Na casa de Dill



Cap 4: Na casa da Dill

Denis estava sonhando. E um sonho muito bom, por sinal. Sonhava que haviam escolhido ele para um reality show e que ele iria produzir um clipe com um monte de garotas lindas ao seu redor. Para poder fazer melhor os passes, ele conjurou um professor de dança gay que num instante o ajudou a dançar rap, e quando o professor começou a dar em cima dele, o garoto o fez desaparecer. Nesse momento ele percebe que está segurando a varinha do pai e a larga com uma expressão de nojo. Então o show começa, as luzes se apagam e um holofote incide sobre ele. A música começa...

”Sou playboy e dou porrada
Eu meto a porrada
Eu enfio a porrada
Quando ando com a galera só bato nos mané
Mas quando eu tô sozinho eu só bato nas mulhé...


Ele continua cantando, a emoção é forte, tão forte que ele acorda. E percebe que não estava cantando. Ele abre os olhos e tem uma visão um pouco pertubadora: o seu Motorola novo tocando, com o som do vibracall, pairando acima da sua cabeça, juntamente com o abajur importado ligado, piscando ao som da batida. Ao associar as idéias ele se espanta, e como num passe de mágica as coisas começam a cair rapidamente na direção ao chão. O celular cai na cama, o abajur, ele pega com uma surpreendente agilidade, antes que o objeto caísse na sua cabeça. Respirando rápido e totalmente irado com o que acabara de ocorrer, ele atende o celular.

- Alô? Quem é o palhaço?

- Não é nenhum palhaço, até porque eu não moro em circo, Denis.

A voz parecia familiar, mas não o bastante. Era de uma garota, e tinha o tom de uma pessoa que sabia mais do que todos.

- Quem é?

- É a Penélope. Bom dia para você também!

- Ah! Bom dia, bom dia... Certo! O que você quer, cdf?

- Falar com você, e com a Dillyan. Você já falou com seus pais sobre a viagem?

- Primeiro, que horas são? Você não tem vergonha de acordar as pessoas desse jeito? E segundo: hunf! Aquele papo de viagem! Putz, que idiotice! Quem eles pensavam que iriam enganar? E você já sabia de tudo, não é? Por que não nos falou nada?

- Vocês acreditariam? Escute, pelo que vi já falou sim. Já são 10 horas Denis, e você que devia ter vergonha por eu ter que te acordar uma hora dessas, há séculos estou te ligando e você não atende. Bem, como eu disse quero falar com vocês pessoalmente. Precisamos ver a Dillyan. Você sabe o número dela?

- O número dela? Sim, acho que sim, para quê? E como você tem o MEU número?

- Ora, para ligarmos para ela!- ela dá uma bufada do outro lado da linha. Estava começando a ficar impaciente. - E tenho o seu número porque o peguei com a Sara, aquela última garota da sala que você iludiu. Eu pedi dizendo que ia passar um trote e ela me deu.

- Ah tá! Entendi. Hehehe, a última da sala que eu iludi, né?-ele dá um riso abafado- Aiaiai. Bem, se é para falarmos com ela, vamos logo lá, oras. Eu acho que ainda me lembro onde é... – ele fala de um modo duvidoso. - Vamos! Será bem melhor vê-la lá.

- Hum, não sei não. Ela não irá se incomodar?

- Fala sério! Que nada. Então está combinado. Venha aqui em casa e me espere lá embaixo. Nos encontramos em meia hora. Não se atrase!- e desliga o celular na cara da garota.

”Playboy chato!”, ela pensa do outro lado da linha. Bem, se era preciso, ela iria. Estava muito preocupada com Dillyan.

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Em meia hora a loira estava na frente do prédio do garoto. E ainda demorou mais vinte minutos para ele aparecer. Ela já estava querendo ligar novamente para ele, quando o viu descer as escadas e cumprimentar o porteiro. Estava simplesmente lindo: cabelos despenteados, blusa preta, boné na cabeça da Nike e um casaco marrom, pois estava fazendo um pouco de frio. O clima de São Paulo estava muito complicado nesses últimos anos. Ela não quis aparentar grande interesse, mas pela expressão de riso dele, falhou um pouco. Abaixou a cabeça e envermelhou. ”Mas que... controle-se, Penélope!

Denis estava curtindo o momento. Era a primeira vez que a garota mais inteligente do São Marcos o olhava com interesse e ele percebia. Era quase um momento de vitória. A vitória mesmo, ele percebia agora, seria ficar com ela. Putz, como eu nunca percebi que ela era tão gata desse jeito? Quem diria!” Ele aproveitou do momento de vergonha dela e a analisou. Ela estava linda mesmo: as mechas bicolores caiam no rosto, os óculos lhe dava um charme, a saia nos joelhos ficava perfeita com a sandália de salto e amarras no tornozelo, a blusa de alguma marca famosa a protegia da friagem com um decote comportado e ao mesmo tempo sexy. Os braceletes brilhantes que ela usava combinavam com a cor do salto e da saia. Ela começa a falar, forçando-o a parar de analisá-la.

- Nossa, você demorou mais do que uma garota para se arrumar! Estava quase ligando para você de novo!

- Oras, olá para você também! Estou feliz por ver que você está bem! - ele fala com um tom de voz parecido com o dela no telefone.

- Desculpe... olá Denis! Mas, bem, por que você demorou tanto? - eles começam a andar em direção a rua.

- O que você queria, garota? Me acordou no meio de um dos meus melhores sonhos, cedo, sem MINHA permissão, quase fez eu me matar com um abajur e ainda me cobra horários, fala sério! Nem minha mãe faz isso comigo, fique você sabendo, porque eu sou Denis Cavalcante, tá ligada? - ele a olha de maneira enviesada, levantando uma sobrancelha, a là Kayke Britto.

- O que você quer dizer com “quase fez eu me matar com um abajur”?

- Quando eu acordei as coisas de cima do meu criado estavam voando em cima da minha cabeça. E o abajur quase, mas quase, caiu em cima da minha cabeça. Eu poderia ter morrido, sabia? Aí eu ia querer saber o que você e todas as garotas desse mundo iam fazer sem o Denizinho aqui. - ele sai caminhando em direção à avenida principal, ajeitando as abas do casaco e com cara de gostoso.

- Hum, aconteceu isso mesmo, foi? Que coisa! - ela reflete um pouco sobre o que o garoto falou e estaca na calçada.- Ei! Nós não vamos de táxi? - ela grita para ele, percebendo que o garoto já estava cruzando a avenida. - Me espere!

- Não, vamos a pé. A casa da Dill é perto, e, além disso, odeio ficar sendo levado por aí feito cachorrinho de madame. Vamos logo, anda! - ele puxa a mão da garota, para juntos atravessarem o resto da avenida.

Penélope não gostou muito da idéia de seguir a pé, mas o gesto de Denis a fez esquecer que seus pais odiavam quando ela andava sozinha, a pé e ainda com estranhos...”Ele não é um total estranho...”, ela pensa para tentar se sentir menos culpada.

- Tem certeza de que não é longe?

- Claro! - ele consente de modo confiante e eles seguem pelo outro lado da avenida, entram numa rua secundária e deixam as fileiras de carros e fumaça para trás. Um leve sereno começa a cair sobre eles, e Denis levanta a parte de trás do casaco, e encaixa um pequeno fone em um dos ouvidos, de onde podia se escutar uma música agitada.

- Melhor cobrir o seu cabelo, sabe? Chapinha sai com a chuva...

- Eu sei que sai... - ela fala rindo da observação dele - ...mas eu não preciso cobrir. Meu cabelo não ficaria desarrumado nem se um furacão passasse por aqui.

- Nossa, e o que você fez para ele ficar assim, tão, tão, tão, firme?

- Magia. - ela fala como se fosse uma coisa normal.

Denis olha para ela. A garota realmente parecia acostumada com o termo. Ele estava doido para perguntar o que ela sabia, mas achava que ela, com certeza, não iria querer falar nada no meio da rua. Melhor era chegar logo à casa da ruiva.

- Certo, bela solução... vou querer aprender esse truque aí com certeza.

- Eu te ensino, é simples.

- Penny...

- Sim?

- Posso te chamar assim?

- Bem, acho melhor não, sabe. Eu não gosto muito...

- Por quê?

- Muito informal...

- Frescura, vou te chamar assim mesmo, Penny.

- Certo... - ela faz uma careta de insatisfação, como quem não estava ligando muito. - Quando vamos chegar? Já andamos demais para mim, sabe?

- Estamos perto, loira. Ela mora depois daquela praça. A mãe dela pode estar lá. O nome dela é... - ele faz um esforço para se lembrar, estalando os dedos-... é Cris, tia Cris. Ela é realmente muito legal, você vai gostar dela. E é uma gata...

- Certo. - ela fala achando graça da naturalidade com que Denis estava tratando a situação. Eles dois estavam indo à casa de uma garota, que a pouco dias nada tinha a ver com eles. Haviam descoberto que eram bruxos, iriam embora de casa, estudar na maior escola de bruxaria da Europa, e ele se lembra que a mãe da garota era gata. ”Garotos!”

- E o pai dela?

- O pai? Não, ela não tem pai. Você não sabia?

- Não! O que aconteceu com ele? Morreu?

- Que nada. Ele era estrangeiro, veio para o Brasil, morou um tempo com a tia Cris e a Dill, mas depois, parece, teve que voltar. E preferiu não levar elas. É uma história meio complicada. Só sei que até hoje a Dill fica com raiva quando se fala nele. Melhor você não falar nada.

- Com certeza fico calada! - ela nunca iria adivinhar que a garota tinha aquela história. Ainda bem que perguntara primeiro a Denis...

- Vamos, estou com fome. Você não me deixou tomar café, sabia? Tomara que a tia Cris tenha feito alguma coisa boa para a Dill.

- Você sabe se ela está em casa? - ela pergunta enquanto eles dois chegam mais perto de uma casa pequena e modesta, mas bem arrumada.

- Vamos saber agora! - ele fala batendo palmas para o portão preto da casa. – Tia Cris, Dill? Tem alguém em casa? Oii!?

Depois de um pequeno tempo de espera, uma mulher morena de mechas castanhas aparece na janela da pequena casa, ao ver Denis dá um radiante sorriso que mostrava com toda a sinceridade que não podia crer que era ele.

- Oh! Eu não acredito nos meus olhos castanhos claros! Denis Cavalcante, aqui, novamente, no portão da minha casa? Deve ser uma miragem!

- Não, tia Cris, é verdade, sou eu! Feliz mesmo em me ver?

- Está brincando, anjinho! É óbvio que estou! Um dia desses estava perguntando à Dill como você estava, mas, você sabe como ela é, enrolou e não me respondeu. A minha filha realmente não gosta de falar dos ex... - ela fala indo em direção ao portão e abrindo-o para as visitas. Denis se adianta e dá um abraço na mulher. Penélope fica os olhando, até que Cris percebe a presença dela.

- Ah, e você querida? É a nova namorada desse garotinho safado? Escute, desculpe, mas você deve saber que a minha relação com ex-genros é ótima! - ela fala rindo e largando Denis, dando um abraço nela também.

- Não, tia. Ela não é minha namorada. É uma... amiga. Nós estamos aqui por causa da viagem, sabe? A Dill já lhe contou?

A expressão da mulher muda, ele parece ficar um pouco triste.

- Hum, a viagem, claro. Sim, meu querido, ela me contou. Então vocês são bruxos mesmo, não é?

- Receio que sim, senhorita Andrade, e queremos conversar sobre isso com você e com a Dill, mas lá dentro é melhor, não acha?

- Claro, mas primeiro, querida: não me chame de senhorita Andrade! Nossa, fiquei até arrepiada, olha - ela mostra o braço - só quem me chama assim são os meus cobradores! Credo! Se você quiser chame-me de Cris, ou de tia mesmo, eu não me importo, ok? Mas de senhorita não, por favor!

Denis cai na risada e Penny fica sem graça. Cristina pede para que eles entrem na casa, que ainda estava arrumando. Eles entram e sentam nos sofás escuros que ficam na sala, onde noite passada ela e Dill estavam conversando. Depois de deixar os dois bem à vontade e trazer um lanche de pão, bacon e suco para Denis eles começam a conversar.

- Onde ela está?

- Ainda não se levantou, querida. Ela está no quarto. Acho que ficou muito ressentida com o que aconteceu. Eu não queria que ela descobrisse de uma hora para outra, mas foi o jeito, a carta chegou e agora ela precisa ir. - ela dá um suspiro pesado, que fazia seus olhos ficarem fundos e cheios de lágrimas, mas sua voz permanecia igual.

- Eu também achei meio estranho ontem, mas depois de pensar bem durante o sono, acabei entendendo. Aliás, agora tudo faz sentido: todas as esquisitices do meu pai, todas as manias dele, todo o mistério de como eles se conheceram e dos meus avós, todo o relacionamento dele com a medicina e como ele é bem sucedido... por mim agora, tudo bem. Mas ontem a minha cabeça estava quase para explodir.

- Sabia que o fato de você e seu pai serem bruxos explica como eu consegui o meu emprego no hospital?

- É?

- Aham, o pai da Dill conhecia o seu pai, acho que por isso tenho o emprego de enfermeira lá. Estou lá a mais de 13 anos, entrei bem no começo mesmo. Até trabalhei com seu pai, quando ele ainda atendia, um bom homem, sua mãe tem sorte.

- É, ela sabe.

- E você querida, como foi com você? - ela se vira para Penny, que estava calada até então.

- Eu? Quer dizer... bem... eu já sabia que era bruxa, quer dizer, que meus pais eram bruxos, então não foi uma grande surpresa, sabe...

- Hum, melhor para você. Menos uma confusão. Denis, querido, quando você terminar aí acho que vocês terão de ir acordar a Dill, quando ela está de cabeça cheia dorme quase o dia todo, sabe. É vocês irão acordá-la, conversar com ela e tentar fazê-la mudar de idéia, pois ela não está querendo ir, enquanto isso eu vou fazer um almoço bem caprichado.

- Ela não quer ir? Mas, por que... er, Cristina? - Penny pergunta um pouco atrapalhada, não estava acostumada com adultos que a pediam que os tratasse como velhos amigos como Cristina.

- Bem, a história é meio complicada, é melhor vocês ouvirem dela, tudo bem. Deixe-me pegar essas coisas Denis... - ela levanta e pega o prato e o copo vazio do garoto, dando-lhe um beijo na cabeça loira.- ...estava bom?

- Ótimo, valeu mesmo, adoro você! Agora vamos aos negócios, cdf!- ele levanta de um salto puxando Penny.

- Espere, Denis, pergunte para a Cristina se podemos mesmo acordar ela.

- Claro que podemos! Não ouviu não? Deixa de tentar bancar a “educadona”, ok? Vamos logo acordar aquela dorminhoca!

- Mas... Den!

- Sem “mas Den”! Espere... Den, tá aí, gostei! Den..., adorei Penny, agora vamos! - ele pára por um momento, considerando o apelido, depois, dá um beijo na cabeça da garota e continua arrastando-a sem a mínima cerimônia em direção aos fundos da casa, onde devia estar o quarto de Dill. Bem no fim do corredor eles viram duas portas. Uma branca, decorada com letras brancas e desgastadas, formando a palavra “mamãe”. Era o quarto de Cristina. A outra porta era preta, totalmente desgastada e tinha várias placas na frente, inclusive uma enorme em que havia a palavra “stop” escrita. Denis parou na frente da porta, tentando ouvir alguma coisa, e só o que ouviu foi o barulho do ar-condicionado da garota. Ele se vira para Penny, faz uma cara marota e um sinal pedindo silêncio, então entram no quarto.

O quarto de Dill não parecia nada com um quarto de garota. Todas as paredes estavam pintadas de preto e cobertas com pôsteres de bandas, que iam desde Avril Lavigne a Slipknot. ”Garota eclética! Até demais...” E Penny não era a única que achava isso. Mas essa mistura de sons e sotaques só ajudava Dill a se lembrar de manter a mente aberta a tudo. Liberal, ela sempre viveu do jeito que quis e a mãe nunca lhe impôs nenhuma regra, por isso agora ela sabia até onde iam seus limites. Talvez, com um pai, as coisas tivessem sido diferentes...

A ruiva dormia sossegada, ainda com a roupa do tarde anterior. A sua respiração acompanhava o movimento do peito. Ela nem podia imaginar que os dois estavam lá. Denis resolveu acabar logo com a alegria dela: havia sido acordado por Penny, e agora não deixaria a ruiva dormir. ”VINGANÇA!! HAHAHA!” Mas ele não conseguiu acordá-la do jeito que queria. A ruiva estava despertando, dando chutes na cama, e esfregando os olhos lentamente, até que, num impulso, como se estivesse surpresa por estar respirando, ela abre os olhos. E vê os dois lá em pé olhando-a despertar.

- Estou sonhando?- ela pergunta achando graça.

- Não. Estamos aqui para te acordar, então você acordou - Penny fala com simplicidade - Bom dia, então. Dill, será que eu poderia me sentar na sua...

- Bom dia, ruiva! - Denis fala indo em direção à cama de Dill, afasta os cabelos vermelhos do rosto dela e lhe dá um selinho de surpresa: ela não teve nem tempo de virar o rosto. Penny vira a cara, e estava começando a achar que Den realmente era muito saidinho.”Mas eles já eram namorados antes! Dãã... ele ainda deve gostar dela..” Ela se pegou pensando, e logo afastou os pensamentos incestos. Ela não poderia se sentir atraída por ele, não agora.

Enquanto a ruiva do lado da cama ficava desconcertada, olhando para o chão, Denis se jogava com tudo na cama de Dill, indo parar do lado dela, e a ruiva ainda tentava se recuperar do susto do beijo de bom dia.

- Argh! Denis, deixa de ser porco, eu ainda nem escovei os dentes e devo estar só baba! Parece que você não pensa, né garoto?!

- Deixe de ser fresca, oras! Você não tá cheirando só a baba, pô! Tá com cheirinho de amêndoas, daquelas que a gente só come nos Alpes suíços, com muito chocolate derretido em baixo. Parece o cheiro da tia Cris! Huuuum! Dá água na boca só de lembrar! Você já teve o prazer de tomar um copo de chocolate quente feito com leite de vacas da Suíça e amêndoas doces colhidas nas redondezas da França? - ele pergunta como se qualquer um na vida pudesse fazer isso a qualquer hora, com uma cara ao mesmo tempo cínica e inocente. – Hein, Dill, já comeu?

- Realmente, viu? Vai se lascar. - a ruiva não se dá ao trabalho de responder, estava meio na cara. Ela olha e vê que a loira só olhava para eles com um olhar perdido.- Vamos, loira, sente-se! Senta aí no resto da cama, ó! Pode sentar, e não estranha não, o Denis é desse jeito idiota mesmo... senta aí, eu vou escovar os dentes.

Ela se levanta e vai em direção a uma porta que mais parecia o resto da parede, pois estava totalmente coberta por pôsteres também. Enquanto ela se ajeitava os outros dois ficavam só se olhando, e às vezes examinando melhor o quarto. Toda vez que, sem querer o olhar de Penny encontrava o de Den, ela corava e desviava o olhar. Den achava isso “engraçadésimo”, tanto que na última vez que isso aconteceu mandou um beijinho para ela e ainda fez um gesto silencioso para que ela se sentasse ao seu lado na cama, com uma cara altamente safada. Isso, aparentemente, a desconcertou mais ainda. A loira se limitou a lançar ao garoto um olhar de indignação e mandá-lo parar. Ainda bem que justo na hora em que ele parecia querer se levantar para ir à direção dela, Dill aparece na porta do banheiro.

Um pouco mais composta, a garota estava com uma expressão de puro tédio. Saiu do banheiro e largou-se na cama, não reparando no aparente ar constrangido de Penélope por causa de Den. Quando ela se senta na cama, Penélope sai e se senta na cadeira que pertence à estante do computador. Eles se olham por um momento e Dill resolve quebrar o silêncio.

- Então, por que vocês estão aqui?

- Bem, Dillyan. Está meio na cara, não?

- É, Dill. Nós viemos aqui saber se você vai para a escola de bruxaria com a gente.

A ruiva fica calada. Não esperava que eles fossem tão diretos.

- E a resposta está BEM na cara, não? Eu não vou.

- Como assim não vai?

- Dillyan...

- Eu não vou, Den.

- POR QUÊ NÃO? Você tá louca?

- Dillyan, por favor, me escute.

- Eu não fiquei louca, só não vou!

- Mas, por quê não?

- Dillyan!! - a loira perdeu a paciência.

- Por favor, loirinha! Dill.- a ruiva atende o pedido de atenção da loira, mas não queria ouvir seu nome. - É bem melhor, acredite.

- Tudo bem... Dill. Escute, vamos nos manter calmos, sim? Primeiro, vamos começar contando como cada um recebeu a notícia, e aí vamos tentar analisar o porquê de você não querer ir. Se for uma razão coerente, deixaremos você ficar. Se não for, você vai. Aceita?

- Tá, tudo bem. Então, comecem aí.- ela faz um gesto que abrange os outros dois. Den estava um pouco assustado com o grito da garota, mas se recuperou bem a tempo de falar.

- Primeiro as damas.-ele aponta para Penélope.- A propósito, Dill. O apelido dela é Penny. Penélope, Penny. Perfeito, né? - o garoto mostra a lógica para ela. Dill não estava muito interessada.

- É, certo. Começa, Penny.

- Bem. Como você acabou percebendo, eu sabia sim mais do que vocês. Para mim não foi uma novidade saber de Hogwarts e sobre bruxaria. Eu sabia que meus pais eram bruxos desde pequena. Mas eu, bem... todos achavam que eu não era.

- Achavam que você era um aborto, não é?

- Sim, exatamente. Um aborto. Eu não gostava nada disso. Me sentia muito infeliz por não ter dado aos meus pais o sabor de ver a filha deles na maior escola de bruxaria do mundo. Mas, depois de ontem... parece que não vai mais ser assim. É perfeito! Eu sonhei com isso a minha vida toda. E agora, finalmente vou poder estudar lá e honrar o nome da família. Ontem eu só cheguei em casa, mostrei a carta e logo saímos para comemorar. Foi o dia mais feliz da minha vida.- ela termina com um sorriso radiante.- Agora é sua vez, Den.

O garoto dá um pigarreio. Não pensou que a sua vez fosse chegar tão rápido. E, como ele desconfiava, Penny realmente sabia demais do mudo bruxo. Ele deu um suspiro e começou.

- As coisas não foram tão amistosas lá em casa. Na verdade foi bem estressante. Mostrei o envelope para a minha mãe e ela deu um piti. Logo meu pai chegou e foi se juntar a ela dentro do quarto. Eu segui ele e comecei a ouvir atrás da porta.

- Que coisa feia...- Dill comenta.

- Situações desesperadas, minha querida, exigem medidas desesperadas. - ele devolve com um olhar frio e sério.- eu ouvi uma história de escola, no exterior. Meu pai estava feliz porque eu conseguira entrar, mas segundo minha mãe, eu já passara da idade de ser selecionado. Meu pai não estava nem aí, e começou a falar em bruxaria e magia. Minha mãe não queria que eu fosse, porque para eu ir teria que saber a verdade. Meu pai decidiu que me contaria essa verdade e me chamou. Eu entrei e ele começou.

- E, o que exatamente era?

- Era uma vez um garoto bruxo de pais ricos que tem de desistir de estudar para ser um macumbeiro...

- Curandeiro!

- O que?

- Curandeiro, Den. A palavra certo é curandeiro. Acho que era isso o que ele queria ser. Curandeiros são os médicos dos bruxos. Continue.

- Sim, pois é. Curandeiro. Ele não pode continuar por causa de uma guerra que eles tiveram e ele teve que lutar. Para encurtar um pouco essa história, o povo bruxo venceu a guerra e meu pai não quis esperar os caras se arrumarem de novo. Ele partiu para uma viagem. Foi para Portugal e depois veio para o Brasil. Aqui ele terminou os estudos dele em medicina e montou um escritório. Conheceu a minha mãe, eles se apaixonaram, se casaram, me tiveram, a parte mais importante, né? E sei lá o que mais. Eu só sei que eu nasci e meu pai também ficou muito desapontado, pois achava que eu também era um aborto.

- Ele disse isso, foi?

- Aham.

- Bem, o termo aborto é mais usado no meu caso, quando a pessoa é filha legítima de dois bruxos. No seu caso, você já é mestiço.

- Hum, sei. Tá bom. Mas o que isso importa? Ele também achava que eu não seria bruxo, porque minha mãe tinha tido muitas dificuldades para engravidar, mas aí, chegou a carta ontem, ele me mostrou a varinha dele, me fez usá-la, me contou essa história maluca e a minha cabeça quase explodiu. Agora acho que o jeito é ir até lá.

- Você usou a varinha? Fez alguma coisa?

- Fiz aparecer um copo de vidro muito vagabundo com um suco de maracujá de igual qualidade duvidosa.

- Nossa! Que legal!

- Legal nada. A varinha tem um formato meio... nada, nada confortável. E a mágica foi péssima se comparado com a do meu pai.

- É só o começo Den. Logo nós vamos poder fazer tudo. Você vai ver. - a loira dá um sorriso para ele. Denis tenta retribuir com o mesmo entusiasmo, mas ainda pensava no que havia ocorrido na última noite.

- Agora é você, Dill.

A ruiva estava pasma. Ouviu as duas rápidas histórias, mas agora não queria contar a sua. Ela parecia muito mais complicada que as outras duas histórias dos amigos. Isso porque envolvia um passado que ela não queria mais lembrar. Mas agora teria que ser forte. Ela nunca correra de nada. Não seria agora que daria uma de covarde.

- Vou logo avisando. A minha história é mais complicada que a de vocês dois. - ela dá uma pausa vendo a reação deles, e se lembra da mãe, que com certeza os recebeu. - Minha mãe não falou nada para vocês?

- Não. Ela também falou que era complicado e que era melhor deixar você falar. E, sinceramente, Dill, não estamos aqui para te julgar. Só queremos ouvi-la, ok?

- Ok. Tá bom, então... vamos lá...

Mais um longo suspiro e a garota começa. Contou tudo. Desde o que a mãe sempre lhe contava, até as revelações da última tarde. Contou sobre as discussões e os sentimentos, sobre seu estresse e a batida da porta. Depois, reviveu a emoção de ouvir a música da Legião urbana e a raiva do iPod. E depois da carta de Snape e do bilhete de sua mãe, mostrando-os aos dois. Penny ficou muito interessada na carta com as revelações de que todos tinham uma espécie de poder.

- Nossa, quer dizer que eu realmente sou uma...

- Vidente? Bem, é o que ele diz aí. Você não sabia?

- Meus pais desconfiavam... já eu não queria ser isso nem a pau...

- Por que?!?

- Oras! Você não conhece a fama dos videntes no mundo dos bruxos... – ela começa a balançar a cabeça, e, de repente fica um pouco vermelha, pronta a discutir, mas retoma a pose e desiste do assunto.- ...não, quer saber? Esquece. E você é mesmo uma legilimens?

- Não é isso que aí está dizendo? Mas, eu não entendi direito o que isso significa.

- Bem, eu não sei muito desses assuntos, mas pelo o que eu já li, parece-me que legilimens é a pessoa que consegue saber o que, tipo, “ler” a mente das pessoas, vendo se elas estão mentindo ou não. Já oclumente... - ela fala olhando para Denis, que estava atento às duas, mas lendo a carta ao mesmo tempo.- ... tem o poder de “esconder” os sentimentos ou pensamentos dos legilimens. São o oposto um do outro.

- Hum... de acordo com a carta do meu ex sogro, não é bem isso que você falou não, cdf! - Den contesta.

- Den, eu disse que não sabia direto, não falei? Então não enche!- a loira se estressa.

- Ah, tá. Desculpa aí!

A loira lhe lança um olhar de raiva. Em seguida continua a falar.

- De qualquer maneira, o melhor é deixar para essas coisas serem explicadas pelo próprio diretor. Não acham?

Agora foi a vez da ruiva a olhar enviesado. Dill já havia se decidido: não iria a Hogwarts. Não daria aquele gostinho ao cara que apenas deu o esperma para lhe criar.Não mesmo!

- Não, desculpe, loira, mas eu não vou nem se ele quisesse me pagar.

- Como assim não vai?

- É, loira. Esse cara quer fazer graça. Se acha que eu voltar correndo para ele, morrendo de saudades, chorando no seu colinho e gritando “Papai, papai!”, ele tá muito enganado! Eu não sou dessas.

- Ei, Dill, nós sabemos! Mas essa sua razão não é lá muito coerente. Não é uma desculpa muito boa. Então, você vai! - Den disse tentando convencê-la de uma maneira simples, que nunca iria dar certo com ela.

Dill o olhou sério. O garoto sustentou o olhar. Era sempre assim. Um nunca sabia o que o outro queria, um impasse entre uma legilimens que não sabia oclumência e um oclumente que não sabia legilimência. Situação difícil. Penny se manteve calma. Já desconfiava que, para convencer a ruiva de ir teria de jogar o seu jogo, mexer com seus sentimentos mais profundos. Resolveu arriscar.

- Dill, você tem de ir...- disse ela com aquela calma muito pertubadora -Você tem que ir... - fala Penny

-POR QUÊ?- Dill perde a paciência com a loira - POR QUÊ eu devo ir? Dê-me só um único motivo para ir para aquele hospício??

- Porque assim você vai poder se vingar do seu pai - ela fala totalmente calma - E verá se o perdoará depois de tudo, ou não...

Um momento de silêncio. Penny podia até ver o incrível cérebro da legilimens maquinando e considerando a proposta, mas depois, vê a cabeça rodando de um lado para o outro, num sinal negativo. Den se desespera, mas percebe o que Penny queria fazer. ”Vamos incitá-la! Hahaha...”

- Não, esse pode ser até um bom motivo para ir, mas eu prefiro continuar aqui.

- Dill, será possível que você está com medo? - Den pergunta levantando a sobrancelha, naquela expressão altamente irritante e desafiadora. A pergunta, como ela previra, teve efeito altamente devastador e quase momentâneo.

- Tá louco, seu loiro aguado? Eu? Dill Andrade? Com medo? Está para nascer alguma coisa ou alguém que vai me fazer ficar com medo! Tá claro?

- Claro, claríssimo! Então, por que você não quer ir?

- Eu já não falei? Que coisa! Mas vocês !- ela fala com uma cara totalmente irritada. - Eu não darei a ele o gostinho de me ver bem, se ele quisesse ficar conosco, teria desistido de tudo... e além do mais, tem a minha mãe. Não quero deixá-la sozinha. Eu nunca me separei dela, entende? E agora, terei de ir até lá, sozinha, para ficar com ele? Nem ferrando! E acabou-se o assunto!
Ela se deixa cair na cama, fazendo as molas rangerem. Mas os garotos parecem não desistir.

- Dill! Isso não é desculpa que se dê, oras! Sua mãe não é uma criança, e muito menos você! Ela sabe se cuidar sozinha, e já está na hora de você aprender isso também. - Penny fala com calma, como sempre, mas dessa vez não consegue esconder o pequeno “quê” de irritação de ver como a ruiva se esquivava da verdadeira resposta para a pregunta. ,”Por que ela simplesmente não fala que está com medo de reencontrar o pai?”
- É, Dill! A loira cdf tem razão, como sempre! E, cá entre nós, você não pode deixar o cara te gozar, né? Olha aqui, você não leu? Ele fala:” . E pelo o que eu saiba nem você nem sua mãe são de dar passos pequenos. Não é?”. Olha isso, Dill! Tá te chamando na xinxa aqui! Você não pode ficar com medo de ir, pô! E ele tem razão, não se pode ter medo de dar grandes passos, pois você não pode atravessar um abismo com dois pulinhos! E nós vamos estar com você, sério, nós vamos estar lá!- ele fala com uma cara de filósofo bonzinho.

Dill olhou novamente para ele. Só viu os olhos claros dele refletindo seu rosto, e não conseguiu esconder a surpresa de vê-lo filosofando e dando o seu apoio. Começou a rir de maneira bem sincera.

- Putz, véi! Não, Den, essa foi ótima! Eu aceito de tudo: ser bruxa, meu pai estar quase para botar as mãos em mim, ir para uma escola totalmente desconhecida, mas... ver você filosofando? Putz, é demais!! Hahahahha...

Ela se deixa rolar pela cama. Penny, por sua vez, do seu jeito britânico, dá umas risadas abafadas de lado.

- Olha aqui, eu sou assim, tá? Pode não parecer, mas eu sou um grande pensador. Dentro dessa cabeça pairam mil idéias. Eu sou um Cavalcante. Tá vacilando? Num vacila não! Mas o ponto não é esse, Dill. O ponto é que você vai conosco, e está decidido.

- Não, eu não vou, seu loiro aguado. Eu estou na minha casa, na minha cama, no meu quarto, e decido eu o que vou fazer. Aquele cara disse que eu escolheria se iria ou não. E a minha resposta é não. Agora, vamos sair. Minha mãe já deve ter terminado o almoço.

A ruiva se retira do quarto sem querer mais discutir. Os outros dois se olham: essa ruiva era mesmo osso duro de roer.

No fim, Dill estava certa. A mãe terminara de fazer o almoço. Eles se sentaram à mesa e comeram o delicioso bife com fritas e purê de Cris, sem olhar muito um para o outro e sem muita conversa. Estavam desconfiados. Já a adorável mãe preferia se manter agora inativa. Já havia feito tudo o que podia para a filha tentar entender, e se Dill não quisera aceitar da primeira vez, não seria na segunda ou na terceira que iria ceder. Para ela não existia o ditado “água mole em pedra dura tanto bate até que fura”. Ela era impassível. Os amigos pareciam ter entendido. Não adiantava mais tentar forçá-la, isso só traria mais brigas e discussões bobas. O negócio era deixar Dill tentar assimilar tudo sozinha agora.~

~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*

Depois de Den se sentir satisfeito, e isso demorarou um pouco, Penny e ele resolveram se despedir. A tarde já começava a dar sinais de que seria quente e abafada, o que seria perfeito para se passar em casa, tomando uma limonada gelada e jogando playstation, mas os garotos ainda tinham que ajeitar as últimas malas para a viagem do dia seguinte. Pelo menos os que iriam.

- Muito obrigada pelo almoço, Cris. Estava maravilhoso. É sério: lá em casa a comida não costuma ser tão brasileira, sabe?- Penny fala sinceramente. Tinha se afeiçoado demais à mãe da ruiva, também, era difícil achar alguém que não gostasse dela.

- É mesmo, Cris, estava uma beleza. Nossa, acho até que quando chegar em casa terei de levantar uns pesinhos!! Hehe...

- Não, do jeito que você comeu, serão uns pesões mesmo, Den!- a cdf alfineta.

- Ah, não enche, ô cdf! Ninguém falou com você. Na realidade, acho que não vou fazer é nada! Eu sou gostoso por natureza, sacas? Não preciso ficar me matando como esses outros carinhas por aí. Então, acho que vou só ajeitar as minhas coisas mesmo! E, putz, vamos logo. Eu saí sem meu celular e minha mãe já deve estar dando um ataque de pelanca por eu não estar lá com ela. Vamos, Pen!

- É, vamos indo mesmo. Obrigada mais uma vez, Cris. E você, Dill, por favor, pense, ok? Se você realmente não for, então... nos vemos por aí. E se cuide... – ela dá um forte abraço na ruiva, que retribui com a mesma intensidade.

- Você também se cuide, loira. Vê se cuida desse loiro filósofo-incubado também, ok?

- Bem, ela com certeza vai cuidar, mas eu preferiria que fosse você, Dill. Então, vê se não se atrasa para o vôo amanhã, tá?

- Den, mas eu não...- ela ia começando com a ladainha.

- Não se atrasa, Dill! Nos vemos, ruiva. Beijos. – ele corta, olhando-a de maneira fria. Ela lhe lança um olhar enviesado.”Só pode estar querendo uns chutes mesmo! Esse loiro play...”

Eles se afastam, deixando mãe e filha a fechar o portão.

~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~**~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~

Demorou um pouco até que eles começassem a conversar de novo. Por incrível que pareça, foi Penny, com toda a sua dignidade britânica que acabou com o silêncio.

- Por que você disse aquilo para ela? Acha mesmo que ela irá?

- Eu não acho, só quero que ela vá. Dill é muito legal, esperta, durona. Ela com certeza iria nos ajudar a enfrentar as barras por lá. E é a filha do diretor. Pô, a gente ia, com toda a certeza do mundo, poder aproveitar mais com isso. Não acha?

- Não. As escolas da Grã-bretanha são muito diferentes das do Brasil, Denis. Não existe muito essa coisa de favoritismo, eu acho.

- Rum! Garoto, logo dá de ver que você não conhece mesmo o mundo. Por aqui quem se dá bem é quem tem influência. E nós iríamos ter toda a influência com ela do nosso lado. Então, para o nosso bem, reze para que ela vá.

Penélope fica um pouco quieta. Acabara de ser chamada de “ingênua”, e dava toda a razão. ”Ele está certo. Deveríamos realmente torcer para que ela venha.”

- Bem, mas você me pareceu muito confiante. Isso porque percebeu algo, não é? Viu alguma coisa ou sinal que eu deixei passar? Algo em que agora está se apoiando para apostar tanto que ela vá?

Ele pensou um pouco. Analisou-a com os olhos claros, e por fim respondeu.

- Sim, realmente, vi. Eu a conheço um pouco melhor que você, sabe? E, pelo que vi, ela se interessou muito pela sua proposta de se “vingar” do pai. Afinal, aquilo não iria atrapalhá-la em nada, ao contrário, ela se divertiria pacas, e a Dill, bem, você já percebeu, para atazanar alguém só basta ser ela mesma. Não que ela seja um demônio, ao contrário, é um amor de pessoa. Mas quando quer encher alguém... hum! Sai de perto... a prova viva é a diretora Estefani. Aiaia... Morro de rir só de lembrar!

Ele abaixa a cabeça e começa a rir baixinho. Seu rosto se contraía de prazer e no seu rosto transparecia uma felicidade de garoto. Penny não pôde deixar de se sentir atraída por aquela risada.

A caminhada de volta caiu novamente no silêncio. Apenas as buzinas de carros e o vento seco atrapalhavam a concentração dos jovens bruxos. Eles já estavam chegando perto do prédio de Den. Então, ele resolveu despedir-se.

- Bem, vou indo. Acho que você não quer que eu te acompanhe até em casa a pé, não é?

- Não, para mim basta de passeatas por hoje. Meus pés estão me matando, e... bem, preciso descansar para a viagem de amanhã. Será bem cansativa, não acha?

- Claro. Então, chame um táxi, ok? E te vejo amanhã.

- Claro...

Eles ficam momentaneamente sem ação. Então, Den, como um jovem cavalheiro de distante sangue inglês vai para frente, insinuando que iria se despedir da garota com um beijo no rosto. Percebendo a ação dele, ela também se aproxima, mas com um pouco de receio. ”Não se afobe, não se afobe, se controle, Penélope!”

O primeiro beijo na bochecha direita foi bem normal, mas, durante a virada de rosto para o outro lado do rosto da garota, os narizes deles se tocam, como que por um problema de percurso.

Eles se olham. A respiração ofegante, os narizes muito próximos, os lábios desejosos. Para Penny, o tempo parou com eles se olhando. Nem um nem outro conseguia sair da posição. Até que Denis não agüenta. Acaba com os olhares desejosos e beija-a.

O beijo não durou mais de 3 minutos. Depois de certo tempo em que ambos pareciam estar em outro lugar que não fosse o meio de uma calçada movimentada, eles começam a despertar dos devaneios e se recobrem. Então se separam. Penny arfava. Den sorria docemente, mas o sorriso não chegava aos olhos, que estavam vazios.

Ela se vira para ir, mas ele a segura pelo antebraço.

- Penny...

- Penélope para você, aliás, Foster.

- Deixe de ser chata. Escute: foi culpa minha. Eu... sei que você não queria, mas...

- Não, eu queria, só que...

- Você queria?- a informação o deixou meio surpreso.

- Sim, mas... não queria que fosse bem assim.

- Claro, até porque somos...

- Amigos! Sim, e precisamos estar unidos. E a Dill e você...

- Não, loira. Eu não tenho mais nada com ela.

- Mas e aquele beijo?

- Não foi um beijo, foi um selinho, oras! Eu dou selinho em quase todas as minhas amigas. É uma coisa meio que normal para mim.

- Mas para mim não. Então, Den, me desculpe. Preciso ir. Até.

- Penny!

- É Penélope!- ela dá um último grito, mas não parou. Seguiu rumo ao ponto de táxi e rapidamente embarcou em um. Den se sentiu um pouco idiota, mas continuou a caminhada para casa tranqüilo. Afinal, precisaria ficar calmo e sem dores de cabeça para encarar a mãe.

~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~

Dill olhava para o teto do quarto. Enfim os garotos haviam ido embora! Ela já estava farta de ouvi-los dizer que ela estava com medo do que poderia encontrar. ”Ridículos! Eu?! Com medo? Imagina!!”. Ela solta uma gargalhada de escárnio sozinha, e pega o iPod para tentar ouvir alguma coisa que fizesse com que ela esquecesse toda essa palhaçada. Afinal, havia desistido de ir, e se ficasse pensando no que iria ser sua vida se tivesse tomado a decisão contrária... ”Mas será que essa foi a decisão correta?”

Não, ela não iria ficar se perturbando com isso, putz, não agora, que já era um pouco tarde demais. Pegou o iPod e colocou no ouvido.

No sleep
Sem descansar
No sleep until I'm done with finding the answer
Sem descansar até eu conseguir achar a resposta
Won't stop
Não vou parar
Won't stop before I find the cure for this cancer
Não vou parar antes de achar a cura para este câncer
Sometimes I feel like going down, I'm so disconnected
Ás vezes eu sinto um desânimo, estou tão desconectado
Somehow I know that I am haunted to be wanted
De algum jeito eu sei que eu estou sendo perseguido por ser procurado
I've been watching, I've been waiting
Estive observando, estive esperando
In the shadows for my time
Nas sombras pela minha vez
I've been searching, I've been living
Estive procurando, estive vivendo
For tomorrows all my life
Pelo amanhã, toda a minha vida
In the shadows...
Nas sombras...
In the shadows...
Nas sombras...
They say that I must learn to kill before I can feel safe
Eles dizem que eu preciso aprender a matar antes de me sentir seguro
But I, I'd rather kill myself than turn into their slave
Mas eu, eu prefiro matar a mim mesmo do que me tornar um escravo deles
Sometimes I feel that I should go and play with the thunder
Ás vezes eu sinto que eu posso ir e brincar com o trovão
Somehow I just don't wanna stay and wait for a wonder
De algum jeito eu não quero ficar e esperar por um milagre
I've been watching, I've been waiting
Estive observando, estive esperando
In the shadows for my time
Nas sombras pela minha vez
I've been searching, I've been living
Estive procurando, estive vivendo
For tomorrows all my life
Pelo amanhã, toda a minha vida
Lately, I've been walking, walking in circles
Ultimamente, eu tenho andado, andado em círculos
Watching, waiting for something
Observando, esperando por algo
Feel me, touch me, heal me
Me sinta, me toque, me cure
Come take me higher
Venha me deixar melhor
I've been watching, I've been waiting
Estive observando, estive esperando
In the shadows for my time
Nas sombras pela minha vez
I've been searching, I've been living
Estive procurando, estive vivendo
For tomorrows all my life
Pelo amanhã, toda a minha vida
I've been watching, I've been waiting
Estive observando, estive esperando
I've been searching, I've been living
Estive procurando, estive vivendo
For tomorrow's
Pelo amanhã
In the shadows...
Nas sombras...
In the shadows...
Nas sombras...

Ela retirou os fones do ouvido com cuidado. Começou a refletir cuidadosamente. Havia sido burra, pior, havia sido totalmente negligente. Quantos natais e anivérsarios ela havia gastado, pedindo de coração para poder rever o homem que sempre povoava seus sonhos? Quantas vezes ela se viu devaneando à noite sobre como seria a pessoa que lhe dera de herança aqueles tremendos olhos negros? Como seria encarar aqueles olhos? O que será que ele diria para fazê-la entender!? Mas não, ao invés de aproveitar agora a oportunidade que lhes deram, ela estava lá, so\inha, deitada, ainda segura. Sim, com certeza, segura, no colo da sua querida mãe. Mas, o mundo estava lá fora, com todos os perigos e aventuras reservados aos seus novos amigos. E seu pai esperava por eles. Era triste.
Passara tanto tempo escondida de si mesma, “nas sombras”, esperando, vivendo e aprendendo, para algum dia poder encontrar ele e poder fazê-lo perceber que havia sido um erro ter deixado ela e sua mãe, e agora... ela simplesmente deixara a oportunidade que tanto sonhara ir embora... era incrível...

Não soube dizer por quanto tempo ficou se martirizando e pensando se aquela seria a melhor escolha. Pensou nos argumentos de Penny e Den, e percebeu, com uma fisgada de raiva, que eles estavam certos. Ela estava com medo.

E agora? ”Agora? Não está claro sua tonta? Você deve se levantar, ir atrás do cara e dizer como ele foi um idiota! É simples! Mas, eu já disse que não vou! Não, isso não é desculpa! Quando Dill quer uma coisa, ela consegue! É simples!”
Ela não pensa mais em nada. A única coisa que sai da sua boca é uma palavra.

- Mããããe!!!

~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*

Eram quatro da manhã, mas nem parecia. Mais um dia se iniciava na movimentada São Paulo. Den e Penny estavam sentados um perto do outro, de malas a um lado, em um dos aeroportos mais freqüentados do Brasil, o de Osasco. Os pais de ambos estavam conversando animadamente, frente à perspectiva de ver os filhos daqui a pouco voltando fazendo magias, aparatando, falando fórmulas mágicas. Os Foster e Rogério Cavalcante comparavam as árvores genealógicas. Pen estava sentada a um canto, soprando o cabelo impaciente, olhando toda hora para o portão de entrada. Estava bem básica: de calças azuis, blusa de mangas longas de lã, botas estilo cowboy de couro marrom e um cinto e bolsa de mão que combinavam com as botas. Ainda tinha a jaqueta que ela segurava sem jeito com as mãos.

Den estava a seu lado. Pen achava inacreditável o fato dele parecer tão calmo. Seus olhos azuis não paravam de olhar a revista de fofocas que ele mantinha à frente. A blusa da puma de manga longa estava arregaçada nos braços e o jeans se arrastava no chão, sendo pisado pelos Adidas escuros que ele usava. Os dois ainda não haviam se falado muito desde que chegaram, pois Pen ainda estava um pouco envergonhada, e os pais não ajudavam muito. Vendo que pareciam um pouco ansiosos de uma maneira estranha, Ann, mãe de Penny resolveu ajudar.

- Queridos! Vamos, se animem! Vocês irão se divertir demais esse ano!

- É, filho! Vamos, que cara é essa?

- Nada, pai, é só que... bem... a Dill...

- Ah! O que houve com ela, anjinho?! Por que ela não está aqui?

- Achamos que ela não vem, senhorita Cavalcante.

- É...

- Mas, por que?

- Bem, digamos que, por motivos pessoais...

Os adultos não se mostraram muito surpresos, afinal haviam sabido da famosa filha de Snape. Mas não gostaram muito de saber que ela havia abdicado do direito de ir só por causa de um rancor guardado pelo pai....

Eles não tiveram mais tempo de reclamar da recusa de Dill. Assim que iam começar a falar novamente ouviu-se uma voz no alto-falante, totalmente amável, doce e monótona.

- Passageiros com destino a Londres, no vôo 32151, por favor, comparecer ao portão de embarque internacional. Temporary for London, in flight 32151, please, to appear to the gate of international embarkment. Passeggeri per Londra, durante il volo 32151, per favore, comparire al cancello del embarkment internazionale. Passagers à destination de Londres, dans le vol 32151, s'il vous plaît, comparaître à la barrière d'embarquement international. Pasajeros para Londres, en vuelo 32151, por favor, aparecer a la puerta del embarkment internacional.

Na mesma hora, como se tivesse se materializado, Tonks aparece na frente do grupo. Os adultos saltam na frente e lhe cumprimentam longamente, cheios de papo e saudades da velha nação e dos amigos, mas sabiam perfeitamente que não havia mais tempo de matar as saudades da comunidade bruxa.

- Vamos, pessoal, não posso me demorar! A chamada para o portão de embarque já foi feita! Precisamos ir. Como estão, Penélope? Denis?

- Bem...- eles respondem com sorrisos forçados.

- Mas... cadê a Dillyan?

- Achamos que ela não vem, Tonks...

- Ah, que pena! Snape não vai gostar nada, mas não podemos forçá-la. Afinal, já estamos lhe dando uma chance única, ela já é só metade bruxa e ainda fica fazendo doce... – ela faz uma cara de insatisfeita.

- E o que vai acontecer com ela? Eu digo, com os poderes?

- Como ela não irá desenvolvê-los, eles irão desaparecer, se perder. Sabem como é, tudo que se deixa de exercitar, um dia você esquece como se faz e perde a habilidade. Assim também é com a magia. Mas não é hora de discutirmos isso, vamos! Temos de ir!

Os dois resolvem não esperar mais. Já estava claro: Dill não apareceria, e era uma pena... se despediram dos pais com longos e fortes abraços, além de muitos conselhos e beijos. Depois de desprenderem Denis dos braços altamente fortes da mãe perua, ele despacharam as malas altamente desanimados e foram para a fila de checagem dos documentos. Depois de tudo isso, se dirigiram para a fila de embarque.

Ela estava um pouco vazia demais, até porque setembro não é o mês de alta das viagens. Eles ficaram mais ou menos no meio e começaram a esperar. Penny se vira para Den.

- “Ela irá aparecer, com certeza!” É dez, você como vidente é um ótimo oclumente, Denis.

- Oras, não reclame comigo. A louca aqui é ela. Para começar, ela nem devia ter inventado essa palhaçada de não vir. Só podia ser a Dill mesmo. Ir contra tudo e todos. - ele faz uma cara de decepcionado. Seus olhos estavam tristes. Não era uma cena muito legal.

A fila começou a andar. Tonks permanecia na frente analisando tudo. Aparentemente aquilo tudo era normal para ela, mas se você realmente prestasse atenção perceberia que ela estava encantada com o painel que mostrava os horários dos vôos.

Estavam quase chegando... Uma zoada uniforme de pessoas andando e de motor de avião começava a ser percebida por eles em meio à passagem além... De repente um grito, de uma voz muito bem conhecida.

- Ei, seus loucos! Parem esse avião!

Uma cabeleira ruiva começava a se destacar da multidão. Do portão dava de se ver uma morena de mechas claras conversando animadamente e às lágrimas com dois casais. Até Cristina havia vindo ver a filha ir. Dill chegou derrapando e segurando uma pequena mala de mão de couro e estava toda desarrumada, mas não deixava de ser bonita. O casaco preto que usava estava arregaçado nas mangas, como o de Den, a calça, também preta, entrava dentro dos All star’s usados por ela e totalmente desgastados, o que lhe dava um ar de roqueira extrema. A maquiagem dos olhos estava de acordo com a roupa. O olhar era de pura alegria e êxtase. Parecia que havia ensaiado a entrada, pois agora quase todo o aeroporto estava olhando na direção da ruiva espalhafatosa.

- Dill! - Den se adiantou e lhe deu um abraço forte. Penny já estava a beira das lágrimas também, e abraçou os dois junto. Era uma cena bem engraçada. As pessoas olhavam como se fosse uma cena de cinema, e isso até animava a eles, que estavam rindo. De repente a fila de embarque ficou pequena demais para a felicidade dos jovens. Eles se separaram, com as lágrimas correndo soltas, mas não sabiam se era de emoção, surpresa ou de alegria.

- A gente pensava que você não iria mais vir, Dill... Por que nos deixou esperando, droga?- desabafa a inglesinha, aos prantos.

- Desculpe, loira! Mas demorou um certo tempo para a minha ficha cair. Vocês, no fim, estavam certos, e eu errada. Me perdoam?

- Claro, agora nada disso importa! Você vai com a gente, né?

- Claro, Den! Sabe, eu pensei e pensei, e percebi que adiando essa viagem, só adiaria a minha vida. Enquanto esse encontro não ocorresse, eu iria sempre viver perdida, à espera de alguma cosia, mas ela não viria mais. Então é melhor eu ir, né?

- Claro!

- Hum... garotos, eu sei que vocês estão felizes por verem a Dillyan, e tal, mas... precisamos ir agora. Que bom que você vem conosco, querida. Vamos! Você já despachou as suas malas?

- Com certeza, tia!! - ela responde com animação.

- Certo... - ela fica meio confusa por ter sido chamada de “tia”, mas se recupera logo.-...então, vamos, garotos! A primeira sala nos espera!
- Hum... Senhorita Tonks, acho que você quer dizer a primeira “classe”!

- É isso aí! Vamos!!

Dill dá uma última olhada para trás e vê a mãe se chorando silenciosamente, não de tristeza, ela sabia, mas por outro motivo, talvez apenas por saudade adiantada, dá um leve tchau com a mão e se sente puxada por Tonks, que puxa os três para dentro da passarela que levava ao avião. Estavam muito felizes, e foram sem dizer nenhuma palavra até chegarem aos seus lugares na primeira classe do avião e se deixarem sentar. Finalmente estavam embarcando.

” É isso aí! Aqui estou eu... que a aventura comece!”

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Kd os comentários, hein?
assim eu num tenho ânimo de postar!

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