O primeiro jogo









Harry e Gina observaram Rony subir as escadas, paralisados. Quando o ruivo finalmente sumiu, os dois se encararam. Gina tinha uma expressão de raiva, os braços cruzados, as sobrancelhas juntas. Harry uma ruga de dúvida na testa e um olhar culpado.

- Foi bem melhor do que eu imaginei – disse ele finalmente.

- Se ele brigasse com você, eu juro que minha azaração pra rebater bicho-papão iria funcionar direitinho – disse Gina se virando e voltando a sentar no sofá.

- Mas ele tem um pouco de razão – disse Harry se sentando ao lado dela.

- Hunf.

- Não faz essa cara de brava – disse ele abraçando-a e beijando-a no rosto – Se o Rony pegar a gente aqui de novo, você ouviu o que ele falou sobre as minhas partes...


Os dois riram.

- Vamos pra minha casa então – disse ela abraçando-o pelo pescoço e lançando seu melhor olhar sedutor.

- E tem como dizer não pra você?




~~~~ §§ ~~~~





Harry olhou para a ruiva a seu lado, examinando a aparência dela atentamente. As vestes verdes de seda lhe caiam perfeitamente bem, mas os bordados eram exagerados demais. O braço dela estava cheio de pulseiras pesadas e o pescoço sustentando um colar com uma esmeralda enorme, quase indecente. Os cabelos presos, na esperança de não chamarem muita atenção.

- O disfarce está perfeito Gina.

- O seu está ótimo também. Não consigo ver nadinha da sua cicatriz – disse ela se aproximando e ajeitando a gola das vestes dele.

- Está tudo pronto? – perguntou ele apalpando os próprios bolsos a procura de todos os apetrechos que haviam separado.

- Sim.

- Vamos?

- Quando você quiser.



Harry estendeu a mão para ela, e juntos eles aparataram. Quando abriram os olhos, se viram no meio do pátio amplo e arborizado da casa dos Stone. Não iriam até os Gamp ainda, já que não poderiam aparatar perto da casa. Precisavam dos cavalos alados de Mary Stone.
Eles viram a velha senhora sair pela porta dos fundos e se aproximar, ansiosa.

- Que bom que vocês já estão aqui – disse ela parando na frente deles – Recebi a coruja hoje cedo avisando que viriam.

- Eles não incomodaram mais a senhora, certo? – perguntou Harry.

- Não. Não incomodaram. Mas eu estava preocupada com vocês dois. Sumiram por dias!

- Não se preocupe. Estamos muito bem – disse Gina sorrindo – Vamos acabar com tudo isso hoje, e a senhora não precisará se incomodar mais.

- Eu já preparei os cavalos, podem partir quando quiserem.

- Acho melhor fazermos isso o quanto antes – disse Harry consultando o relógio de pulso – Já é quase meio-dia.

- Então venham – disse Mary se adiantando para os estábulos.


Apolo e Hera já estavam selados e amarrados na cerca do lado de fora. Um impressionantemente alto e forte, a outra docemente delicada, ambos agitados, parecendo ansiosos para ganhar o céu novamente. Céu esse, que, Harry concluiu olhando para o alto, estava nublado e num tom cinza melancólico.

- Olá moço – disse Gina se aproximando de Apolo e desamarrando-o da cerca – Senti saudade de você.


Harry ergueu Gina pela cintura e impulsionou-a para cima da sela. Apolo empinou de leve e relinchou. Depois Harry se aproximou de Hera, que se aquietou ao vê-lo.

- Pronta para um passeio? – perguntou enquanto soltava-a da cerca.


Devidamente montados, os dois sentiram novamente aquele frio na barriga e a adrenalina ao ver o chão sumir debaixo de si. Mas, estranhamente, eles não sorriam. Voavam, lado a lado, cada um com o olhar fixo no horizonte e a mente concentrada no dever a cumprir. Gina sentia o vento úmido açoitando-lhe a pele, e, apesar de adorar voar, sua maior vontade era chegar rápido e fazer o que devia ser feito. Harry sentia novamente aquele propósito que sempre guiava todos os seus sentidos em situações desse tipo. Uma necessidade de dar tudo de si e fazer tudo que fosse necessário para acabar com aquilo. Olhou para o lado e viu Gina com os olhos semi-cerrados contra o vento, as mãos apertando as rédeas com tanta força que os nós dos dedos dela estavam brancos. Faria qualquer coisa por Gina, e se não soubesse que ela era tão teimosa e determinada, não a deixaria correr tanto risco assim. Se acontecesse alguma coisa a ela, se culparia pelo resto da vida.


E assim eles voaram durante alguns minutos, Harry com a cabeça perdida em pensamentos e possibilidades ruins.


Com um tranco, ele percebeu que estava perdendo altura e se segurou antes que Era tocasse o chão. Desceu e ajudou Gina a fazer o mesmo, em silêncio. Sentiu-a segurar firme sua mão e eles se encararam profundamente durante alguns segundos. Viu receio e determinação nos olhos dela, quis dizer alguma coisa, mas, antes que abrisse a boca, ela quebrou o contato visual e rumou em direção à porta da casa imensamente sombria e intimidadora, puxando-o junto pela mão.



~~~~ §§ ~~~




Harry olhou a volta e sentiu o coração acelerar por antecipação. Era agora ou nunca. Depois de já terem almoçado, chegara a hora da negociação. Estava mais uma vez sentado numa poltrona do escritório da casa dos Gamp, encarando os olhos negros e frios de Úrsula.

- Então senhor Black – disse ela numa voz falsamente calma – Acho que já enrolamos demais. Você resolveu aceitar minha oferta, não é mesmo?

- Sim. Eu vou vender as terras pra você – disse Harry sentindo a respiração de Gina, sentada ao seu lado, acelerar também – Só tem uma coisa me incomodando. O valor que querem pagar é totalmente injusto.

- Injusto?! – indignou-se a mulher a sua frente, batendo a mão no braço da poltrona.

- Sim, Sra. Gamp – Harry ouviu Gina se mover na própria poltrona – Acho que a senhora deve saber sobre a jazida de Pedra da Lua no local.

- Eu... jazida?

- É claro que sabe – disse Harry sarcástico – E tenho a impressão de que também sabe que a Pedra da Lua é bastante cara e um ingrediente essencial na produção da Poção Embelezadora.

- P-poção? – gaguejou a mulher numa tentativa fraca de fingimento.

Num movimento rápido, Gina se levantou da poltrona. Harry sabia que o temperamento explosivo dela acabaria estourando antes do tempo. Ela apontava a varinha em riste ameaçadoramente para o peito de Úrsula, que tinha a mão a caminho do bolso, a procura de sua própria.

- Nem tente! – gritou a ruiva, fazendo-a parar no movimento para alcançar a varinha.

- Mas o que é isso? Como se atreve?

- Nós sabemos exatamente o que a senhora anda fazendo com aqueles pobres trouxas – disse Gina, com uma raiva descomunal – Somos aurores Gamp!


Harry se levantou erguendo a própria varinha quando viu um movimento vindo do canto da sala, e um estampido, seguido de raio de luz vermelha, acertou Gina direto no peito, antes que qualquer um dos dois pudesse deter.

- Gina! – ele viu o corpo dela tombar no chão, estuporado, a varinha se soltando da mão delicada, os braços se largando a esmo dos dois lados do corpo.


Edgar, que estivera sentado a um canto, atacara sem aviso. Ele agora encarava Harry com um esgar de triunfo nos lábios, a varinha, antes escondida, agora apontada pra ele. Harry sentiu a raiva ferver dentro de si e a mão formigar com a vontade de lançar um feitiço e estraçalhar aquele covarde de uma vez por todas. Úrsula também se levantou, segurando sua própria varinha comprida e torta, parecendo lívida. Os três se mediram durante alguns segundos. Dois contra um. Mas Harry não teve tempo pra pensar, muito menos para sentir medo, Gina estava caída no chão, ele queria vingança, e tirá-la dali o mais rápido possível.

- Expelliarmus! - gritou.

- Protego! – o raio de luz vermelha ricocheteou no escudo invisível conjurado por Úrsula e acertou a parede, deixando um buraco fumegante no local.

- Como se atreve?! – ela gritou – Gina? O nome dela é Gina? Quem é você?

- Não te interessa – respondeu Harry com a voz rouca de ódio.

- Espere ai Úrsula – disse Edgar olhando para o corpo inerte de Gina no chão, sem deixar de apontar a varinha para Harry – Ela é ruiva! Não se lembra de ver o nome de Gina Weasley no jornal? Amiga de...

- Harry Potter... – sussurrou ela encarando Harry como se nunca o tivesse visto antes – Como eu não percebi antes? Então você agora é auror, Potter.


Harry não respondeu, não estivera preparado para ser descoberto assim. Se fosse numa luta comum, ele já teria partido pro ataque sem conversinhas ou tempo pra pensar. Mas Gina estava ali, caída no chão, vulnerável, não podia colocá-la em mais risco.

- Sabe Potter – disse Úrsula com um brilho nos olhos – Eu soube que você é petulante e atrevido, mas na minha casa não, comigo não...


Harry viu pelo canto do olho o braço de Édgar se levantando para lançar mais um feitiço, e não teve mais tempo pra pensar.

- Encarcerous! – gritou antes mesmo que o outro tivesse aberto a boca – Expelliarmus! – completou apontando desta vez para Úrsula, que parecia prestes a contra-atacar.


A varinha dela voou descrevendo um arco no ar, e, num pulo, Harry a apanhou, enquanto Edgar era envolvido e amarrado por grossas cordas. A mulher olhou para os lados, talvez procurando uma maneira de fugir, parecendo apavorada em estar desarmada e sem seu guarda-costas de marido.

- Fique bem quietinha ai Sra. Gamp – disse Harry se aproximando com as duas varinhas apontadas para a testa dela – Vocês são todos iguais não é mesmo? Se achando superiores por ter esse sangue puro... E olhe só onde todos sempre vão parar: Em Azkaban! Ou mortos. Não aprendem com os erros um dos outros...

- Você não tem provas! – gritou ela desesperada, cuspindo as palavras.

- Na verdade eu tenho sim. E se precisar de mais algumas, sei ótimas maneiras de te fazer confessar – disse ele que já estava a centímetros dela, as duas varinhas quase tocando a testa da bruxa – Estupefaça!


Os raios vermelhos das duas varinhas se entrelaçaram e atingiram-na na cabeça com tamanho poder que Harry teve medo de que ela não resistisse. Mas nem teve tempo de vê-la tombar completamente no chão. Virou-se e se adiantou para o meio do chão da sala, onde Gina se encontrava, estuporada. Ele se ajoelhou ao lado dela e levantou o tronco da ruiva com o braço esquerdo. Levantou as duas varinhas que continuavam unidas em sua mão direita e apontou para o peito de Gina.

- Enervate!


As luzes pareceram entrar pelo peito dela e iluminá-la por alguns instantes, como uma onda de calor e energia, então sumiram. Harry esperou ansioso, temendo que não tivesse feito efeito, temendo que ela não tivesse sido somente estuporada, que fosse algo pior. Mas então, tomando o ar de uma vez como alguém que acaba de acordar de um pesadelo, ela abriu os olhos e agarrou os ombros dele com as mãos, respirando com dificuldade.

- Você está se sentindo bem, Gina?

- Ah... Não acredito que perdi toda a diversão – disse ela com uma risada rouca e sem graça, parecendo um pouco zonza.

- Não brinca assim – disse ele abraçando-a e afagando seus cabelos – Quase me mata de preocupação.

- Me desculpe, me precipitei, não me lembrei que o verme do Edgar estava na sala.

- Não, eu é que devia ter ficado atento.

- Agora vamos sair daqui de uma vez, odeio essa casa – disse Gina tentando se levantar e cambaleando um pouco.

- Não senhora – disse Harry levantando-a no colo e colocando-a com carinho em uma das poltronas – Você fica aqui enquanto eu me encarrego desses dois. Acho que talvez tenha matado a rata velha – disse sorrindo.


Gina observou sem protestar, enquanto Harry amarrava Úrsula com o mesmo feitiço que lançara em Édgar e estuporava o último. Com um aceno da varinha ele fez os dois corpos inertes se postarem lado a lado no chão.

- Caso encerrado – disse voltando sua atenção novamente para Gina.

- Mas eu não vou conseguir minha promoção... – disse ela triste.

- E porque não? – perguntou Harry se sentando no braço da poltrona.

- Porque eu agi errado e estive desacordada durante todo o tempo.

- E as investigações? E o pote de creme que você descobriu? Todos aqueles relatórios? – perguntou Harry afagando o rosto dela – E tem mais, sou eu quem faz sua avaliação e vou colocar no meu relatório que você foi brilhante.

- Não precisa Harry, você tem que falar a verdade – disse ela finalmente conseguindo se levantar da poltrona.

- E quem disse que eu estou mentindo? Você é melhor que muitos velhotes graduados da seção, e foi brilhante nas investigações, pedindo ajuda ao seu pai e tudo mais – disse ele determinado, segurando uma das mãos dela – Agora vamos. Leve a Úrsula que eu levo o Edgar – completou resgatando a varinha de Gina que estava no chão e entregando a ela.


Com um feitiço de levitação, os dois saíram da casa carregando os corpos estranhos e desmantelados dos Gamp.



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O dia seguinte a “captura” era o sábado que antecedia o primeiro jogo de Rony. Hermione se viu deitada embaixo de suas próprias cobertas, observando pelo vidro da janela o céu esfumaçado e cinzento, que indicava o fim da noite chuvosa. Sem a mínima vontade de levantar, depois de uma semana inteira de trabalho dobrado e problemas sem fim, ela se virou de lado, agarrando um travesseiro e pensando no jogo do dia seguinte. Ouviu o barulho da maçaneta girando e nem se moveu quando Gina adentrou o quarto.

- Conseguimos Mione – disse ela se jogando na cama ao lado da amiga e se enfiando embaixo das cobertas também – Pegamos os Gamp ontem. Cheguei em casa de madrugada, depois de toda a burocracia e de levá-los pra Azkaban.

- Que bom Gina. Não sabe como eu fico feliz por você – disse Hermione finalmente se sentando e se apoiando na cabeceira da cama, encarando a fisionomia cansada da ruiva.

- Não vai ser necessário julgamento – disse ela – Susana Bones, a chefe do Departamento de Execução das Leis da Magia estava de plantão ontem, ela já tinha acompanhado o caso e lido nossos relatórios. Prisão perpétua. Afinal aquilo foi uma tentativa de assassinato em massa.

- Não gosto disso. Imaginar as pessoas presas pelo resto da vida – disse Hermione tremendo um pouco com o pensamento.

- Você é muito boazinha Mione. Foi você mesmo quem me alertou para as coisas horríveis que eles estavam fazendo – disse Gina se sentando também.

- É eu sei.


As duas ficaram em silêncio por um tempo. Hermione perdida em seus próprios pensamentos, Gina tentando se decidir se fazia ou não à pergunta entalada em sua garganta. Por fim, decidiu que não faria mal nenhum perguntar.

- Mione?

- Sim.

- Você vai trabalhar no jogo de amanhã?

Ela encarou Gina com uma ruga na testa antes de responder – Vou.

- E você tem certeza que vai se sentir bem fazendo isso?

- Eu andei pensando esses dias – disse ela com o olhar fixo e perdido na janela – E eu acho que não tenho por que continuar fugindo dele. Já fugi por tanto tempo, não é mesmo?

- Que bom que você pensa assim.

- E... bom, um dia eu vou ter que me encontrar com ele de qualquer maneira. Eu só não queria que parecesse que eu estou pressionando ele... Ele disse que precisava pensar.

- Você vai fazer seu trabalho. Se ele não quiser conversar sobre isso, se ele for insensível a esse ponto, é só você não falar nada também.

- Se ele me ignorar eu não vou suportar, Gina – disse Hermione encarando a amiga com tristeza.

- Então mande algum dos estagiários examinarem ele, é simples – disse Gina se deitando novamente – E pare de se torturar com esses pensamentos. O que tiver de acontecer vai acontecer.

- Você tem razão – disse Hermione voltando a se deitar também, puxando uma coberta grossa a para cima de si, mas sua mente continuava voltada para aquele ruivo.



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Rony acordou muito cedo na manhã de domingo. Na verdade, mal dormira durante a noite, ansioso e nervoso com a estréia que marcaria sua carreira na Inglaterra. Mesmo tendo treinado duro, ele não conseguia se sentir totalmente confiante. E foi com o estomago embrulhado que ele abriu a porta da cozinha do Largo Grimaulld para tomar café da manhã.

- Bom dia – disse a Harry que já estava sentado a mesa, tomando uma xícara de chá.

- Bom dia Rony. Preparado pro jogo?

- Mais ou menos – respondeu o ruivo se jogando em uma das cadeiras.

- Ah não. Não me diga que ainda não superou seu problema com os nervos? – perguntou Harry rindo.

- Certo... Como se fosse fácil estrear num jogo em que se é a novidade do time e o capitão ao mesmo tempo. E ainda por cima parece que vai chover – disse ele azedo – Isso não é Hogwarts companheiro, é quadribol profissional.

- Não está mais aqui quem falou. Só queria descontrair – disse Harry pegando uma torrada na mesa e enfiando metade na boca.

- Só espero que o motivo desse bom humor todo não seja uma noite com a minha irmã – disse Rony se servindo de chá – Eu não vi você chegar.

- Se você quer mesmo saber, eu estava com a Gina sim – disse Harry fazendo Rony engasgar com o chá que tomava – Estávamos trabalhando! Terminamos o caso anteontem, lembra? Ainda tem algumas papeladas pra resolver no ministério.

- Melhor assim – disse Rony limpando a boca com um guardanapo – O que rolou lá?

- Prendemos os dois... Já estão em Azkaban.

- Eu sabia que prenderiam – disse Rony despreocupado - Você vai ao jogo?

- Vou.

- A Gina e a Mione vão? – perguntou o ruivo encarando o pote de manteiga, genuinamente interessado.

- A Gina vai, a Mione eu não sei ainda. Por quê? – perguntou Harry interpretando corretamente a vermelhidão no rosto do amigo.

- Hum... Nada, só pra saber.

- Vou te dizer uma coisa, mas não precisa responder, muito menos negar – disse Harry se inclinando por cima da mesa para se aproximar de Rony – Você ama a Hermione – disse balançando a colher de açúcar na direção do nariz de Rony – Ela está sofrendo horrores com isso tudo. E eu sei que você também está – completou se afastando e deixando um Rony abobalhado, ainda olhando para o ponto em que a colher estivera ameaçando-o - Que horas é o jogo? – perguntou Harry num tom casual.

- Daqui a duas horas – disse Rony sacudindo a cabeça e imaginando que a proximidade com Gina estava afetando Harry - Mas eu tenho que chegar mais cedo para fazer uns exames e verificar o campo.

- Exames... – sussurrou Harry para si mesmo, se lembrando que Hermione talvez fosse a curandeira responsável por esses exames.

- O que é que tem os exames?

- Nada não. Vou sair com você de uma vez, passar na casa da Gina pra gente ir junto.
E depois de alguns minutos de incomodo silêncio, em que eles terminaram de comer, os dois se levantaram e saíram para aquele dia cinzento. Nenhum deles sabia as surpresas que os aguardavam.



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Hermione já se encontrava atarefada. Estava na tenda montada especialmente para os exames médicos. Do lado de fora, fazendo uma propaganda pra lá de chamativa, um letreiro verde brilhante e enorme se postava por cima da tenda branca: Instituto Narcisa Malfoy. Por dentro tinha o tamanho de um dos quartos do hospital, com o mesmo luxo, porem com mais camas, que se postavam lado a lado, lembrando Hermione irresistivelmente da enfermaria de Hogwarts.


Ela andava de um lado ao outro do lugar, organizando aparelhos de formas esquisitas e finalidades diferentes, separando poções e fazendo recomendações aos estagiários, quando uma voz alta e descontraída entrou pela porta da tenda, chamando sua atenção.

- Eu faço questão Ronald! – dizia um homem gorducho e baixinho, que vinha acompanhado a um lado por um ruivo alto, usando roupas esportivas e boné, e pelo outro por um louro magro usando um terno preto - Por favor, Sr. Malfoy, quero a melhor curandeira para examinar o nosso astro.


Antes que Hermione pudesse se esconder ou fugir dali, foi avistada por Malfoy e Rony, o primeiro de cara amarrada, como se tivesse um gosto ruim na boca e o segundo, parecendo envergonhado demais para encará-la, agora analisava o chão interessado.

- Certo Sr. Reeves – disse Malfoy ao homem – Granger! Examine pessoalmente o nosso astro. – acrescentou Malfoy com um leve tom irônico na ultima palavra.


Hermione se aproximou lentamente dos três homens, tentando manter uma expressão o mais profissional possível, encarando somente o baixinho do meio.

- Bom dia Sr. Reeves, sou Hermione Granger, a curandeira chefe – disse ela estendendo a mão direita para cumprimentá-lo.

- Tão jovem, tão bonita e já é a chefe?! – perguntou ele apertando a mão dela - Não se empolgue tanto hein Ronald, temos um jogo em uma hora – brincou ele dando tapinhas no ombro do ruivo, que sorriu amarelo, enquanto Malfoy, parecendo nauseado, se virava e saia sem dizer nada.

- Hãm... Pode me acompanhar Ronald – disse Hermione se virando e ouvindo passos pesados e arrastados atrás de si, que significavam que o ruivo a seguia.


Os dois caminharam sozinhos em direção ao fundo da tenda, para a última das camas. “Seja profissional! Ele é só um paciente, só isso!” Hermione não parava de dizer para si mesma, apesar de sentir o coração quase arrebentando seu peito.

- Pode sentar – disse ela indicando a cama a Rony.


Respirando fundo, Hermione fechou o biombo verde em volta dos dois, isolando-os sozinhos no fundo da tenda.

- Ah... você deve se despir, quer dizer só a blusa e a calça – disse ela tentando não parecer envergonhada, mas sentindo o rosto queimar.

- Não precisa ter vergonha – disse Rony, que parecia ter recuperado a voz ao vê-la balançada com a sua presença – Não tem nada aqui que você não tenha visto.


Hermione congelou no ato de pegar um aparelho, que mais parecia um trompete, para escutar as batidas do coração de Rony. “Ele está me provocando?! Será?”. Ainda de costas, ela ouviu sons abafados que significavam que Rony estava se despindo bem ali, atrás dela. Tentando com todas as suas forças não imaginar aquele corpo, nem aquele sorriso provocante, ela se virou, encarando um ponto meio metro acima da cama.

- Rã-rãm – ela limpou a garganta que secara subitamente e se forçou a olhá-lo.


Rony se deitava displicentemente, com as duas mãos atrás da cabeça, os pés cruzados um por cima do outro, sem a mínima vergonha. Vendo o desconcerto de Hermione, ele sorriu.

- Então... hum... você é minha curandeira? Acho que vou proibir os outros jogadores de serem examinados também.

- Pare de gracinha Ronald – disse ela tirando a varinha do bolso – Fique quieto, ok?


Ele percebeu a maneira ameaçadora como ela apontou a varinha para seu peito e o olhar determinado naquele rosto tão lindo, e resolver ficar parado. Observou a expressão concentrada dela, enquanto murmurava feitiços complicados em volta de seu corpo e o examinava com objetos pontiagudos e gelados. Esforçou-se para não rir enquanto reparava na ruga na testa dela, que era a mesma que aparecia quando ela estava concentrada em alguma leitura.


Hermione prendeu o ar enquanto examinava cada canto daquele corpo magro, coalhado de sardas. Sua mente a todo o momento lhe pregando peças, em que ela imaginava aqueles braços envolvendo-a firmemente, ou aquelas pernas entrelaçadas com as suas próprias. “Concentre-se! Pare de pensar essas coisas Hermione Granger!”.


Segurando o aparelho que a ajudaria a escutar o coração do ruivo, ela encostou sem querer no peitoral nu e quente dele. Viu todos os pelos do corpo de Rony se arrepiarem com o toque de sua mão gelada, e encarou-o. Ele tinha o olhar fixo nela, penetrante e sério. A mão dele se moveu lentamente e tocou a dela, que continuava postada em seu peito. Hermione ofegou e afastou a mão como se tivesse se queimado, desviando o olhar. Ele se sentou num movimento rápido, estendendo os braços e segurando as duas mãos dela nas suas.

- Não brinque assim Rony – disse ela ainda sem conseguir encará-lo.

- Eu não estou brincando Mione – disse ele apertando as mãos dela – Me desculpe se eu sou um bobo às vezes.

- Não tem que se desculpar.

- É... Eu queria te dizer que... Eu pensei Mione – e dessa vez foi ele quem desviou o olhar, enquanto ela encarou-o curiosa.

- Pensou o que?

- Sobre tudo que você me contou naquele dia – disse ele voltando a fitá-la e fazendo-a perceber um pouco de tristeza em seus olhos – Eu sei que fui um pouco grosso e tudo, me desculpe.

- Já disse que não precisa se desculpar.


Ele abaixou os olhos novamente, respirando fundo, tomando coragem pra dizer o que estava entalado em sua garganta. A oportunidade chegara, e ele não sairia dali sem dizer pra ela tudo que sentia.

- Eu já entendi porque você fez aquilo – disse finalmente, levantando a cabeça e fixando o olhar mais uma vez no dela – Eu fiquei daquele jeito por que... Porque só de imaginar que eu perdi tanto tempo longe de você por causa de uma besteira, me revolta.


Ele parou um instante pra respirar e encontrar as palavras certas, e Hermione levou uma das mãos aos cabelos cor de fogo dele, bagunçados pelo boné que ele acabara de tirar.
Ficaram assim por um minuto, e quem entrasse ali acharia estranhíssima a cena da “séria” curandeira Hermione olhando com tanta ternura para um paciente semi-nu sentado na beira da cama e ainda por cima acariciando os cabelos dele. Mas naquele momento ela não estava ligando pra isso, nem se lembrava onde estavam pra falar a verdade, só se importava com Rony, e com as coisas que ele estava dizendo que eram melhores do que ela poderia esperar.

- Você conseguiu... De verdade, me perdoar? – perguntou ela baixinho.

- Eu entendi que não preciso perdoar... você me contou tudo, não tem mais segredo – disse ele levando uma mão aos cabelos dela também – E eu... eu não consigo ficar longe de você Mione.


Dizendo isso ele envolveu a cintura dela com os dois braços e puxou-a, escorando a cabeça entre seus seios, aninhando-se ali como se disso dependesse sua vida. Hermione apoiou a bochecha no topo da cabeça de Rony e afagou os cabelos dele com as mãos, sentindo que começara a chorar mais uma vez. As respirações rascantes deles foram as únicas coisas que ouviram por alguns instantes, até que ela disse:

- Eu também não consigo ficar longe de você Rony.


Ele se soltou do abraço e ficou de pé, invertendo os papeis e ficando bem mais alto que ela agora. Ele segurou a cabeça dela com as mãos, forçando-a a olhar nos seus olhos.

- Eu quero você, só você. Fica comigo Mione? – disse ele sério – A gente pode esquecer tudo e começar do zero, agora. Que tal?

- Eu... Claro Rony! – disse ela enlaçando o pescoço dele e se colocando nas pontas dos pés para beijá-lo na boca querendo acabar de uma vez por todas com qualquer obstáculo entre os dois.


Rony retribuiu com mais entusiasmo ainda, abraçando a cintura dela e levantando-a do chão. Hermione apertou os ombros dele com força. Apertou mais uma vez. Abriu os olhos, espalmou as mãos e apalpou os ombros de Rony sentindo que alguma coisa estava errada. Depois, com um grande esforço, empurrou-o.

- Ronald! Você está nu!


Rony encarou-a espantado, com a boca ligeiramente aberta, tentando compreender porque ela se afastara de repente. Ele olhou para baixo, analisando seu próprio corpo, depois olhou novamente pra ela, rindo.

- Foi você quem me mandou tirar a roupa – disse estendendo os braços e tentando puxá-la para si novamente.

- Não Rony! Seu jogo lembra? Eu tenho que te examinar – disse ela colocando as duas mãos no peito dele e tentando empurrá-lo.

- Eu estou ótimo! Nunca estive melhor na vida.

- Não! – disse ela finalmente conseguindo se desvencilhar dele e sacando a varinha – Deite-se ai e me deixe terminar seu exame!

- Só um beijo, então? – implorou ele fazendo sua melhor cara de menino abandonado.

- Ron... – Hermione pensou, olhando o ruivo irresistível a sua frente - Ok, mas só um.


Rony mal esperou ela baixar a varinha e partiu pra cima, puxando Hermione firmemente pela cintura com uma mão, e entrelaçando a outra nos cabelos dela. Ela sentiu o fôlego se esvair e as pernas bambearem ao sentir o corpo e os lábios dele roçando nos seus, e nada mais importava. Hermione correspondeu agarrando os cabelos da nuca dele e aprofundando ainda mais o beijo. Rony desceu as mãos lentamente pelas costas dela, parando nos quadris. Segurando-a firme pelos quadris, ele se virou e se escorou na cama, encaixando Hermione entre suas pernas, sem deixar de beijá-la, queria mais contato, queria ela mais perto. Ela soltou os cabelos dele e desceu as mãos pela nuca, ávida por sentir a pele do ruivo. Arranhou as costas dele e sentiu-o arquejar, e só agora ela realmente conseguia se lembrar como era bom estar com ele. Rony retribuiu na mesma moeda, fazendo um caminho de beijos pelo pescoço dela, mordiscando de leve a pele dela tinha um gosto tão bom.. Mas quando ela sentiu uma das mãos dele forçando entrada pelo sua blusa, Hermione reagiu.

- Rony... Você disse só um beijo.

- Uhum.

- Rony, seu jogo! Esse é meu ambiente de trabalho – disse ela conseguindo se controlar e afastando-o pelos ombros – É sério! Nós temos o resto da vida pra ficar juntos, não precisa essa pressa toda.

- Promete?

- Promete o que?

- Que vai ficar comigo pro resto da vida?


Hermione riu e deu um beijo estalado na boca dele.

- Prometo. Mas só se você for um bom menino e me deixar terminar de te examinar.

- Eu estou falando sério – disse ele com uma expressão que realmente não era de brincadeira – Eu quero você comigo pro resto da minha vida – sussurrou se aproximando do ouvido dela, depois se afastando.

- Mesmo que a gente não estivessemos juntos – disse ela acariciando o rosto de Rony e encostando a própria testa na dele, de maneira que tudo que via a sua frente era o azul puro daqueles olhos – Eu já seria sua pro resto da vida. Sempre fui Ron. Só sua.

- Você acredita em mim se eu disser que eu também? – disse ele num sussurro rouco e abafado.


Ela acenou positivamente com a cabeça, fechando os olhos aos senti-los se encherem de lágrimas novamente.

- Não chora Mione – disse ele limpando o rosto dela carinhosamente – Tudo bem agora.
Ela o abraçou forte, encostando a cabeça no ombro dele, mal acreditando que estava realmente tudo bem, mal se atrevendo a sentir toda aquela felicidade que explodia em seu peito. Agora estariam juntos. Pra sempre.

- Uma última coisa – disse Hermione afrouxando o abraço – Eu tenho que te prometer que vou realizar seu sonho, Ron.

- Sonho? – perguntou ele confuso.

- Isso – respondeu ela sorrindo – Eu vou estar em casa te esperando com um beijo apaixonado, todos os dias quando você chegar do trabalho – disse ela apoiando os ante-braços nos ombros dele e acariciando a nuca dele com as mãos – E nossos ruivinhos também vão estar lá, fazendo muita bagunça.


Rony abriu o maior sorriso que já tinha dado até ali e encheu-a de beijos por todo o rosto. Então segurou os lados da cabeça dela e fitou os olhos chocolates com ternura por um minuto inteiro, antes de aproximar lentamente sua boca da dela, dessa vez com calma. Queria sentir o gosto dela, a respiração quente, a língua macia.


Hermione fechou os olhos e sentiu o toque dos lábios de Rony nos seus, e todo seu corpo se arrepiou. Ele sugou gentilmente o lábio de cima, depois o de baixo. Ela sentia o calor emanando do corpo quente dele, e a umidade deliciosa daquela boca. Hermione partiu os próprios lábios com a língua e acariciou os dele, pedindo passagem, sentiu as mãos de Rony, que seguravam sua cabeça, tremerem de leve. Então finalmente, num arroubo, ele puxou-a para um beijo apaixonado, abraçando-a pelas costas. Eles ficaram assim por um tempo incalculável, apenas sentindo um ao outro, aproveitando aqueles minutos mágicos, que poderiam durar pela eternidade se dependesse de qualquer um dos dois. Então Rony acalmou o beijo devagar, terminado com vários selinhos.

- O jogo – disse simplesmente.

- Agora você se lembra? – perguntou ela rindo.

- Você vai assistir?

- Vou sim. Não perco seu show por nada – brincou ela.

- Só espero que seja um show mesmo, porque se não for... – disse ele subitamente assumindo uma expressão de velório.

- Você é ótimo Rony! Vai se sair muito bem!


Ele deu uma olhada no relógio de pulso e pulou, afastando Hermione.

- O jogo começa em quinze minutos! E eu ainda nem me troquei! – disse colocando as calças de qualquer jeito e quase tropeçando.

- Calma! Eu não te examinei ainda – disse ela divertida com a pressa dele.

- Não mesmo! Não dá tempo pra exame! – disse ele conseguindo vestir a calça – Espera! Escuta só.


Os dois pararam em silêncio por alguns minutos, mas Hermione não conseguiu identificar nenhum barulho anormal.

- O que?

- A chuva! – disse Rony passando as mãos pelos cabelos em desespero – Jogo com chuva, mas que m...

- Rony! Vai dar tudo certo, é só ter calma – disse Hermione ajudando-o a encontrar o buraco da manga por onde ele tentava enfiar o braço.


Ele ajeitou a camisa, colocou o boné na cabeça de qualquer jeito e já ia saindo, quando se virou novamente, parecendo ter esquecido alguma coisa. Puxou Hermione, que sorria divertida, beijando-a rápida e profundamente na boca.

- Torce por mim.

- Pode deixar. Boa sorte!


E dizendo isso ele saiu, deixando uma Hermione risonha e abobalhada para trás.
Se perguntando quanto tempo teriam demorado lá dentro e se alguém reparara, ela finalmente abriu o biombo e saiu para o resto da tenda, tentando não sorrir obviamente nem andar saltitante. Alguns jogadores saiam de trás de outros biombos, obviamente vindos de um exame que não deveria durar mais do que dez minutos, feito pelos estagiários. “Os estagiários! Será que eles precisaram de mim? O que eu vou dizer quando perguntarem sobre a minha demora?!”. Mas mal teve tempo de pensar e a voz arrastada de Malfoy encheu seus ouvidos pelas suas costas.

- O Weasley deve ser realmente grande, para o exame ter demorado esse tempo todo.


E sem dizer mais nada, ele passou por ela lançando um olhar de nojo e saiu em direção ao campo, trajando uma capa de chuva verde. Vermelha como uma pimenta, Hermione conjurou uma capa de chuva branca com a varinha e saiu às pressas atrás dele, antes que mais alguém ali dentro viesse lhe fazer perguntas embaraçosas.


Uma chuva leve, porém insistente, castigava o gramado. O sol se escondia entre as nuvens cinzentas naquele fim de manhã. E se ela não estivesse preocupada com Rony, e nem tivesse que acompanhar o jogo para o caso de algum acidente, ficaria quietinha dentro da tenda confortável e quente. O campo ainda estava vazio, mas as arquibancadas já estavam abarrotadas de torcedores que pareciam não se importar nem um pouco com a chuva. Do lado do Puddlemere se vestiam de azul marinho e dourado, e do outro, do time que Hermione por seu desinteresse em quadribol não sabia qual era, se vestiam de um azul celeste sem outras cores brilhantes. Uma melodia conhecida de seus ouvidos ecoou pelo estádio, vinda da torcida, e ela parou um momento tentando escutar através do barulho que as gotas causavam quando batiam em sua capa.

- Ei, ei, ei! Weasley é nosso rei!


Não era possível! Quem se lembraria de uma musica feita tantos anos antes em Hogwarts? Bom, não importava. Ela se sentiu contagiada por toda aquela alegria somada com a felicidade incomparável que sentia, e quase começou a cantar e pular com os torcedores, mas então se lembrou de que não estava ali para tomar parte na torcida, e sim para cuidar dos jogadores que precisassem, por isso deveria ficar atenta. Dois de seus estagiários se aproximaram embaixo de um enorme guarda-chuva, fazendo Hermione congelar. “Será que eles repararam na minha demora?”.

- Hermione, eu e o Max vamos ficar aqui fora acompanhando o jogo. Tudo bem? – disse o moreno mais baixinho.

- Claro! – respondeu ela aliviada – E fiquem atentos pra qualquer acidente que acontecer. Qualquer coisinha vocês já sabem, levamos o jogador pra tenda correndo.

- Certo. Obrigado! – disseram os dois juntos, depois se afastaram, sorrindo.


“Homens! Quadribol vem sempre em primeiro lugar...” pensou ela, desta vez olhando as margens do campo. Do lado onde ela estava, encontravam-se apenas os dois estagiários dez metros a sua esquerda, e Malfoy uns vinte metros a sua direita, apenas discernível pela capa verde que lhe caía até os pés e encobria a cabeça. Ele tinha as mãos cruzadas e assistia solitário e aborrecido à empolgação da torcida. Hermione imaginou por que ele não estaria nos camarotes junto com os presidentes dos times e as pessoas importantes... Talvez quisesse vigiar de perto o trabalho de seus comandados.


Do outro lado do campo duas aberturas na estrutura do estádio pareciam levar a túneis, onde certamente se encontrariam os vestiários dos dois times, e por onde ela imaginou que eles sairiam já voando, como na Copa Mundial de Quadribol.


De repente uma voz forte e alta ecoou pelo estádio inteiro, fazendo-a olhar para os camarotes no alto. E sem dúvida, lá estava ele, Lino Jordan, iniciando a narração da partida. Hermione sentiu um formigamento nas pernas e a ansiedade tomou conta de seus sentidos.

- Beeem vindos senhoras e senhores! À partida de abertura da Liga Britânica de Quadribol! – disse Lino entusiasmado, sua voz magicamente amplificada – Dois grandes times aqui hoje! Os Tornados de Tutshill! – disse ele apontado para seu lado direito do campo, onde a torcida pulou e gritou – E o vencedor de VINTE E DUAS Ligas Britânicas! Com seu mais novo e brilhante goleiro... Ronald Weasley! – nesse ponto a cantoria de “Weasley é nosso rei” aumentou absurdamente – O incrível time: União de Puddlemere!


Hermione reconheceu a antiga parcialidade de Lino, que obviamente torcia pelo Puddlemere. Mas sua ansiedade e euforia eram tamanhas que ela mal teve tempo de reparar nisso, só observava o túnel por onde Rony sairia dentro de segundos. Apertando uma mão na outra e quase sangrando o próprio lábio inferior, tamanha a intensidade com que o mordia, ela ouviu Lino anunciar:

- E lá vêm eles! – disse ele apontando para o túnel dos Tornados – Knightley! Madley! Payne! Fancourt! Toots! Radford! Eeeeeee... Chang!


Um a um os jogadores anunciados saíram como águias do túnel, saudando sua torcida num vôo em volta do campo, todos usando vestes azul celeste com um T duplo azul escuro. Hermione só teve tempo de reconhecer os cabelos negros e lisos de Cho, amarrados em um rabo de cavalo e já molhados pela chuva, antes que Lino voltasse a narrar.

- Agora! Para delírio da torcida de Puddlemere... Ele! O capitão e goleiro do time... Ronald Weasley! – e ela viu um borrão de cabelos vermelhos sair voando sozinho do túnel do Puddlemere, uma mão levantada, dando socos no ar, usando vestes azul marinho com dois juncos dourados, cruzados sobre o peito. E a torcida realmente foi ao delírio. Hermione se segurou para não gritar e pular também – E os outros jogadores... Robbins! Zabine! Bole! Thomas! Spinnet! Eeeeeee... Jones!


Os outros jogadores se juntaram a Rony no lado esquerdo do campo, formando um semicírculo. Hermione reparou que o cabelo de Rony já estava vermelho escuro e grudado na cabeça, molhado pela chuva. Do outro lado, Cho era a única mulher do time e, apesar disso, a capitã.

- E para acompanhar essa partida, o nosso melhor juiz! – disse Lino apontando agora para um homem de vestes brancas, que acabara de entrar no campo, trazendo a caixa de bolas e uma vassoura – Olívio Wood!


Apertando os olhos para ver melhor, Hermione reconheceu-o, enquanto ele liberava o pomo e os balaços, ainda segurando a goles. Olívio gesticulou para que Rony e Cho apertassem as mãos, o que eles fizeram sem sorrir. Ele segurou a goles com as duas mãos, se preparando para lançá-la pra cima, quando Lino gritou:

- E que comece a partida!


Hermione acompanhou com os olhos, enquanto Dino apanhava a goles no ar, e Rony voava em direção aos aros que defenderia. Era uma sorte que o jogo fosse de manhã, já que o sol, mesmo escondido, conseguia clarear o estádio em meio à chuva. Ela ouvia Lino narrando os nomes dos jogadores um atrás do outro, enquanto a goles passava de mãos em mãos, mas sem realmente prestar atenção. Seus olhos se voltavam a cada segundo para o ruivo ensopado e concentrado a um canto do campo. Ela percebeu que a posse da goles estava quase sempre com o time de Rony, mas os contra-ataques do outro time vinham velozes, já que os batedores Zabine e Bole pareciam incapazes de deter os artilheiros do outro time. Rony fazia defesas de todas as maneiras, incentivando e animando a torcida.


Ela reconheceu Alícia Spinnet e Demelza Robins enquanto as duas faziam uma espécie de drible ensaiado e marcavam um gol. A agonia de Hermione aumentava a cada minuto, vendo as apanhadoras Megan Jones e Cho Chang sobrevoarem o campo sem nem sinal do pomo. Aquele jogo não podia demorar, ou Hermione explodiria de ansiedade.


O goleiro dos Tornados defendeu um arremesso de Demelza, e passou a goles sem demora para um dos artilheiros. O balaço que Zabine deveria mandar para desviá-lo passou a metros de distância, acertando Dino em cheio no ombro. Imaginando a reação de Rony a um erro desses, Hermione olhou para os aros. Desconcentrado pela raiva que sentia de Zabine e preocupado com o ombro de Dino, Rony não conseguiu defender a goles, que passou raspando a ponta de suas luvas.

- Puddlemere: sessenta, Tornados: dez – irradiou Lino sem entusiasmo.


Hermione se inquietou mais ainda quando viu Rony gritando e gesticulando coisas ininteligíveis para Zabine, que lhe virou as costas e voou para o outro lado, rindo. “Isso não vai acabar bem...” pensou ela vendo as orelhas dele fumegantes de raiva.


Nem dez segundos depois, as duas apanhadoras mergulharam. Uma de cada lado do campo, em direção aos pés dos aros de Rony. Cho estava quase um corpo a frente, a mão direita esticada na busca de um rastro de brilho dourado que era o pomo, e Hermione viu Rony desesperado gritar incentivos à Megan. A apanhadora pareceu se inflamar coma as palavras dele, quase ultrapassando Cho. E um balaço de Zabine cortou o ar, na esperança de Hermione, para desviar Cho de sua trajetória. Mas ela observou em câmera lenta, a bola negra e pesada fazer uma curva no ar. Hermione tentou gritar e acenar para alertar Rony, mas ele estava muito concentrado na captura do pomo para ouvir gritos em meio à chuva e a multidão. O balaço acertou o lado da cabeça dele com tanta força que o jogou da vassoura, e fez o outro lado da cabeça bater com um estrondo no poste do aro direito.


Os gritos da torcida se misturaram aos de indignação de Lino Jordan, mas ninguém ali sentiu aquela fincada no peito, ou a falta de ar que Hermione sentiu ao ver Rony cair feito um boneco de pano pelo ar. E, antes que ele tocasse a grama, com a varinha em riste, ela gritou:

- Aresto Momentum!



~~~~ §§ ~~~~




N/A: Primeiro uma informação adicional sobre o capítulo:

Aresto Momentum - Desacelera um objeto.

Feitiço utilizado por Dumbledore no terceiro ano para evitar que Harry caísse com força da vassoura depois de ter sido atacado por dementadores em um jogo de Quadribol. Não se sabe ao certo seus efeitos, mas de acordo com Hermione, Harry teria desacelerado antes de bater no chão, então podemos concluir que seja algo ligado a diminuir a velocidade do objeto.
No livro, Dumbledore teria efetuado um feitiço não-verbal, mas no filme recebe esse nome. (Expliação retirada do Madame Pince).



Eu gostaria realmente de pedir desculpas a vocês por essa demora absurda. Mas eu nunca postaria um capítulo escrito as pressas e de qualquer jeito.

Minha verdadeira explicação é a falta de tempo, somada ao vestibular que eu fiz dia 2 e a um problema que eu tive que afetou meu emocional e tirou totalmente a minha inspiração. Eu espero ter recompensado com esse capítulo enorme, que mostra a tão pedida reconciliação entre Rony e Hermione.

Ah... E muito obrigada a todos que compreenderam e mandaram energias positivas! Me emocionou, e com certeza ajudou, porque eu sei o quanto vocês estavam ansiosos pelo capítulo... E obrigada também aos que me desejaram feliz aniversário. Desejo tudo em dobro pra vocês! E agradeço também a As Tradutoras por adicionarem minha fic ao guia de fics! Só fics massa lá hein?! Fiquei super feliz!

Feliz Natal atrasado!
Muita união, prosperidade e paz pra família de todos vocês!


Vamos falar um pouquinho do capítulo agora (Nossa, minhas NAs são enormes, vocês têm paciência pra ler?). Como eu já disse, eu não me sinto muito segura escrevendo esses momentos mais “ação”, então me desculpem se não tiver ficado lá essas coisas a captura dos Gamp. Quanto ao jogo de quadribol, foi o primeiro que eu escrevi na vida, usei como base a final da Copa Mundial de Quadribol do quarto livro, acho que ficou um pouco confuso, mas juro que fiz o melhor que pude. Agora, falando sobre a reconciliação de Rony e Mione... Não ficou super romântica. Acho que ficou mais cômica... Mas eu tinha que colocar o Rony de cueca! E nós já tivemos cenas muito dramáticas antes... Agora então... Depois desse acidente, só esperando pra ver... Mas eles estão juntos!



Algumas pessoas me fizeram perguntas e pedidos em seus comentários, mas como eu não vou ter tempo de responder individualmente desta vez, vou responder a alguns que provavelmente interessam a todos vocês:

~~> Me pediram para enviar um aviso por e-mail quando postar um capítulo, portanto quem quiser é só deixar o e-mail no comentário que eu aviso nos próximos.

~~> Respondendo a um pedido: Não sei se vou “voltar” no tempo e fazer uma NC-17 sobre a primeira vez de Rony e Hermione, minha idéia era escrever sobre algo que acontecesse depois dessa reconciliação... Vou colocar em votação, quem quiser opinar responda no comentário.

(única exceção porque eu não respondi o dela na última vez)
~~>Thatha! Você disse que eu não respondo aos seus comentários... Deve ter sido sem querer mesmo.

~~> Minha outra fic, A Razão não Vence o Coração, está em Hiatus, ou seja, parada por tempo indeterminado. Não sei quando vou voltar a escrevê-la.


Já ia me esquecendo. Acho que a maioria de vocês viu no último aviso, mas vou postar aqui de novo. Fiz duas shortfics, uma pra um desafio de Natal, a outra muito tempo atrás, e postei as duas essa semana.

A primeira é R/H pós-Deathly Hallows:

Uma Vida Juntos:

http://www.floreioseborroes.net/menufic.php?id=25369


A outra é Sirius/Belatriz, sei que muita gente não gosta, mas lá vai:

Uma última vez:

http://www.floreioseborroes.net/menufic.php?id=25342


Qualquer coisa que eu tenha esquecido, me desculpem, postei correndo. No próximo eu respondo os comentários individualmente.


Espero comentários recheados!


Beijocas!


Ana Fuchs






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