Parte I - Divagações



Olá leitores! Bem, vou deixar o pedido de desculpas que lhes devo e ir logo ao que interessa. Primeiro, esse cap será dividido em duas partes, e ainda não se encontra betado. Não é do meu feitio postar algo assim, tão mal resolvido, mas achei que seria melhor pôr a primeira parte no ar, já que vcs - se ainda tiver alguem ai q lê ´- esperaram por ele. Minhas desculpas são as mesmas...estudos, trabalhos, extress...tanto q deixei pra escrever hoje esse parte depois de uma prova super chata. E aí pensei: pq não postar logo?
Sem mais delongas...apresento-vos a parte I do cap 8 de "Uma última chance".


 


Cap.8(Parte I) Divagações


 


 


Quando somos crianças as coisas parecem tão mais fáceis. Tudo que é importante e precisa ser resolvido entregamos aos cuidados de nossos pais, os eternos protetores. E essa é a vida que a maioria das pessoas quer de volta – mesmo sem admitir -, viver sem se preocupar, pois o que mais nos assola é o medo do próximo passo.


 


O que sei é que ao sair daquela enfermaria e durante todo o dia e o seguinte também, o que eu mais queria era me esconder atrás de uma redoma – talvez a redoma que os pais criam em nossa volta -, esquecer tudo, não ter que fazer escolhas, simplesmente deixar as águas rolarem, e o mais importante, eu não queria ter que pensar no que tinha feito, nas coisas que tinha dito, em minhas indecisões e dúvidas. Não queria ter que procurar as respostas dentro de mim, pois sabia que podia não gostar do resultado disso. Às vezes é tão difícil admitir para nós mesmos a verdade que tanto insistimos em não ver...


 


Mas e se eu fizesse isso? Se fechasse os olhos? Isso significaria ser apenas um coadjuvante na vida, e é o que muitas pessoas são. Se deixar levar talvez seja uma das piores coisas, e acredito que boas pessoas acabam se perdendo ao traçar esse caminho. Basta alguém astuto o suficiente aparecer e lhe dar as respostas que gostaria de ouvir.


 


Eu insistia em manter essa opinião sobre Severo, tentava desculpar seus atos por ele ser apenas fraco, alguém que não recebeu os cuidados que deveria, que não foi suficientemente amado, e por isso acabou sendo engolido pela ilusão de que fazia parte de “algo maior”, ou seja lá qual for a desculpa que ele apresente para o grupo das Trevas do qual participa.


 


Mas não era isso, no meu íntimo estava enganada e quanto mais tomava conhecimento das ações dele, mais me convencia de que não era fraqueza coisa nenhuma. E os fatos que narrarei daqui para frente revelarão isso.


 


Uma vez Remo me disse que meu ponto fraco era tentar justificar as ações das pessoas ao olhar só seu lado bom. Na verdade ele estava errado, apesar de eu ter adorado ouvir esse elogio. O que eu mais temia era encarar a verdade e ver que o meu julgamento é que estava errado. Fora assim com Severo, assim com James... Eu estava errada, só era teimosa o suficiente para deixar de acreditar nisso.


 


Não tomar um lado, não se posicionar é a pior escolha. E isso era o que o Ministério estava fazendo em relação à Voldemort. O que eu estava fazendo em relação a mim mesma. Essa comparação me trouxe um temor inexplicável, então parei para repensar os fatos.


 


O que seria dali em diante? O que eu tinha mostrado de mim até ali?


 


Lílian Evans. A garota ruiva nascida-trouxa, doce, alegre e brilhante. Boa em quase tudo, cheia de amigos, alguém com um obsessivo e exagerado senso de justiça, bastante obstinada.


 


Era o que as pessoas pensavam de mim, pelo menos as que nutriam estima. Só que isso era apenas o rótulo. Era o que eu aparentava e o lado que preferia mostrar, pois na verdade era mais sensível e insegura do que ousava admitir – o que sempre quis esconder. Intimamente vivia em constantes conflitos comigo mesma, como qualquer pessoa talvez, exceto pelo fato de me preocupar demais.


 


Ir à Hogwarts e deixar Túnia? Preferir o mundo mágico à minha irmã? Largar a vida trouxa? Como conciliar meus dois mundos? Continuar ao lado de Snape e me manter cega para com sua conduta? Quais respostas dar a mim mesma e aos meus outros amigos sobre isso? Permanecer alheia a tudo que dizia respeito a James Potter? O que pensar dele, depois de tantas mudanças e descobertas? Como escolher o meu caminho e defender meus ideais, que carreira seguir...Medi-bruxa, auror?


 


“Por favor, Lily, preciso saber. Posso continuar insistindo?”. A voz dele ecoava em minha cabeça.


 


E, sobretudo, na ocasião em que me encontrava, o que responder a mim mesma sobre isso?


 


Acabei por fazer o que mais temia, deixar minha mente vagar em direção a Ala Hospitalar, repensar toda aquela conversa, tentar entender como tinha chegado ali, em que ponto eu tinha me envolvido demais, e porque ainda continuava insistindo em dissecar todas as ações dele, de observar suas mudanças, seu caráter, se ele continuava a ser o mesmo arrogante idiota de sempre ou não.


 


Sabia que a conversa que tinha ouvido escondida no trem havia aberto as portas para aquilo tudo, pois nunca o ouvi sendo mais sincero - exatamente como na enfermaria, dando sua cara à tapa, fazendo o que eu nunca teria coragem de fazer: pôr-me à prova deliberadamente. É claro que a vaidade e o capricho podiam estar por trás da conduta de James, mas eu começava a achar que não era aquela a resposta, pois ele já havia provado com o tempo, através de sua insistência, que não tinha perdido as esperanças em relação a mim.


 


E afinal de contas eu nunca o tinha odiado ou coisa parecida, só mantinha a indiferença em relação a ele e fazia questão de frisar que desaprovava profundamente suas atitudes, e no fim foi isso que me distanciou dele o tempo inteiro. Tivemos um mau começo. Porém, uma vez que o fator repulsivo estava fora de questão, ou seja, James já não era o mesmo, será que eu podia enxergá-lo com outros olhos? Será que eu já o via de um modo diferente?


 


Estaria eu apta a aceitar o desafio, de me expor como ele estava fazendo? E se assim o fosse, como eu faria isso, ainda nem tinha certeza do que sentia, estava acontecendo tudo tão rápido e eu me negava a olhar para dentro, a pensar no assunto, a descobrir que o que sentia por ele ia além das expectativas sobre existir ou não um grupo atuante contra Voldemort e o Ministério, as chances dele abrir o jogo e me contar tudo que sabia, para que eu pudesse tomar o lado certo definitivamente, oficialmente.


 


Não era só isso. Porém, eu encontrava aí a justificativa para meu interesse mais que normal pelo garoto.


 


Resolvi então admitir para mim mesma que estava confusa, e sondar a área era o mais indicado. Isto é, deixaria o tempo me mostrar o que fazer e o que pensar. Por hora, quis esperar a atitude dele depois que tivesse saído da enfermaria - e, portanto, depois de ter engolido negativas de minha parte - para que eu começasse a pensar de verdade a respeito dos meus conflitos internos. A conduta dele me diria o que pensar, pelo menos era o que achava.


 


Xxx


 


Pedro saiu da enfermaria no dia seguinte à minha estada no local. No entanto, Sirius e James ainda ficaram um pouco mais, por insistência de Madame Pomfrey. Quanto a Remo, ainda estava se restabelecendo de mais uma noite de Lua Cheia, a última das três daquele mês.


 


Então em menos de uma semana lá estavam os Marotos de volta à vida estudantil em Hogwarts. A impressão que Remo causava às outras pessoas dessa vez extrapolava os comuns cochichos sobre suas constantes olheiras e aparência doentia; ele estava visivelmente pior, mais magro e calado, o que era tema de alguns comentários. As últimas transformações, em que ele estivera sozinho, tinham sido mais violentas, e isso o afetara muito, e não só fisicamente.


 


De certa forma isso refletia no grupo inteiro, pois os Marotos já não estavam com aquele gás de antes. Havia algo ali que os punha a refletir ou preocupar, o que era notável pela mudança de comportamento. Não que eles não fizessem as piadas de sempre ou não estivessem tão expansivos quanto antes. Só que havia um ar de tensão ao redor deles. James parecia alheio às coisas mais triviais. Notei que ele ficava muito ansioso a cada manhã quando chegava o correio coruja e já demonstrava impaciência com seus jogadores no Quadribol – coisa inédita até então; soube disso através das reclamações de alguns membros da equipe.


 


Em relação a mim, notei que ele continuava a me observar de longe, e nos tratávamos com uma estranha cordialidade, estranha não da parte dele, pois o garoto ainda se mostrava à vontade em minha presença, mas dessa vez sem os comuns joguinhos e indiretas, parecia até que ele havia esquecido daquela nossa conversa. Era difícil de interpretar sua maneira de agir, ele não me dava pistas, eu não sabia se ele havia interpretado ao pé da letra o meu não, se ele ainda tinha esperanças em relação a mim. Sua atitude não estava colaborando comigo. Parecia que naquele momento ele tinha algo mais importante para se preocupar.


 


Mas também, como eu fui pretensiosa ao pensar que ele estaria ali disponível novamente, pronto para receber outras respostas mal criadas de minha parte? Ele estava fazendo o que qualquer pessoa com amor próprio faria: esquecer o ocorrido e seguir em frente. Talvez não demorasse muito para uma nova companhia aparecer...


 


Certa vez me peguei pensando antes de dormir nessas coisas junto à janela do meu dormitório – meu lugar favorito, onde eu podia ver os jardins e sentir a brisa da noite, que naquele tempo, com a aproximação do inverno, já estava ficando fria demais. Pensei em como aquilo tudo estava me afetando, e o que será que eu estava esperando de James, e porque eu estava esperando algo dele; em como estava pensando demais no que aconteceria dali em diante conosco. Aquilo tinha ultrapassado há muito um jogo de especulações de minha parte.


 


Eu tinha todas essas caraminholas na cabeça até algo surpreendente chegar e varre-las de lá. Uma carta de Petúnia a mim. Só o fato de minha irmã usar do meio mágico de entrega de correspondência assustaria qualquer um. Então imagine minha reação.


 


Certa manhã o correio havia chegado e eu lançava um olhar de esguela a James, pois ele já tinha sua expressão ansiosa ao notar as corujas entrando pelo Salão Principal. Era realmente estranha sua ânsia por correspondências – sim, eu sei, eu já havia chegado a esse estado de obsessão... observar as pessoas à esse ponto.


 


O fato é que naquele dia uma coruja ia à direção dele, e com isso eu pude ver seu contagiante sorriso de alívio e olhar de confiança em direção à Sirius e Remo. O vi abrindo o envelope freneticamente e seus olhos percorrerem o pergaminho rapidamente. “Eles estão a caminho.” O ouvi sussurrar para os amigos, e em seguida, quando ele balançou bobamente a cabeça, como por coincidência, nossos olhares se encontraram, e ele sorriu. Aquilo foi tão diferente, era como se através daquele sorriso ele estivesse querendo compartilhar algo comigo, aquela boa notícia que recebera, como se fosse importante para ele que eu soubesse daquilo que o fazia feliz; foi tão íntimo que o inevitável era eu não ter enrubescido, mas daquela vez resisti, não desviei o olhar.


 


Eu estava tão absorta naquela incomum interação que foi preciso Mary me cutucar para eu perceber que havia uma carta à minha espera também. Pensei que fosse alguma noticia sobre mamãe e logo abri o envelope. Era de papai, ele me convidava para o noivado de Petúnia que seria no Natal. É claro que na verdade ele só queria avisar que o “importante acontecimento” ocorreria naquele feriado, que eu inevitavelmente estaria em casa – para ver mamãe- para que eu preparasse meu espírito previamente.


 


Dei um muxoxo de descrença, o que foi notado por Mary. Nem foi preciso ela perguntar ou mesmo eu olhá-la para saber que havia em seu rosto aquela comum expressão inquisitiva. Ela já devia ter uma noção sobre de quem era a carta. Ao contar o conteúdo desta, foi inevitável olhar para o lugar onde estavam os Marotos, procurando por James, mas ele havia sumido. Balancei a cabeça envergonhada comigo mesma. Mary, como sempre notou isso, mas fui mais rápida, não a deixei comentar nada sobre aquilo, afinal já era ruim demais conviver com minhas sensações sobre o assunto.


 


- Duvido muito que Petúnia aprove isso de o o papai me convidar. Às vezes acho que ele adora contrará-la... Ele vive dizendo que ela é parecida com minha avó materna. – disse com ar de riso.


 


- Mas e aí, você vai? – perguntou ela, que já sentia pesar por mim.


 


- E eu tenho escolha? Preciso ver como mamãe está, mesmo que para isso precise aturar a tortura que vai ser o jantar com os Dursley. Mas e aí, você não quer ir comigo? – perguntei esperançosa, com meu melhor olhar de abandonada. Mary deu um sorrisinho triste.


 


- Bem que eu queria, mas terei de viajar com meus pais... Porém, tenho uma idéia de companhia para você, iria ser bem útil, afinal, apesar de tudo, é uma pessoa divertida... Hum, que tal James Potter?


 


Enrubesci e olhei-a zangada. Nem era preciso comentários. Ela apenas riu, e isso já estava se tornando mais do que comum. Em teatral demonstração de revolta, me levantei da mesa e anunciei minha ida ao corujal, para entregar a resposta à carta de papai.


Ao chegar no corujal me deparei com uma cena que já estava se tornando comum demais...

Ele estava lá, de costas para mim, olhando pela grande janela triangular sua coruja se perder no horizonte. É claro que seria constrangedor, mas o que mais faria senão anunciar minha presença? Pigarreie ao alcançar uma das corujas da torre e prender a carta nela. James virou em minha direção e sorriu. Retribui o sorriso, foi algo espontâneo, não planejado.


 


- Dá para perceber seu alívio... Recebeu alguma boa notícia? – arrisquei perguntar, enquanto levava a coruja à janela, sem olhá-lo diretamente.


 


Ele virou o corpo enquanto eu caminhava em sua direção, se recostou no parapeito da janela, com seus braços cruzados, me observando.


 


- Uma ótima notícia, você tem mesmo razão, estou bastante aliviado.


 


Assenti, enquanto via a coruja levantar vôo. Tive medo de forçar a barra, indagar mais, afinal ele andava cheio de mistérios, e eu já estava ficando chata com todas aquelas perguntas. Continuei olhando para o Lago, tentando evitar o contato visual. Ele riu.


 


- Eu sei que você está curiosa Lily, não adianta tentar esconder.


 


Fiquei sem palavras, fechei e abri várias vezes a boca, até me conformar com a derrota e rir também. Rimos juntos, num mesmo ritmo. Seus olhos brilhavam, nunca tinha reparado realmente que seu jeito todo largado, ali recostado na parede de mármore, os braços cruzados, as mangas da camisa arregaçadas, a gravata frouxa...tudo naquela sua maneira simples, descompromissada me encantava.


 


- Então, me conte os bons motivos, se puder, é claro.


 


Ele me disse que seus pais estavam voltando para o país depois de uma viagem arriscada, pois eram aurores, disse que estavam há muito tempo sem  dar notícias – suas últimas cartas foram no dia da partida do Expresso de Hogwarts, o que me levou a entender sua conduta exageradamente descontraída àquele dia. Estava sendo tão natural e fácil conversar com ele. Nem parecíamos nós dois interagindo. Talvez realmente não fossemos mais os mesmos, eram ali duas pessoas diferentes, que mudaram pelas circunstancias.


 


- E era um tipo de missão especial para o Ministério? Entendo que isso seja necessário, dadas as condições que estamos vivendo.


 


Ele franziu o cenho, e depois suspirou.


 


- Não era para o Ministério, a coisa toda vai além disso, mas você está certa, é relacionado a pré-guerra que estamos vivendo, foi por isso que permaneci tão incomum todo esse tempo, com altos e baixos.- disse tentando se justificar. - Entendo que possa ter parecido confuso, e eu realmente lamento por não poder te dizer tudo. – explicou ele, olhando nos meus olhos, sincero. – Espero poder te contar em breve, num lugar menos perigoso, numa circunstancia melhor. Confio em você para isso, afinal, você é quase uma marota, - brincou ele. - visto todas as coisas que o Remo já te disse.


 


- Pois ainda acho que o que sei de vocês não é nem a metade. – disse descontraída, e ele riu. Ficamos algum tempo em silêncio, o tempo necessário para apagar os sorrisos de nossos lábios.


 


- Hum... E então? O que você veio fazer aqui essa hora? – perguntou ele, querendo dar outro rumo à conversa, sempre buscando sair daquele campo perigoso.


 


- Responder uma carta, na verdade um convite.


 


Naquela altura, já tínhamos construído um vínculo, e parecia ser o certo eu também falar de mim, já que ele havia falado de si. Não sabia como, e ainda não sei dizer em que momento daquela manhã no corujal, senti que podia confiar nele. Contei toda a história da doença de mamãe, meu desentendimento mais grave com Petúnia, minhas férias tristes – como tinham sido as dele, descobri depois – o convite não autorizado por ela do noivado e o fato de eu ter que ir. Nesse momento as palavras de Mary surgiram em minha mente “que tal James Potter?” e corei de vergonha por esse pensamento.


 


Depois notei que contei de coisas que não havia falado com ninguém até ali, e que as palavras fluíram tão espontaneamente, que depois, quando refleti sobre aquela ocasião, chegou a ser espantoso.


 


Ele me apoiou quando falei sobre minha irmã, indignada. Ouviu-me, concordou nas horas certas, riu nas horas certas – dos fatos que por si eram dramáticos, mas que eu quisera dar a conotação cômica – e também se indignou quando falei sobre o Dursley  e o dia do fatídico jantar nas férias.


 


- Ele é a pior espécie de trouxas, pode apostar. Talvez eles se mereçam, Petúnia e ele, vai ser um casamento de sucesso. – comentei.


 


Perdemos a noção do tempo, pois pareceu passar tão rápido. O ambiente com ele ali era tão reconfortante. Estávamos interagindo de uma forma totalmente nova, James sereno e sem ter tirado aquelas recorrentes brincadeiras que me faziam sair do sério, e eu sem reservas perante a ele. 

O dia teria valido a pena se não fossem algumas das conseqüências do seu final.

xxx

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.