CAPÍTULO DEZESSEIS



CAPÍTULO DEZESSEIS

Quando o tele-link tocou, mal havia amanhecido. Com os olhos ainda fechados, Gina ligou o aparelho, ordenando:
- Bloqueie o sinal de vídeo. Aqui é a tenente Weasley.
- Aqui é da emergência. Chamada para a tenente Gina Weasley. Provável homicídio, a vítima é um homem, corpo nos fundos do número 19 da Rua Cento e Oito. Dirija-se ao local imediatamente.
O estômago de Gina se contorceu de nervoso. Ela não estava de plantão, não deveria ter sido chamada.
- Causa da morte? - perguntou ela.
- Aparentemente, foi espancamento. A vítima ainda não foi identificada devido à desfiguração do rosto.
- Compreendido. Droga! - jogou as pernas para fora da cama e piscou ao ver que Harry já estava em pé se vestindo. - O que está fazendo?
- Vou levá-la ao local do crime.
- Você é um civil. Não tem nada a fazer no local de um crime.
- O seu carro está na oficina, tenente. - Ele simplesmente atirou o olhar na direção dela e teve a pequena satisfação de vê-la praguejar alguma coisa baixinho ao ser lembrada. - Vou lhe dar uma carona até lá e deixo você no local - explicou ele - a caminho do meu trabalho.
- Você é que sabe. - e deu de ombros, enquanto colocava o cinto com a arma.

A vizinhança era miserável. Havia vários prédios decorados com pichações indecentes, vidros quebrados e as faixas que a prefeitura colocava para anunciar que eles estavam condenados. Mesmo assim, ainda havia gente morando ali, pessoas amontoadas em cômodos imundos, evitando os carros-patrulha e se drogando com qualquer substância que desse ligação.
Havia lugares como aquele em todo o mundo, pensou Harry, parado ao lado da barreira que a polícia colocara, sentindo os primeiros raios de sol. Ele crescera em um bairro não muito diferente daquilo, embora ficasse a milhares de quilômetros, do outro lado do Atlântico.
Ele compreendia a vida ali, a desesperança, os negócios escusos, da mesma forma que compreendia a violência que levara ao que Gina naquele instante examinava.
Enquanto a observava, junto dos destroços, ao lado das prostitutas de rua com ar sonolento e os curiosos mórbidos, ele percebeu que também a compreendia.
Seus movimentos eram enérgicos, seu rosto impassível. Mas havia pena em seus olhos enquanto ela observava o que restara de um homem. Gina era, pensou ele, capaz, forte e resistente. Não importava quais fossem as suas feridas, ela as agüentaria. Ela não precisava de Harry para curá-las, apenas para aceitá-las.
- Esse não é o seu ambiente, Potter.
Harry olhou para Neville, que acabara de chegar ao seu lado.
- Já estive em ambientes piores. - replicou.
- Todos nós já estivemos. - suspirou Neville, pegando um bolinho dentro do bolso, ainda embrulhado. - Aceita?
- Não, eu passo. Vá em frente.
Neville devorou o bolinho em três dentadas entusiasmadas e disse:
- É melhor eu ir lá para ver o que a nossa garota vai resolver. - e passou pelo cordão de isolamento da polícia, apontando para o peito no lugar onde o distintivo estava pregado, a fim de acalmar os guardas nervosos que tomavam conta do local. - Que sorte a imprensa ainda não ter aparecido. - comentou ele.
Gina olhou para cima.
- Um assassinato neste bairro não desperta muito interesse, pelo menos até as informações sobre o modo como foi morta a vítima chegarem à mídia. - As mãos de Gina, sem luvas, já estavam manchadas de sangue e ela continuava ajoelhada ao lado do corpo. - Já pegou todas as imagens? - ao receber um aceno de cabeça do técnico de vídeo, ela enfiou as mãos por baixo do corpo. - Vamos virá-lo de barriga para cima, Neville.
O homem caíra ou fora deixado com o rosto para baixo, e uma grande quantidade de sangue e pedaços do cérebro escorriam pelo buraco do tamanho de um punho que havia na parte de trás da cabeça. A parte da frente não estava mais bonita do que a de trás.
- Sem identidade. - relatou Gina. - Hermione está dentro do prédio, batendo de porta em porta para ver se consegue achar alguém que o conheça ou tenha visto algo.
Neville levantou o olhar para a parte de trás do edifício. Havia algumas janelas, com os vidros sujos e grades pesadas. Ele passou a mão pelo piso de concreto, junto do lugar onde ele e Gina estavam agachados. Havia um aparelho de reciclagem quebrado, um saco de lixo amarrado, detritos diversos e pedaços de metal enferrujado.
- A vista daqui não é muito bonita. - comentou Neville. - Já conseguimos descobrir o nome dele?
- Tirei as digitais. Um dos policiais está pesquisando no sistema. A arma já foi encontrada e etiquetada. Um cano de ferro que estava jogado embaixo da máquina de reciclagem. - Com os olhos apertados, Gina continuava olhando para o corpo. - O assassino não deixou a arma no local do crime, no caso de Boomer e no de Hetta Moppett. No ateliê de Leonardo, é óbvio o motivo de o criminoso ter abandonado a arma. Agora, ele está brincando com a gente, Neville, atirando o cano onde até um cego seria capaz de achar. O que você acha desse cara aqui? - e enfiou um dedo por baixo de um suspensório largo, rosa-choque.
Neville soltou um gemido. O cadáver estava vestido na última moda. Calças curtas listradas em várias cores e presas na altura dos joelhos, camiseta prateada e sandálias muito caras, enfeitadas com contas.
- Ele tinha dinheiro para gastar em roupas de mau gosto... - Neville olhou novamente para o prédio. - Se morava aqui, é sinal de que não investia essa grana em imóveis.
- Traficante, - decidiu Gina - um traficante de nível médio. Morava aqui porque fazia negócios nessa área. - e se levantou, limpando o sangue das mãos nas pernas das calças jeans, no momento em que um policial se aproximava.
- Conseguimos confirmar as digitais, tenente. A vítima foi identificada como Lamont Ro, mais conhecido como Barata. Tem uma ficha bem comprida. A maior parte dos registros é de envolvimento com drogas. Posse, produção com intenção de distribuição, alguns assaltos.
- Era informante de alguém da polícia? Alguém usava os serviços dele?
- Não apareceu nada a esse respeito.
Ela olhou para NEville, que deu outro gemido, concordando com o pedido silencioso de Gina. Ele ia pesquisar e descobrir ao certo.
- Muito bem. - voltou Gina. - Vamos ensacá-lo e despachá-lo. Quero um relatório toxicológico. Podem chamar os técnicos agora.
O seu olhar passou em volta de toda a cena mais uma vez e pousou em Harry.
- Preciso que você me dê uma carona, Neville. - anunciou Gina.
- Tudo bem.
- Vou levar só mais um minuto. - e foi até o cordão de isolamento. - Eu pensei que você estivesse indo para o escritório.
- E estou mesmo. Você já acabou o seu trabalho aqui?
- Só faltam algumas coisinhas. Posso pegar uma carona com Neville.
- Você está às voltas com o mesmo assassino aqui.
Gina pensou em dizer a ele que aquilo era assunto da polícia, mas acabou encolhendo os ombros. A imprensa ia colocar as garras na história em menos de uma hora. Falou, então:
- Pelo jeito que a cara dele virou geléia, acho que essa é uma boa aposta. Agora, tenho que...
E se virou na direção dos gritos. Eram lamentos longos e esganiçados, capazes de fazer um buraco em uma parede de aço. Viu a mulher, grande, quase totalmente nua, usando apenas calcinhas vermelhas, que se lançou do edifício. Passou direto pelos dois guardas, que estavam tomando café, derrubando-os no chão como dois pinos de boliche, e se atirou em direção ao que restara da vítima, o Barata.
- Ai, cacete! - murmurou Gina, e correu para interceptar a mulher. A menos de um metro do corpo, Gina saltou e agarrou-a no ar, carregando-a em um vôo que lançou as duas emboladas no chão de concreto.
- Aquele é o meu homem! - A mulher caiu em cima de Gina como se fosse um peixe de duzentos quilos e começou a agredi-la com as mãos gordas. - Aquele ali é o meu homem, sua policial piranha!
No interesse da ordem, para preservar a cena do crime intacta e por uma questão de auto-preservação, Gina levantou o punho com toda a força, atingindo a oponente embaixo do queixo rechonchudo.
- Tenente, a senhora está bem? - os dois policiais acorreram para ajudar Gina a sair debaixo da mulher desmaiada. - Nossa, ela surgiu do nada, de repente! Desculpe, tenente.
- Desculpe? - sacudindo-se para o lado, Gina os repreendeu com severidade. - Desculpe? Seus bobalhões apalermados! Mais um segundo e ela teria comprometido a cena do crime. Da próxima vez que vocês forem enviados para tomar conta de alguma coisa que não seja um engarrafamento de trânsito, não fiquem parados feito dois manes, coçando o saco. Agora, vejam se conseguem chamar os para-médicos para dar uma olhada naquela mulher idiota. Depois, arrumem algumas roupas para colocar nela e mantenham-na detida. Conseguem fazer tudo isso?
Sem esperar por uma resposta, afastou-se dali, mancando. Seu jeans estava rasgado, o sangue dela se misturara com o do morto e seus olhos ainda estavam soltando faíscas quando encontrou os de Harry.
- E você, está rindo de quê?
- É sempre uma delícia vê-la em ação, tenente. - De modo abrupto, ele pegou o rosto dela entre as mãos e apertou a boca contra a dela, em um beijo tão potente que a deixou desequilibrada. - Viu, não estou me segurando? - explicou ele quando ela começou a piscar os olhos. - Peça aos para-médicos para darem uma olhada em você também.

Já haviam se passado várias horas quando ela recebeu uma convocação para comparecer à sala do comandante Lupin. Com Hermione ao lado, Gina pegou a passarela aérea.
- Sinto muito, Weasley. Ela não devia ter passado por mim.
- Nossa Hermione, não esquente mais a cabeça! Você estava do outro lado do prédio quando ela deu aquela corrida louca.
- Mas eu devia ter imaginado que um dos outros inquilinos ia saber alguma coisa a respeito dela.
- É... a gente tem que manter a bola de cristal sempre limpinha. Olhe, o fato é que ela não fez nada, a não ser me deixar com mais algumas marcas roxas. MAlfoy já chegou?
- Ele ainda está em trabalho de campo.
- E ele continua trabalhando no seu campo?
- Estivemos juntos a noite passada. - Hermione sorriu de leve. - Íamos apenas sair para jantar, mas então uma coisa leva a outra. Nossa, juro que não dormia tão bem desde que era criança! Quem poderia imaginar que sexo bem realizado era um calmante tão bom?
- Eu poderia ter lhe dado esta informação.
- Enfim, o fato é que ele recebeu uma chamada sobre o caso, logo depois da minha. Aposto que ele sabe quem é a vítima e talvez possa nos ajudar.
Gina resmungou alguma coisa. A recepcionista não as fez esperar do lado de fora da sala de Lupin e indicou que elas entrassem direto. Ele apontou para duas cadeiras.
- Tenente, creio que o seu relatório já está a caminho da minha mesa, mas prefiro que você faça um resumo oral de tudo o que sabe sobre este mais recente homicídio.
- Sim, senhor. - Gina transmitiu as informações sobre o endereço e a descrição da cena do crime, o nome e a descrição da vítima, bem como os detalhes da arma encontrada, os ferimentos e a determinação exata da hora da morte feita pelo legista. - A busca de porta em porta que Hermione efetuou não trouxe nada de novo, mas vamos passar outra vez em todos os apartamentos. A mulher que estava vivendo com a vítima foi de alguma ajuda.
Lupin levantou as sobrancelhas. Gina ainda estava vestindo a mesma blusa manchada e o jeans rasgado.
- Soube que você teve alguns problemas no local, tenente.
- Nada a declarar. - Gina já decidira que a bronca que dera nos policiais ia ser o suficiente. Não havia necessidade de levar a coisa adiante, com uma repreensão oficial a eles. - A mulher é uma ex-acompanhante autorizada que trabalhava nas ruas. Não teve dinheiro para renovar a licença. Ela também era usuária de droga. Quando fizemos um pouco de pressão a esse respeito, conseguimos obter alguns dados sobre os movimentos da vítima na noite passada. De acordo com a declaração da testemunha, eles estiveram juntos, no apartamento, até por volta de uma da manhã. Beberam um pouco de vinho e ingeriram Exótica. Ele avisou que tinha que sair, para fechar um negócio. Ela tomou uma dose de Download e apagou. Como o legista determinou em seu relatório preliminar que a morte ocorreu aproximadamente às duas da manhã, essa informação bate. As evidências indicam - continuou Gina - que a vítima foi morta no mesmo local em que foi encontrada, hoje cedo. Também há fortes indícios de que foi assassinada pela mesma pessoa que matou Hetta Moppett, Boomer e Cho.
Fazendo uma pausa para respirar, Gina continuou a falar, de modo formal:
- Os movimentos e a localização de Luna Lovegood no momento em que ocorreu este assassinato podem ser confirmados pela investigadora principal do caso e por diversas outras pessoas.
Lupin ficou sem dizer nada por alguns momentos, mas manteve os olhos no rosto de Gina.
- Este comandante não acredita que Luna Lovegood esteja de modo algum ligada a este assassinato, e a promotoria compartilha a mesma opinião. Estou com o relatório preliminar com a análise que a doutora Minerva apresentou sobre os testes aos quais a senhorita Lovegood foi submetida.
- Testes? - Esquecendo de todas as formalidades, Gina saltou da cadeira. - O que o senhor quer dizer com "testes"? Eles estavam marcados para segunda-feira.
- Foram antecipados - informou Lupin, com toda a calma - e encerrados às treze horas, agora à tarde.
- Por que eu não fui informada? - Lembranças desagradáveis das próprias experiências com sessões de testes fizeram o estômago de Gina estremecer. - Eu deveria estar presente.
- Foi no interesse de todos os envolvidos que você não foi informada. - e levantou uma das mãos. - Antes de perder a compostura e se arriscar a cometer uma insubordinação, deixe-me contar-lhe que a doutora Minerva afirmou claramente em seu relatório que a senhorita Lovegood passou em todos os testes. O detector de mentiras confirma a veracidade das suas informações. Quanto aos outros elementos, a doutora Minerva acha que a acusada mostrou-se incapaz de exibir a extrema violência com a qual Cho foi morta. Para encurtar o assunto, a doutora Minerva recomenda que as acusações contra a senhorita Lovegood sejam todas retiradas.
- Retiradas. - O fundo dos olhos de Gina começou a arder quando ela se sentou novamente. - Quando?
- A promotoria está disposta a levar em consideração o relatório da doutora Minerva. Extra-oficialmente, posso lhe afirmar que, a não ser que outros dados que comprometam a análise surjam, as acusações serão retiradas na segunda-feira. - Notou a forma com que Gina segurou o tremor do corpo e aprovou o seu controle. - As evidências físicas são fortes, mas foram contrabalançadas pelo relatório da doutora Minerva e as provas recolhidas na investigação das outras mortes, supostamente conectadas.
- Obrigada.
- Não fui eu que a livrei das acusações, Weasley, nem você, mas chegou bem perto. Agora, vá pegar esse canalha, e depressa.
- É o que eu pretendo fazer. - Seu comunicador tocou. Gina esperou pelo aceno de cabeça de Lupin antes de atender. - Aqui fala a tenente Weasley.
- Já recebi o seu pedido de urgência. - disse Quim, com a cara amarrada. - Até parece que não temos mais nada que fazer no laboratório.
- Reclame depois. O que descobriu?
- Seu mais recente cadáver ingeriu uma dose bem alta de Immortality antes de bater as botas. Pouco antes, pelo que verificamos. Acho que ele não teve nem tempo de curtir o barato...
- Transmita o relatório para a minha sala. - disse ela, desligando antes que ele tivesse chance de reclamar. Dessa vez, ao levantar, ela estava sorrindo. - Tenho um compromisso para esta noite, e acho que talvez consiga juntar algumas pontas soltas.

Caos, pânico e nervos à flor da pele pareciam fazer parte do mundo, da alta-costura tanto quanto a própria passarela, as modelos esqueléticas e os tecidos reluzentes. Era fascinante e divertido observar os atores assumindo seus papéis. A mulher que parecia um manequim de lábios grossos e que reclamava de defeitos em todos os acessórios; a camareira com passos de lebre que usava agulhas e alfinetes brilhantes espetados em um tufo do cabelo; a cabeleireira que passava em revista todas as modelos, como um general pronto para a batalha; e o desafortunado criador de todo o brilho, que ficava no meio da confusão, retorcendo as mãos imensas.
- Estamos atrasados! Estamos atrasados! Preciso de Lissa na passarela dentro do vestido pregueado de algodão, e em dois minutos! A música já vai começar, mas nós estamos atrasados!
- Ela vai conseguir entrar na hora. Nossa, Leonardo, controle-se!
Levou um minuto para Gina reconhecer a cabeleireira. O cabelo de Trina estava armado, sob a forma de lanças pretas pontiagudas, capazes de furar o olho de alguém a qualquer momento. A voz, porém, a denunciou, e Gina ficou observando tudo, enquanto se deixava ser empurrada para trás pelo cotovelo de outra camareira frenética, ao mesmo tempo que Trina moldava com as mãos algo que se parecia, de forma preocupante, como uma juba listrada que de repente se metamorfoseava, com um barulho aquoso, em algo que tinha o formato de um cone.
- O que está fazendo aí, parada? - um homem com olhos de coruja vestindo uma capa que descia até o joelho berrou com Gina, parecendo um cão terrier que ladrava. - Tire logo estas roupas, pelo amor de Deus! Não está vendo que o Hugo já vai entrar?
- Quem é Hugo?
O homem fez um som de gás que escapava com os lábios e começou a tirar a blusa de Gina para fora das calças.
- Ei, meu chapa, quer perder esses dedinhos? - Gina tirou a mão dele e lançou-lhe um olhar furioso.
- Tire a roupa! Tire a roupa! Vai acabar nos atrasando!
Ameaças não adiantaram nada e ele enfiou a mão na calça dela para arriá-la. Ela pensou seriamente em nocauteá-lo ali mesmo, mas, em vez disso, exibiu o distintivo.
- É melhor você cair fora, senão eu vou pendurá-lo pelo rabo por atacar uma policial.
- O que está fazendo aqui? Nós estamos com os documentos em ordem. Pagamos todos os impostos que nos cobraram. Leonardo, tem uma tira aqui nos bastidores! Você não pode me obrigar a lidar com a polícia!
- Weasley! - Luna correu até Gina, com um tecido multicolorido enrolado em volta do braço. - Você está atrapalhando... Por que não está lá fora para assistir ao desfile? Nossa, e por que ainda está vestida desse jeito?
- Não tive tempo de ir em casa trocar de roupa. - Com ar distraído, Gina enfiou a blusa manchada novamente para dentro das calças. - Você está bem? Eu não sabia que eles haviam antecipado os seus testes. Se soubesse, eu teria estado lá.
- Eu passei em todos eles. A doutora Minerva foi o máximo, mas vamos apenas dizer que fiquei contente por tudo aquilo já ter acabado. Não quero mais conversar a respeito. - disse ela, falando depressa, enquanto olhava em volta para o espaço cheio de gente e desordenado. - Pelo menos não agora.
- Tudo bem. Eu quero falar com Jerry Fitzgerald.
- Agora? O desfile já começou. É tudo cronometrado, até o último segundo. - Com a prática de uma veterana, Luna se desviou do caminho de duas modelos de pernas compridas. - Ela precisa se concentrar, Gina. Esse ritmo é de matar! - Virando a cabeça, Luna prestou atenção à música. - A entrada dela é daqui a menos de quatro minutos.
- Então não vou segurá-la por muito tempo. Onde ela está?
- Weasley, Leonardo está...
- Onde ela está, Luna?
- Lá atrás. - Balançando a mão de forma frenética, ela entregou um dos cortes de tecido que carregava para uma camareira que passava. - No camarim das estrelas.
Gina conseguiu se desviar, sair de lado e forçar a passagem no meio da massa humana até uma porta com o nome de Jerry em destaque. Sem se dar ao trabalho de bater, abriu a porta e viu a mulher que procurava sendo empurrada para dentro de um vestido tubinho em lamê dourado.
- Eu não vou conseguir respirar dentro disso... Nem um esqueleto conseguiria! - reclamava ela.
- Você não devia ter comido aquele patê, queridinha. - disse a camareira, implacável. - Agora, encolha a barriga para caber.
- Que aparência interessante... - comentou Gina da porta. - Você está parecendo a varinha de condão de alguma fada.
- É um dos modelos retrô de Leonardo. Representa o glamour do início do século XX. Eu nem consigo me mover.
Gina chegou mais perto e apertou os olhos para ver melhor o rosto de Jerry.
- O maquiador fez um bom trabalho. Nem dá para ver as marcas roxas. - Ela ia confirmar com Trina se houve realmente alguma marca roxa para disfarçar. - Soube que Justin Young andou dando uns socos em você.
- Canalha! Bater em meu rosto na véspera de um desfile importante!
- Eu diria que ele não bateu com tanta força assim. Por que vocês brigaram, Jerry?
- Ele achou que podia ficar de gracinha com uma dançarina qualquer. Não pra cima de mim!
- A noção de tempo é um fator interessante, não é? Quando foi que ele começou a se engraçar com a dançarina?
- Olhe tenente, eu estou um pouco apressada agora, e entrar na passarela com a cara amarrada vai acabar estragando a apresentação. Vamos apenas dizer que Justin já era.
Apesar das afirmações em contrário, Jerry passou com surpreendente agilidade pela porta. Gina ficou exatamente onde estava, ouvindo a explosão dos aplausos no momento em que ela fez a sua entrada. Em exatos seis minutos já estava de volta, sendo retirada do lamê dourado.
- Como foi que você descobriu a respeito de Justin? - quis saber Gina.
- Trina! Venha ajeitar o meu cabelo, pelo amor de Deus! Nossa, você é insistente, hein, tenente? Ouvi boatos a respeito de Justin, foi assim que eu soube. E quando liguei para tirar a história a limpo, ele negou tudo. Mas dava para ver que estava mentindo.
- Hã-hã... - Gina pensava nos mentirosos em geral, enquanto Jerry continuava em pé, com as mãos estendidas. Trina transformou o seu cabelo preto escorrido em um complicado arranjo encaracolado, usando apenas um secador de mão. Um vestido de seda branca muito fina com enfeites multicoloridos foi enfiado em seus braços. - Justin não ficou em Maui por muito tempo, Jerry.
- Estou pouco me lixando para o lugar em que ele está.
- Ele voou de volta para Nova York na noite passada. Eu verifiquei os vôos. Sabe Jerry, isso é estranho. Aquela história da noção exata do tempo, de novo. A última vez que eu vi vocês dois juntos, pareciam almas gêmeas. Você esteve com Justin na casa de Cho, foi para casa com ele naquela noite. E ainda estava lá na manhã seguinte. Ouvi dizer que ele sempre ia com você a todas as provas de roupas e ensaios. Não me parece que ele andava com tempo sobrando para correr atrás de uma dançarina.
- Alguns homens trabalham rápido. - e esticou a mão para que a camareira pudesse enfiar meia dúzia de braceletes barulhentos.
- Uma briga em público, diante de um monte de testemunhas, havia até alguns repórteres lá, de forma bem conveniente. Sabe de uma coisa? Diante de fatos como esse, os álibis de vocês dois ficam até mais fortes. Só que eu não sou o tipo de tira que acredita em fatos como esse.
- O que é que você quer, Weasley? - Jerry se virou para o espelho a fim de conferir o visual de sua roupa. - Eu estou trabalhando!
- Eu também. Quer que lhe conte como é que vejo esta história? Você e o seu namorado tinham um pequeno acordo de negócios com Cho. Só que ela era gananciosa. De repente, parecia que estava querendo passar você e seus amigos para trás. Então, uma coisa providencial acontece. Luna entra na festa e acontece uma briga. Em uma mulher esperta como você, isso era bem capaz de ativar uma idéia.
Jerry pegou uma taça, bebeu de um gole só todo o conteúdo azul-escuro e falou:
- Você já tem dois suspeitos do crime, Weasley. Quem é que está sendo gananciosa agora?
- Vocês três conversaram sobre isso? Você, Justin e Redford? Você e Justin caíram fora e montaram um álibi. Redford não. Talvez ele não seja tão esperto. Talvez você tivesse se comprometido a apoiá-lo também, só que não o fez. Ele levou Cho até o ateliê de Leonardo. Você já estava lá, esperando. Será que as coisas escaparam ao controle? Qual de vocês pegou a bengala?
- Isto é ridículo! Justin e eu estávamos no apartamento dele. Os discos da segurança confirmaram isso. Se você quer me acusar de alguma coisa, traga um mandado. Até lá, saia da frente!
- Você e Justin foram espertos o bastante para não se falarem mais desde a briga? Eu acho que ele não tem tanto controle quanto você, Jerry. Na verdade, estou contando com isso. Vamos ter os registros das ligações de vocês amanhã de manhã.
- E se ele me ligou? E daí? - Jerry correu até a porta enquanto Gina saía, na maior calma. - Isso não prova nada. Você não tem nada.
- Tenho mais um cadáver. - Gina fez uma pausa e olhou para trás. - Acho que nenhum de vocês vai servir de álibi um para o outro para ontem à noite, vai?
- Sua vaca! - Enfurecida, Jerry balançou a taça, atingindo o ombro de uma camareira que passava. - Você não vai conseguir me acusar de nada! Você não tem nada!
Enquanto o barulho e a confusão dos bastidores chegavam a um nível ainda mais elevado, Luna fechou os olhos, dizendo:
- Ah Weasley, como é que você pôde fazer isso? Leonardo ainda precisa dela para mais dez trocas de roupa!
- Ela vai fazer o trabalho dela. Deseja demais ficar sob os refletores. Vou me encontrar com Harry.
- Ele está bem na frente. - disse Luna, com ar aborrecido, enquanto Leonardo corria para acalmar a sua estrela. - Não vá lá para fora com esse uniforme. Coloque isto aqui. Essa roupa já desfilou. Sem as camadas extras e os lenços de pescoço, ninguém vai reconhecer.
- Mas eu vou só...
- Por favor. Vai significar muito para Leonardo se você usar um dos seus modelos na platéia. Esse tem o feitio bem simples, Weasley. E você vai encontrar algum sapato que sirva em você por aí.
Quinze minutos depois, com as roupas rasgadas enfiadas na bolsa, Gina avistou Harry na primeira fila. Estava aplaudindo educadamente um trio de modelos com seios grandes e que rebolavam animadamente pela passarela, usando roupas largas e transparentes.
- Lindo! É exatamente isso que a gente quer que as mulheres usem ao andar pela Quinta Avenida.
- Na verdade, grande parte dos modelos dele é muito atraente. - Harry levantou os ombros. - E eu não me incomodaria de ver você usando aquele vestido da direita.
- Vá sonhando. - Gina cruzou as pernas e a seda preta da roupa sussurrou em resposta. - Quanto tempo vamos ter que ficar aqui?
- Até o amargo fim. Quando foi que você comprou essa roupa? - e passou a ponta do dedo sobre as faixas estreitas que cobriam o braço de Gina.
- Não a comprei. Luna me obrigou a colocá-la. É uma das roupas dele, sem os babados.
- Fique com ela. Cai bem em você.
Ela simplesmente resmungou. As calças jeans e a blusa rasgada combinavam muito mais com ela.
- Ah, lá vem a diva! - anunciou Gina.
Jerry entrou deslizando, e a cada passo dos seus espetaculares sapatos de vidro a passarela explodia em cores. Gina prestou pouca atenção à bufante saia-balão e ao corpete transparente que provocou tanto furor e gritos de aprovação da platéia. Ela observava o rosto de Jerry, apenas isso, enquanto os críticos de moda murmuravam nos gravadores e dezenas de compradores tiravam pedidos, freneticamente, com seus tele-links portáteis.
O rosto de Jerry seguia sereno enquanto ela empurrava para os dois lados dezenas de jovens musculosos que se prostravam diante dela. Ela apresentava a roupa com giros e voltas graciosas, em uma coreografia que a fazia pisar suavemente, a seguir, em uma pirâmide de corpos masculinos malhados.
A multidão aplaudia. Jerry fez uma pose e então apontou os seus olhos de gelo azul na direção de Gina.
- Ai! - murmurou Harry. - Acho que esse foi um golpe direto. Aconteceu alguma coisa que eu deva saber?
- Ela apenas está com vontade de arrancar a minha cabeça. - disse Gina suavemente. - Minha missão foi um sucesso. - Satisfeita, ela se recostou e se preparou para apreciar o resto do desfile.

- Você viu? Weasley, você viu? - depois de fazer uma pirueta rápida, Luna abraçou Gina. - No final, a platéia o aplaudiu de pé. Até mesmo o Hugo.
- Mas quem é esse tal de Hugo, afinal?
- Ele é simplesmente o nome mais importante na área de moda. Foi ele que ajudou a patrocinar o desfile, junto com Cho. Se tivesse tirado o corpo fora... bem, ele não fez isso, graças a Jerry, que entrou como estrela. Leonardo está chegando. Vai poder pagar suas dívidas. Os pedidos já estão começando a chegar. Ele vai poder montar a sua própria loja agora, e em poucos meses o nome de Leonardo vai estar em toda parte.
- Isso é ótimo então.
- Tudo está dando certo. - Luna ajeitou a maquiagem no espelho da área exclusiva para as mulheres. - Agora eu tenho que arrumar outro emprego, e só vou usar os modelos dele. As coisas vão voltar a ficar do jeito que deveriam. Vão mesmo, não vão, Weasley?
- Tudo está se encaminhando para isso. Luna, Leonardo é que foi procurar Jerry Fitzgerald ou foi o contrário?
- Para o desfile? Ele é que foi procurá-la. Por sugestão de Cho.
Espere um instante, pensou Cho; como foi que deixei passar este detalhe?
- Cho quis que Leonardo convidasse Jerry para estrelar o desfile?
- Isso era a cara dela. - Por impulso, Luna pegou um removedor de tintura labial e o aplicou. Ficou olhando a boca sem cor por um instante, e então escolheu uma nova tintura, denominada Explosão Púrpura. - Ela sabia que Jerry jamais aceitaria ficar em segundo plano, especialmente se a estrela era Cho, mesmo sabendo que havia bons comentários a respeito das roupas. Assim, convidá-la foi uma espécie de golpe, entende? Ela podia aceitar, e ficar como coadjuvante, ou recusar e perder a oportunidade de estrelar um dos desfiles mais badalados da temporada.
- E ela recusou.
- Inventou que tinha outros compromissos agendados só para livrar a cara. Mas no minuto em que Cho saiu de cena, ela ligou para Leonardo e se ofereceu para estrelar o evento.
- E quanto ela vai ganhar?
- Pelo desfile? Um milhão de dólares, mas isso não é nada. A estrela tem o direito de comprar os modelos que quiser a preço de atacado, como uma espécie de comissão por divulgar a roupa. E tem também a cláusula referente à mídia.
- E qual é?
- Bem, as modelos mais famosas se comprometem a aparecer nos canais de moda, nos canais de entrevistas e tudo o mais. Têm que elogiar os modelos e são pagas cada vez que aparecem em um programa. Conseguem exposição na mídia e ganham uma grana durante seis meses, com possibilidade de renovação. Ela pode conseguir uns cinco ou seis milhões de dólares, no total, a partir do trabalho desta noite.
- Grande trabalho, para quem pode. Ela está lucrando mais de seis milhões de dólares com a morte de Cho.
- Podemos ver por esse ângulo, sim. Mas ela não estava levando prejuízo antes, Gina.
- Talvez não. Mas eu sei que não está levando prejuízo agora, com certeza. Ela vai aparecer na festa que vai acontecer depois do desfile?
- Claro. Ela e Leonardo são as estrelas da noite. É melhor a gente ir logo para lá, se quiser pegar alguma comida. Esses críticos de moda parecem hienas famintas! No final, não sobram nem os ossos.
- Você tem andado com Jerry e as outras, há algum tempo. - comentou Gina enquanto elas iam para o salão de festas. - Alguma delas anda ingerindo drogas?
- Nossa, Gina! - Sentindo-se pouco à vontade, Luna encolheu os ombros. - Eu não sou dedo-duro.
- Luna. - Gina a empurrou para um canto enfeitado com samambaias. - Não venha com essa para cima de mim. Tem alguém aí usando drogas?
- Puxa, claro, andam rolando uns bagulhos por aí. Estimulantes, basicamente, e muito Zero Appetite. É um trabalho pesado, e nem todas as modelos de segunda linha podem pagar por uma sessão de escultura de corpo. Tem umas drogas ilegais que sempre aparecem, mas a maioria delas é comprada na farmácia.
- E Jerry?
- Ela é natureba. Toma sucos e outras bebidas saudáveis, além daquele drinque que entorna o tempo todo. Fuma um pouco, mas é um daqueles cigarros especiais, para acalmar os nervos. Nunca a vi usando nada perigoso. No entanto...
- No entanto?
- Bem, ela é muito agarrada com as coisas dela, sabe? Há uns dois dias, uma das meninas não estava se sentindo bem. Ressaca da noite anterior. Tomou um pouquinho daquele suco azul de Jerry, e ela ficou furiosa! Queria até que a menina fosse despedida.
- Interessante... Gostaria de saber o que há naquele suco...
- É um extrato vegetal. Ela diz que é feito sob encomenda, para melhorar o metabolismo. E andou espalhando que está pensando em colocá-lo no mercado e divulgá-lo.
- Preciso de uma amostra. Não tenho muito tempo para conseguir um mandado de busca ou um pedido de confisco. - fez uma pausa, avaliou o assunto e sorriu. - Mas acho que sei como resolver o problema. Vamos agitar?
- O que você vai fazer, Gina? - Luna apertou o passo para acompanhar a pressa de Gina. - Não estou gostando desse brilho nos seus olhos... Não cause nenhum problema, por favor! É a grande noite de Leonardo.
- Eu aposto que um pouco de cobertura extra da imprensa vai ajudar a aumentar as vendas.
Entrou no salão de festas, onde a multidão já estava girando na pista de dança ou se acotovelando em volta das mesas do bufê. Avistando Jerry, Gina foi direto até onde ela estava. Harry notou o seu olhar e foi até ela, cruzando o salão.
- De repente, você está parecendo uma policial.
- Obrigada.
- Não foi um elogio. Você vai provocar uma cena aqui?
- Vou fazer o possível para conseguir. Quer manter distância?
- Nem pense nisso. - Intrigado, ele a tomou pela mão e continuou caminhando com ela.
- Meus parabéns pela fabulosa apresentação. - começou Gina, empurrando um crítico agitado para o lado, a fim de ficar cara a cara com Jerry.
- Obrigada. - Jerry levantou a taça de champanhe. - Só que, pelo que tenho visto, você não é exatamente uma especialista em moda. - e lançou um olhar derretido para Harry. - Embora tenha um gosto excelente para homens.
- Melhor que o seu. Você soube que Justin Young foi visto em um clube privado esta noite, em companhia de uma ruiva? Uma ruiva que se parecia muito com Cho?
- Sua piranha, mentirosa! Ele não ousaria... - Jerry se segurou e sibilou devagar por entre os dentes. - Eu já lhe falei que não dou a mínima para quem ele namora ou o que faz!
- E por que você se importaria? A verdade é que, mesmo depois de umas sessões de massagem, escultura de corpo e melhorias no rosto, não dá para escapar à realidade. Imagino que Justin estava a fim de alguém mais jovem. Os homens são mesmo uns canalhas! - Gina aceitou uma taça de champanhe que um garçom ofereceu e tomou um gole. - Não que você não pareça maravilhosa. Para a sua idade. É que aquelas luzes todas na passarela acabam fazendo a mulher parecer mais... madura.
- Vá se foder! - e Jerry entornou o conteúdo do seu copo no rosto de Gina.
- Eu sabia que isso ia ser o suficiente. - murmurou Gina, piscando por causa da ardência nos olhos. - Você acaba de agredir uma policial. Está presa!
- Tire as mãos de mim! - completamente acesa, Jerry empurrou Gina para trás.
- Resistência à prisão também. Hoje deve ser a minha noite de sorte! - Com dois movimentos rápidos, Gina já tinha os braços de Jerry dobrados para trás e bem seguros. - Agora, vamos chamar um guarda para levá-la. Não vai levar muito tempo para você conseguir sair, sob fiança. Agora fique quieta para que eu possa ler os seus direitos a caminho lá de fora. - e lançou para Harry um sorriso ensolarado. - Não demoro.
- Leve o tempo que precisar, tenente. - Ele pegou o champanhe da mão de Gina e o bebeu. Esperou por mais dez minutos e então saiu do salão de festas.
Gina estava parada na entrada do hotel, olhando Jerry ser colocada em um camburão.
- Qual a causa de tudo isso?
- Eu precisava ganhar tempo e também de um pretexto. A suspeita demonstrou tendências violentas e estava muito nervosa, sintomas de ingestão de droga.
Tiras, pensou Harry.
- Você a deixou revoltada, Gina.
- Eu precisava disso também. Ela vai sair logo depois de entrar. Tenho que agir.
- Onde vai? - quis saber ele enquanto andavam correndo em volta do salão de festas, indo em direção à área dos bastidores.
- Preciso de uma amostra daquele troço que ela gosta de beber. O fato de ela me agredir deu motivos para que eu recolha o material, se a gente forçar um pouco a barra. Quero que o líquido seja analisado.
- Você acha mesmo que ela ia usar substâncias ilegais assim, na cara de todo mundo?
- Acho que pessoas como ela, como Cho, Justin Young e Paul Redford, são incrivelmente arrogantes. Eles têm muita grana, boa aparência, uma certa dose de poder e prestígio. Isso faz com que se sintam acima da lei. - e lançou um olhar para Harry, no momento em que entrava no camarim que ia ser de Cho. - Você também tem essas tendências...
- Muito obrigado!
- A sua sorte é que eu apareci na sua vida para mantê-lo na linha. Vigie a porta, está bem? Se ela conseguir um advogado ágil não vou ter tempo de terminar isto.
- Estou notando que você também anda sempre na linha. - comentou Harry, e se postou na porta enquanto Gina revistava o camarim.
- Nossa, ela tem uma fortuna em cosméticos aqui!
- É o trabalho dela, tenente.
- Pois eu diria que essa vaidade está lhe custando centenas de milhares de dólares por ano, calculando por baixo. Só Deus sabe o que ela ainda gasta em complementos e escultura corporal. Se ao menos eu conseguisse achar um pouquinho daquele pozinho esperto...
- Você está procurando por Immortality? - e soltou uma gargalhada. - Ela pode ser arrogante, mas não é burra.
- Talvez você esteja certo. - abrindo a porta de uma geladeira, ela sorriu. - Só que ela tem um recipiente de vidro cheio daquele drinque aqui. Um recipiente fechado a chave. - Apertando os lábios, Gina olhou para Harry. - Será que você conseguiria...
- Pronto, lá vou eu sair da linha! - Suspirando, ele foi até lá e estudou a fechadura do recipiente com atenção. - É uma tranca sofisticada. Ela não quer se arriscar. O vidro também é inquebrável, pelo jeito. - Seus dedos começaram a brincar com o fecho enquanto falava. - Consiga-me uma pinça de unhas, um grampo de cabelo ou algo desse tipo.
Gina procurou pelas gavetas e perguntou:
- Isso serve?
Harry franziu as sobrancelhas ao ver uma minúscula tesoura de unhas.
- Deve servir. - Mexendo no interior do fecho com as pontas da tesoura, conseguiu abri-lo e deu um passo para trás. - Pronto!
- Você é mesmo bom nisso.
- Um dos meus pequenos e insignificantes talentos, tenente.
- Sei... - Ela enfiou a mão na bolsa, pegou um saquinho de recolher provas e entornou lá dentro um pouco da substância. - Isso deve ser mais do que suficiente.
- Quer que eu torne a trancar? Vai levar só mais um momento.
- Não se preocupe. Nós podemos passar no laboratório a caminho.
- A caminho de onde?
- Do lugar onde eu deixei Hermione de tocaia. A porta traseira do apartamento de Justin. - e saiu, lançando um sorriso para ele. – Sabe Harry, Jerry estava certa em uma coisa. Eu tenho muito bom gosto para homens.
- Querida, o seu bom gosto é impecável!





Agradecimentos especiais:

Bianca: O capitulo anterior foi realmente interessante e agora a Gina jogou pra cima deles e a Jerry caiu direitinho, coitada não teve nem chance contra a Gina. Quanto ao livro, ainda não consegui encontrar em sites brasileiros, pelo menos não onde a tradução é realmente boa, obrigado pelas informações sobre ele. Eu conheço os livros da Nora a algum tempo, mas ainda não consegui ler todos os livros dela, afinal são mais de cento e trinta livros publicados no Brasil, é claro que na internet tem apenas pouco mais de cem dos livros dela. Quanto ao “Villa” eu ainda não li, mas tenho no pc, e assim que eu tiver um tempo de folga eu vou ler assim como o livro “Segredos” que estou ansioso pra ler, afinal me disseram que era muito bom. Abraços.

gilmara: acho que este capitulo e o anterior respondem a sua pergunta, Abraços.

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