Lembranças



Hermione abriu os olhos, devagar. Estava deitada em sua cama, em sua casa, em Londres. Virou-se para o lado e deu de cara com um homem. Ah, aquele homem... Era seu marido, Robert Temtork. Loiro, um metro e noventa e cinco, forte, curandeiro no St. Mungus – o marido perfeito. Ela o encarou por alguns momentos e se levantou, mais cansada que quando tinha se deitado. Foi até o banheiro para um banho quente; precisava se revigorar.

Entrou no banheiro e trancou a porta – não queria que Robert entrasse enquanto ela estava no Box... Ele às vezes a incomodava tanto... Era como se com ele ela não pudesse ficar a vontade. Tirou a camisola que vestia e a corrente que estava em seu pescoço, parando com esta última na mão por um momento e olhando-a saudosamente.

Hermione acordou. Era hoje! Seu aniversário de dois anos com Ron. Ela nem podia explicar o que estava sentindo... Como estava ansiosa! Levantou rápido e tomou um banho demorado. Passou o perfume favorito do garoto, se maquiou e fez um rabo-de-cavalo frouxo, como ele gostava: os fios caindo sobre seu rosto, dando um ar displicente. Colocou o vestido que tinha comprado para a data: preto, acima dos joelhos, um decote discreto no colo e um decote grande nas costas. Jogou uma capa por cima, pois sabia que não era a hora de usar apenas o vestido; o dia ainda estava raiado, mas quem sabia aonde ela e Ron iriam depois de um almoço e sorvete? Olhou de novo no espelho, parecia que algumas borboletas particularmente grandes voavam dentro de seu estômago. Ajeitou qualquer coisa em que viu defeito – na verdade tudo estava péssimo, ela não sabia como Ron podia estar com ela há dois anos - e saiu do quarto em que ocupava no Caldeirão Furado. Eles iam se encontrar na Florean Fortescue em meia hora, mas a garota não conseguiria ficar nem mais um minuto dentro daquele quarto, esperando. Desceu as escadas, nervosa, - aquelas borboletas realmente incomodavam – e foi até a parede de tijolos onde o Beco Diagonal se revelaria. Entrou no Beco com o presente de Ron na mão, o coração batendo muito forte contra o peito. Então, ouviu alguém a chamar:

_Mione? – não era a voz de Ron, mas era uma voz masculina também. – Mione? – chamou de novo. Ela se virou e viu Robert a encarando da porta da Olivaras.

_Ah, oi Robert... Tudo bem? – ela perguntou, olhando em volta para ver se avistava uma cabeça ruiva que era quem realmente queria encontrar. – O que faz por aqui?

_Estava comprando uma varinha nova... A minha quebrou ontem... – ele disse - Puxa, Mione... Você está... Sensacional! – acrescentou, deixando-a envergonhada.

_Ah, Robert... Você é... Muito gentil... Obrigada.

_Mas é a mais pura verdade! Você está... WOW! – ele falou, deixando a garota vermelha – o tapado do Weasley é louco de te deixar andando assim por aqui, sozinha. Um maluco pode te atacar.

_Ah, Robert... Não fale assim do Ron – ela disse. Sabia que Robert não gostava de Ron e preferia evitar o assunto – Eu estou esperando ele... Eu é que estou adiantada.

_Espero que ele não deixe a garota mais bonita do mundo bruxo esperando. – ele disse, pegando a mão de Hermione e dando um beijo – Eu duelaria com ele por isso.

_Não há necessidade de duelar – disse uma voz conhecida atrás da garota. – Eu também decidi me adiantar, então... Pode vazar, Temtork.

_Weasley! – disse Robert com uma cara de nojo. – Que agradável te encontrar.

_Não posso dizer o mesmo. – respondeu o ruivo, seco. – É bom você parar de dar em cima da minha garota, Temtork. Nós vamos casar; não tem nada aqui pra você.

_Garotos... – Hermione tentou chamar baixo.

_Veremos – disse o outro, colocando a mão no bolso.

_Garotos... – ela tentou mais uma vez.

_Não precisaremos ver. Eu te garanto. – disse o ruivo, com a mão a caminho do bolso também.

_Se é você quem garante, então eu tenho uma chance – o outro disse, os olhos queimando na direção de Ron.

_GAROTOS! – gritou Hermione, que tinha a impressão de não estar ali, vendo a forma de como a ignoravam – PAREM AGORA.

Ambos olharam Hermione e Ron sorriu – ela estava deslumbrante. Robert ergueu uma sobrancelha e disse:

_Não quero atrapalhar. – sua voz estava perigosa – Então... Au revoir! – e mais uma vez pegou a mão de Hermione, beijou-a e deixou a garota com Ron.

_Ah, Ron! Que bom que você chegou – disse, jogando-se nos braços do garoto. – Eu já estava com saudades!

_Eu também, Mione... Eu também – disse o garoto ainda observando o lugar onde Robert estava alguns segundos antes. – O que ele queria com você?

_Ah, o de sempre: acabar com a minha paciência... Ainda bem que você chegou – ela disse sorrindo e beijando o garoto nos lábios, com carinho. – Vamos? – ela perguntou, pegando a mão dele.

_Eu não gosto dele, Mione.

_Ron não vamos estragar nosso dia por causa do Robert... Você sabe que não é ele quem eu amo e nem com ele que eu quero estar... Ele é só um colega que eu conheci no St. Mungus quando você estava internado... Não fique assim.

_Foi a doença que eu mais me arrependi na vida. – ele disse, sério.

_Ron, relaxe. Quem eu amo está comigo agora. – ela sussurrou no ouvido do garoto; sabia que aquilo o faria esquecer qualquer irritação.

_Então vamos. – o garoto disse, indo em direção ao Caldeirão Furado. – E não quero te ver com ele de novo.

Hermione revirou os olhos, mas sabia que Ron tinha razão em não gostar de Robert... Ele dava em cima dela todas as vezes que podia; até ela se irritava ás vezes... Almoçaram juntos e então foram até a Fortescue. Sentaram na sorveteria e então Ron disse:

_Mione, eu queria... Queria te falar uma coisa.

_Então fale! – ela sorriu. Estava tão feliz com o aniversário de namoro que não tinha como ser melhor.

_Eu... Eu não sei como dizer isso.

_Ron, o que quer que seja, é só dizer. – ela estava começando a ficar assustada.

_Bem... Eu... Eu tenho que te dar o seu presente. – ele enfiou a mão em um bolso e se levantou, se postando atrás da garota. Ele colocou um colar no pescoço dela, que tinha um pingente de varias estrelas, uma dentro da outra, formando algo com várias pontas e vazado. Dentro das estrelas, havia uma pedrinha que brilhava muito, um brilho forte como o das estrelas à noite.

_Ron, é lindo! – ela disse, observando o colar – Eu... Eu nem sei o que te dizer! – ela beijou o garoto em agradecimento.

_Mione, você está vendo esse pingente? – ele perguntou, sério.

_Sim, claro! É lindo... Nunca mais eu vou tirar...

_Esse pingente brilha enquanto nosso amor existir. – disse, sentando-se na frente da garota de novo.

_Como assim? – ela perguntou, intrigada.

_Eu comprei quando fui à Irlanda. É único. Esse pingente brilha de acordo com o seu amor por mim e o meu por você: enquanto nos amarmos como hoje, ele vai brilhar como hoje. Se um dia terminarmos e realmente tivermos deixado de nos gostar, ele se apagará. É simples, mas eu achei interessante.

_Ron, você está brincando? É lindo! O presente mais lindo que eu já recebi! – ela disse, levantando da cadeira e sentando-se no colo dele, beijando-o de novo, dessa vez com mais paixão. – Se depender de mim – ela disse sussurrando no ouvido dele – essa estrela nunca se apagará.

O garoto sorriu e puxou o rosto da garota, encarando-a profundamente. Então, disse:

_No que depender de mim também. Mione... Eu... Tenho mais um presente pra você.

_Desse jeito eu vou ficar sem graça de ter te dado aquela vassoura idiota e chocolates! – ela sorriu.

Ron se levantou e encarou Hermione de novo. Deixou-a sentada na cadeira e colocou a mão no outro bolso, tirando uma pequena caixinha vermelha. Ela olhou da caixinha na mão de Ron para o rosto do garoto, já com uma lágrima escorrendo em seu rosto. Será que ele ia falar o que ela achava que ele ia? A resposta veio rápida.

_Mione... O que eu falei pro Temtork é verdade. Eu quero me casar com você. – ele se ajoelhou e abriu a caixinha com uma das mãos. Um anel com uma pedra exatamente como a do colar brilhava. – Eu sei que eu sou um desengonçado, Mione. Sei que nada do que eu faço dá certo. Sei que a única coisa pra que eu presto é pra fazer burrada. Eu sei que você se irrita comigo, e eu sei que eu não sou nada, nada, além do ruivo que era pobretão e que conseguiu subir na vida, e isso graças à indicação do Harry. A única coisa que eu consegui conquistar sem precisar de ajuda de ninguém foi você, Mione. E também é a única com que eu realmente me importo. Eu queria... Queria pedir pra você... Você... Quer casar comigo, Hermione Jane Granger?

_Ron! – ela disse, já com o rosto encharcado pelas lágrimas que insistiam em cair. – Eu... É claro que eu quero!

Ele pegou o anel da caixinha e colocou no dedo anelar da mão direita de Hermione. Ela tomou a caixinha da mão de Ron e colocou em cima da mesa. Jogou seus braços sobre os ombros do garoto e deixou-o colocar os dele em sua cintura. Eles se beijaram apaixonadamente durante o que pareceu para Mione, um segundo. Ela queria viver com ele para sempre, para que os segundos se transformassem em horas e as horas em dias e os dias em meses e os meses em anos e os anos na vida. Ela só queria ficar ali, com Ron, pra sempre.


_Hermione? – uma voz perguntou da porta do banheiro, enquanto batia – Você já está terminando?

_Já sim, Robert. Já vou sair. – ela disse enquanto se secava na toalha branca. Olhou o pingente com carinho e colocou-o mais uma vez. Apesar de tudo, a estrela ainda brilhava. Hermione nunca havia contado a ninguém o motivo daquele colar ser tão importante pra ela. Ela abriu a porta e Robert entrou correndo no banheiro, apressado.

_Eu estou atrasado! – ele disse – Faça o café, rápido!

Ah, como aquilo irritava Hermione mais que tudo. Eles estavam casados há três anos e ele achava que ela só servia pra isso: fazer o café, arrumar a casa, comprar roupas. Não a deixava trabalhar para ficar em casa, sozinha. Não tinham filhos. Todos os médicos diziam que não havia absolutamente nada errado com Hermione. O próprio Robert não conseguiu descobrir nada errado em nenhuma das muitas vezes em que a examinou. Robert também era saudável, mas eles simplesmente não conseguiam ter filhos. E de um ano pra cá nem tentado mais tinham... Hermione ficava irritada todas as vezes que Robert ameaçava tentar e se desvencilhava; não tinha desejo nenhum por ele e achava que não teria nunca mais.

_E aí, já está pronto? – ele perguntou, abraçando-a por trás e dando-lhe um beijo na bochecha.

_Quase. – ela respondeu irritada, desvencilhando-se dele.

_Está tudo bem? – ele perguntou enquanto pegava uma maçã e começava a comer.

_Ótimo, só acordei com dor de cabeça.

_Você envelheceu, Hermione.

A garota segurou com todas as suas forças o ‘Vai se foder’ que foi para a ponta da sua língua, contentando-se em dizer:

_Que bom. Quem sabe assim eu morro logo.

_Eu acho que você deveria ir até o St. Mungus ou a algum especialista fazer uma consulta e...

_ “E” nada, Robert. Estou ótima, é só uma dor de cabeça. – ela disse secamente. – Você está atrasado. – acrescentou, entregando ao marido uma xícara de café e um pão. – Eu queria ir à Hogsmeade hoje.

_Fazer o que? – ele perguntou rudemente.

_Ah, esquece. Eu vou ficar em casa; não estou bem.

_Você é quem sabe – ele disse sorrindo. – Eu estou indo.

_Bom trabalho – ela disse, entregando-lhe a mala e recebendo um beijo na testa, acompanhado de um “Bom dia”.

Assim que Robert saiu, Hermione bufou e se jogou no sofá, com as mãos no rosto, tentando conter lágrimas que insistiam em marejar seus olhos. Ela estava cansada de tudo: cansada de Robert, cansada daquela casa, cansada de não trabalhar, cansada de viver uma vida de aparências, cansada de ser “a bruxa mais inteligente pra sua idade” e ficar apagada atrás de um marido bem sucedido. Como ela tinha suportado aquela vida até aquele momento, ela não sabia. Sentia falta de amor, de paixão... Sentia falta de Ron. Tinham sido três anos sem vê-lo: três anos sem falar com ele; três anos sem poder toca-lo; três anos em que sentia um vazio todos os dias... Falta que vinha acompanhada de uma mágoa, mágoa que Hermione não esquecia...




N/A:

Bom, nada a comentar por enquanto!
Espero que gostem! E se comentarem posto o segundo e distribuo balas da Dedosdemel =]

abraços o/

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Comentários (1)

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