Na casa dos Stone









O céu estava cinzento naquela manhã de segunda-feira, assim como o humor de certo ruivo, apenas alguns raios solitários eram vistos no horizonte. Rony usava um casaco de couro, camiseta, tênis e calça jeans. Extremamente sonolento, não tendo dormido nem um minuto se quer na noite anterior enquanto pensamentos desordenados e a tristeza tomavam conta dele. Saiu pela porta do n° 12, deu uma última olhada pela Praça do Largo Grimmauld, pensando que talvez ainda houvesse tempo para desistir e deixar para outro dia, mas, com um giro desaparatou.


Quando abriu os olhos novamente, estava em uma rua com fileiras de casas iguais dos dois lados. Era um bairro residencial de Londres, mas ele tinha certeza que estava no lugar certo e que nenhuma família normal ocupava a casa a sua frente.


Era a única que se diferenciava das outras. Tinha uma aparência muito antiga, como um pequeno castelo colonial, a estrutura toda em pedra, duas pequenas torres de cada lado e uma escadaria de mármore que levava a entrada. Encima da torre direita tremulava uma enorme bandeira azul marinho, com o símbolo de dois juncos cruzados de cor dourada. Talhadas na fachada de pedra encontravam-se as palavras: União de Puddlemere, desde 1163.


Ele respirou fundo e pisou no primeiro degrau. A imponente porta de madeira a sua frente se abriu vagarosamente, revelando um salão movimentado por de trás dela. Bruxos e bruxas usando vestes azuis marinho andavam de um lado para o outro, rindo, conversando, em clima de festa.


Quando ele terminou de subir as escadas e entrou no salão, alguém gritou: É ele! O Weasley chegou!


O ambiente ficou repentinamente silencioso, todos olhavam para a entrada analisando-o com admiração e respeito, alguns com sorrisos enormes nos rostos, excitação e expectativa visíveis já outros curiosos e desconfiados. Foi quando ele se lembrou das olheiras que deviam estar debaixo de seus olhos.


Do meio da multidão, um homem gorducho e baixinho veio andando em sua direção e estendeu a mão para cumprimentá-lo.

- Eu sou o presidente do Time meu rapaz, Arnold Reeves – disse ele apertando a mão do ruivo com entusiasmo – seja muito bem vindo! Estamos muito honrados em tê-lo aqui.

Rony sorriu abobado. Depois da noite horrível, ele não imaginava que alguma coisa pudesse animá-lo. Nem em sonho esperaria uma recepção assim. Pensou que seria apresentado apenas aos jogadores e depois começariam um treino leve, mas pelo visto, vários torcedores antigos e prestigiados além de membros da imprensa, estavam reunidos ali para vê-lo de perto. Ele arrumou os ombros, levantou a cabeça, passou a mão nos cabelos e encarou todos no recinto com um sorriso discreto e abobado. A conversa e o burburinho voltaram com força total.


O presidente o conduziu para o outro lado do salão, abrindo caminho entre as pessoas que acenavam e tentavam se aproximar. Uma mesa estava montada em uma espécie de palco, e a parede atrás dela forrada pela bandeira do time. Ele se sentou na cadeira que o presidente apontou, notando que vestes do time com seu nome se encontravam encima da mesa a sua frente.


O presidente levantou a mão pedindo silencio. As quase cinqüenta pessoas se calaram ansiosas para ouvir e ver o novo ídolo.

- Senhoras e senhores, com certeza vocês não estão mais felizes do que eu com a nossa mais nova e importante aquisição, um goleiro de primeira! O jovem Weasley aqui – ele indicou Rony a seu lado – foi o responsável pelo melhor desempenho dos Morcegos em séculos! E com certeza levará, junto com os outros novos jogadores, o Puddlemere ao campeonato esse ano!


Todos aplaudiam entusiasmados, alguns assobiavam e pulavam. Rony estava completamente sem palavras, não que nunca tivesse sido reconhecido e prestigiado na Irlanda, mas era muito diferente chegar à Inglaterra, depois de tantos anos, e ver rostos conhecidos o aplaudindo e admirando. Hermione e todos os problemas foram varridos de sua cabeça, coisa que ele imaginava completamente impossível dez minutos atrás.


O presidente levantou a mão pedindo silêncio mais uma vez.

- Rony Weasley é o último e mais importante dos nossos contratados esse ano. Apresentamos a vocês semana passada os outros jogadores – ele olhou significantemente para um canto do salão, onde se encontravam três jovens, todos vestindo seus próprios uniformes – Demelza Robins, Alicia Spinnet e Dino Thomas, que formarão nosso novo ataque e esperamos que juntamente com as defesas espetaculares de Rony, nosso time decole!


Enquanto todos aplaudiam, gritavam, assobiavam, etc. Rony pegava as vestes que o presidente lhe entregava, tirava a jaqueta e as colocava. De pé, devidamente vestido e contagiado com a empolgação do público ele começou a falar:

- Obrigado. Muito obrigado – o ruivo encarou todas as expressões ansiosas a sua frente e se sentiu um pouco intimidado, mas a felicidade e o orgulho eram maiores – Bom, a honra é toda minha de jogar em um time como esse. O time mais antigo. Duas vezes vencedor do campeonato europeu! Er... Demelza e Dino – disse ele aos colegas que sorriram e acenaram – eu já joguei com vocês e sei que fazemos um bom time juntos. Alicia, eu já vi você jogar e você é ótima. Vou dar o melhor de mim. Essa taça já é nossa! – finalizou ele levantando um punho no ar. Todos gritaram e imitaram o gesto.


O presidente se levantou alegremente e apertou a mão de Rony mais uma vez. Uma mesa enorme de café da manhã apareceu a um canto e o ruivo percebeu que aquilo tudo era uma festa sem hora certa para acabar, com certeza o time estava investindo pesado no campeonato desse ano.


Os dois desceram até o salão. Rony começou a ser apresentado a vários figurões que apertavam sua mão e lhe davam tapinhas nas costas. Pessoas que ele via nos jornais quando criança, que ele sabia que eram muito ricos e influentes, todos pareciam felizes em conhecê-lo e em tê-lo no time.


Uma hora depois, depois de vários apertos de mão e conversas com quase todos no salão, ele se dirigiu à mesa de café da manhã, morto de fome. Dino, Demelza e Alicia se encontravam naquele exato lugar. Rony se aproximou e cumprimentou seu antigo colega de Grifinória com entusiasmo.

- Fala cara! – disse ele apertando a mão de Dino – não sabia que você estava no time.

- Não podia ficar de fora – disse Dino – jogar com você e a Demelza, e ainda ganhar um bom dinheiro pra isso? Só louco não aceitaria.

- E você Alicia? Faz anos que não te vejo – disse Rony a cumprimentando.

- Eu estive jogando em times pequenos – disse ela sorridente – mas ano passado fiz uma campanha realmente boa no Tornados, junto com a Demelza, por isso eles nos chamaram.

- É – disse Demelza se aproximando de Rony e o cumprimentando com um beijo na bochecha, um tanto entusiasmada – e sua fama chegou aqui Rony, estão todos falando do seu sucesso na Irlanda.

- É... – disse Rony encabulado – eu fiz a minha parte, mas a equipe era realmente boa.

- Também ouvi sobre seus feitos por lá... Então quer dizer que agora vamos nos divertir? – perguntou Dino dando um tapinha nas costas do ruivo e piscando. Dino que era conhecido por “saber aproveitar” a fama.


A insinuação do amigo fez Rony se lembrar do beijo em Hermione e toda a confusão. Querendo mudar de assunto, ele pigarreou e perguntou a Demelza – Quem mais está no time?

- Alguns jogadores que já estavam ano passado – disse ela se aproximando mais ainda de Rony – Zabine e Bole os batedores, e Megan Jones apanhadora.

- Zabine? – perguntou Rony indignado – Bole?

- Isso mesmo Weasley – respondeu o próprio Zabine, que acabara de se aproximar passando por trás de Rony.




~~~~ §§ ~~~~





- Ela está péssima – Gina contava a Harry, que acabara de entrar em seu cubículo no Departamento de Aurores e perguntava por Hermione – tenho certeza que chorou a noite inteira, mas não aceitou minha ajuda, você sabe como ela é.

Harry se sentou na cadeira em frente à mesa de Gina e soltou um longo suspiro – e ela pelo menos te contou por quê? O Rony não me disse nada ontem.

Gina contou detalhadamente tudo que Hermione havia lhe contado sobre o beijo e a discussão. Harry a fitava de olhos arregalados, sem acreditar.

- Eu disse a ela para procurar o Rony – concluiu a ruiva – mas não adiantou. Ela está muito confusa, Harry.

- E você sabe, não sabe Gina? – perguntou ele.

- Sei o que? – ela tentou fugir da pergunta do amigo, mas ao olhar intimidador de Harry, respondeu – Sei, mas não posso contar. Só ela pode fazer isso.

- E é alguma coisa grave?

- Pra ela sim, foi muito difícil. Ela acha que o Rony não perdoaria, por isso não tem coragem de contar.

- A Hermione não faria nada tão horrível, Gina! – disse Harry tentado entender a situação – Impossível, conheço ela desde os onze anos, é a pessoa mais correta do mundo.

- Mas é o que ela acha – disse Gina tentando explicar e não dar tantas pistas – Você sabe como ela é rígida consigo mesma.

- Vou conversar com ela – disse Harry decidido – Ela não pode estragar a própria vida e a do Rony também! Ela mesma admitiu que ainda ama ele. Ele estava arrasado ontem, tenho certeza que também não dormiu um minuto.

Nesse momento Tonks entrou sorridente pela porta, parecia estar ansiosa. Tropeçando levemente na cadeira de Harry, ela começou a falar:

- Ainda bem que vocês dois estão aqui. Chegou à hora! Hoje é o dia perfeito!

Após alguns segundos tentando entender sobre o que a chefe estava falando, Harry disse - Mas Tonks, ainda não estamos preparados – ele temia o momento em que ele e Gina embarcariam de vez na tal missão.

- Você já nasceu preparado, Harry – ela piscou para ele – Temos a oportunidade perfeita hoje à noite. Os Gamp vão jantar na casa dos donos da propriedade vizinha, os Stone, que estão do nosso lado. Eles vão apresentar vocês como Signus e Estella Black, é só mostrar o anel com o brasão que eles não desconfiarão de nada.

- Nós já sabemos o plano de cor, Tonks – disse Gina impaciente – Mas por que tem que ser hoje?

- Porque é um jantar de negócios. Os Gamp querem comprar a propriedade dos vizinhos, e estão forçando um pouquinho a barra – explicou Tonks – Qualquer coisa que vocês ouvirem: ameaças, origem do dinheiro para essa compra, o porque do interesse nas terras, é muito importante para o inquérito.

- Ok, Ok – disse Harry – mas você tem certeza que eles não desconfiarão que eu sou Harry Potter?

- Eles só devem ter visto fotos suas aos dezessete anos de idade Harry – disse Tonks pela milésima vez – Você vai estar de barba e... Ah... Ainda bem que me lembrou, aqui estão.

Tonks tirou uma pequena caixinha de plástico do bolso e entregou a Harry.

- O que é isso? – perguntou Gina.

- Lentes – respondeu ele antes que Tonks dissesse algo, reconhecendo a caixinha, iguais as que sua tia Petúnia tinha – Para substituir os óculos.

- Claro – disse Tonks empolgada – Os óculos são sua marca registrada.

- Depois dos olhos – disse Gina distraída – Os olhos verdes são únicos.

Harry ficou surpreso com a observação da ruiva. Tonks, por sua vez, examinava o rosto de Harry.

- Mas isso é fácil mudar – disse ela.

- Não! – disse Gina pulando da cadeira.

- Por que não? – perguntou Tonks surpresa.

Harry olhava de uma para a outra, confuso. Qual era o problema para Gina se ele mudasse a cor dos olhos?

- Nem eu o reconheceria – disse Gina tentando se justificar, e fracassando horrivelmente – Além do mais, a barba e as lentes já estão de bom tamanho.




~~~~ §§ ~~~~





Gina usava vestes pretas e douradas que lhe caiam até os pés na frente e tinha uma pequena cauda atrás. Os cabelos, presos em um elegante coque na nuca, e várias jóias espalhadas pelo corpo. Ela se sentia totalmente desconfortável. Harry, ao seu lado, estava quase irreconhecível. De vestes verdes e prata, sem óculos e com uma barba por fazer extremamente sexy. Gina notou que a falta dos óculos deixava seus olhos maiores e mais chamativos. Ele estava mais bonito do que ela jamais havia visto. “Mas ainda prefiro o meu antigo Harry, sem esse estilo sonserino” pensou.


Os dois caminhavam de braços dados por uma estradinha de pedra, que levava até uma grande casa senhorial pintada de branco, com as janelas pintadas de azul. Ao seu lado, o sol começava a se por. Várias flores coloridas preenchiam os canteiros que ladeavam a estrada, e uma grama verde, bem cuidada e pontilhada de árvores, tomava conta do terreno. O cenário era lindo, e se Gina não estivesse nervosa e apreensiva, perceberia que a situação era extremamente romântica, como nos filmes trouxas que ela costumava assistir.


Quando os dois se aproximaram da casa, uma mulher loira de meia idade e gorducha desceu ao encontro deles. Gina forçou um sorriso ao ver o alívio na expressão dela, mesmo que nunca a tivesse visto antes. Lembrava um pouquinho sua própria mãe, que ficava sempre aliviada com a chegada dos filhos. Usava vestes azuis simples, mas extremamente bem passadas.

- Que bom que vocês chegaram cedo – disse ela sorrindo para os dois – Sr. e Sra. Black?

- Isso mesmo – respondeu Harry. Gina o sentia tremendo ao seu lado, deveria estar nervoso.

A mulher se aproximou um pouco dos dois e perguntou, abaixando a voz – São aurores do ministério, não são?

- Somos sim – respondeu Gina.

- Ótimo! Sou a Sra. Stone – disse ela apertando as mãos deles – Vamos entrar e eu explico tudo na sala.


Os dois acompanharam-na até a casa, parecia não haver mais ninguém no lugar além da Sra. Stone. Gina percebeu que Harry parecia um pouco apreensivo. Procurou seus olhos e sorriu confiante. Sabia que tudo daria certo. A Sra. Stone parecia ser aquele tipo de mulher que quer proteger todos que gosta, como uma galinha que guarda todos os pintinhos embaixo de suas asas. A ruiva se sentia mais segura agora.


A sala de estar da casa tinha uma mobília de aparência antiga, mas assim como tudo naquele lugar, era bem cuidada e limpa. A Sra. Stone mandou que eles se sentassem no sofá e sumiu por outra porta. Menos de cinco minutos depois ela voltava com uma bandeja com chá e biscoitos. Serviu os dois e se sentou em uma poltrona de frente para eles.

- Eu preparei um quarto para vocês, podem ficar o tempo que quiserem.

O tom dela era doce e maternal. Mas Gina não deixou de notar uma coisa: UM quarto. Ela e Harry teriam que dormir juntos.

- Não se preocupe Sra. Stone – disse ele – não queremos incomodar.

- Não é incomodo algum. Fico feliz que vocês estejam aqui. Assim me ajudam com aqueles Gamp e fazem um pouco de companhia para essa viúva solitária – ela serviu mais chá para Harry.

- A senhora mora aqui sozinha? – perguntou Gina.

- Não, moro com meus filhos: Marius de dezesseis e Hector de quatorze anos. Os dois estão em Hogwarts agora, meu marido faleceu há onze anos.

- Sinto muito – disse Gina.

- Não se preocupe, já me acostumei. E me chamem de Mary, por favor.

- Então, Mary, o que está acontecendo aqui? – perguntou Harry – Pra que esse jantar?

- Ah, Sr. Black – Harry ainda não estava acostumado a ser chamado assim – os Gamp são meus vizinhos desde que me casei e mudei pra cá, há dezoito anos. Nunca tivemos nenhum tipo de relação, eles quase nunca saem de casa, totalmente fechados. Mas alguns meses atrás me mandaram uma carta, dizendo que estavam interessados em comprar a Estância das Flores – disse ela fazendo um movimento amplo, e Harry entendeu que esse era o nome da fazenda – Eu recusei, é claro! Meus filhos cresceram aqui e adoram esse lugar. Mas eles continuam insistindo, de uma maneira quase doentia. Não entendo o porquê, tem tantas terras à venda por aqui. Eu quis marcar esse jantar para resolver tudo de uma vez, e preciso da ajuda de vocês.

- Nós vamos ajudar – assegurou Gina.

- Eles devem estar chegando a qualquer momento – disse Mary olhando pela janela.


Ela estava certa. Mal acabara de falar e deu um pulo da poltrona. O casal Gamp estava subindo a pé pela estrada. Mary abriu a porta e esperou que eles entrassem, sem a acolhida calorosa com que recebera Harry e Gina. Cumprimentaram-se cordialmente.


A Sra. Gamp era muito alta e magra, assim como seu marido. Os cabelos negros e o rosto expressivo lembravam as mulheres italianas. Tinha a expressão carrancuda e altiva. Parecia guiar o marido ofuscando a presença dele, que apesar de alto parecia pequeno e submisso perto dela. Os dois usavam vestes de um tecido cintilante, bordadas em alguns pontos com fios de ouro.


Eles passaram por Mary e pararam no meio da sala, analisando Harry e Gina, provavelmente intrigados com a presença dos dois. Harry se adiantou, estendendo a mão direita ao homem:

- Sou Signus Black, e essa é minha esposa, Estella Black – disse ele indicando Gina – somos amigos da Sra. Stone.

Para a surpresa de Harry, foi a Sra. Gamp quem apertou sua mão.

- Black? – perguntou ela interessada – É um nome muito citado nos livros de nobreza de sangue.

- É verdade. Família muito antiga. Mas infelizmente sou o último – disse Harry tentando disfarçar o nojo que sentia da mulher e parecer orgulhoso do nome – Veja só.


Ele mostrou o anel do pai de Sirius em sua mão direita. Ela analisou-o interessada durante alguns segundos.

- Então, provavelmente, somos parentes – disse amenizando a expressão dura – minha família é toda de sangues puros. Sou Úrsula Gamp, e esse é meu marido, Edgar Gamp.


Harry apertou a mão do homem, que tinha uma expressão aérea e desinteressada. Ele sentiu a mão de Gina, que estava encostada ao seu lado, se fechar em punho enquanto ela encarava Úrsula. Com certeza o sangue Weasley da ruiva não estava gostando nada daquela conversa. Mas deveriam se controlar ou não convenceriam ninguém daquela farsa. Ele pegou a mão dela na sua, abriu-a e entrelaçou os próprios dedos nos dela. Ela pareceu relaxar um pouco.


Mary, que até então apenas assistia à cena, convidou todos para irem até a sala de jantar, parecia estar mais ansiosa ainda. Ela foi à frente indicando o caminho, os Gamp logo atrás. Gina fez menção segui-los, mas Harry a segurou.

- Se não nos controlarmos, eles vão desconfiar de tudo – ele sussurrou – essa mulher não me parece nada boba.

- Desculpe Harry. Mas ela é horrível! Você viu como ela falou dos sangues puros? – disse Gina baixinho também, Harry a encarou bravo – Tudo bem, vou me controlar.


Os dois seguiram pela porta em que os Gamp haviam acabado de desaparecer. Gina ia à frente. A mão de Harry ainda segurava a sua. Os dois com uma sensação horrível de estar em um lugar desconhecido, com a possibilidade de serem descobertos a qualquer momento. Era a coisa mais estranha que Gina já havia feito em sua carreira de auror.


Chegaram à sala de jantar. Uma mesa comprida de madeira forrada com uma toalha branca de linho tomava conta de quase todo o espaço. Os Gamp já estavam sentados lado a lado. Gina se encaminhou para o outro lado da mesa e, antes que ela pudesse fazê-lo, Harry puxou uma cadeira para ela se sentar e se sentou ao seu lado. Mary havia desaparecido, provavelmente estava buscando o jantar. Úrsula encarou Harry e perguntou:

- E o que vocês estão fazendo aqui hoje?

- Compramos a fazenda da Sra. Stone há muito tempo – Harry começava a falar o planejado – Mas deixamos que ela viva aqui de aluguel. Temos muitas propriedades, como a senhora talvez saiba.

- Então a Estância não é mais dos Stone? – perguntou Úrsula num tom de suspeita.

- Não senhora, é minha – disse Harry, que continuava nervoso – vim aqui hoje falar sobre isso com vocês.

- E você está disposto a negociar? – A Sra. Gamp era direta.

- Depende – disse Harry aliviado que ela estivesse acreditando – gosto muito desse lugar. E Estella adora o campo – ele pegou a mão de Gina por cima da mesa e olhou diretamente nos olhos dela.

- Sim... – disse Gina – Gostaria até de criar nossos filhos aqui – ela completou encarando Úrsula e apertando a mão de Harry.

- Recém casados? – perguntou o Sr. Gamp, se manifestando pela primeira vez desde que chegara.

- Claro que sim Edgar – a Sra. Gamp respondeu por eles – não vê a paixão nos olhos deles? A troca de carinho? – ela dizia com uma careta de nojo.

Harry não conseguiu responder a esse comentário, muito menos encarar Gina novamente. Será que havia mesmo paixão em seu olhar?

- Casamos há um mês – respondeu Gina sorrindo. Se era para atuar, que fosse convincente, afinal de contas era sua promoção que estava em jogo.


Harry notou que Edgar olhava Gina de uma maneira estranha. Não tirava os olhos dela, uma mistura de cobiça e admiração... Mas ela era sua esposa! Pelo menos naquele momento sim! O que faria um marido nessa situação? Harry não sabia, mas sua vontade era amaldiçoar o homem, fazê-lo olhar para qualquer lugar que não fosse... Sua mulher?


Mary chegou com a comida. Cheirava muito bem, e estava deliciosa. Durante o jantar os Gamp não disseram mais nenhuma palavra, como se não quisessem falar nada com Mary. Sua presa havia mudado. Úrsula parecia planejar uma maneira melhor de persuadi-los, e Harry esperava que ela caísse na armadilha e decidisse a favor do plano. Se ela não fizesse como o planejado eles teriam que encontrar outra maneira.


Mary nem tocou na comida durante o jantar. Encarava seus estranhos convidados um por um, nervosa. Seus olhos azuis e pequenos pareciam amedrontados e receosos. Harry sentiu pena da mulher. Não devia ser nada fácil cuidar de uma família e uma casa sozinha.


No fim do jantar os dois casais voltaram para a sala de estar, enquanto ela retirava a mesa e fazia mais chá.


Eles se sentaram nos sofás. Úrsula um tanto distante do marido, Gina colada a Harry, segurando sua mão.


Era tão natural agir assim com Gina que Harry pensou ser a única coisa em que ele não precisava atuar na frente dos Gamp. Era fácil querê-la por perto, segurar sua mão e ser carinhoso, muito mais fácil do que se manter distante. E Gina parecia gostar de agir assim também. Ou seria só atuação?


Úrsula observava os dois, assim como tudo a sua volta, e Harry decidiu que era melhor quebrar o silêncio.

- Mas qual o interesse de vocês na Estância Sra. Gamp? Sei que suas terras são muito maiores. Querem aumentá-las mais ainda?

- Na verdade queremos aumentar nosso negócio Sr. Black – disse Úrsula medindo as palavras, falando de vagar e encarando Harry nos olhos – Plantamos árvores com a madeira apropriada para confecção de varinhas. Fornecemos para o Sr. Olivaras e até exportamos. Mas como cada árvore geralmente só produz uma única varinha, e elas devem ser plantadas a, no mínimo, cem metros umas das outras, precisamos de mais terras para aumentar a produção – o marido dela apenas balançava a cabeça afirmativamente, concordando com as palavras da mulher. Harry imaginava o que fazia um homem se render e se deixar comandar assim. Gina prestava atenção em tudo, como um gato observando sua presa.

- Entendo – disse Harry.

- Venha até nossa casa amanhã com sua esposa Sr. Black – “Bingo!” pensou Harry – Almocem conosco, conversaremos sobre as terras. Agora vamos Edgar, já está tarde.


Sem se despedir de sua anfitriã nem agradecer o jantar, eles se foram. Harry se sentiu aliviado. Era muito difícil fingir ser outra pessoa assim, ainda mais uma pessoa completamente diferente dele. Agora teriam tempo para planejar, estariam dentro da casa dos Gamp, teriam que investigar local, talvez fosse à única chance. Tinham que descobrir alguma coisa sobre lavagem de dinheiro e negócios ilegais. Mas como fazer isso?


- Eles já se foram? – perguntou Mary entrando na sala.

- Já sim – respondeu Gina.

- Ainda bem – disse a senhora enquanto depositava outra bandeja de chá em frente a eles – não gosto nada dessa mulher. Deu tudo certo?

- Deu sim, Mary – disse Gina se servindo de um pouco de chá – Ela pensa agora que a propriedade é nossa e não vai te incomodar mais, só a mim e ao Har... Signus.

- Tenham cuidado. Essa mulher é como Visgo do Diabo. É muito pior e mais esperta do que vocês imaginam.

- Estamos preparados para isso – disse Harry. “Ela não pode ser pior que Voldemort” pensou.


Ele se levantou e estendeu a mão para ajudar Gina a fazer o mesmo. Tinham que planejar tudo para o tal almoço o quanto antes, e era melhor fazer isso no quarto.

- Nós vamos nos deitar Mary – disse Harry – onde é mesmo o quarto?

- Ah... – ela parecia decepcionada que eles fossem dormir tão cedo, talvez esperasse que eles conversassem com ela um pouco - Eu mostro, venham.




~~~~ §§ ~~~~



N/A: Olá!


Desculpe cortar em um momento crucial como esse... Sei que vocês devem estar mais do que curiosos para saber o que vai acontecer nesse quarto durante a noite, mas o capítulo já estava enorme.

Esse não teve muito romance, estou iniciando a parte da fic com mais ação e eu preciso explicar tudo, apresentar personagens, etc.

Mas no próximo... Bom, vocês verão.


Algumas explicações:

- Megan Jones que eu apresentei como apanhadora do Puddlemere, de acordo com J.K., estava no mesmo ano que Harry em Hogwarts, ela era da Lufa-Lufa.

- Gamp é o único sobrenome que eu encontrei na árvore genealógica dos Black que não tenha um personagem nos livros.

- Signus, o nome que eu dei pro disfarce do Harry, é um nome muito comum na família Black, quase todas as gerações tem um. Estella, nome do disfarce da Gina, eu inventei mesmo, assim como os nomes dos integrantes da família Stone.


Acho que é só.


Dessa vez não irei responder aos comentários. Eu gostaria muito mesmo, mas se eu fizesse isso não daria tempo de postar hoje, foram mais de sessenta dessa vez. Mas tenham certeza de que eu li cada um deles e levei em consideração tudo que vocês falaram. Talvez eu os responda junto com os do próximo capítulo, OK?


Espero que estejam gostando!

Bjão!

Ana Fuchs

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.