Capítulo 11



”I´ve become so numb, I can´t fell you there
Become so tired, so much more aware
I´m becoming this
All I want to do i
Is be more like me
And be less like you”


O dia de verão amanheceu com o céu claro. Como era o início da estação, as manhãs ainda eram geladas. Draco levantou da cama e localizou um chuveiro que ficava no banheiro conjugado ao quarto. Tomou um banho de água gelada, pequenas farpas entrando em sua pele pálida e produzindo arrepios, fazendo a adrenalina pulsar pelo sangue e produzir energia para o que estava por vir.

Godric´s Hollow o esperava. Ele sabia que, diante do Lorde das Trevas, seria difícil não vacilar e deixar que ele visse a lembrança. Mas o coração de Draco sentia que havia esperanças, mesmo que o loiro não pudesse explicar o porquê. Ele apenas sabia que, a cada vez que o sol nasce, a vida dá um novo saldo de horas para que você aproveite. E ele tinha pelo menos mais algumas para gastar antes que proferissem a sentença final.

Snape não falou com ele. Simplesmente aparataram para o esconderijo do Lorde. Draco tremia, mas tentou conservar no rosto a mesma expressão que observava sempre nos olhos de Snape. O tom indecifrável que o professor ensinou. O Mestre estava num bom dia, feliz pela notícia fornecida pelos Comensais da Morte. Um de seus maiores inimigos e o único bruxo a quem ele temia tanto quanto a própria morte jazia agora enterrado num túmulo de mármore nos terrenos da própria Hogwarts. A notícia de quem fora o verdadeiro assassino ainda não havia chegado a seus ouvidos, exatamente como Snape planejou. Para o Lorde, agora só faltava exterminar a existência do último Potter para que seu domínio fosse completo e absoluto. Ele então alcançaria aquilo que desejava com todas as forças: ser imortal, governar o mundo bruxo e exterminar aqueles sangues-ruins e mestiços que não mereciam viver. Claro que ele seria misericordioso com aqueles que pudessem lhe prestar favores e serviços, mantendo-os como escravos. Mas depois que não pudesse mais subjugá-los, todos seriam mortos e apenas os nobres prevaleceriam.

Belatriz estava ao lado do Lorde e também comemorava, exultante, a conquista da cabeça de Dumbledore entregue numa bandeja pelas mãos de seu próprio sobrinho, como ela mesma fez questão de enfatizar. Draco não pôde deixar de pensar que Snape havia feito um bom trabalho ao apagar as memórias dos bruxos e implantar aquelas lembranças falsas. Até o próprio jovem estava convencido das verdades que a tia proclamava ao seu Mestre.

Este, sem parecer comovido nem orgulhoso como Belatriz, virou-se para o garoto e fez uma pergunta simples, mas com o poder de fazer as pernas de Draco bambearem.

- Como você matou Dumbledore?

- Foi com um Avada Kedavra, meu Mestre e Senhor, eu mesma vi e...

- Cale a boca, Bella – o Lorde apenas fez um sinal com as mãos e a mulher engoliu qualquer coisa que queria dizer, permanecendo com um aspecto devocional nas faces. – Mas então, me diga, Draco, como foi matar aquele bruxo velho e ultrapassado?

A maneira como o Lorde o encarava dava a entender que ele iria lançar o feitiço a qualquer momento, obviamente de maneira não-verbal. Draco controlava o turbilhão de emoções e fechava a mente para que Voldemort não pudesse penetrá-la. Mantinha na superfície as memórias idiotas da infância, um doce perdido, o cabelo de alguma menina puxado e com as trancinhas desfeitas, alguma vez em que brigou com os coleguinhas. Concentrado que estava em separar e selecionar as memórias, deu pela presença do Lorde novamente quando ele repetiu a pergunta, o tom de voz levemente irritado:

- E então? Não tem nada a dizer?

- Eu apenas lancei a Maldição da Morte, como Snape me orientou.

Por um momento que durou menos que um milésimo de segundo, Draco jurou que viu a surpresa perspassar pelos olhos do professor. Mas no intante seguinte ele já encarava o Lorde das Trevas, confirmando que havia instruído Draco sobre as possíveis possibilidades das quais poderia fazer uso para matar Dumbledore. O bruxo das trevas parecia estar convencido, embora olhasse ligeiramente para Draco enquanto conversava com Snape. O jovem continuava se esforçando para trancar a mente, uma pequena gota de suor escorrendo gelada pelas costas guardadas na capa. Nisto, Narcisa saiu de uma porta ao lado daquela pequena ante-sala, as vestes um pouco rasgadas nas barras, mas impecavelmente limpas. Não estava maquiada nem tão pouco com os cabelos primorosamente penteados, mas continuava incrivelmente bonita. Os olhos de Draco brilharam como duas estrelas: queria correr para ela e tirá-la dali o mais rápido possível. Aquele lugar não era para a sua mãe, a sua estrela perfeita. Definitivamente, combinava muito mais com sua tia Belatriz do que com Narcisa. Ao vê-la, Voldemort exclamou:

- Ora, ora, temos visitas! Narcisa, junte-se a nós para comemorar o sucesso do seu filho na empreitada. Dumbledore está morto! Façamos um brinde! – conjurou então algumas taças de vinho dos elfos e fez com que todos brindassem a morte do diretor de Hogwarts.

Em seguida, dispensou-os dizendo que Draco poderia voltar para a Mansão Malfoy e aguardar novas orientações. O coração do jovem descarregou como se tivesse chumbo. Saiu do esconderijo em Godric´s Hollow tentando evitar o ímpeto de correr e sumir do mapa. Ao seu lado, a mãe também parecia incrédula: ela não acreditava que o filho conseguiria cumprir a missão. Mas bastou algumas poucas explicações para que compreendesse a verdade: Draco enganou o Lorde das Trevas. Era um dia de sorte, afinal.

Draco, Snape e Narcisa aparataram diante da casa da família Malfoy. Narcisa foi a primeira a falar, aproximando-se de Snape como se ele agora fosse seu Mestre:

- Não sei... não sei nem o que dizer! Apenas, obrigada por cuidar do meu filho.

- Eu apenas cumpri o que havia prometido, Narcisa. Foi um Voto Perpétuo, e eu preferia proceder com ele até o fim do que morrer por uma causa injustificada – Snape tinha voltado a se vestir com a armadura da indiferença. Mesmo assim, Narcisa tomou a liberdade de pegar-lhe a mão e beijá-la, ao que Snape respondeu puxando-a de volta para si com rapidez. Não era dado a este tipo de afeição. Era e pretendia continuar sendo um homem distante.

- Para onde vamos agora, Snape? – Draco questionou, a dúvida estampada no semblante. – Não posso ficar aqui com minha mãe, não seria seguro. Precisamos ficar longe das vistas do Lorde das Trevas antes mesmo que ele descubra que eu o enganei.

Snape olhou para Draco e percebeu o quanto aquele garoto foi capaz de crescer em apenas uma noite. A maturidade do momento de crise o havia tornado um homem, um bruxo de verdade. O professor apenas murmurou:

- Vocês vão para Grimmauld Place. Para a sede da Ordem da Fênix. Eles já estão avisados e vão protegê-los, assim como protegerão Lúcio quando chegar a hora. Seu marido terá que aceitar, Narcisa, não há outro jeito. Vocês podem não se aliar à causa da Ordem, mas eles são os únicos capazes de protegê-los da ira do Lorde das Trevas, e você sabe disso.

Narcisa apenas assentiu com a cabeça antes de continuar, encarando os olhos escuros como noite de tempestade que brilhavam no rosto de Snape:

- E você, Severus? Para onde vai? – Narcisa questionou, encarando os olhos escuros como noite de tempestade.

- Eu vou vagar por aí, Narcisa, como sempre o fiz. Sirvo apenas a mim. Sou minha própria família, e quero ser infeliz ao meu modo.

E dizendo isso, aparatou sem deixar rastros enquanto Draco abraçava a mãe e pensava que, por mais ambíguo que Snape pudesse ser, ele saberia ser fiel aquilo que realmente interessava: sua própria essência.


”I´ve become so numb
I´m tired to be what you want me to be

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