O Jantar perfeito



Arrumou-se rápido, não queria estragar o plano. Em alguns poucos minutos já estava vestido com uma camisa social e uma calça jeans, perfumado, cabelos penteados e ao lado da irmã, ansioso.
- E agora como vai ser? – perguntou Rony
- Agora você abre a porta quando ela chegar... – respondeu tranqüila.
- O que? Ela vai me matar, você esqueceu?
Gina não respondeu, apenas estendeu a mão, onde segurava um lenço preto
- Tampe os olhos dela para levar até lá. - explicou
- Se ela já não tiver fugido – completou, revoltado.
- Você quer que ela te perdoe ou não?
- Claro que eu quero!
- Então pare de bancar o frangote! Enfrente-a, peça perdão, admita o erro, diga o que sente! Ela vai aceitar, acredite...
A campainha soou, fazendo os dois se calarem. Rony olhou a irmã assustado. Gina se levantou e foi em direção a cozinha, mas antes de sumir, ele a ainda a viu pronunciar sem som um “Boa sorte”.
O ruivo se sentia inquieto e ansioso. Ouviu a campainha soar novamente, não podia esperar mais, tinha que ser agora. Moveu-se lentamente até a porta e a abriu com cuidado.
Lá estava ela, como sempre, mas não sorria, como de costume, ao contrário, o encarava com rigidez e surpresa.
- Olá! – cumprimentou-a, sorridente.
- Cadê a Gina? – perguntou, com desdém
- Está lá dentro... Mas isso não importa. Preciso falar com você.
- Não tenho nada para falar com você. Pode chamar sua irmã, por favor?
- Pelo contrário, temos muito o que conversar sim.
Hermione suspirou
- Bem, se você não vai chamá-la, eu já vou. Passe bem.
Ela se virara e deu alguns passos, até ser impedida de continuar por Rony, que a segurou pelo braço e a puxou de volta, os deixando separados por apenas alguns centímetros.
- Você realmente gosta de ser inconveniente, não é mesmo Ronald?
O ruivo riu. Não era de total mentira.
- Por favor, me escute! É a única coisa que peço...
- Primeiro me solte.
- Perdão – soltou-a sem graça.
- Tudo bem, te escuto. Mas que seja rápido. – Ela o olhava firmemente, autoritária.
Rony sorriu e a indicou o banco do jardim, a seguindo e sentando-se ao lado.
- Mione, olha, eu sei que fui um burro, um idiota. Não devia ter esquecido o nosso aniversário de namoro.
- Você quer dizer, esquecer de novo, não é? Já que a única vez que lembrou foi no segundo mês, e isso porque na semana havíamos visto um filme com esse assunto. Você me prometeu, Ronald, prometeu... – Os olhos dela marejaram, e ela abaixou a cabeça para que ele na visse.
- Eu sei, me desculpe. Mas me entenda, não sou bom com datas. Eu prometo Mione, e agora é sério, vou arranjar uma forma de lembrar, nem que eu tenha que pagar o Fred para repetir a data todos os dias...
Ela riu e suspirou, levantando o rosto novamente. De seus olhos já escorriam algumas lágrimas.
- É sempre assim. Você me pede desculpas, me faz uma nova promessa e acha que assim eu vou te perdoar. Acho que não, não mais. Receio Ronald, que essa relação seja mais importante para mim do que para você...
- Não pára! Nunca mais repita isso! Você...
- Ronald, por favor... Qualquer coisa que você fale não vai mudar o fato do que eu vejo. Se tudo isso importasse realmente, você não esqueceria. Você sabe o quanto essa data é importante para mim.
- Mione, me dê uma chance... – Rony também chorava.
- Já te dei muitas, e olha o que você fez comigo... Não dá Rony. Acho melhor darmos um tempo.
- Está terminando comigo? Por Deus Hermione, é só um aniversário de namoro!
- Viu o que eu disse. Não estou terminando, pelo menos não agora. Preciso de um tempo para pensar...
Rony a beijou como nunca a havia beijado antes, tentando mostrá-la tudo que sentia, tudo que até hoje cultivou por aquela morena.
- Mione, por favor, eu te amo! Não faz isso comigo. – sussurrou sem abrir os olhos, quando ainda estavam a alguns milímetros de distância.
- Eu... eu também te amo, muito. Não fui eu quem fez isso com você, Rony, foi você mesmo. Não quero me machucar mais... Adeus.
Hermione lhe deu um beijo na bochecha e saiu, chorando e deixando também choroso, no banco, sozinho.
Rony se levantou, tonto. Hermione já havia sumido de suas vistas. Queria ter corrido atrás dela, queria ter falado tudo que ficou entalado, mas não conseguira, não teve forças suficientes. Agora se sentia fraco, mas não podia ficar ali pra sempre.
Caminhou com dificuldade até onde teria sido o jantar perfeito. Aproximou-se com cuidado da mesa e sentou-se em uma das cadeiras. Olhou para o lugar vazio a sua frente.
- Por que? Por que? Você é um burro, é isso Ronald! Não faz nada certo, nada! Tem uma segunda chance, e o que faz? A perde novamente! Parabéns! Você é um completo inútil, isso sim! – ele gritava consigo mesmo. Parou um instante e olhou mais intensamente para cadeira vaga. – Ah, Mione, por favor... Eu te amo tanto! – sussurrou, caído no choro novamente, e apoiando o rosto nos braço, que já estavam encima da mesa, cruzados.
Gina apareceu na porta dos fundos, mas não se atreveu a perguntar nada, já percebera o que havia ocorrido.
Aproximou-se com cautela do irmão, até poder tocar-lhes os cabelos cor de fogo.
- Mione? – levantou-se esperançoso.
- Não. Rony, eu... sinto muito.
Ele sorriu para a irmã que estava realmente sentida.
- Não, não, tudo bem. – respondeu, limpando os olhos – você tentou, nós tentamos. Bem, como diz Carlinhos, não se ganha todas, não é? – ele se levantou e olhou a ruiva nos olhos – Muito obrigada por tudo que fez, você é demais.- ele sorriu e abraçou, dando um beijo em sua testa logo em seguida – vou dormir, se quiser, chame o Harry e jante vocês dois – desviando o olhar para mesa e permitindo que uma grossa lágrima corresse – isto está muito bonito para ser desperdiçado... Boa noite.
Rony caminhou até a porta que dava para dentro da casa e desapareceu por ela, deixando Gina sozinha, o encarando pensativa.

*
A campainha soou e Gina correu para atende-la. Estava mais arrumada e parecia esconder a tristeza com um sorriso forçado.
- Olá minha linda! – disse Harry, à porta.
- Olá.
Ela saiu e fechou a porta à suas costas.
- E ai? Onde vamos jantar? – O moreno sorria intensamente.
A ruiva não respondeu, apenas o pegou pelo pulso e puxou-o para o jardim dos fundos, o mostrando a mesa.
- Nossa! Está demais Gi!
- É...
- Mas você não parece muito feliz...
- Não! Que isso, estou sim, e muito! – mentiu, forçando mais o sorriso.
- Não minta para mim ruivinha... – disse ele, alisando-lhe os cabelos.
- Ah Harry, não é nada com você. É o Rony... Ele e a Mione brigaram e eu tinha preparado esse jantar para os dois...
- É? Por um segundo pensei que fosse para mim... – comentou, sentido.
- O meu amor! Por você eu faço até mais! Mas dessa vez foi para os dois, porque eles faziam aniversário de quatro meses de namoro, só que o Rony esqueceu...
- De novo?
- É, e por isso ela ficou uma fera. Tentei ajudá-lo, mas, pelo jeito, não deu certo. – terminou, tristonha...
- Oh minha linda! Não fica assim, ta? Você fez tudo que pode...
- Eu sei disso. Só que me corta o coração ver o jeito que o Rony ficou. Ele gosta muito dela.
Harry não disse nada, apenas sorriu para a namorada e a abraçou forte.
- Acho que não quero mais jantar aqui... – disse ele
- Também não, vamos comer lá dentro.
Os dois entraram pela porta dos fundos ainda abraçados.
As próximas semanas não foram fácies para Rony. Estava se sentindo arrasado e tudo parecia ajudar a piorar a situação. Tentara por várias vezes ligar para Hermione, mas ela o ignorava por completo, até mesmo quando ele se arriscava a visitá-la. A mãe parecia, ao invés de entristecer-se, irritar-se ao ver o filho daquele modo, não que ela soube-se da situação, pois não sabia, fazia por pura inocência. Fred e Jorge não dispensavam as piadinhas rotineiras, mas que pareciam aborrecer mais Rony, o que provocava mais doses de graça. Carlinhos decidira, de ultima hora, visitar um tio distante que vivia perto da Mata Atlântica, o que impediu de conversar com ele. Gui estava o tempo todo com Fleur, circulando pela casa, falando alto e se agarrando, enquanto Rony tentava ao máximo não cruzar com eles, evitando, assim, lembrar da, quem sabe, ex namorada. O pai parecia ter escolhido a época a dedo para seus sermões demorados, fazendo o ruivo ficar sentado horas apenas escutando. Percy não parava de reclamara da prefeitura e suas burocracias. Até Harry, o seu melhor amigo, o irritava, pelo simples fato de se encontrar com a irmã e atrapalhar as conversas que estavam tendo freqüentemente, já que Carlinhos não estava mais lá. Gina era a única que o ajudava, e era também a única que sabia da situação, além de Harry, claro.
A situação pareceu complicar quando a mãe o procurou para perguntar sobre a avó Mafalda. Havia se esquecido por completo da promessa à irmã.
- Roniquinho... – Chamou-o a mãe, mais meiga que o normal.
- Sim, mamãe. – respondeu tedioso, como se já esperasse um novo aborrecimento.
- Você lembra da sua avó Mafalda?
- Claro.
- Pois bem, ela vai vir amanha para a ceia de natal e... Bem, ela já está velha e não pode ficar sozinha...
Molly parou, mas,como não ouve nenhuma reação por parte do filho, continuou:
- Eu estava querendo saber se você pode ficar com ela amanha. Pode?
Ele realmente não queria, já estava ruim e só iria piorar se passasse natal com a avó. Preparou-se para responder “sim”, quando alguém interveio.
- Pode deixar mamãe, eu fico com ela – Era Gina. Rony não tinha a mínima idéia de onde ela havia surgido.
- Serio filhinha?
- Sim! Por que não?
- Obrigada! – Molly parecia radiante e correu para enche-la de beijos e, em seguida, retirou-se.
O ruivo estava completamente confuso. Havia prometido que ele ficaria com a avó, já que Gina montara o jantar.
- Por que? – foram as únicas palavras que saíram.
- Não sei! Me deu vontade de ficar com a vovó. – ela sorriu e piscou para o irmão, que retribuiu abobalhado, e logo depois também se retirou.
No dia da ceia, a casa dos Weasley era a que mais brilhava do quarteirão, que sabe até da cidade. Estava coberta do lusinhas pisca-pisca, que intrigaram bastante Rony, ele só não se deu ao trabalho de desmontá-las para ver se era algum feitiço ou algum animal mágico que brilhava e trocava de cor daquela forma, por estar totalmente desanimado. Tinha, também, uma enorme árvore na sala de estar, enfeitada com esmero por Gina e Sra. Weasley.
No momento, Molly circulava pela casa terminando de conferir os detalhes, pois logo os parentes chegariam.
- Arthur, ARTHUR!
- Sim! Aconteceu alguma coisa? – ele apareceu na sala correndo, afobado, onde Rony via TV e Molly quase fazia um buraco no chão de tanto andar de um lado para o outro.
- Claro que aconteceu, claro! Estou quase dando um treco aqui! Não vai caber todo mundo aqui. Esta casa é muito pequena para essa parentada toda! – respondeu, nervosa.
- Molly, não se preocupe! O ano passado, nossa casa era bem menor e coube todos!
- Eu sei Arthur. Mas o ano passado nós não éramos ricos, ou seja, esse ano os parentes irão dobrar de número! Até parece que não conhece nossa família...
Sr. Weasley pareceu atordoado, era verdade tudo que a esposa dissera, mas não havia outro jeito se não socar esse povo todo dentro da casa.
- Eu tenho uma idéia... – disse Rony, sem tirar os olhos da TV.
- Fale – permitiu, incrédula, a mãe.
- Que tal se organizassem tudo no quintal dos fundos? Lá é bem espaçoso, e o tempo não está dando sinal de chuva...
O rosto de Molly pareceu iluminar-se e a famosa frase saiu de sua boca:
- Como eu não pensei nisso antes?
- De nada! – Gritou ele do sofá, mas a mãe o ignorou por completo.
- Vamos Arthur, temos muito o que fazer!- se retirou, puxando o marido junto. Rony agradeceu por ela não ter feito o mesmo com ele.
Quando o primeiro parente chegou, e acreditem, foi a avó Mafalda; tudo já estava em seu devido lugar e os componentes da família, completamente impecáveis.
Gradualmente os outros também foram aparecendo, lotando cada vez mais o jardim dos fundos. Nunca vira tanto parente junto, aliás, nem sabia que tinha tanto parente assim.
Rony não se arriscou a se aventurar do lado de fora, preferiu ficar vendo os especiais de natal na TV. Sentia-se deprimido e sem animo para ver tanta gente.
Eram lá para as onze e meia quando a mãe se juntou a ele na sala novamente.
- O que está fazendo ai?
- Vendo TV
- Ainda?
- Sim
- Já para fora Ronald! Logo será natal!
Ele já imaginava que tal coisa iria acontecer, então não se dispôs a reclamar, apenas aceitou.
Caminhar por meio de tantos ruivos era meio difícil. Parou na grande mesa que estava armada no meio do jardim e se sentou. Admirou cada pessoa que passava e cumprimentava algumas. Quando finalmente deu meia-noite, a confusão aumentou, muitas pessoas se abraçando, o abraçando, desejando Feliz Natal e gritando em comemoração.
Aproveitou a bagunça para sair dali e ir para o jardim da frente. Sentou-se no banco e ficou admirando o céu por alguns instantes. Como podia todos estarem tão felizes em quanto ele sentia morrer por dentro? “Noite feliz” lembrou da música natalina que cantara com Harry no ultimo dia de aula e riu ironicamente. Abaixou os olhos e percebeu que não estava sozinho, Gina e vovó Mafalda estava a alguns metros de onde ele estava. Pareciam conversar, quer dizer, vovó Mafalda não parava de falar enquanto Gina a olhava entediada.
- No meu tempo não era assim, essa bagunça! Como gritam! O natal é uma noite sagrada, não essa algazarra no que se transformou... – resmungava ela.
- Harry!
A ruiva deu um pulo de onde estava sentada e correu para o namorado. Estava agradecida por ele aparecer e não ter que agüentar mais, pelo menos não sozinha, as falações de sua avó.
Rony olhou-os. Como estavam felizes... Invejava-os por isso. Como queria estar com Hermione agora! Mas, não adiantava. Se fosse até a casa dela o máximo que aconteceria era receber a porta na cara. Sentiu seu coração apertar, pensar nela doía muito.
Olhou de novo para a irmã, não podia aceitar que ela estragasse a noite dela, já o ajudara muito ficando com a avó até agora, tinha que deixá-la aproveitar o namorado.
Levantou-se decidido e direcionou-se para onde eles estavam.
- Gina, pode ir, eu fico com a vovó.
A ruiva o olhou surpresa
- Você tem certeza? Não sei se é uma boa idéia Rony, você não está bem...
- Estou ótimo, pode deixar – mentiu
- Tudo bem, mas qualquer coisa grite, ta?
- Está bem.
Gina se levantou do banco, o abraçou forte, sussurrando ao seu ouvido:
- Feliz natal, maninho.
Ele apenas sorriu em resposta.
- E quem é você? – gritou Mafalda, depois que Gina saiu com Harry.
- Ronald, seu neto, vovó.
- Não me lembro de nenhum Ronald. – olhava-o desconfiada.
- Filho de Molly Weasley e Arthur Weasley, o sexto, para ser mais exato.
- Mais um filho da Molly e do Arthur?! Não é possível, eles são coelhos, só pode!
Rony riu. “Essa noite vai ser longa...” concluiu.
Como havia previsto, a noite durou bastante. Mafalda foi a ultima a sair da festa, e isso só depois de muita insistência de um casal que Rony não reconhecera, provavelmente uns parentes distantes.
Quando subiu para seu quarto não suportava mais ouvir a voz de ninguém. Deitou-se em sua cama e adormeceu em poucos segundos, concluindo que esse fora seu pior natal que já passara.

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N/A: Mais um cap para vocês :)
muito obrigada por todos que estão lendo, comentando e votando!
Continuem assim
Feliz 2008 a todos!
bjoos!

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