Capítulo 7



"Can´t you see that you´re smothering me,
holding too tightly, afraid to loose control”



A perspectiva de ter aulas de Oclumência com Snape durante uma tempestade que fustigava as paredes de uma casa velha e fazia ranger todos os cantos era quase um pesadelo. Snape ofereceu alguns biscoitos de chocolate ligeiramente mofados a Draco, alegando que a substância faria bem. Draco fez menção de não aceitar, lembrando-se que não iria enfrentar nenhum dementador e que não precisava ingerir nada que saísse da cozinha suja de Snape. Mas, vencido pela fome que assolava seu estômago, acabou por aceitar alguns biscoitos, que comeu enquanto Snape reavivava o fogo quase extinto da lareira. O candeeiro na mesa bamba já havia há muito consumido todo o óleo, e as sombras projetadas pelo fogo já tinham se tornado pequenas diante do tempo que havia se passado. Draco não sabia que horas eram. Não fazia nenhuma questão de saber. O tempo passava depressa demais enquanto ele lutava para tentar escapar da morte. Ele tinha pouco tempo para salvar os Malfoy. Poucas horas para garantir a própria sobrevivência.

Snape não avisou o momento em que iria começar. Pelo contrário, o professor se demorava diante da lareira como se o aluno tivesse tempo de sobra para o que estava por vir. A inquietação fez com que Draco começasse a caminhar pela sala, mastigando os biscoitos mofados e duros com esforço. Sentiu a garganta ressecada e se lembrou de que não havia bebido a água que pediu a Rabicho. Alegando sede, foi para a cozinha sem receber resposta de Snape. Tomou um grande copo de água da torneira. O líquido parecia impróprio para consumo, mas passou a não se importar com isso. O que são pequenos microorganismos diante da perspectiva de ser atingido por uma Maldição da Morte? Um arrepio percorreu a espinha de Draco quando ele pensou nisso, e o jovem tinha certeza de que aquilo não se tratava de frio.

Então, a surpresa. Snape entrou na cozinha e não deu tempo a Draco de se preparar para o que viria a seguir:

- Legilimens!

O jovem não se defendeu nem tão pouco tentou bloquear a mente. Viu-se diante de uma profusão de cores e raças, bruxos de diversas nacionalidades estampando brasões de famílias, bandeiras de países e diferentes línguas, num emaranhado de barracas pouco ou muito luxuosas. Havia música no ar, alguns voavam em suas vassouras e faziam algazarra entre os acampamentos. Outros dançavam de uma maneira engraçada, sacudindo flâmulas que representavam seus times preferidos. Um pomo de ouro passou zunindo ao lado da orelha de Draco. Ele sorria, andando orgulhoso ao lado do pai. Todos paravam para cumprimentá-lo e olhavam para Draco admirados, exclamando elogios e dizendo que ele havia crescido e estava muito parecido com o pai. Aquilo enchia o peito do garoto de orgulho. Em 14 anos de vida, continuava tentando se assemelhar a Lúcio Malfoy em todos os detalhes. Aos olhos dos outros, eram iguais. Aos olhos de Lúcio, Draco ainda estava distante de ser o filho ideal, se é que algum dia poderia alcançar tal feito.

A noite chegou e a final entre os times da Bulgária e da Irlanda prometia ser uma atração à parte. Cornelius Fudge, Ministro da Magia na época, convidou Lúcio e Draco para assistirem ao jogo do Camarote que ocupava. Draco estava feliz pelas influências do pai, pois poderia admirar as jogadas do melhor lugar do estádio. Quem sabe talvez observar com cuidado para depois copiar algo durante os jogos da Sonserina em Hogwarts? Melhor ainda se fosse contra o testa rachada.

E Draco quase inchou de felicidade quando avistou Potter a poucos passos na arquibancada, subindo acompanhado da escória Weasley e de Hermione Granger. Ia chamá-lo, mas o pai foi mais rápido.

- Arthur, que prazer vê-lo por aqui. Parece que o trabalho no Ministério tem lhe rendido algumas... digamos... regalias. E vejo que trouxe o jovem Potter com você. Acredito que deveria rever suas companhias, Potter. Não acho conveniente andar com – e apontou diretamente para Hermione – bruxos de menor escalão.

Draco percebeu que Harry se preparava para responder, mas não queria deixar o efeito das palavras do pai morrerem e completou:

- Estamos no camarote do Ministro! Um convite do próprio Cornelius Fudge!

- Não se gabe para estas pessoas, Draco – o pai fazia questão de censurá-lo, empurrando-o com uma das mãos enquanto continuava a caminhar. – Não vale a pena. Nos vemos no trabalho, Weasley.

- Nos vemos, Malfoy – Draco ainda ouviu o senhor Weasley responder enquanto caminhava na frente do pai.

Lúcio seguiu em silêncio, segurando o ombro de Draco e empurrando o filho até o Camarote reservado. Antes de entrar, porém, Lúcio encarou Draco e avisou:

- Cuidado ao exibir aquilo que temos. Você deve ter orgulho de possuir influências, mas não quero que seja estúpido a ponto de se gabar com as pessoas erradas, Draco. Parece que você nunca aprende o que é ter sangue nobre. Somos aquilo que somos porque conhecemos e convivemos com as pessoas certas, e porque aprendemos a esmagar nossos inimigos.

- Mas era isso que eu estava tentando fazer, pai – Draco protestou, respondendo ao aviso do pai e deixando-o visivelmente contrariado. Lúcio encarou o filho, os profundos olhos cinzentos iguais aos dele penetrando como duas estacas em seu rosto, perfurando cada pedacinho da pele e causando-lhe uma dor quase física.

- Não tente, Draco. Faça. E quando fizer, faça bem feito.

Draco queria saber o que era fazer bem feito, mas não ousou perguntar. Descobriria no mesmo dia, um pouco mais tarde, quando o pai o mandou permanecer na barraca enquanto vestia a máscara e liderava um bando que assolaria a noite, lançaria feitiços pelo acampamento, azararia trouxas e convocaria a Marca Negra do Lorde das Trevas para brilhar no céu da Copa Mundial de Quadribol. Naquele dia, ao ver seu pai deixar a barraca, Draco teve certeza: queria ser um Comensal da Morte.

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