Capítulo 3



"I don´t know what you´re expecting of me"


- Escute, Draco – Snape voltava a falar, observando de soslaio o corpo gordo de Rabicho estirado no chão da cozinha. – O rato vai acordar daqui a pouco e tenho muito para te dizer em pouco tempo. Mas antes, preciso saber o que exatamente Dumbledore conversou com você na Torre de Astronomia antes de eu chegar.

- Eu... – o jovem loiro vacilava diante da perspectiva de relembrar a conversa e se esquivou. – Eu não sei se consigo repetir exatamente o que ele falou.

- Isso não será necessário – Snape disse, já preparando a varinha. – Vou usar Legilimência em você. Deixe a mente livre, Draco. É a única forma que tenho para te ajudar.

- E por que você quer me ajudar? – Draco recuou com a varinha apontada para o ex-professor e tremendo ligeiramente, os olhos cinzentos demonstrando certa hesitação. – Você não teria nenhum motivo para me ajudar, quer mais é me ver morto, eu sei disso.

- Não seja tolo – o homem se aproximou da lareira e acendeu-a com um feitiço não-verbal. O fogo começou a crepitar e desenhou estranhas formas na parede encardida da casa. Para Draco, era como se as sombras tomassem vida e adquirissem as características de seus próprios medos. Snape parecia considerar até que ponto deveria revelar sua história antes de prosseguir. – Eu fiz um Voto Perpétuo com Narcisa. Prometi à sua mãe que protegeria você na tarefa que lhe foi designada pelo Lorde, sob pena de morte caso quebrasse meu juramento.

- Como... como assim? – o jovem não agüentou o peso do próprio corpo e sentou-se novamente na poltrona puída. Ficou observando o fogo e as sombras, encolhendo-se cada vez mais, enquanto Snape não tirava os olhos dele.

- Draco, eu não sou um homem paciente e muito menos generoso – Snape se dirigiu a ele, fazendo com que o loiro voltasse a encará-lo. – Portanto, serei breve e claro: se deseja viver, deixe-me entrar em sua mente e ver o que Dumbledore disse. Rabicho irá acordar em breve, e não terei mais desculpas para inventar sobre o fato de você estar aqui, e não na presença do nosso Mestre, depois de ter cumprido sua missão especial.

- Mas eu não cumpri minha missão!

- Draco... apenas autorize – Snape insistiu de maneira imperativa.

O jovem observou mais uma vez a dança enlouquecida das sombras. Depois, levantou-se da poltrona e, aproximando-se da lareira, encarou o fogo. As chamas ardentes queimavam a lenha de maneira rápida, consumindo e transformando aquilo que era vivo em cinza e fumaça inanimada. Era isto que Draco seria em breve. O Lorde das Trevas o reduziria a uma sombra dançante sobre alguma lareira bruxa. E acabaria também com sua família, destruiria um de cada vez e com requintes de crueldade. Engolindo em seco, virou-se então para o bruxo de cabelos negros e oleosos e assentiu com a cabeça, autorizando aquilo que deveria ser feito, embora não entendesse por que Snape respeitava sua vontade naquele momento. O ex-professor não era um homem de muito respeito quando precisava de informações, apesar de sempre ter tratado Draco como seu favorito em respeito ao longo tempo em que mantinha relações com a família Malfoy, desde que teve Lúcio e Narcisa como contemporâneos próximos em Hogwarts.

Snape apontou a varinha para o corpo inerte de Draco, que o jovem sinceramente não sabia como conseguia sustentar de pé. Então gritou:

- Legilimens!

Draco estava novamente em Hogwarts, na Torre de Astronomia. Sentia frio e a capa grossa de inverno parecia não corresponder ao intuito para o qual fora confeccionada. Mas o arrepio que percorria a espinha do jovem bruxo não era de frio, e sim de medo.

Dumbledore estava apoiado na amurada da Torre, visivelmente ferido e fraco, a mão podre e morta pendurada ao lado do corpo velho e desarmado. Draco segurava a própria varinha e seu braço tremia visivelmente. No entanto, Dumbledore continuava complacente, quase compreensivo com aquele que pretendia ser seu algoz. O jovem o atacava com as palavras, mas ele não perdia o jeito carinhoso, como se estivesse mantendo uma conversa com um aluno que havia infringido alguma regra estúpida do regulamento de Hogwarts. Foi quando, em meio às palavras que Draco bebia como se fosse um inebriante vinho, Dumbledore fez a proposta que quase arrancou o coração do loiro pela garganta:

- Venha para o lado certo, Draco, e nós podemos esconder você melhor do que você possa imaginar. Eu posso enviar membros da Ordem da Fênix para a sua mãe hoje à noite e escondê-la do mesmo modo. Seu pai está seguro neste momento em Azkaban. Quando chegar a hora, nós poderemos protegê-lo também. Venha para o lado certo, Draco, você não é um assassino.

O Draco parado na sala da casa de Snape levou a mão à têmpora, pressionando com força a cabeça dolorida e tentando em vão afastar as lembranças que vinham como se fossem jatos de água gelada. As memórias recentes o feriam de forma brusca e a dor era quase física. Mas o homem diante dele ainda não parecia suficientemente convencido e, ignorando a súplica muda do jovem loiro para que parasse com aquilo, apontou novamente a varinha e repetiu o feitiço:

- Legilimens!

Draco sabia que ela tinha sido bonita um dia. Seus longos cabelos negros, outrora tão lisos e sedosos, agora estavam ressecados e pontilhados de fios esbranquiçados. Usava uma máscara que tornava sua voz abafada, como se estivesse longe de seu interlocutor. Mas em nenhum momento ela perdia a entonação superior e determinada de quem sabe o que quer e acredita em quem serve. E era assim que Draco a sentia. Como aquela mulher podia ser irmã de sua mãe? Belatriz, irmã daquela que cantava a Draco a música das estrelas. Aquela não lembrava em nada a bela Narcisa, e de beleza só carregava mesmo o prefixo do nome. Era uma mulher sem sentimentos, jamais poderia brilhar como sua mãe.

- Draco, faça agora ou fique contra nós! – o grito feriu os ouvidos do loiro como se fosse um intruso querendo invadir seu mundo e sugar o único resto de energia que poderia impeli-lo a cumprir o que devia. A coragem se esvaía em cada gota de suor que molhava a testa e fazia o gel escorrer dos alinhados cabelos claros.

Não foi necessário fazer nada. A última coisa que Draco visualizou antes de cair ofegante na sala de Snape foi um jorro de luz verde, que acertou em cheio o peito de Dumbledore, fazendo-o voar sobre a amurada para se estatelar na grama macia muitos metros abaixo.

- Pronto, é o suficiente – disse Snape, ignorando a respiração ofegante do jovem, que permanecia de joelhos, a cabeça encostada nas coxas e as costas curvadas.

Tudo o que Draco conseguiu fazer foi fungar baixinho, engolindo as lágrimas que insistiam em se avolumar no canto dos olhos acinzentados.

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