não foi? Você sabia como atingi-la. Queria ter certeza de que ela ia sair de casa para ir atrás de Leonardo. Redford ligou para você para avisar a hora em que ela saiu?
- Não, eu não sei. Você está me deixando confusa! Não posso tomar um pouquinho só? Preciso do meu drinque.
- Você estava usando a droga naquela noite. Aquilo a fez se sentir forte. Forte o bastante para matá-la. Você a queria morta. Cho vivia atravessando o seu caminho. E os tabletes dela eram mais fortes, mais eficazes do que o seu líquido. Você os queria, Jerry?
- Sim, eu os queria. Ela estava ficando cada dia mais jovem, diante dos meus olhos. Mais magra. Eu preciso tomar cuidado com cada garfada de comida, enquanto ela... Paul me disse que era capaz de conseguir tirar os tabletes dela. Justin avisou para que ele se afastasse e ficasse longe de mim. Mas Justin não compreende. Ele não compreende como aquilo faz a gente se sentir. Imortal. - disse ela, com um sorriso horrível. - Aquilo faz a gente se sentir imortal. Pelo amor de Deus, apenas uma dose!
- Você escapou sorrateiramente pelos fundos, naquela noite, e foi até o ateliê de Leonardo. O que aconteceu, então?
- Não consigo... Estou confusa... Preciso tomar algo...
- Você pegou a bengala e a agrediu? Você a continuou agredindo, sem parar?
- Eu queria que ela morresse! - Com um soluço, Jerry colocou a cabeça sobre a mesa. - Pelo amor de Deus, me ajude! Conto tudo o que você quiser ouvir, mas me ajude!
- Tenente, qualquer coisa que a minha cliente declare sob pressão física e mental será inaceitável no processo.
Gina observou a mulher que chorava e pegou o tele-link, ordenando:
- Tragam os para-médicos até aqui. E providenciem uma ambulância para a senhorita Fitzgerald. Sob guarda.





N/A: novo capitulo pessoal, não to com tempo pra responder aos comentários, por isso não próxima at eu respondo.
Bianca: as adaptações que eu estou postando vão continuar normalmente, pois a maioria dos capítulos já esta pronto, é so mesmo as que eu estou escrevendo que vão demorar um pouquinho mais. Abraços.

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