Capítulo 9



"Caught in the undertow, just caught in the undertow
Every step that I take is another mistake to you
Caught in the undertow, just caught in the undertow
And evergy second I wast is more than I can take”


Enquanto sentia o sangue escorrer e manchar a camisa branca, Draco começou a vagar novamente. Voltou a enxergar a figura alva da mãe, agora sem o capuz que cobria sua face. Ambos, ele e Narcisa, estavam sentados numa espécie de ampla cela de teto alto e chão batido de terra. As pedras negras estavam cobertas de limbo e bolor e o cheiro de podridão invadia as narinas. O ar que respiravam era gelado, e Draco não sabia se era por conta do frio que fazia do lado de fora de Azkaban ou se aquela sensação era provocada pelos guardas da prisão.

Seu pai entrou, conduzido por um dementador. As mãos descarnadas e cheias de feridas seguravam os ombros descobertos de Lúcio, que estava em mangas de camisa mesmo com o extremo frio do local. Draco nunca tinha visto seu pai assim, e estava profundamente assustado. Quem era aquele homem de cabeça baixa que caminhava sem a convicção e nobreza de um Malfoy? O que tinham feito com seu pai? Qual seria o destino de sua família agora que ele se entregara de vez ao Lorde?

Sentiu então a Marca Negra arder e, quando deu por si, Snape estava puxando seu braço e apertando a tatuagem ainda recente. Ele protestou, mas deixou que o homem colocasse suas mãos dentro de duas tigelas com essência de murtisco. Draco deu um grito involuntário quando os cortes finos entraram em contato com a substância cicatrizante, mas logo depois ele mesmo se repreendeu e calou-se. Já tinha suportado coisas demais para reclamar de um simples ardor nas mãos.

- Sente-se melhor? – Snape questionou depois de um tempo em silêncio, observando ora as línguas de fogo que consumiam a lenha na lareira, ora a mão machucada de Draco embebida pela poção curativa.

O jovem não respondeu. Apenas se levantou da poltrona bastante decidido e falou, de forma imperativa:

- Faça de novo.

Snape não esperou que ele pedisse novamente, nem tãmpouco demorou em atender. Desta vez, fez o feitiço de forma não-verbal, e Draco foi novamente tomado pelas lembranças, por mais que fizesse força física para tentar controlar. Tudo o que conseguiu foi produzir uma careta involuntária antes de mergulhar novamente em suas próprias recordações. Mas, desta vez, não viu o pai e a mãe, como esperava que acontecesse, mas observou a si próprio pela primeira vez diante do Lorde das Trevas em pessoa, ou ao menos diante do máximo que o Mestre conseguia se aproximar de um ser humano.

Apesar de ter recuperado seu corpo, ele não lembrava em nada a descrição que Draco já ouvira sobre a época em que ele era apenas Tom Marvolo Riddle. Os procedimentos aos quais se submeteu para garantir a vida eterna faziam com que ele perdesse gradativamente a aparência humana. Draco não compreendia muito bem, mas seu pai sempre dizia que o Lorde tinha se cercado de cuidados para garantir a imortalidade. O Lorde das Trevas não se importava com a aparência. Queria apenas o poder e escapar da morte, a única coisa que ele temia na vida. Seu Mestre andava de um lado para o outro enquanto Draco aguardava, ligeiramente curvado num sinal de reverência, os olhos cinzentos fixos nos tênis com os cadarços amarrados frouxamente. Apesar disso, o jovem observava cada passo do Lorde, admirado com o jeito de cobra, a pele acinzentada e as duas fendas que faziam as vezes de nariz. O corpo do garoto tremia ligeiramente e ele vacilava como se fosse desmaiar a qualquer momento. O lugar onde estavam era escuro e Draco não via mais ninguém. Foi levado para lá por Lúcio, mas o próprio pai havia feito questão de vendá-lo para que ele não visse para onde era transportado. Apenas os Comensais da Morte de confiança podiam saber a localização exata do esconderijo, que mudava constantemente para garantir a segurança do Mestre.

- Draco Malfoy – o jovem pulou, surpreendido pela fala repentina e pelo modo como o Lorde parecia sibilar ao invés de dizer as palavras como um ser humano. Mesmo assim, o tom de voz era ameno e calmo, as palavras proferidas escolhidas cuidadosamente. – Filho de meu servo Lúcio Malfoy. Você é bastante jovem.

- Sim, senhor – Draco não pensou em nada melhor para responder, acenando com a cabeça e intensificando ainda mais a reverência que fazia. Apenas se lembrou, intimamente, de que o pai disse que ele seria o mais novo em gerações de seguidores.

- Mesmo assim, está determinado a se juntar aos meus fiéis Comensais – o bruxo continuava, rondando Draco com a varinha na mão, observando e examinando sua postura diante daquilo que dizia. – Está ciente do que isto implica? Posso te fazer grande, Draco. Mas você tem que saber que nunca estará acima do meu poder!

- Sim, senhor – novamente, o jovem não encontrava palavras para se expressar.

- Estenda o braço – Draco se assustou com a ordem, mas não pensou duas vezes antes de esticar o antebraço diante do Lorde. Este colocou as mãos finas e geladas em Draco, produzindo um arrepio involuntário. Tateou como se procurasse o melhor lugar. Então, Draco ouviu pela primeira vez o feitiço que conjurava a Marca Negra. – Mosmordre! - esta apareceu diante de seus olhos, flutuando imponente. Depois, foi diminuindo de tamanho e seguindo o movimento da varinha até que o Lorde a depositou sobre o antebraço estendido de Draco. Então, pressionou a ponta da varinha contra a pele alva, produzindo uma ardência profunda e um cheiro de carne queimada.

Draco queria gritar. Seu corpo produzia espasmos involuntários tentando puxar o braço de volta, mas o Lorde era forte e segurava com firmeza até que a Marca ficou perfeitamente gravada. O desenho negro da caveira com a cobra saindo pela boca em movimento, como nas fotos bruxas.

- Agora escute o que vou te dizer, garoto – ele falou, sorrindo falsamente. – Seu sucesso garantirá a sobrevivência de sua família, e a sua própria.

- Será uma honra servi-lo, meu Mestre – e Draco completava em seu inconsciente que seria uma honra para Lúcio saber que o filho se alistara entre os Comensais da Morte.

- Chegou a hora de saber o que você fará por mim. E será uma verdadeira prova de fogo para você – os olhos do Lorde se estreitaram ainda mais, tornando-se duas pequenas fendas vermelhas que o encaravam como se todo o bem existente tivesse se esvaído da face da Terra.

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.