A Volta









Harry estava em seu quarto, em frente a um grande espelho que o refletia da cabeça aos pés. Olhava contrariado as próprias feições. Apontou a varinha para o rosto e murmurou um feitiço: uma barba negra e grossa tomou conta da metade do seu rosto. Ele se assustou quando percebeu que parecia um lobisomem, sacudiu a cabeça em reprovação e murmurou um feitiço novamente: a barba se transformou em um cavanhaque. Virou o rosto de um lado pro outro para poder ver melhor o efeito do cavanhaque, “que cara de malandro” pensou. Murmurou mais uma vez um feitiço: um bigode grosso apareceu encima da sua boca, encobrindo seu lábio superior, “estilo tio Valter nem pensar!”. Quando apontou a varinha para o rosto novamente, um som alto e estridente ecoou pela casa. Alguém tocava a campainha.


O bigode de Harry sumiu com um aceno da varinha e ele desceu as escadas apressado, agradecendo a si mesmo por ter conseguido tirar o quadro da mãe de Sirius da casa.


Quando abriu a porta teve uma agradável surpresa. Parado em sua soleira com as mãos nos bolsos, um sorriso no rosto e um malão no chão, se encontrava seu melhor amigo, seu irmão.

- Cadê o Roniquinho? O que você fez com ele seu brutamonte? – Harry perguntou fingindo indignação.


Os dois se abraçaram rindo. Na verdade não foi bem um abraço, foram àqueles fortes socos nas costas, típicos dos homens. Rony estava uns quinze centímetros maior que Harry.

- Fala cara! Bom te ver – disse Rony.

- Entra ai – disse Harry se afastando para Rony passar e carregando as malas para dentro com um aceno da varinha – vamos subir, vou mostrar seu quarto.

Os dois começaram a subir as escadas.

- Caraca! Não acredito que essa era a casa do Sirius! – disse Rony olhando a sua volta.

- Tive que reformar tudo. Deu um trabalhão, mas valeu à pena – disse Harry.


Harry ia subindo na frente com as malas e Ron logo atrás dele. Chegaram ao último patamar e entraram em um quarto amplo e confortável.


- Se você não quiser ficar aqui, pode escolher qualquer quarto, estão todos desocupados – disse Harry colocando as malas no chão.

- Aqui está ótimo – disse Rony adiantando-se e experimentando a cama.

- Como foi à viagem? – perguntou Harry se sentando em uma poltrona e rindo do amigo, que parecia uma criança pulando na cama.

- Peguei uma chave portal até o ministério, depois aparatei aqui. Foi bem rápido, sem problemas – disse Rony se sentando na beira da cama.


Harry observava o amigo. Rony parecia ser tudo que um dia disse a Harry que desejava. Era reconhecido e sobressaiu todos seus irmãos com seus feitos e seu trabalho. Bonito, engraçado e charmoso, tinha quase todas as mulheres que queria. Quase.


- E como vai o rico e famoso Ronald? – perguntou Harry ironicamente. Rony riu e corou.

- Para com isso, cara – disse ele – mas como você pode ver... Estou ótimo, nunca estive melhor.

- Não deixou nenhuma fã apaixonada por lá?

- Mulher só traz problema – disse Rony coçando a cabeça – não se pode ter nada sério com elas ou elas já começam a querer mandar em você e falar em casamento.

- Essas são as mulheres que você arruma – disse Harry sacudindo a cabeça – você só olha a beleza.

- Também não é assim – disse Rony um pouco indignado – eu não vou ficar dispensando aquele monte de gata, não tenho escolha. Você devia fazer o mesmo, eu sei que tem um monte atrás de você e você nem dá bola.

- Não quero ninguém comigo por causa de fama, quero alguém que goste de mim – disse Harry encabulado.

- Desencana cara! Você tem que se divertir também. Não está escolhendo uma mulher para casar.

- Não sei não, não gosto de falsidade – disse Harry, e resolveu mudar de assunto, aquele estava ficando incomodo demais – A Mione te convidou pra festa dela amanhã?

Essa foi à vez de Rony ficar encabulado e murchar um pouquinho em sua pose.

- Ela me convidou sim. Você acha que eu devo ir?

- Claro que sim! Faz quanto tempo que você não a vê? Não pode fazer essa desfeita – disse Harry que estava decidido a fazer de tudo para que Rony fosse a essa festa.

- E se ela estiver com um namorado lá? – perguntou Rony, sem pensar exatamente no significado daquela frase saindo de sua boca.

- Qual o problema? Você ainda se importa? – disse Harry feliz ao perceber que talvez essa estória não estivesse tão morta quanto ele imaginava.

- Claro que não! – respondeu Rony corando.


A afirmação do amigo não convenceu Harry nem um pouco, pelo contrário, agora ele tinha certeza dos sentimentos de Rony, “quando Rony cora desse jeito...”. Resolveu então dar o fio de esperança que o amigo precisava:

- Ela não está namorando. Faz muito tempo que não tem nada com ninguém.


Rony ficou calado. Harry podia ver que, por trás daquela cabeleira ruiva, o amigo estava confuso considerando a informação que ele acabara de lhe dar.


Harry se levantou – Vou deixar você a vontade ai, amanhã a gente conversa melhor.

- Certo – disse Rony.


Harry saiu do quarto. Ainda tinha que decidir que tipo de barba usaria. Uma que Gina não achasse tão engraçada. A maneira que ela riu dele na reunião da sexta anterior o fez se sentir um idiota. Se tinha que usar barba, que fosse uma que o deixasse bonito.



~~~~ §§ ~~~~




Gina ajudava pacientemente uma Hermione nervosa a finalizar os detalhes para sua festa:

- Calma Mione! Eu tenho certeza que vai dar tudo certo.

- Será? Mas eu não sei se vai caber tanta gente aqui nessa sala – dizia Hermione preocupada.

- Você convidou no máximo quinze pessoas – dizia Gina começando a perder a paciência – vai sobrar espaço nessa sala.

- Você tem certeza que as pessoas vão gostar da comida?

- Eu vou fazer duas opções de carne, três saladas, massas, quatro tipos de sobremesa... – Gina contava nos dedos ao mesmo tempo em que dizia – não confia em mim?

- Claro que confio. Desculpa, eu estou um pouco nervosa – respondeu Hermione tentando se acalmar – não devia ter feito essa festa assim em cima da hora. Onde é que eu estava com a cabeça?

- Hermione! É claro que devia ter feito! – disse Gina segurando a amiga pelos ombros e forçando-a a sentar no sofá – vai dar tudo certo, é só relaxar e curtir. Ok?

- Certo... Vou tentar ficar calma – disse Hermione respirando fundo – você vai me ajudar amanhã o dia inteiro?

- Já disse que sim, não se preocupe – Gina tranqüilizou a amiga – o Rony vai vim?

- Não sei – disse Hermione mordendo o lábio inferior, uma atitude bem característica – eu convidei, mas ele ainda não deu resposta.

- Quando contei para mamãe que ele vinha para a Inglaterra ela ficou uma fera, acho que ele ainda não tinha avisado ela – disse Gina rindo – mas ele já deve ter chegado, me escreveu dizendo que viria hoje e que iria ficar na casa do Harry.

- Espero que ele venha à festa, faz tanto tempo que não o vejo... – disse Hermione com uma pontinha de tristeza na voz.

- Se ele não vier eu mesma o arrasto até aqui! – disse Gina fingindo uma cara de brava que a deixava a idêntica a Sra. Weasley, o que fez Hermione rir gostosamente e depois a fez rir também – agora é serio Mione, claro que ele vai vim, eu conheço meu irmão.

- O Harry virá com certeza, ele já me escreveu confirmando – disse Hermione observando atenta a reação de Gina a suas palavras, mas para sua surpresa a ruiva simplesmente sacudiu os ombros.

- Eu tive várias reuniões com ele e Tonks essa semana.

- E como vai à missão?

- Ainda na fase de preparação – disse Gina como se aquilo fosse uma chatice – Tonks é obcecada com disfarces, fez eu e Harry experimentarmos todos os tipos de coisas, mas eu não vou aceitar usar nada extravagante, ou que dê trabalho de mais. Sem chance.

- Mas ela esta certa! Imagina se vocês são descobertos?

- Mas daí me transformar em uma loira falsa e biscate tem uma grande diferença – disse Gina irritada.

- Tudo bem Gina, você não precisa se transformar “em uma loira falsa e biscate”, mas tem que tomar cuidado com seu disfarce sim, além de estragar toda a missão, um disfarce ruim ainda coloca vocês em perigo – repreendeu Hermione.

- Não se preocupe Hermione, nem você vai me reconhecer – disse Gina com aquele ar de “eu sei o que estou fazendo”.

- Que bom então – disse Hermione. Depois de alguns minutos ela tirou do bolso o que parecia uma lista – toma Gina, isso é o que você vai ter que fazer amanhã.

- Merlin! – disse Gina assustada após ler a lista – você colocou aqui até o minuto exato em que eu tenho que tirar a torta do forno?

- É só um lembrete, assim você não esquece nada – disse Hermione tirando uma lista três vezes maior do bolso – eu fiz uma pra mim também.

Gina sacudiu a cabeça descrente, “Só a Mione mesmo” pensou.

- Eu não vou esquecer nada, fique tranqüila – disse se levantando do sofá – agora eu vou dormir, porque eu trabalhei o dia todo e estou um caco.

- Eu também vou, tenho que ir ao Beco Diagonal amanhã bem cedo comprar umas coisas.


Hermione também se levantou e as duas subiram as escadas enquanto Gina bocejava e Hermione pensava que, na verdade, sabia que demoraria horas para pegar no sono.



~~~~ §§ ~~~~




Esparramado em sua cama de casal, apenas de camiseta e shorts brancos, que deixavam a mostra os músculos rígidos que o quadribol lhe rendera, e a cabeleira ruiva muito visível contra o branco da fronha, encontrava-se Rony.


Ele dormia um sono solto, o peito subindo e descendo suavemente, acompanhando a respiração.


O sol já tomava conta de todo o quarto quando ele acordou. Sentado na cama, passou a mão pelos cabelos e no rosto, depois se levantou e cambaleou em direção ao banheiro para tomar um banho.


Voltando do banho, com a toalha ainda enrolada na cintura, ele se deteve um minuto olhando para a mesinha ao lado de sua cama. A carta que Hermione lhe mandara estava lá. Aproximou-se e a pegou, não pôde resistir em ler mais uma vez:



Rony,


Muito obrigada por me avisar que vai voltar. Fiquei muito feliz em saber, e eu estou bem sim, obrigada por se preocupar.

Como eu espero que você tenha lembrado, dia dezenove é meu aniversário. Eu vou fazer uma reunião, só para os amigos mais íntimos e os Weasley. Gostaria muito que você viesse. Se puder é claro.

Espero que você esteja bem também.

Um abraço,

Hermione




“como eu poderia me esquecer do seu aniversário Mione?” pensou ele. Estava decidido, iria a essa festa sim. Não podia se enganar, estava morrendo de saudades dela, louco para vê-la novamente. Durante todo o tempo em que esteve longe, por mais que tentasse esquecê-la, não houve um dia se quer em que não pensasse nela, não houve uma única mulher que ele não comparasse a ela, o que fazia todas elas parecerem tolas e sem graça. Mas será que Hermione merecia isso? Rony tinha medo de se machucar novamente, medo de sofrer tudo de novo...


Guardou a carta e começou a se vestir, estava abotoando a camisa quando se lembrou “Caraca! Ainda não comprei o presente da Mione” terminou de se vestir correndo, e desceu as escadas apressado. Quando chegou à rua, olhou para os lados sem saber aonde ir “Qual o melhor lugar para comprar um presente em Londres” se perguntou ele e alguns segundos depois deu um soco na testa “ O Beco Diagonal é claro!”, e com um giro aparatou.



~~~~ §§ ~~~~




Hermione andava pelo Beco Diagonal distraída e cheia de sacolas nas mãos, lia sua lista de compras pensando onde deveria ir agora. A uns vinte metros dela, Rony descia a rua, olhando as lojas e pensando no que comprar para ela.


Rony parou em frente à Madame Malkin para dar uma olhada na vitrine, “Roupa não... nem sei o tamanho dela”. Quando se virou para continuar andando, deu um encontrão em alguém e, no reflexo, segurou a moça para que ela não caísse, mas todas as compras dela foram pro chão.

- Me desculpe! Eu te aju... Hermione? – perguntou ele perplexo quando reconheceu aquele cabelo ondulado e aqueles olhos castanhos.

- Ro-rony? O que você está fazendo aqui?

- Bem... Eu... Nada de mais – disse ele soltando-a e se abaixando para pegar as compras.


Anestesiada pelo susto, Hermione ficou parada observando enquanto Rony pegava suas coisas pelo chão. “Não é possível, é muita coincidência!” pensava ela. Rony se levantou e lhe entregou as sacolas.


- Er... Você está na casa do Harry, certo? – perguntou Hermione.

- Sim, é, vou ficar lá um bom tempo – disse Rony colocando as mãos no bolso.

- Ah... Que bom para vocês dois – disse Hermione achando-se uma idiota por não ter nada melhor para dizer – É, eu tenho que ir, terminar de comprar tudo para hoje a noite. Você vai?

- Vou, com certeza.

- Que bom, eu vou indo então, a gente se vê mais tarde – disse Hermione já andando.

- Certo – disse Rony, e ficou parado observando ela sumir pela rua em meio às outras pessoas.


“Merlin, como ela está linda!” era a única coisa que conseguia pensar. Hermione estava muito diferente, não parecia mais aquela menina por quem ele se apaixonara, era uma mulher.


- Com licença, eu gostaria de ver a vitrine – disse uma bruxa velhinha a Rony, que percebeu que estava parado como uma estátua em frente à loja.


Ainda atordoado, começou a descer pela rua novamente, se lembrando que ainda tinha que comprar o presente.



~~~~ §§ ~~~~





N/A: Oi!

Obrigada mais uma vez pelos comentários, obrigada a cada um de vocês que acompanham pacientemente! Muuuuito obrigada mesmo, devo a vocês o sucesso da fic!

Esse é o primeiro capítulo betado. Agradeço a Janaína Andrade, minha nova beta, a ajuda nesse capítulo e nos próximos que virão.

Fui boazinha e postei o capítulo! Agora peço que comentem e me ajudem!

Bjuss,

Ana Fuchs

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.