CAPÍTULO QUINZE



CAPÍTULO QUINZE

- Fico satisfeita por recebê-lo de volta, senhor Redford.
- Isto está se tornando um hábito desagradável, tenente. - Redford se sentou à mesa na sala de interrogatório. - Sou esperado em Nova Los Angeles em poucas horas. Espero que a senhorita não me cause atrasos.
- É que eu sou muito cuidadosa, gosto sempre de confirmar os meus dados. Não quero que nada nem ninguém escape por alguma fresta.
Gina olhou para o canto em que Hermione estava, muito bonita em seu uniforme completo. Do outro lado do espelho, Gina sabia, estavam o comandante Lupin e o promotor, observando toda a ação. Ela teria que decidir a questão ali mesmo ou era muito provável que se desse mal.
Sentou-se e cumprimentou o holograma do advogado que Redford escolhera. Obviamente, nem Redford nem o seu advogado acreditavam que a situação era séria o bastante para providenciar um representante em pessoa na entrevista.
- Doutor, - começou Gina - o senhor está com uma transcrição completa das declarações do seu cliente?
- Sim. - A imagem do homem de olhar duro usando um terno risca-de-giz cruzou as mãos bem-cuidadas. - Meu cliente vem cooperando perfeitamente com a senhorita e o seu departamento. Concordamos com esta entrevista unicamente para finalizar a questão.
Vocês concordaram porque não tinham outra opção, pensou ela, mas manteve o rosto impassível e disse:
- Sua cooperação está sendo muito apreciada, senhor Redford. O senhor declarou que conhecia a vítima, Cho, e que tinha um relacionamento casual, porém íntimo, com ela.
- Exatamente.
- O senhor também esteve envolvido em algum assunto de negócios com ela?
- Produzi dois vídeos para serem transmitidos diretamente para a residência dos telespectadores. Cho trabalhava como atriz neles. Outra produção estava sendo planejada.
- Esses projetos foram bem-sucedidos?
- Moderadamente.
- E, além destes projetos, o senhor tinha algum outro contrato de negócios com a vítima?
- Nenhum. - Um pequeno sorriso surgiu em seus lábios. - A não ser um pequeno investimento especulativo.
- Um pequeno investimento especulativo?
- Ela me disse que estava planejando lançar uma linha própria de produtos de moda e beleza. Evidentemente, precisava de financiamento para o projeto, e fiquei interessado o bastante para investir nisso.
- O senhor deu dinheiro para ela?
- Sim, durante os últimos dezoito meses investi mais de trezentos mil dólares nessa idéia.
Encontrou um jeito de se safar, notou Gina, e se recostou na cadeira.
- Em que pé estava essa linha de moda e beleza que o senhor alega que a vítima estava implementando?
- Não estava em pé algum, tenente. - Ele levantou as mãos, e então as deixou cair novamente. - Eu fui enganado. Só depois da morte de Cho é que descobri que não havia nenhuma linha de produtos, não havia outros investidores, não havia nada.
- Entendo. O senhor é um produtor de sucesso, um homem habituado a lidar com dinheiro. Deve ter pedido prospectos, números, estimativas de despesas, projeções de lucros. Talvez uma amostra dos produtos.
- Não. - Sua boca se apertou e ele abaixou a cabeça, olhando para as mãos. - Não pedi.
- E espera que eu acredite que o senhor simplesmente forneceu dinheiro para uma linha de produtos sobre os quais não possuía nada de concreto?
- É embaraçoso. - Ele levantou os olhos novamente. - Tenho uma boa reputação no mundo dos negócios, e se esta informação sair daqui, minha imagem certamente vai ser prejudicada.
- Tenente, - o advogado interrompeu - a reputação de meu cliente é algo de muito valor. E ela vai ser prejudicada se estes dados forem divulgados para alguém fora do âmbito desta investigação. Eu posso e vou solicitar uma garantia de obstrução para que esta parte da declaração não se torne pública, a fim de proteger seus interesses.
- Pois vá em frente. Essa é uma tremenda história, senhor Redford. Agora, será que o senhor conseguiria me explicar como é que um homem com a sua reputação e com a sua imagem de homem de negócios pode comprometer trezentos mil dólares em um investimento que nem sequer existia?
- Cho era uma mulher persuasiva, e linda. Era também muito inteligente. Sempre escapava pela tangente, quando eu lhe pedia projeções e estimativas. Eu justificava a continuidade dos pagamentos para mim mesmo porque sabia que ela era uma especialista em sua área.
- E só descobriu a armação depois de sua morte?
- Andei fazendo algumas averiguações. Entrei em contato com o agente dela e com o seu advogado. - Soprou o ar das bochechas e quase conseguiu convencer a todos de que estava envergonhado. - Ninguém sabia de nada a respeito da linha de produtos.
- E quando foi que o senhor fez essas averiguações?
- Esta manhã. - respondeu, depois de um segundo de hesitação.
- Depois da nossa entrevista anterior? Depois que eu o questionei sobre os pagamentos?
- Exato. Eu quis me assegurar de que não ia misturar as coisas antes de responder a suas perguntas. Seguindo os conselhos de meu advogado, entrei em contato com as pessoas ligadas a Cho e descobri que havia sido ludibriado.
- O seu senso de oportunidade é... muito hábil. O senhor tem hobbies, senhor Redford?
- Hobbies?
- Sim. Um homem como o senhor, sob a pressão constante do trabalho e com a sua... reputação, deve precisar de alguma distração. Coleção de selos, jogos de computador, jardinagem.
- Tenente, - perguntou o advogado com ar cansado - qual é a relevância desta pergunta?
- Estou interessada no tempo livre de seu cliente. Já estabelecemos aqui como ele usa o seu tempo de trabalho. Talvez a especulação em investimentos fosse uma válvula de escape.
- Não. - garantiu Redford. - Cho foi o meu primeiro erro, e vai ser o último. Não tenho tempo para gastar com hobbies, nem inclinação para isso.
- Eu compreendo perfeitamente o que o senhor quer dizer. Hoje, uma pessoa me disse que mais pessoas deveriam plantar petúnias. Não consigo me imaginar enfiando a mão na terra e mexendo com flores. Não que não as aprecie. E o senhor gosta de flores?
- Elas têm o seu valor. É por isso que eu tenho um grupo de empregados só para cuidar delas.
- Mas o senhor é um horticultor licenciado.
- Eu...
- Solicitou uma licença que lhe foi concedida há três meses. Bem na época em que fez um pagamento para Jerry Fitzgerald, no valor de cento e vinte e cinco mil dólares. E dois dias antes encomendou um exemplar da Flor da Eternidade na colônia em Éden.
- O interesse do meu cliente por flores não tem relevância alguma para esta investigação.
- Tem, sim, e muita. - retrucou Gina. - Além do mais, isto é um interrogatório, não um julgamento. Não preciso mostrar a relevância de nada. Por que o senhor queria um exemplar da Flor da Eternidade?
- Eu... era um presente. Para Cho.
- Então o senhor se deu ao trabalho e gastou uma quantidade considerável de tempo e dinheiro para conseguir uma licença para então comprar um espécime controlado, a um custo ainda maior, a fim de oferecê-lo como presente a uma mulher com quem ocasionalmente fazia sexo? Uma mulher que nos últimos dezoito meses extorquiu do senhor mais de trezentos mil dólares
- Aquilo foi um investimento. Isto era um presente.
- Conversa fiada! E pode economizar os seus protestos, senhor advogado; eles já foram devidamente considerados. Onde está a flor, agora?
- Em Nova Los Angeles.
- Policial Hermione, solicite o confisco deste material.
- Ei, espere um instante! - Redford empurrou a cadeira para trás. - Isto é propriedade minha e foi devidamente paga!
- O senhor falsificou dados para obter a sua licença. Adquiriu ilegalmente um espécime controlado por lei. Ele será confiscado e o senhor será devidamente processado. Hermione?
- Sim, senhora. - Reprimindo um sorriso, Hermione pegou o comunicador e fez contato.
- Isso é um caso claro de assédio moral, - esbravejou o advogado - e essas acusações sem importância são simplesmente ridículas!
- Pois eu ainda nem comecei! O senhor sabia a respeito da Flor da Eternidade, sabia que ela era um elemento necessário para produzir a droga. Cho ia ganhar muito dinheiro com esta droga. Ela estava tentando tirar o senhor da jogada?
- Não sei do que a senhorita está falando.
- Ela o deixou ligado no lance ou fez o senhor experimentar o bastante para ficar viciado? Talvez nesse momento ela tenha dado para trás, até chegar a um ponto em que o senhor seria capaz de implorar por uma dose. Até chegar a um ponto em que o senhor resolveu matá-la.
- Eu nunca experimentei aquilo! - explodiu Redford.
- Mas sabia a respeito. Sabia que ela tinha a droga. E que havia meios de conseguir mais. Foi o contrário, então. Foi o senhor que resolveu tirá-la da jogada? Para colocar Jerry em seu lugar? O senhor comprou a planta. Vamos descobrir se mandou analisar a substância. Com a planta em seu poder, o senhor poderia fabricar a droga por conta própria. Não precisava mais de Cho. E também não conseguia mais controlá-la, não é? Ela queria cada vez mais dinheiro e mais doses de Immortality. O senhor descobriu que a substância era fatal, mas para que esperar cinco anos? Com Cho fora do caminho, o senhor estava com o campo livre.
- Eu não a matei. Não queria nada dela, não havia motivo para matá-la.
- O senhor foi até a casa dela naquela noite. Foi para a cama com ela. Ela ingeriu a droga. Ela zombou do senhor? O senhor já havia assassinado duas pessoas para proteger a si próprio e ao seu investimento, mas ela continuava no caminho.
- Eu não matei ninguém.
Gina deixou o advogado gritar à vontade e despejar todas as objeções e ameaças que quis.
- O senhor a seguiu até o ateliê de Leonardo naquela noite ou a levou até lá?
- Jamais estive lá. Nem sequer toquei nela. Se estivesse disposto a matá-la, teria feito isso em sua própria casa, quando ela me ameaçou.
- Paul...
- Cale a boca, fique calado! - atirou Redford para o advogado. - Ela está tentando me acusar de homicídio, pelo amor de Deus! Eu discuti com Cho. Ela queria mais dinheiro, muito mais. Fez questão de me mostrar o estoque de droga que tinha à disposição dela. Valia uma fortuna. Mas eu já tinha mandado analisar a substância. Já não precisava mais dela, e foi isso o que eu lhe disse. Conseguira que Jerry apoiasse o lançamento, quando estivesse tudo pronto. Cho ficou furiosa, ameaçou me arruinar, me matar. Tive um prazer imenso em deixá-la de fora.
- O senhor planejava fabricar e distribuir a substância ilegal por sua conta?
- Uma produção restrita - explicou ele, enxugando a boca com as costas da mão - e só depois que estivesse pronta. O dinheiro era irresistível. As ameaças dela não significavam nada, entende? Ela não conseguiria me arruinar sem arruinar a si mesma. E isso ela jamais faria. Eu não precisava mais dela. E quando soube que estava morta abri uma garrafa de champanhe e fiz um brinde ao seu assassino.
- Que legal! Agora, vamos começar tudo de novo.

Depois que Gina encaminhou Paul Redford para ser fichado, foi até a sala do comandante.
- Excelente trabalho, tenente.
- Obrigada, senhor. Só que eu preferia estar fichando Paul Redford por assassinato e não por envolvimento com drogas.
- Pode ser que isso ainda aconteça.
- É o que espero. Como vai, senhor promotor?
- Como vai, tenente? - Ele se levantara ao vê-la entrar e permanecera em pé. Seu estilo era bem conhecido, dentro e fora do tribunal. Mesmo quando ele entrava para ganhar, fazia-o com classe. - Eu admiro as suas técnicas de interrogatório. Adoraria tê-la no banco das testemunhas, mas não acredito que cheguemos ao tribunal. O advogado do senhor Redford já entrou em contato com a minha equipe. Vamos negociar.
- E quanto ao assassinato?
- Não temos o suficiente para acusá-lo. Nenhuma prova física. - e continuou a falar, antes que ela conseguisse protestar. - Quanto ao motivo... a senhorita mostrou que ele já tinha tudo nas mãos antes da morte de Cho. Ainda assim, é bem possível que ele seja culpado, mas vamos ter um bocado de trabalho para justificar uma acusação.
- Mas o senhor não hesitou em acusar Luna Lovegood.
- Por causa das provas esmagadoras.
- O senhor sabe que a assassina não foi ela, senhor promotor. Sabe que as mortes das três vítimas deste caso estão conectadas. - e olhou para Malfoy, que estava recostado em uma cadeira. - A Divisão de Drogas Ilegais também sabe disso.
- Sou obrigado a concordar com a tenente neste ponto. - falou Malfoy, com a voz arrastada. - Já investigamos a possibilidade de a senhorita Lovegood estar envolvida com a substância conhecida como Immortality, mas não encontramos nenhuma conexão dela com a droga ou com qualquer das outras vítimas. Ela tem pequenas manchas em sua folha corrida, mas são todas antigas e sem gravidade. Se querem saber o que eu acho, a moça estava no lugar errado na hora errada. - e lançou um sorriso para Gina. - Devo apoiar a tenente Weasley e recomendar que as acusações contra Luna Lovegood sejam retiradas e fiquem na dependência de evidências futuras.
- Sua recomendação foi registrada, tenente Malfoy. - disse o promotor. - A promotoria vai levar tudo isto em consideração, quando fizer uma nova avaliação, com atualização dos dados. Neste momento, para estabelecermos o fato de que estes três homicídios estão interligados, nós precisamos de provas mais concretas. Nosso departamento está, entretanto, disposto a aceitar a recente moção apresentada pelos advogados da senhorita Lovegood, na qual solicitam que ela passe por uma bateria de testes psicológicos, detector de mentiras, hipnose e simulação com realidade virtual. Os resultados destes procedimentos vão influenciar bastante nossa decisão.
Gina soltou um suspiro, longo, bem lento. Aquilo era uma concessão, e das grandes.
- Obrigada. - disse ela para o promotor.
- Jogamos no mesmo time, tenente. Agora, seria melhor mantermos isto em mente, a fim de coordenarmos as nossas declarações para a entrevista coletiva que vamos enfrentar.
Enquanto se preparavam para o evento, Gina foi até junto de Malfoy e disse:
- Agradeço muito pelo que acabou de fazer.
- Foi a minha sincera opinião profissional. - e levantou os ombros. - Espero que isto ajude a sua amiga. Se quer saber, eu acho que Paul Redford tem culpa no cartório... Ou ele eliminou aquelas pessoas com as próprias mãos, ou contratou alguém para fazê-lo.
Gina gostaria de se agarrar a esta idéia, mas balançou a cabeça devagar, argumentando:
- Assassinatos encomendados? Não concordo. As mortes me parecem pouco profissionais, um pouco improvisadas, e pessoais demais. De qualquer modo, obrigada pela força!
- Você poderia pensar em me pagar este favor passando para a minha jurisdição um dos maiores casos de drogas ilegais da década. Depois que solucionarmos o problema e aparecermos diante do público com tudo a respeito da Immortality e a prisão dos envolvidos, isso vai garantir que eu seja promovido a capitão.
- Então, meus parabéns antecipados!
- Eu diria que nós dois vamos merecer estes louros. Os homicídios vão ser solucionados por você, Gina, e a história vai pegar bem para nós dois.
- Bem, eu sei que vou solucionar os homicídios, com certeza. - e levantou uma das sobrancelhas quando ele passou a mão de leve sobre os seus cabelos.
- Gosto dessa determinação. - Com um sorriso rápido, ele tornou a enfiar as mãos nos bolsos.
Virando a cabeça um pouco para o lado, ela sorriu de volta e disse:
- Soube que você vai jantar com Hermione hoje.
- Sim, ela é uma pessoa muito legal, eu sei. É que tenho um fraco por mulheres fortes, Gina. Perdoe o desapontamento que estou sentindo comigo mesmo por ter conhecido você no momento errado.
- Bem, vou considerar isto como um elogio. - Gina recebeu um sinal de Lupin e suspirou. - Ai, que inferno, lá vamos nós!
- Isso não faz você se sentir como um pedaço de carne diante de dezenas de lobos? - murmurou Malfoy quando as portas se abriram e eles se viram diante de uma horda de repórteres.

Todos conseguiram sobreviver aos ataques da imprensa, e Gina teria até considerado o dia como proveitoso se Tonks não estivesse à sua espera no estacionamento subterrâneo.
- Esta área é proibida a pessoas não autorizadas.
- Ah, dá um tempo, Weasley! - Ainda encostada no capo do carro de Gina, Tonks sorriu. - Que tal me dar uma carona?
- O Canal 75 fica fora do meu caminho. - Quando Tonks simplesmente continuou sorrindo, Gina xingou baixinho e destravou as portas. - Entre!
- Você está bonita. - disse Tonks com ar casual. - Quem é o seu cabeleireiro?
- É a amiga de uma amiga. Já estou farta de falar do meu cabelo, Tonks!
- Tá legal, então vamos conversar sobre assassinato, drogas e dinheiro.
- Acabei de passar quarenta e cinco minutos falando disso. - Gina exibiu o distintivo na direção da câmera de segurança e saiu para a rua. - Eu achei que você estava lá, Tonks.
- O que eu vi foi uma aula de como sair pela tangente e tirar o corpo fora. Que barulho esquisito é esse?
- É a regulagem perfeita do meu carro.
- Ah, já sei. Você anda sofrendo novamente com os cortes no orçamento da polícia, não é? Uma vergonha! Enfim, que história foi aquela de ter surgido uma nova linha de investigação?
- Não estou autorizada a discutir este aspecto da investigação com você.
- Hã-hã... e que bochicho é esse a respeito de Paul Redford?
- Redford, como declarei na entrevista coletiva, foi acusado de fraude, de posse ilegal de um espécime vegetal controlado pelo governo e de intenção de fabrico e distribuição de uma droga ilegal.
- E o que é que tudo isso tem a ver com o assassinato de Cho?
- Não estou autorizada a...
- Tudo bem, que droga! - Tonks se recostou no banco e olhou com cara amarrada para o tráfego totalmente engarrafado. - Que tal uma troca?
- Talvez. Você começa.
- Quero uma entrevista exclusiva com Luna Lovegood.
Gina nem se deu ao trabalho de responder. Simplesmente soltou o ar para fora com força.
- Ora, vamos lá, Weasley, deixe que ela apresente a versão da história para o público com as próprias palavras.
- Dane-se o público!
- Posso repetir estas palavras? Você e Potter a colocaram em uma redoma. Ninguém consegue entrar em contato com ela. Você sabe que eu vou ser justa.
- É verdade, nós a estamos protegendo. Ninguém pode ou vai entrar em contato com ela. E você provavelmente seria justa, mas ela não vai conversar com a mídia.
- Isso foi decisão dela ou sua?
- Ah, pare com isso, Tonks, a não ser que você queira continuar a viagem a partir daqui usando transporte público!
- Pelo menos transmita a ela o meu pedido. É tudo o que eu peço, Weasley. Conte a Luna que eu estou interessada em colocar a história dela no ar.
- Tá legal; agora, troque o disco.
- Tudo bem. Recebi uma dica interessante do âncora do programa de fofocas, hoje de manhã.
- E você sabe como eu adoro saber de todos os detalhes a respeito da vida dos ricos e ridículos.
- Ah Weasley, vá se preparando, porque você está prestes a se tornar uma dessas celebridades. - Quando viu a careta furiosa de Gina, Tonks começou a rir. - Ai, eu adoro zoar você! É tão fácil! Enfim, o boato é que o casal mais quente do momento está se separando.
- Estou superinteressada nisso.
- Vai ficar, quando eu lhe disser que este casal é Jerry Fitzgerald e Justin Young.
O interesse de Gina aumentou a um ponto tal que ela teve que reconsiderar a idéia de deixar Tonks no primeiro ponto de ônibus.
- Conte essa história direito.
- Houve uma cena em público hoje, no ensaio geral para o desfile de Leonardo. Pelo jeito, nossos pombinhos saíram no tapa e trocaram uns sopapos.
- Eles se agrediram?
- Foram mais do que tapinhas de amor, segundo a minha fonte. Jerry se retirou para o camarim. Ela é a estrela do desfile agora, por falar nisso, e Justin saiu apressado, com o olho inchado. Poucas horas depois, já estava em Maui, em companhia de outra loura, que também é modelo, só que mais jovem que Jerry.
- E qual foi o motivo da briga?
- Ninguém sabe ao certo. Pelo jeito, o assunto sexo veio à baila na discussão. Ela o acusou de chifrá-la, e ele fez o mesmo. Ela não ia aturar aquilo, nem ele. Ela não precisava mais dele, e ele também não ia mais querê-la de volta.
- Isso é interessante, Tonks, mas não significa nada. - Em compensação, o momento que eles escolheram para armar a cena, pensou Gina, era muito especial.
- Talvez não signifique nada, mas pode ser que sim. É engraçado, pessoas de vida pública, ambos celebridades festejadas pela mídia, perdendo a classe diante de uma platéia. Parece que eles estavam muito interessados em armar esse barraco.
- Como eu disse, é interessante. - Gina parou no portão do Canal 75. - Chegamos!
- Você podia me levar até a entrada do prédio.
- Pegue um daqueles mini-veículos no estacionamento.
- Olhe Gina, você vai investigar o que eu acabei de lhe contar; então, que tal trocarmos algumas figurinhas? Weasley, você e eu já ajudamos uma à outra antes.
Isso era verdade.
- Tonks, as coisas estão precariamente equilibradas no momento. Não posso me arriscar a perder uma pista.
- Eu não vou colocar nada no ar até que você me dê um sinal verde.
Gina hesitou por um instante e, então, balançou a cabeça.
- Não posso, Tonks. Luna é muito importante para mim. Até ela ficar livre de tudo, de forma concreta, não posso me arriscar.
- E ela está a caminho de se livrar? Pode me contar, Weasley.
- Cá entre nós, a promotoria está reconsiderando as acusações. Só que eles não vão retirá-las, pelo menos por enquanto.
- E você já tem um outro suspeito? É Redford? É ele o seu novo alvo?
- Não force a barra comigo, Tonks! Você é quase uma amiga!
- Ai, que inferno! Vamos combinar o seguinte. Se alguma coisa do que eu lhe contei ou vier a contar com relação a isso sirva para ajudar o seu caso, você me dá o troco.
- Eu informo você, Tonks, assim que puder.
- E quero uma entrevista exclusiva com você, dez minutos antes de qualquer informação ser liberada para ir ao ar.
Gina se inclinou e abriu a porta de Tonks dizendo:
- A gente se vê.
- Cinco minutos. Que droga, Weasley, cinco minutinhos!
O que significava, Gina sabia, muitos pontos no ibope e milhares de dólares para a emissora.
- Posso lhe prometer só cinco minutos, se acontecer, e quando acontecer. Não posso lhe prometer mais por agora.
- Então está combinado. - Satisfeita, Tonks saiu do carro e se inclinou na porta, pelo lado de fora. – Sabe Weasley, eu sei que você nunca perde. É só marcar a hora comigo. Você tem queda para defender os mortos e os inocentes.
Os mortos e os inocentes, pensou Gina, sentindo um calafrio ao sair com o carro. Ela sabia que muitos dos mortos eram culpados.

O luar estava penetrando pela clarabóia que ficava acima da cama no instante em que Harry se virou para o lado, afastando-se de Gina. Era uma experiência nova para ele se sentir nervoso antes, durante e depois de fazer amor. Havia um monte de motivos para aquilo, ele disse a si mesmo enquanto ela se aconchegava junto dele, como de hábito. A casa estava cheia de gente. O grupo de pessoas estranhas que trabalhava com Leonardo se apossara, com suas tralhas, de uma ala inteira da residência. Ele estava com muitos projetos e negócios em vários estágios de desenvolvimento, assuntos que estava determinado a resolver antes do casamento.
Havia o casamento propriamente dito. Certamente, um homem tinha o direito de ficar um pouco distraído em um momento como aquele.
Mas Harry era, pelo menos consigo mesmo, um homem totalmente honesto. Havia apenas um motivo real para aquele estado de nervos. A imagem de Gina surrada, sangrando e com o braço quebrado, que aparecia continuamente diante dele.
O terror de que, ao tocá-la, ele pudesse trazer tudo aquilo de volta na cabeça dela transformava o que era belo em algo bestial.
Ao lado dele, ela se remexeu e levantou o corpo, colocando-se de lado para olhar para ele. Seu rosto ainda estava afogueado, e os olhos sombrios.
- Não sei o que eu deveria dizer para você, Harry.
- A respeito do quê? - perguntou ele, passando o dedo de leve ao longo da curva do seu rosto.
- Eu não sou frágil. Não há razão para você me tratar como se eu estivesse ferida.
As sobrancelhas dele se uniram, mostrando aborrecimento consigo mesmo. Ele não imaginou que fosse tão transparente, mesmo para ela. A sensação não lhe caiu bem.
- Não sei do que você está falando. - e começou a se levantar, com a idéia de se servir de um drinque, mesmo sem ter vontade, mas ela o segurou com firmeza pelo braço.
- Fugir ao assunto não é do seu feitio, Harry. - Aquilo a deixou preocupada. - Se os seus sentimentos por mim mudaram por causa do que fiz, por causa das coisas das quais me lembrei...
- Não me insulte pensando isso. - rebateu ele, e a raiva que surgiu em seus olhos causou uma enorme sensação de alívio nela.
- E o que eu deveria pensar? Esta é a primeira vez que você me toca, desde aquela noite. Desde então, você me tratou com mais cuidado do que...
- E você tem alguma coisa contra a delicadeza?
Ele era esperto, pensou ela. Calmo ou agitado, sempre sabia como virar as coisas a favor dele. Gina continuava segurando-o, os olhos fixos nos dele.
- Você acha que eu não sinto que você está se segurando? Não quero que você se segure. Eu estou bem.
- Pois não estou. - e soltou o braço da mão dela. - Não estou. Algumas pessoas são um pouco mais humanas, precisam de um pouco mais de tempo. Deixe isso pra lá!
As palavras dele doeram como uma bofetada. Ela concordou com a cabeça, voltou a deitar e se virou para o outro lado, murmurando:
- Tudo bem. Só que o que aconteceu comigo quando criança não era sexo, era obscenidade. - Fechou os olhos com força e tentou pegar no sono.






Agradecimentos especiais:

gilmara: espero que tenha gostado do capitulo. Abraços.

Bianca: acho que o capitulo responde praticamente a todo o seu comentário, o nome da historia foi realmente bem elaborado. OBS: quanto ao livro que você está querendo “Amantes e Inimigos” eu estou tentado acha-lo, já procurei em praticamente todos os sites que eu conheço para baixar livros confiáveis e que tenham uma boa tradução e não encontrei ainda, mas vou procurar em outros. Esse é um livro novo da Nora ou é mais antigo? Ainda não havia visto ele antes. Tem mais de cem livros da Nora nos sites na internet, mas não consegui encontrar esse, agora fiquei muito curiosos para conhecer esse livro. Beijos. Ah, você já leu o livro da Nora “Doce Vingança”, se não eu recomendo é muito bom, apesar de ser um pouco complicado de se acompanhar.


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