Já tenho um plano!



Hermione passara a aula toda pensando em como poderia ajudar Harry, estava realmente arrependida pelo que havia feito, devia ter aconselhado a Gina a não aceitar ir ao baile com Dino, que deveria esperar Harry... Contudo, tinha certeza que a amiga, orgulhosa como era, não aceitaria o conselho, e vira, depois que aceitara, como ela mesmo se sentiu mal, mas não voltara atrás... Então por que ajudar Harry, se ela, mesmo tendo uma parcela de culpa, sabia que Gina não teria aceitado se ela tivesse falado o contrário? Ela sabia, sabia muito bem. Ontem, quando Harry a puxara para canto, percebera como a simples briga com Gina o afetara. Percebera em seus olhos verdes, e agora bem desbotados, nos seus gestos e ações, o quanto ele realmente sentia pela ruiva, e este sentimento era tão grande que nem ele sabia a dimensão. Um amor que surgiu do nada, lindo e puro. E por outro lado, também via sua amiga sofrer por ele, e sabia, porque a própria contara, que sempre fora apaixonada pelo garoto de cabelos arrepiados e olhos verdes, amigo de seu irmão. Tinha que ajudá-los, a Gina a ajudara tanto, estava na hora de compensar.
Hermione só tivera uma idéia concreta, e realmente boa, como ela mesma concluiu, quando finalmente soara o sinal, anunciado o recreio.
- Harry, Harry! ESPERA! – ela ofegava, correndo atrás do garoto, que já partira junto a Rony
- Sim... – respondeu desanimado a seu chamado
- Eu tive... tive a idéia que te prometi, e cá pra nós, é muito boa! – Completou com nem um pouco de modéstia.
Os olhos cor de esmeralda pareceram resplandecerem por um segundo, mas ele continuava com a cara fechada, apreensivo. Olhou para Rony, e perguntou, como quem pedisse autorização:
- Posso...?
- Claro que pode, confio em você! Vou na frente ok?
- Ok...Até...
Hermione olhou os lados, conferindo se ninguém estava escutando, então levou os lábios até as orelhas de Harry, tampando com as mãos, para que não tivesse perigo de que alguém os lesse. Contou-lhe com riqueza de detalhes, tudo que havia planejado durante a aula, com cuidado de não esquecer nada e deixar tudo bem fácil de entender.
- Hermione – ele a interrompeu – não sei se... se tenho coragem
- Harry, eu sei como é a Gina... Se você não provar realmente que gosta dela, não adianta! Você tem que ter coragem, te ajudarei ok?
Harry respirou fundo, e Hermione notara que seus olhos, antes opacos, voltavam a ganhar vida apenas com a esperança de Gina o perdoar.
Quando finalmente a garota terminou.
- Entendeu tudo?
- Sim., acho... acho que sim...- Harry estava muito nervoso e inseguro
- Harry, me escute - Hermione o puxou, de modo que os dois se encarassem, concentrados um nos olhos do outro – te ajudarei ok? Vai dar tudo certo, você tem que faze isso!
Harry assentiu com a cabeça e sorriu, o primeiro sorriso que apareceu naqueles lábios, agora secos, durante dias, mas foi um sorriso verdadeiro e cheio de gratidão.
- Obrigado – Respondeu ainda sorrindo
Ela apenas sorriu de volta.
Hermione correu a procura de Gina, para contar-lhe tudo, menos a parte que incluía Harry.
- Não acredito que falou isso a ela! – exclamou pasma – Quem é você e o que fez com a Hermione?
- Para de brincadeira – respondeu, rindo – mas eu tinha que fazer isso, não é? Não podia deixar barato o que ela fez...
- E o que ela fez...
Ela sentiu um bafo quente e uma voz máscula em seu cangote. Era Rony. Ela sorria, mostrando com os olhos a Gina que ela deveria se retirar, e a amiga não demorou a entender.
- Ta, já estou indo! – disse, protestante, se retirando.
Hermione se virou para ele ainda sorridente. Ele também sorria abertamente.
- E ai, o que ela fez?
- Não importa de verdade, ou importa?
- Tudo que vem de você me importa, Hermione Granger.
Rony foi se aproximando. Colocou as mãos nos cabelos crespos, mas sedosos, dela, alisando-os com carinho. Ele a analisava atentamente, com aqueles olhos azuis que tanto a chamavam atenção, parecia vasculhar cada canto a procura de algo, até que pareceu achar, parando o olhar na boca entreaberta da garota. Ela parecia esperar algo, parecia esperá-lo, era bem isso, Hermione sabia; e isso não demoraria, estavam separados apenas por alguns centímetros, centímetros de finalmente se tocarem, centímetros de finalmente senti-lo, de tê-lo...
- Rony!
Rony se virou ao chamado e viu que era Harry, a alguns metros dali. Ele, percebendo que ainda tinha tempo, levou sua boca até uma das orelhas de Hermione, que ouviu seu coração bater acelerado. Sussurrou:
- Hoje, passa lá em casa, essa aula tem que sair não é? E... quem sabe, terminamos o que começamos aqui...
Rony voltou a olhá-la: esboçava um lindo sorriso, julgou que isso seria um sim. Também sorriu e foi para onde avistara Harry.
Hermione ficou parada por alguns instantes. Não sentia nenhuma raiva de Harry, o simples fato de ter quase acontecido já a deixava muito feliz “Ele quase me beijou!” pensava, empolgada . Sabia, agora tinha certeza, aquele beijo, que sonhou por várias noites, aconteceria, mais cedo ou mais tarde, mas aconteceria.

*
- Nossa, você sumiu! Te procurei o recreio todo cara... – bronqueou Harry, ao ver o amigo se aproximar.
- Estava... Ah! Bem, isso não importa...O que foi?
- Eu queria te contar... Bem, queria pedir sua opinião... Não sei, tinha que contar para alguém, e... você sabe... – Harry parecia constrangido
- Fala logo!
- A TÁ! Bem, é que eu... eu convidei a Luna para ir comigo ao baile.
- A Lovegood, da sala da minha irmã?
- E existe outra? – Respondeu impaciente
- Não que eu saiba. Mas... e a Gina?
- Rony, ela nem quer falar comigo, e depois, ela vai com o Dino
- Dino Thomas?
Harry bufou
- Ta! Desculpe... Mas é...inacreditável. Harry, desculpa, mas lembra do “sonho” que eu te contei, na qual éramos bruxos?
- Sim, claro...
- Teve...- Rony hesitou um instante, aproximando-se de Harry e abaixando o tom de voz – teve uma época que ela namorou com o Dino...
- Nossa, isso é realmente reconfortante... – Ironizou
- Desculpe...
Rony não entendia aqueles dois, tinham tudo para dar certo, mas estavam brigados por uma coisa de nada. “ Bem... Eu e a Mione éramos assim” Lembrou risonho.
- Harry, ela é meio excêntrica, mas é gente boa. Espero que mesmo assim divirta-se bastante no baile – Dando um tapinha de consolo nas costas do amigo, se retirou, deixando ele sozinho.
Não queria e não podia dar nenhum conselho para Harry, já que tudo que estava passando, ele também já passara e só resolveu quando começou tudo do zero e essa possibilidade não existia para o amigo.

Rony se sentia inquieto – mais que o normal – e não conseguia se concentrar de forma alguma no que o professor dizia. “Como ela consegue?” ele olhava Hermione e ela parecia capturar cada palavra, pausa e respiração do professor “Não mexo tanto com ela quanto ela mexe comigo? Ou será que o nervosismo e ansiedade a ajudam a se concentrar mais nas aulas?” Rony enchia-se de questionamentos pelo simples fato de não ter nada o que fazer. Sua ansiedade crescia muito a cada instante que olhava para o relógio, pregado na parede da sala, e constatava que nem um minuto se passara desde a ultima vez que olhara. Já batia os pés no chão e balançava o lápis entre os dedos, olhando para um lado e para o outro freneticamente, evitando encarar mais uma vez o relógio.
- Weasley! – O professor o encarava, estava em frente a sua carteira. Rony não tinha a mínima idéia de como ele havia chegado lá.
- Aqui
- Tem certeza? Achei por um instante de havia mudado de sobrenome...
- Ah! Não se preocupe, continuo com esse nome mesmo, quer ver minha carteira de identidade? Eu sei que é triste, ter o mesmo sobrenome que Fred e Jorge, mas vou fazer o que...
- Ronald Weasley! Está me achando com a cara de palhaço para rir e gozar de mim?
- Quer que eu responda? – atreveu-se, arrancando risos de toda a sala. Lilá era a que ria mais alto, querendo mostrar que ela ria das piadas dele, já que Hermione não deu nem um sorriso, apenas o encarava com a cara de desaprovação.
O professor abriu a boca, mas bem na hora que iria aplicar um belo castigo nele o sinal tocou e uma onda de alunos saiu pela porta, levando junto Rony.
O garoto correu para fora da escola a procura do carro do pai, logo achou, entrou e sem demora já estavam em casa.
Rony entrou impaciente, almoçou como um flash entre apavorados comentários da mãe do tipo: “Ronald, coma mais devagar, se não passara mal!” ou “Pare Ronald, vai se engasgar!”.
Enquanto subia correndo para seu quarto para se arrumar, ainda conseguiu escutar Gina explicar a todos o por quê de tanta pressa.
- Hermione Granger – disse calmamente, entre garfadas
- Quem? A CDF?- perguntou interessando-se pelo assunto Fred
- Não chame ela assim! – Rony gritou de cima da escada
- Você sabia que escutar conversa dos outros é falta de educação? – Gritou em resposta Jorge.
- E sabia que falar dos outras pessoas pelas costas também é? – retrucou
- E desde quando você é considerado uma pessoa? Talvez um animal semi-cerebrado, o que já seria bastante para você, mas nunca uma pessoa! – Fred entrou em defesa
Rony não replicou, preocupou-se mais em subir para o quarto e se arrumar. Ainda conseguiu ouvir um tapa das mãos dos gêmeos como comemoração a falta de resposta do irmão mais novo.
Arrumou-se rápido, bateu um perfume e logo já estava na sala a espera da garota. Para seu alívio não havia mais ninguém no local, apenas Gina, que ajudava a mãe a tirar a mesa.
- Hum! Passou perfume e tudo heim! Ta mesmo apaixonado! – disse, ao ver o irmão passar e se largar ao sofá.
Ele se limitou apenas a lançar-lhe um olhar furtivo de desaprovação
- Ta, entendi! Vou subir pra tomar o meu banho, é o melhor que eu faço...
Gina não se demorou e em segundos desapareceu de lá.

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