Parte II - Enjoy the silence



''Words is like violence/Break the silence
Come crashing in/Into my little world''
Depeche Mode

Cap 8, parte II- Enjoy the silence


Meu dia passou de uma forma inusitada.  Estranhamente me senti mais próxima de James, só que ao mesmo tempo nossa conversa no Corujal pareceu surreal, como se não tivesse acontecido. Vi-me refletindo sobre a naturalidade com que foi conduzida, a simplicidade de ambos, sem joguinhos da parte dele, sem reservas da minha. Aquilo me surpreendeu um pouco, só que de um modo agradável.


 


Peguei-me mirando-o algumas vezes durante as aulas. Isso foi algo que não consegui evitar, e ele percebendo, retribuía a silenciosa atenção, sendo que, vez ou outra, nossos olhares se encontravam e aquilo me proporcionava certo... - não sei se é a palavra certa, mas por falta de outra melhor - divertimento, apesar do constrangimento natural de minha parte. Talvez por ser eu quem estivesse provocando aquela situação! Quer algo mais diferente que isso?


 


Então foi por essa mudança de atitude, reversão total de situação, que entendi que ele não havia desistido e gostei de acreditar nessa hipótese, era um sentimento novo, nascia uma expectativa diferente. Percebi que, apesar de tudo, mesmo dele ser quem era – James Potter! -, me sentia bem ao vê-lo sorrir de volta. Isso era assustador também, como eu iria sustentar minha posição de autoconfiança naquele momento, daquela menina esperta que todos acreditavam que eu era, diante de uma situação como aquela...? Bem, em questões do coração, a insegurança geralmente impera, certo? Ainda mais na minha situação, já que o histórico dele não era lá muito favorável e eu não sabia se podia confiar... Muita coisa ainda devia acontecer para eu, enfim, mudar meus conceitos, baixar finalmente a guarda.


O fato é que quando ele me viu olhando-o, sorriu sem aquele ar de superioridade ou excesso de confiança que tanto me irritava e, apesar do rubor, decidi não lutar contra, poupar o cansaço. Já tinha acontecido coisa demais, problemas demais - além de toda nova realidade hostil no mundo bruxo -, e vi naquela situação uma válvula de escape.


 


 Acho que criamos uma forma de comunicação sem palavras naquele momento. Talvez as pessoas estivessem notando, mas não me importei, naquele dia preferi não me importar com nada, deixar as preocupações de lado para variar, e nesse quesito ele foi um bom ajudante. Porém, apesar de meu alheamento, alguém em especial percebeu o que estava começando a surgir entre eu e James e não soube se conter.


 


Snape sempre foi um ótimo observador, para falar a verdade ele sempre foi bom em quase tudo, um alguém que impressionava pela perspicácia, porém, é claro, era cego para muitas coisas essenciais, mas deixemos isso de lado, afinal foi uma batalha perdida. O fato é que uma simples troca de olhares decorrida de um sorriso, numa aula de poções, foi captada por ele. Naquela altura eu já não me importava muito com ele, como disse aqui anteriormente, procurava evitá-lo, mas ele sempre esteve de um modo ou de outro presente, sempre quis estar acompanhando de longe o que eu fazia e com quem andava, não que ele me perseguisse para isso, até porque não podia fazê-lo na frente de seus ‘amigos’ comensais. O que pensariam eles se Severo vivesse vigiando a Evans sangue-ruim?


 


Bem, o que quero dizer é que ele tinha seus meios para me sondar, afinal de contas sempre foi meio misterioso, e acho que fazia isso para saber se um dia conseguiria meu perdão de volta. Apesar de eu ter deixado bem claro que não faria isso, creio que ele nunca perdeu as esperanças.


 


Pois bem, ele viu tudo isso e depois de passado o momento, encontrei também o seu olhar, e o que vi nele foi tamanha decepção e desprezo que foi impossível sustentar o olhar. Tentei evitá-lo mais que nunca àquele dia, pois a sensação que eu tive foi de estar fazendo algo errado, nunca disse isso antes, mas ele conseguiu me fazer sentir vergonha de mim mesma, me afetou de tal modo que mais tarde àquele dia jurei que nunca mais iria me importar ou sequer pensar em Snape.


 


Esse fato mudou minha conduta, o que foi notado por James, que passou a me olhar com preocupação todo o resto do dia. Porém, um fato fez essa situação toda piorar. Já à noite, no Salão Comunal, onde quase todo o sétimo ano estava presente, a maioria estudando, e eu esperando a hora de seguir minha ronda da semana, uma garota gritou meu nome. Minha coruja estava se debatendo, ensopada pela chuva forte daquele fim de outubro, contra a janela do aposento. Apesar da estranheza, abri a janela e June entrou desesperada, chamando a atenção de todos na sala, deixando cair um envelope de correspondência trouxa em minha frente.


 


Li no papel meu nome escrito pela letra de Petúnia e quase não pude acreditar. Minha irmã me mandando uma coruja! Algo de muito sério devia ter acontecido para que ela tivesse feito aquilo. Sentei-me na poltrona mirando a carta de uma forma confusa e só desviei o olhar para ver onde estava June. Ela tinha pousado na mesa onde estavam os marotos e Remo tentava secá-la, já James me olhava curioso. Voltei-me para carta e a abri exasperadamente.


 


Nada havia me preparado para seu conteúdo.


 


“Lílian,


 


Tenho bons motivos para estar me sujeitando a entregar uma carta a esses bichos que vocês usam como correio, pois soube ainda pouco que papai lhe escreveu hoje mais cedo contando do casamento. Bem, o que você tem que saber é que eu quis omitir a notícia, mas papai como sempre tinha que lhe avisar. Tentei evitar isso, não houve jeito.


 


Irei noivar no período do Natal e a família de Valter estará por aqui. Será algo extremamente importante e nada pode estragar isso, nada que prejudique minha imagem diante dos Dursley, a família que em breve pretendo fazer parte. Por isso peço que você não nos venha visitar nesse Natal, mesmo que papai a tenha convidado.


 


Tento por meio desta ser o mais clara possível, sua presença pode não render bons frutos, até porque Guida não gosta muito de você, e quero acima de tudo evitar qualquer constrangimento, ainda mais pelo fato de que a saúde de mamãe está piorando consideravelmente. Os médicos não estão muito esperançosos quanto ao novo tratamento – sei que papai iria querer esconder isso de você na carta dele, como sempre faz, tentando proteger a filhinha querida, mas você precisa saber!


 


Então creio que sua presença aqui poderia gerar alguns conflitos que prejudicariam ainda mais o estado de nossa mãe. E se tenho certeza de uma coisa a seu respeito, é que você está tão preocupada com ela quanto eu.


 


É claro que papai não lhe fala, mas a situação aqui não é das melhores, ele anda cada vez mais triste com a piora dela e isso é bastante doloroso. Deve ser realmente confortável para você fugir da realidade indo pra essa sua escola, mas pra mim não está sendo nada bom, ainda mais agora com o casamento e todo seus preparativos. Por tudo isso, espero que você entenda o que pode causar estando aqui.


 


Peço que reflita sobre isso,


 


Petúnia”


 


Foi impossível evitar que elas aparecessem. Já no meio da carta meus olhos estavam embaçados pelas lágrimas. Mamãe estava piorando, papai definhando com ela e Petúnia só sabia pensar no seu casamento idiota e em convenções sociais, e ainda por cima queria me impedir de voltar para casa! Como ela ousava?


 


Levantei- me abruptamente, desorientada, sem saber o que estava sentido, tristeza pela piora de minha mãe ou raiva de minha irmã... Tremia tanto que ficar ali naquela sala cheia de gente rindo, falando alto, estava deixando tudo muito pior e sufocante. Queria sair dali o mais rápido possível, ficar só, sem deixar que ninguém me visse. Tentei limpar o rosto, afastando rudemente as lágrimas teimosas que corriam por ele, deixei todos os livros abertos e minha mochila para trás, tentei contornar as pessoas, mas chegar à porta parecia algo difícil demais.


 


Passei pelas pessoas de cabeça baixa tentando esconder meu rosto, mas ao esbarrar abruptamente em alguém, acabei denunciando meu estado para a pessoa mais imprópria no momento, James, que havia me observado de longe o dia todo. Ele tentou me chamar, porém cruzei a porta o mais rápido que pude.


 


Tentei me acalmar pelo caminho, respirando fundo, lembrando que também tinha uma ronda para fazer. Andei sem rumo, lembrando das palavras de Petúnia, mas não ia fazer o que ela estava dizendo! É claro que iria vê-los, mas o que mais me entristecia era o fato de papai estar me escondendo a piora de minha mãe... E se algo acontecesse e eu estivesse longe? Não podia nem suportar pensar na ideia[C1] .


 


Já no sétimo andar, escuro e deserto, me recostei na parede de pedra bem fria e fechei os olhos. Senti-me bastante vulnerável ali naquele momento, porém, estava mais calma e já não havia mais lágrimas. Prometi que escreveria uma carta a meu pai exigindo notícias diárias sobre o estado de saúde de mamãe, mas sem mencionar Petúnia, aquilo ficaria entre nós duas. Quem ela pensava que era? E ainda por cima tinha suposto que eu queria fugir da situação... Aquilo me indignava a tal ponto...


 


Fiquei ali encostada contra a parede úmida alguns instantes e já me sentia bem mais calma quando resolvi abrir os olhos. Porém, nesse momento senti um ar quente e um barulho abafado bem perto. Rapidamente recuei procurando minha varinha e iluminando o corredor. Chamei por alguém, mas não houve resposta. Continuei de varinha empunhada por precaução, até que ouvi passos às minhas costas. Quando virei me deparei com Snape à minha frente.


 


- Chamando para alguma espécie de duelo, Evans? – perguntou ele desdenhoso, seus olhos estavam em chamas. – O que foi, medo de que eu faça algo sem o Potter estar presente para lhe proteger?


 


- Você sabe muito bem que sei me defender sozinha! Ouvi um barulho estranho e resolvi investigar. – respondi duramente.


 


Ele olhou em volta até que concentrou seu olhar num ponto inquisitoriamente, dando uma risada curta e amarga e depois se voltou para mim.


 


- Bem se vê... Então quer dizer que você também chegou ao ponto de vir às salas vazias se amassar com qualquer um... Tão fácil desse jeito? – acusou ele com ódio no olhar.


 


- Não lhe dou o direito de falar assim comigo, seu aspirante a comensal nojento! E além do mais você está vendo alguém aqui?! Hoje é meu dia de RONDA!- gritei raivosamente, ainda com a varinha à minha frente e o rosto bastante ruborizado. Ele não se abalou, apenas se assustou ao me ouvir chamá-lo de comensal. – E além do mais o que você faz aqui essa hora, alguma reuniãozinha com seus outros amigos comensais? Quantos nascidos-trouxa serão azarados pelas costas dessa vez?


 


- Cale a boca, Evans! Você não sabe do que está falando! – disse ele bastante sério.


- Ah, não? Então me explique você! – explodi, cada vez mais atrevida. Ele abaixou a cabeça e respirou fundo, desviou o olhar e depois me encarou de novo, porém não mais afetado, e sim, por um breve momento, desconcertado. Mas durou pouco, ele era ferino demais.


 


- Você é uma covarde, só se atreve desse modo com seu namoradinho de guarda-costas, pensa que eu não percebi você se dando ao desfrute hoje, foi nojento... Não esperava que você descesse ao nível dele! – exclamou sem medir palavras, de maneira ofensiva.


 


- Como assim guarda-costas, do quê você está falando?! – me senti confusa, sem saber expressar-me adequadamente, a raiva explodindo por dentro – Desfrute? Não OUSE falar comigo desse jeito!


 


- Eu falo como quiser, Evans, afinal foi você que não seu deu ao respeito! – disse ele duramente e repreensivo, virando as costas a mim e depois se voltando novamente. – Sabe, eu já imaginava que isso fosse acontecer... Vocês se merecem!


 


Ele me encarava ao mesmo tempo desapontado e ferido, com os olhos em chamas e as mãos trêmulas, depois mirou o vácuo, a mesma região que olhara anteriormente, expressando ódio e depois foi embora, me deixando ali só, explodindo de raiva, humilhada e sem entender nada.


 


Abri uma sala que estava destrancada e andei até a mesa, apoiando-me nela, tremendo novamente... Não dava daquele jeito, era muito para mim e num só dia! E as ofensas infundáveis de Snape eram o que menos eu estava precisando naquele momento.


 


Tentei novamente me acalmar, mas era pedir demais, queria apenas me esconder ali o quanto pudesse, parecia que aquele dia nada do que queria estava dando resultado, pois logo depois daquele pensamento de cunho solitário ouvi a porta ranger, mas não consegui reunir forças para encarar quem quer que fosse. Senti a pessoa se aproximar por trás e depositar um tecido aveludado sobre a mesa. Levou alguns segundos para eu perceber o que era aquilo e de quem se tratava. Ele pôs a mão no meu ombro e me fez ficar à sua frente.


 


Estava tão sereno e complacente, porém me senti frágil ali, as lágrimas novamente relutando em cair. Senti vergonha por estar chorando em sua frente, eu não chorava na frente de ninguém! Quis me esconder e como uma criança abruptamente enterrei meu rosto em seu peito.


 


Acho que James não esperava que aquela aproximação repentina viesse de minha parte, e foi pego de surpresa, tanto que ali, colada ao seu ombro, ouvi seu coração bater mais rápido, e ele por um breve momento ficar sem ação, com as mãos largadas ao lado do corpo, para depois timidamente afagar minhas costas de maneira nervosa, mas carinhosa. Comecei a perceber os efeitos que aquele gesto tinha  causado nele, seu modo primeiramente desajeitado e seu coração acelerado me fizeram perceber que ele não estava brincando em relação a nós.


 


Essa percepção me fez esquecer gradativamente o motivo das lágrimas e focar no que estávamos vivendo ali naquela sala escura, tão incomumente próximos. Só que agora eu não sabia como encará-lo, mas por um motivo diferente, não vergonha pelo meu estado e sim por não saber o que fazer diante daquela nova situação que compartilhávamos.


 


Afastei-me lentamente, olhando-o enquanto fazia isso, nossos rostos perigosamente perto, seu olhar intenso e as mãos em meu ombro, firmes. Ficamos alguns intermináveis segundos assim, até que ele próprio desfez o contato, eu me desapontei um pouco. Ele desviou o rosto e quando voltou a me mirar estava mais sério, porém, foi o primeiro a falar.


 


- Ele tinha razão, o Snape, você foi seguida. Na verdade venho seguindo você a cada ronda sua. – confessou um pouco desconcertado apontando para a capa de invisibilidade. – Desculpe.


 


-Mas, por quê? – perguntei confusa e um pouco indignada.


 


-Bem, - começou ele com a expressão clássica, de quando previa minha reação adversa. – Desde que você me contou do que viu aquela vez perto da sala precisa fiquei preocupado, mas não porque acho que você não saiba se defender, só que... Dadas as circunstâncias... Ah! Me desculpe, não se sinta ofendida, eu não quis dizer que você não é capaz, é que...


 


- Então quer dizer que esse tempo todo eu imaginando as coisas mais ridículas e... Era você? – perguntei meio espantada, meio sorrindo pela verdade inusitada. Ele riu também, nervoso.


 


- Foi realmente uma atitude psicótica, não é? Sirius me repreendia toda vez, dizia que eu estava enlouquecendo e me importando demais pelo fato de eu...


 


E interrompeu desconcertado. Percebi que estava me importando bastante com o restante da frase. Tentei tirar aquelas ideias ridículas da cabeça.


 


- Bem, você vai deixar de receber a repreensão clássica e ofendida de Lílian Evans por hoje, estou cansada demais para brigas. – respondi de maneira simples.


 


Ele sorriu marotamente, bastante confortável dessa vez.


 


- Bem, tirando a discussão com Snape que presenciei, e que você não sabe o quanto de autocontrole tive de reunir para não jogar a capa de lado e azará-lo ali à primeira ofensa que lhe fez... - exclamou ele com raiva – Teve outro motivo para te deixar assim, não? Nunca lhe vi tão desolada quanto hoje no Salão Comunal. – perguntou preocupado.


 


Baixei a cabeça, lembrando de tudo novamente. Mas quem sabe guardar tudo, como eu estava fazendo, fosse pior? Sentamos ali nas carteiras e resolvi contar a ele as fatídicas notícias. E ele parecia se importar tanto, que foi ficando mais fácil o desenrolar da conversa. Afinal de contas, falar sobre o assunto não podia torná-lo pior, além do que já me sentia confortável em sua companhia, naquelas conversas tão fora de nossos padrões antigos.


 


 Começara a adquirir confiança nele. Estávamos ficando mais próximos do que eu jamais previra. E enfim, meu conceito sobre James estava mudando, assim como o que sentia por ele.


 Xxx

N/a: Olá a todos, espero que tenham gostado do cap, que fiz num impeto de inspiração, deixando de estudar pra isso XD, e que entendem minha demora, é que a faculdade tá consumindo muito meu tempo, mas como sempre disse tenho como meta terminar essa fic, ja que gosto tanto de escreve-la.
Meus agradecimentos especiais à Clarice, que betou tão bem e tão rápido a fic, e a tds que continuam aqui esperando os caps, mto obrigada meesmo gente!
Bjao, e ate a prox

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Comentários (2)

  • Lily Proongs

    continua escreveendo, adoro essa fic ;xx bjuu

    2011-08-24
  • Lizzy Darcy

    continua!!! continua!!! super cuiosa rsrsrsr so um detalhe, creio que no quinto livro, se nao me engano, e no setimo, jo revela que os marotos nunca souberam da sala precisa, nem da passagem utilizada no setimo, pois ela não consta no mapa do maroto so um up ;) mas nao a abandone esta otima :D:D

    2011-07-26
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