Reviravoltas





Capítulo 18: Reviravoltas


 


         Já era início de fevereiro. A neve derretia ainda devido ao rigoroso inverno, mas o tempo já melhorara um pouco. O carnaval no Brasil prometia ser o melhor, e só de pensar que todos iriam se divertir horrores sem Dill, enquanto ela estava presa naquele castelo, fingindo não se importar com Greg, estudando demais e com um traidor à solta... Isso a deixava louca! Por isso, na tarde de domingo que se arrastava, ela estava deitada no sofá da sala comunal da Grifinória, com Den, fingindo que estavam numa sala de divã. Ele usava um par de óculos que pegara emprestado de algum estudante do segundo ano, e fingia anotar todas as loucuras que a garota dizia para o teto.


         - E então, eu pego o livro e jogo na cabeça do Tom Cruise, como se isso fosse resolver o fato de que eu e meu pai brigamos o tempo todo. Aí o personagem Eduard - de Crepúsculo, sabe? – começa a pedir que eu pare de gritar porque o filho do Barack Obama II estava dormindo no melhor quarto do Palácio de Cartas do filme Alice no país das Maravilhas. O que isso significa Den?             


         - Segundo as minhas anotações... Eu não entendi nada! – ele fala com cara de psiquiatra homossexual. – Mas você deve estar normal.


         - A Dill? Normal? Quer enganar a quem, cara? – John Masefield e Jack Potter aparecem descendo as escadas do dormitório seguidos de perto por Mel. Na mesma hora, mas quase imperceptivelmente, Den ajeita sua posição no sofá.


         - Qual é? Meus sonhos podem não ser tão intrigantes e misteriosos como os da Pen, mas não deixam de ser sonhos: reflexos do meu dia e das minhas preocupações.


         - Reflexos das suas loucuras, isso sim! – John começa a mexer com a garota. Dill não se importou muito, mas preferiu se retirar do sofá. Agora que os garotos haviam chegado, Den não lhe daria mais ouvidos. E Mel, já havia saído de perto deles há alguns minutos.


         Resolvendo que o melhor era deixar os machos-alfa de Hogwarts sozinhos com suas babaquices, ela sai da sala. Dar uma caminhada pelos jardins que estavam vazios seria o melhor a se fazer.


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         “ Aah, por que sempre sobra para mim?”         


         Greg ia andando por entre os arbustos muito bem cortados do jardim, mas com um caminho meio cortado pela lama. Ele levantou as mãos enluvadas para o céu e percebeu pela posição do sol que não podia passar das quatro da tarde. Então, uma coruja surgiu do meio do nada. Ela pairou por entre as árvores, se deliciou com uma sombra de pinheiro, e depois pousou elegantemente no antebraço do garoto.


         - Iai, cara? Tudo em cima? – ele tirou a carta da pata da coruja, deu a ela um nuque, e tão leve quanto pousou, ela se foi. Ele sentou em um dos bancos que secavam ao sol, e começou a ler a carta de Draco.


         Querido filho,


quantas vezes tenho de repetir que as mulheres são de marte e os homens de vênus? Se bem que no caso de minha querida afilhada... ela deve ser de plutão, que, detalhe, não é considerado um planeta há séculos. Eu não acho que você esteja agindo mal, pelo contrário, esperar que ela o procure é a melhor maneira de resolver a situação. Mas quando isto vai acontecer? Difícil saber, Greg. Em todo caso quero que saiba que um Malfoy não desiste nunca. Nem quando já dizem que tudo está perdido.


         Amelinha ainda está comigo. Mas sua mãe já está para me por louco de tanto me pertubar. Juro que ainda irei lançar uma azaração pior do que a de antes em Córmaco. E a de antes, se você não se lembra, fez com que ele ficasse com hemorróidas por quatro meses (risos malvados).


         Um abraço de seu velho e muito bom pai.


 


                                                                                     Draco


         Gregory riu. Como ele se achava um bom pai? Mas pelo menos ele fazia isso com Greg: o deixava de bom humor. Bem, a boa notícia era que ele estava agindo certo para com a teimosia de Dill. Mas a má notícia era que ele não sabia até quando iria agüentar aquela situação. Todas as vezes que a via, sentia vontade de acariciá-la, de dar-lhe conselhos e de ouvi-la por infinitas horas. Mas só o que podia fazer era uma carranca a lá Draco-Malfoy-dos-tempos-de-adolescência e fingir que não via ela fazer a mesma coisa.


         Pensando em tudo, ele ficou por lá sentado alguns bons minutos. E quando já estava guardando a carta e resolvendo ir esfriar a cabeça com alguns apontamentos de DCAT, eis que surge de uma curva a própria filha do diretor.


         Dill olhou para cima e deu de encontro com os olhos acinzentados do jovem Malfoy. Ela tentou não parecer assustada ou animada, por isso desviou-os antes que ele começasse a fazer aquela cara de desprezo altamente sexy que estava fazendo nos últimos dias em que tinham de se suportar quando estavam em público. Ele esperou que ela quebrasse o gelo.


         - Bem, parece que eu não sou a única que acha que a escola está cheia demais.


         - Não é que esteja cheia, mas sufocante... – ele respondeu. Dill se sentou ao lado dele, fazendo força para não encostar-se. Mas era impossível não sentir o aroma de seu perfume.


         - Já estudou para DCAT?


         - Já! Junto com Den e Mary. Depois Mary foi embora e Den e eu começamos a fazer uma consulta de psicoólogo amador. Mas com tanta gente ao redor, ele não conseguiu muito bem interpretar meus sonhos direito. Talvez eu fale com Penny.


         - Sonhos... desde o último mês que tenho um sonho horrível.


         - E qual é? – ela perguntou interessada. Nem desconfiava que aquela pedra de gelo que se tornara Greg costumava sonhar.


         - Sonho que estamos brigando. E no fim cada um vai para um lado, desamparado e triste. – ele prendeu o olhar nos olhos dela. Dill pareceu murchar, e começou a ficar vermelha. – Você sabe que me faz falta? E também sabe que eu entenderia seus sonhos. Sem nem precisar de mais de um depoimento seu.


         Agora sim ela achava que ia desmaiar. Prendeu a respiração e mordeu um pouco os lábios, para não curvá-los em um sorriso envergonhado. Aquela não era a primeira vez que eles brigavam, mas também não seria a última. Enfim ela se deixou sorrir abertamente, e colocando as mãos sobre as dele disse:


         - Claro, Greg. Você sempre entende meus sonhos. – eles sorriram um para o outro. Ela ainda quis falar “você é o meu sonho”, mas não conseguiu. Não em voz alta. Aquela ligação eles tinham desde o primeiro momento em que se viram.


         Por entre os arbustos, uma sombra observava os dois atentamente. De repente, a pessoa se vira e sai caminhando de volta ao castelo. Tentava raciocinar tudo o que aquilo significava. Aquela maldita filha do diretor, depois de praticamente dois meses fora da vida de Greg, agora voltava a virar sua amiga! Era incrível como os homens podiam ser idiotas. Estava na cara que aquela piranha não o merecia! Mas ela não deixaria aquilo assim. Entrando no castelo, Tiffany jogou os longos cabelos loiros de forma teatral, e subiu as escadas em direção à torre da Sonserina, com mil coisas para contar a Cat e Karol. Elas iam ter de ajudá-la.  


*******************


         Severo estava mais uma vez entretido em cartas e mais recibos, autorizações e pedidos, quando o professor Potter e o professor Mont'Alverne entraram na sala. Os quadros dos mais renomados diretores na mesma hora os deram boas-vindas.


 


         - Então, Severo. Estamos aqui. O que foi?


         - Oh, sim. Quero conversar com vocês sobre... os treinamentos dos garotos. Como eles vão indo?


         - Bem, Penny está avançando muito mais do que eu esperava. Apesar de todos estes ataques, a garota soube controlar bem seu instinto e seus poderes. É incrível como hoje em dia ela consegue pressentir até se irei comer morangos ou não! Ela é incrível, Severo. Mas, quanto ao que você quer realmente saber... não sei responder ao certo. – ele olhou o diretor profundamente. – Não sei se, mesmo com toda esta preparação, ela realmente estará preparada para... o que quer que venha por aí.


         - E quanto a Dill e Den... bem, eles também evoluíram muito. Aprimoraram a técnica e a prática da Legilimência e Oclumência. Posso afirmar, sem dúvida, que eles estariam mais seguros na época de Voldemort do que eu e você. Mas, quanto a afirmar se eles realmente podem passar por qualquer coisa, qualquer perigo... eu também não sei, Severo.


         O diretor olhou-os por entre as mãos entrelaçadas, parecendo não acreditar no que ouvia. Então, em um arroubo de frustração ele se levanta, arrastando a cadeira.


         - Mas como assim? Eu não dei ordens expressas para que eles passassem por todos estes treinamentos justamente com o intuito de impedir qualquer mal? Qualquer perda? Eu perguntei a vocês, na época, e vocês me deram a certeza de que se eu fizesse tudo como o combinado, tudo daria certo!


         - Porém, nossos planos tiveram falhas, Severo.


         - Falhas? Que falhas, Potter! Estes ataques, apesar de imprevistos, eram esperados. Não com esta intensidade e astúcia, mas sabíamos que isto poderia acontecer. Agora, vocês vêm me dizer, que apesar de tudo, não tem certeza se o treinamento vingará? E se os brasileiros sairão vivos? Como assim?


         - Proteger demais os garotos e ocultar-lhes informações não é o correto, Severo! Eu disse na época! Isto está instigando-os a se meter em mais confusão! E nos deixando loucos. Severo, devemos falar com eles, o mais rápido possível. Todos já estão de acordo que você deve abrir o jogo para eles. Até o cabeça-dura do Malfoy. E você deve fazer isso, especialmente com a Dill e a Cris.


         Severo os focou novamente. Os olhos negros pareciam estar em brasa.


         - Isto só eu tenho o direito de decidir. Minha filha, minha mulher, minha vida!


         - Mas e quanto a Penélope e Denis, Severo? Você não acha que...


         - Minhas responsabilidades, Mont'Alverne! Agora, façam o favor de se retirar. Eu preciso pensar em quais serão os próximos passos.


         - Mas...


         - Agora! – ele gritou, se virando de costas.


         Harry foi o primeiro a se virar e sair o mais rápido possível. Bem, ele já tinha dado a sua opinião. Se Severo iria seguir ou não, problema o dele. Mas ele avisara. Já Jacob, antes de sair, chegou mais perto de Severo e sussurrou: - Só espero que você tenha consciência de que o tempo está acabando, Severo. E logo, todos os nossos destinos estarão traçados. E lembre-se da história de Édipo: o destino sempre acaba nos encontrando. Não importa o quanto você se esconda. – e saiu, deixando o diretor mais desesperado do que ele já estava. Para tentar clarear as idéias, ele resolveu olhar pela janela. Era uma das muitas manias que adquirira com Cris, olhar para o nada ou para o lado de fora. E foi quando se deparou com a cena da filha e de seu afilhado, conversando, rindo, se entendendo. Pareciam mais felizes do que nunca, e sem qualquer preocupação que os afligisse. Então, por um breve momento, ele se esqueceu de toda a dúvida e aflição, e ficou admirando-os de longe. E logo ele tomou a sua decisão.


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         Penélope estava encostada em uma janela de um corredor que dava justamente para o casal mais fofo que se encontrava no jardim. Enquanto a loira os admirava, dava suspiros e esfregava os lados dos braços, numa clara demonstração de estar despreparada para o frio que começava a invadir o castelo.


              Ah, se tudo se resumisse àquele momento. Vendo o sol esfriar, as árvores balançarem, um amor puro nascendo e se fortalecendo numa tarde de domingo. Mas aquilo estava um pouco longe do que assolava a alma da garota. Penny estava passando por dias angustiantes, com direito a sonhos suspeitos, sussurros vindos do nada uma sensação esquisita, que vinha acompanhando-a desde que acordara do último ataque na Mansão Potter. A sensação era a de que o tempo de correr acabara. Eles teriam de enfrentar o traidor de frente. E quanto mais ela tentava raciocinar quem seria esse traidor, mais confusa ela ficava. Quando já estava pensando em se virar e retornar ao dormitório, percebeu que Jack Potter estava encostado na coluna próxima a ela, observando-a.


               - Jack! Que susto que você me deu!


                - Você que me deu um susto! Fui te caçar na Sonserina, mas ninguém tinha te visto. Pensei que tivesse tomado chá de sumiço!


            - Esse chá não existe ainda. Mas por que estava me procurando?    


            - Nada de importante, só fiquei com saudades. – ele deu de ombros, e Penny tentou não ficar vermelha. Passando as mãos pelo cabelo loiro bicolor, ela se lembrou da última vez que ele tentara beijá-la. Havia sido engraçado.


            - Você é tão engraçado, Potter! Sempre tentando conquistar a todas.


            - Não, agora somente a você. – ele se aproximou mais dela, segurando seus braços ao lado de seu corpo. – Penny, você anda tão calada e pensativa... me diga do que você tem medo.


            - Tenho medo da falta de tempo. Jack, eu sei que não há mais tempo. E tenho de me concentrar o máximo possível para tentar predizer quem é essa pessoa que nos quer tanto mal.


            - Loira... por que não deixa isso com os adultos? Dói em mim te ver tão aflita. Doe em todos nós, aliás. Se acalme, ok?


            - Como me acalmar? Eu sei que tenho um papel importante no meio desta história, Jack. Tenho a certeza que toda a minha vida converge para este incidente, e agora não posso simplesmente fingir que não tenho nada a ver com isso. Não posso deixar tudo nas mãos de vocês, não posso!


            Ela se desprende do aperto dele, e caminha alguns passos, ameaçando ir embora. Jack ficou um pouco inseguro ao ouvi-la falar em “deixar tudo nas mãos de vocês”, mas não comentou nada, esperou que ela voltasse ao normal e falasse novamente. Todavia, as falas não vieram, somente os suspiros. E ele achou melhor falar algo que realmente a acalmasse.


            - Saiba que nós estamos preparados, Penny. E que eu nuca deixaria nada de mal acontecer a nenhum de vocês.


            A garota vira com os olhos brilhando de lágrimas, mas com uma determinação assustadora.


           


            - Para o traidor, porém, nada disso importa. Ele irá até as últimas conseqüências. Ele fará o que puder para fazer o mal. Você ouviu minha profecia naquele dia. Nem todos que forem voltarão. Eu só espero que vocês tenham consciência disso. – ela se vira e sai caminhando em direção à torre.


 


            Jack não teve do que reclamar. A garota estava certa em ter medo. Até ele estava com medo nos últimos dias. Mas eles, seu pai e os outros, não poderiam fazer o tempo correr mais do que já estava correndo. Teriam de esperar para ver.


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            A aproximação das provas parecia não surtir efeito nos estudantes de Hogwarts, que a cada dia que passavam, ficavam mais a vontade no jardim do que dentro do castelo, estudando. Até as noites quentes inspiravam mais encontros às escondidas ou reuniões entre amigos em alguma sala vazia. E na sala de DCAT, um grupo muito conhecido estava bem à vontade, discutindo tudo e nada ao mesmo tempo.


                   - Não sei mais o que estudar. Está tudo confuso na minha cabeça.


            - Mas Mel, você não disse que começou a revisar as matérias desde o mês passado? Então você já deve ter acabado!


            - Não, tenho certeza de que ainda falta algo.


            - Aaah, vocês cdf’s são mesmo uma graça. – Den chega com graça perto das meninas. – Por que não fazem como eu e deixam tudo na mão de Deus?


            - Porque nós temos vergonha na cara? – Penny fala ácida, e Mel começou a rir.


            - Haha. Não sabia que você tinha virado comediante, meu amor.


            - Desculpe, não tenho como sobrenome Smith para ser sua amada. Agora, vai saindo de fininho, vai, Den?


            O loiro se vira, mas não sem antes lançar um olhar gélido para as duas. Só lhe faltava essa: as duas se juntaram para maltratá-lo! Ele lá tinha culpa de ser tão... irresistível? Mas aquela situação com Mel já fora longe demais. Precisava voltar a falar com ela, nem que fosse para lhe dar bom dia. Pensativo, ele sentou no braço da cadeira que formava uma roda compacta de garotos, mas onde se encontrava Dill.


            - O caso é que vamos ter de ser bem mais cautelosos. Meu pai já havia dito que o mal tem diversas faces, e Severo também sabia de todos os riscos de trazer os brasileiros para cá.  Então, nós só vamos ter de ficar mais atentos.


            Apesar da gravidade da discussão, Dill parecia estar preocupada em olhar a tudo e a todos da sala, como que procurando por alguém. Ou por Greg?


            - Ele já está vindo, não se preocupe!


            - Haha! De quem você está falando?


            - Do Greg, oras. Não é dele que você está sentindo falta?


            Ela fez uma careta. Desde quando este loiro virara tão bom legilimens? As coisas realmente mudavam. Só o que parecia imutável era esta sensação de vazio que ela sentia quando Greg não estava por perto. Ela resolveu ir atrás dele.


            - Dill, aonde você vai?


            - Atrás do Greg!


            - Mas, você não me ouviu? Vocês só podem andar com a gente agora! Volta aqui e espera aquele idiota aparecer sozinho.


            - Ah, fala com minha mão, Jack Potter. – e ela sai da sala sem mais palavras.


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            O moreno estava esgueirado na coluna espartana, revirando os olhos para a choradeira da garota à sua frente.


            - Por favor, Cat, vê se me entende! Eu não tenho nada a ver com você e o Jack. Agora, se você me der licença.


            - Mas, Greg! Você é o melhor amigo dele! E o único que me entende, e  que pode fazê-lo entender também!


            - Eu já disse e vou repetir: não sei do que você está falando. Seus assuntos, meus assuntos! Agora, hasta!- quando ele ia se virando para ir embora, os olhos dela se espreitaram como os de uma cobra.


            - E quanto a mim? – era a voz de Tiffany. As coisas iam piorar.


            - O que é agora, Tiff?


            - Gregoory! Temos de conversar. Por que você está assim comigo? Tudo o que eu quero é que a gente se dê bem, e sua mãe também. Mas desde que você voltou a falar com aquela piranha...


            - Nada de baixaria, Tiffany! Escute, estou atrasado. Será que, por favor, não dá da gente discutir essas e outras idiotices outra hora? Eu marco um horário para vocês na minha agenda. Vocês estão livres daqui, tipo, uns cinqüenta anos? No dia eu falo com vocês, ta legal?


            - Greg Malfoy você não vai embora assim!- a loira gritou desesperada. Nunca, jamais, nessa vida ela havia sido dispensada por homem nenhum. Não por um homem sóbrio, pelo menos. E esta não seria a primeira. Ela o agarrou pela parte de trás do casaco preto e verde com detalhes prateados, e sem nenhum aviso, o beijou. O moreno ficou tão surpreso que não teve muito tempo para poder se desvencilhar. Cat ria escandalosamente como fundo musical romântico, enquanto usava a varinha para lançar um feitiço nos braços de Greg.


            E como desgraça pouca é sempre bobagem, eis que Dill aparece bem no começo do corredor, interpretando tudo errado. A visão da garota deu a Greg uma onde de fúria que ele não sabia que teria contra uma garota. Desviando-se do abraço da loira e espantando a morena, Greg pôde então gritar: Dill! Mas já era tarde. A ruiva já tirara suas precipitadas conclusões.


            - Diiiill!


            As meninas no corredor riram do desespero na voz dele.


            - Deixa, meu amor. Ela não iria querer mesmo participar da festinha! Agora que tal se eu, você e a Cat fôssemos para o meu quarto na Torre, hein?


            Ele olhou para elas um pouco enojado. Já passara daquela fase de garoto excitado. Aquilo agora lhe fazia mal. Especialmente se elas faziam tudo para deixar a ruiva infeliz.


            - Eu vou vomitar. – e saiu correndo pelo corredor para o banheiro mais próximo. Depois de tirar o gosto e o cheiro daquela louca da Tiffany iria explicar tudo para Dill. Tudo mesmo.


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            Ela mal podia acreditar! Como era burra, meu Deus! Ela estava tremendamente preocupada com ele, e na hora ele só estava em um ménage à trois com as duas piores garotas deste castelo. Era incrível. Era de se vomitar!


            Entrando na primeira porta destrancada que encontrou, ela se sentou no chão, tentando respirar mais devagar. Não gostava mesmo da sensação de vomitar. E fora que a última vez que tinha feito isso já havia sido há muito tempo...


            As lágrimas começaram a rolar involuntariamente, quentes e com o gosto ruim da garganta, e com isso ela não pôde ouvir os barulhos de alguém do outro lado da sala. Somente quando os contornos da pessoa estavam bem mais próximos que ela percebeu o perigo iminente de estar dentro de uma sala escura, sozinha, indefesa, no meio da noite, com um louco à solta que queria fazer-lhe mal desde que chegara ao castelo. Estava ferrada.  


            - Quem está aí? Olha, eu tenho uma varinha e não tenho medo de usá-la!- ela tentou parecer corajosa, esfregando as lágrimas do rosto.


            Uma risada de garoto se fez ouvir. Os olhos faiscantes dele se aproximavam ainda mais dela.


            - Você não é a Maria. – ele falou se aproximando dela.


            - E você é o Longbottom! Nicolas! Ah, que bom, é só você. Que susto.


            Ela não notou muito bem, mas quando ouviu a penúltima frase, o garoto de olhos azul-claro torceu levemente a boca, incomodado. Não deixando transparecer esse leve deslize, ele continuou parado na frente dela, não entendendo o porquê de sua presença.


            - Ééé... Pois bem. Escute, parece que você estava esperando outra garota, né? Então, acho que já vou indo, porque... – ela tentava esconder as lágrimas que ainda insistiam em cair, agora mais devido ao susto. No entanto, o garoto saíra da pose de assustado, e começava a passar a mão no rosto dela, olhando as lágrimas.


            - Você estava chorando. O que houve? Achava que a filha do diretor não chorasse, sabe?


            - Hum. Não queira saber... é uma história longa e muito melodramática. – agora ela se dava conta de o quanto parecia uma idiota ali, parada, no meio de uma sala escura, chorando.


            - Bem, temos a noite toda, se você quiser. – ele lhe lançou um olhar de calma faiscante e um sorriso que ela nunca pensaria receber dele. Quer dizer, eles mal se falavam, ele era apenas um bom amigo dos garotos, e agora estava ali, na sua frente, sendo um completo cavalheiro. Ela simplesmente não resistiu, e se ajeitando mais no chão, começou a conversar com ele.


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            Enquanto isso, alguns andares acima, em um banheiro masculino, Jack terminava de ouvir os últimos grunhidos que Greg dava dentro de um dos boxes.


            - Será que dá de você parar com isso e me explicar a história direito?


            - Qual parte? – ele coloca a cabeça para fora, passando a mão na boca.


            - A parte em que você me fala agora, só agora, que tem poderes sensitivos. Você é louco? Desde quando sabe disso?


            - Há poucos dias. Desculpe, mas não podia sair por aí falando coisas que não tinha certeza. Eu precisava estar certo.


            - De quê? – Jack fixa os olhos verdes nos cinzas do amigo.


            - De que eu sou um sensitivo. É uma espécie de bruxo que sente mais do que deveria, por assim dizer. Por isso eu estou tão esquisito... – Greg se olha no espelho e joga água no rosto. Só de imaginar Tiffany e Cat em uma cama, juntas, o estômago voltava a embolar. Ele tentava esfriar a cabeça.


            - Isso é incrível! Não posso imaginar dois caras tão diferentes, sendo que são pai e filho: Draco é um insensível ao pé da letra, e você um maricas, que não suporta nem mais uma fantasia sexual pervertida comum a qualquer garoto! Haaa, essa é boa!


            - Só você mesmo para rir da minha situação. – e o pior que era mesmo. Greg estava mais branco que um fantasma. As olheiras se sobressaiam abaixo dos olhos.


            Jack tentou ser mais... sensível.


            -Você não quer ir até a enfermaria? Talvez Madame Angels tenha alguma poção para o seu mal estar.


            - Não. Agora só o que importa é o que vou fazer com a Dill. Juro, que se parar de falar com ela novamente vou ficar louco, louco!- Jack acreditou nas palavras do amigo, ele estava realmente pertubado.


            - Não se preocupe. Amanhã vocês conversam e tudo vai acabar bem, ok? Vamos, vamos voltar para a sala e fazer você comer alguma coisa. Se você morrer, sua mãe me mata.


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            No dia seguinte, nem todos estavam realmente a par do que acontecera. Jack resolveu não falar nada a ninguém para não piorar a situação, e também achava que logo isso seria esquecido pela ruiva. Grande foi a surpresa de todos, quando ela apareceu no Salão de braços dados com Nicolas Longbottom.


            - Iai, pessoal?


            - Dill! Ficamos preocupados, aonde você se meteu noite passada?


            - Ah, estava conversando com Nick.


            - Oi, gente! – o garoto cumprimentou a todos da mesa. Den não engoliu aquela conversa, e aparentemente, Penny também não. Nesse momento, Greg entrava no Salão para o café, se aproximando da mesa e custando a entender o que Dill fazia ali com Nicolas.


            - Oi. Dill, posso conversar com você?


            - Claro! – ela larga do braço de Nicolas e vai para fora do Salão, andando contra a maré de pessoas que entravam para tomar o café.


            - Dill, eu sei que você me viu ontem, mas não foi nada do que você está pensando. Elas me pegaram de surpresa, de novo!


            - Greg... – ela o olhou com uma ternura que chegava a ser doentia. – Greg, Greg, Greg... Eu não acredito mais em você!


            - O... o quê?- ele é que não podia acreditar.


            - Estou farta de te dar chances, e acredite, já foram muitas. Você não se cansa de cair no papo da Tiff, e eu como amiga entendo que garotas como ela não desistem fácil. Mas o meu coração não, Greg. Para mim já chega. Acho que o melhor agora é nos darmos um tempo, ok? Já basta o que você descobriu sobre a minha vida, vamos tentar ser só amigos e... melhorar a nossa situação.


            - Mas... mas... Dill!- parecia aqueles pesadelos em que você tenta falar, mas nenhuma coisa sensata sai. Parecia uma novela mexicana que você achava que já estava no fim, mas na verdade era apenas o começo de uma nova confusão. Parecia que a roda da fortuna dele nunca mais sairia do lugar em que estava, e esse lugar era entitulado “desgraça total”. Parecia não, era.


            - Isso dói em mim mais do que em você, Greg. – os olhos dela estavam marejados.


            - Eu duvido. – ele respondeu tornando-se novamente a pedra-de-gelo-Malfoy.


            - No entanto, sei que tudo vai melhorar, ok? Nós vamos continuar...


            - Sozinhos. Isso que você quer dizer. Sozinhos. Só não se esqueça de uma coisa: quando Nick te magoar, não venha correndo para mim como você sempre faz desde que está por aqui. – ele se virou e saiu andando lentamente, as mãos nos bolsos, dando sinal de que não estava nem aí. Mas quando virou o corredor, as mãos com luvas apertaram a calça, até a perna sentir uma dor cortante de unhas. Mal sabia ele que a mesma cosa fazia Dill.


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            - Vocês são loucos. Sério, totalmente! Se fosse comigo eu só a encostaria na parede e daria o maior beijo da vida dela. As coisas se resolvem assim, Greg, na força! – Den dava uma de macho-alfa para Greg e Jack depois de ouvir a história toda.


            - Realmente, acho que as coisas não podem piorar... – Jack ia dizendo quando viravam o corredor e davam de cara com Poldeck e Melany discutindo perigosamente perto.


            - O que você quer, Ian?


            - Oras, você sabe, que você fale! Que fale que ainda me quer, minha...


            - Mas de novo! Que saco, Ian! – Den toma a dianteira da briga.


            - Orrra, o que você quer?


            - Quero que você tire as mãos da minha... minha... minhaa...namorada!


            Jack se virou para Greg com um sorriso nos lábios. Essa quase não saía, hein?


            - O quê?- Ian não tinha percebido o deslize do loiro.


            - É isso mesmo!- ele afirmou com mais determinação agora que havia percebido que Ian se acorvadara e que Mel olhava para ele perplexa. – Minha namorada, polonês chato. Agora, sai de fininho antes que eu chame meu quase sogro Harry, já que ele é tio da Mel e melhor amigo do meu sogrinho querido Ron. Vaza!- ele passou o braço pela cintura da ruiva, demarcando território. Jack e Greg, tão pasmos quanto Mel, acompanharam a farsa, fazendo cara de mal, acompanhando com o olhar o polonês sair com o rabo entre as pernas.


            - Aí, Cavalcante! Botou moral.


            - É, eu sabia muito bem que cão que ladra não morde.


            - Aqui dizemos que lobisomem que uiva demais, não ataca. – a ruiva falou e tirou a mão da sua cintura. – Por que fez aquilo, Denis? O que quer?


            - Atenção senhores, DR logo a sua direita. Todos que quiserem sair vivos e sem machucados peguem a próxima saída à esquerda! – Jack e Greg saíram bem depressinha do local.


            - Mel, eu só quis te proteger! Qual é!


         - Mas precisava falar aquilo?- ela no fundo queria saber era o porquê daquela decisão repentina.


         - Bem, foi a única idéia que me veio à cabeça. Eu já quis fazer isso antes, mas...


         - Maas?


         - Antes disso aconteceu aquele deslize com a prima do Poldeck. Me desculpe.


         Ela não falou nada.


         - Mel, é o único jeito de tirá-lo do seu pé. Fingimos que estamos juntos. Ele tem medo da minha presença e da minha proximidade com sua família. Tem mais medo de mim do que do Jack. Então, você topa ser minha namorada... de mentira?


         Os olhos esverdeados dela faiscaram. No fundo, tudo o que ela queria era dizer desesperadamente que sim. Mas não poderia dar esse “gostinho” ao garoto. Já o conhecia demais àquela altura para dar mais esse voto de confiança. Ela ficou mais alguns segundos calada, dando um olhar calculista que a deixava muito parecida com sua tia Ginevra. O loiro estava quase voltando atrás na sua proposta quando ela falou.


         - Tudo bem. Mas tome cuidado com o que faz por aí agora. Você tem um compromisso comigo, e eu não vou ser a chifruda novamente. – ela virou as costas.


         - E você também, oras. Pensa que eu não sei que... – já era tarde, ela já virara o corredor. Mas ele exibia um sorriso triunfante. Por um segundo apenas, claro. Imagina se Denis Cavalcante iria ficar sorrindo como um idiota pelos cantos por causa de uma garota. Imagina...


***************************


         Os dias passavam como um vento quente de verão precipitado. Enquanto isso, Dill e Nick tornavam-se insuportavelmente amigos. A amizade entre a grifinoria e o lufa-lufa parecia incomodar tanto os antigos amigos do capitão e mais ainda os amigos da ruiva.


         Penny não sabia mais o que falar para fazer com que Dill voltasse a coversar com Greg, e para piorar seus arrepios e angustias aumentavam cada dia mais.


         - Não sei mais o que fazer, Greg. As coisas pioram a cada dia...


         - Penny, logo Severo vai abrir o jogo.


         - Quando?


         - Possivelmente depois do ultimo jogo da temporada de quadribol.


         - Isso, quando meus treinos pararem, e eu conseguir aquela taça para você, loira, juro que aperto o Snape até ele falar tudo. – Jack deu um sorriso radiante para ela, querendo ser perdoado por seu silêncio. Ela não conseguiu não sorrir.


         Denis e Mel seguiam com o plano do falso namoro. Mas a implicância de ambos fazia com que as brigas fossem constantes. Caminhando pelo corredor, a caminho da próxima aula de Transfiguração, outra briga ocorria.


         - Melany, nem corre! Eu vi você de papo com o irlandês da Sonsa!


         - Eu estava dando a ele os detalhes da tarefa, Den! Que coisa! E você com aquela loira azeda?


         - Ela pisou no meu pé, cara! Ela tava pedindo descullpas...


         - Bem, diga para ela, que da próxima vez vá pedir desculpas pra sua mãe, porque você é meu... – ela ia dizer namorado. Ele estava prestando atenção a cada palavra dela. O corredor estava deserto, as salas estavam fechadas, e os dois respiravam fortemente um perto do outro.


         - Eu sou seu amigo, acima de tudo. Você sabe que pode contar comigo, né? – ele estava totalmente serio. Mel ficou meio confusa.


         - Eu sei...


         - Então, por que você não confia em mim? Você é uma das melhores amigas que eu tive, e eu nunca vou me esquecer de você.


         - Den... por que você ta falando isso agora?


         - Porque eu to com uma vontade muito louca agora...


         - De que?


         - Disso. – e deu um beijo nela. Ela não teve como detê-lo, e nem quis.


         ********************************


         - Agora, eu estou mais perto ainda do meu dia. O dia em que tudo vai acontecer... – uma sombra monologava em uma sala escura. Os archotes estavam intencionalmente mais baixos para causar um efeito mais sombrio e pertubador. – Está perto! Cada vez mais perto do fim, eu sinto! Hahahahahaaaaaaa...


         A risada ecoou, e os olhos faiscaram.


         - Enfim, minha teia está se fortalecendo, e a filha do diretor... Ah, a filha do diretor... ela dará o sangue para pagar a morte do Lord. E ela trará os outros a mim... Aaaah, sim.- ele pegou uma adaga de prata, e olhou seu reflexo na lâmina afiada e reluzente. – Siiiiiim! Todos eles irão pagar com o sangue. O seu próprio sangue. E eu vou rir no final. E muito! Haahahahahhahah!


         A figura sombria se afastou e Penny acordou suada na cama. Precisava desesperadamente falar com Jacob. Desesperadamente. E faltava apenas um dia para a partida final entre Grifinória e Sonserina.           


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N.A.: Depois de alguns séculos, a fic finalmente parece estar acabando, e aqui e capitulo, fresquinho. ><'' Enfiiiim... nem preciso comentar que estou morrendo de vergonha com a demora, pois eu como leitora assidua de mts fics odeio ficar esperando os caps, mas a situação se complica qnd se está à beira do precipício... (momento emo on)¬¬ é o vestibular, agora o novo enem . mas prometo, e dessa vez é pra valer, que o penultimo e o ultimo capitulos sairáo bem mais rápido, e serão cheios de emoção. (momento emo off) beijos da autora 

XOXO          

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