Revelações bruxas



Revelações bruxas

Era um começo de manhã aparentemente normal para todos os paulistanos. O dia estava nublado e ainda ia ocorrer muita coisa na capital mais agitada do Brasil. Tudo parecia normal, menos por uma certa loira que caminhava alegremente pelas ruas secundárias de um bairro de classe alta. Penélope Foster estava radiante. Ela sabia o que esperava dentro do envelope. Aliás, ela sempre soube disso a vida toda, mas para ser o que queria, precisava daquele papel, e agora o tinha. Era uma sensação incrível. Ela olhava para o envelope pardo e mal se controlava, queria ver o rosto de seus pais quando vissem que finalmente sua filha fora convocada por Hogwarts. Novamente olhando para o envelope ela sente uma coisa estranha: uma sensação de déjà vu e dá uma estancada. Ela já havia feito isso, não? ”Não, porque você agora que está sendo solicitada pela escola, sua louca!” Ela tenta se concentrar, e percebe que pensa que já se viu carregando esse mesmo envelope porque havia sonhado alguma coisa parecida alguns dias atrás. Ela se assusta com a lembrança, mas logo em seguida continua o caminho para sua casa com o mesmo entusiasmo. Logo chega em uma casa grande, de gradeado e totalmente em estilo europeu. Apesar de ainda ser de manhã, ela sabia que os pais estariam em casa, porque eles trabalhavam no ramo da botânica, fabricando perfumes, e possuíam várias espécies raras de flores, inclusive algumas ainda desconhecidas pelos trouxas, porque eram bruxas, e era com essas que eles mais faturavam.

- Mãe!! Pai!! Mãe!! Paai!! - ela chega gritando, já não estava mais nem aí com a sua pose britânica, queria contar a novidade.

- O que houve, filha? Está com dor de cabeça de novo? Por que você saiu da escola tão cedo? - a mãe chega primeiro ao encontro da filha. Ann Foster era muito bonita, tão bonita que poderia ser até modelo, mas o que ela mais gostava mesmo era pesquisar novas espécies de plantas com seu marido, Joseph Foster.

- Não, mãe! Eu estou bem, sério! Mas onde está meu pai?

- Estou aqui! O que aconteceu, mocinha? - o pai chega. Joseph, apesar de viver no Brasil há mais de 16 anos ainda tinha o sotaque altamente carregado de estrangeiro. Ele e a mulher formavam um belo casal.

- Pai, mãe, aconteceu: fui escolhida para Hogwarts! - ela sorriu

- O que?

- É sério! Peguem esse envelope, se eu estiver correta, aí tem a carta do Diretor e a lista de materiais.

- Mas não pode ser, querida, todos esses anos, e só agora você...

- Como isso aconteceu, Penny? - a mãe exclama por explicações.

Penélope começa a explicar resumidamente como tudo ocorreu depressa naquela manhã de Setembro, e quanto mais ela entrava em detalhes, mais os pais se animavam. No fim, concluíram que a filha realmente estava certa: iria para Hogwarts.

- É incrível! Minha filhinha finalmente vai para minha escola! Ah, querida, estou radiante! - a mãe abraça a filha. O pai também dá um abraço nela, mas parece preocupado.

- Por que só chamaram-na agora, filha? Você chegou a questionar a Tonks?

- Não, pai... Afinal, nós estávamos na frente da Diretora, e eu não queria causar alarde. E tenho a ligeira impressão de que os meus colegas também não sabiam que eram bruxos.

- Que complicado!

- Acho que ela foi chamada por causa das visões! - a mãe fala

- Também acho, só agora que elas se tornaram freqüentes, não é mesmo?

- Ah, eu nem sei se são visões mesmo! Como poderia ser por causa disso?

- Já não lhe falamos que somos descendentes de Cassandra Trelawney?

- Isso não quer dizer nada, nem se sabe se ela não era uma charlatã!

- Mas as predileções dela davam certo, filha!

- Isso é o que os outros pensam! E além do mais, não quero ser vidente! E minhas visões ainda não estão acontecendo, podem ser só sonhos estranhos, e acho que é isso mesmo...

- Mas... - a mãe começa, mas é interrompida pela filha.

-Mãe, por favor, vamos parar, sim? Precisamos ajeitar minhas coisas! E comprar mais roupas!

- Ela está certa, querida! Vamos, precisamos ajeitar as coisas dela. E falar mais da escola para ela. Qual era mesmo o nome daquele livro que você tinha?

- Era “Hogwarts: uma história”.

- Certo, iremos comprá-lo para você, Penny.

- Ótimo! - a garota exclama feliz.

Eles saem para fazer compras, mas Penélope ainda tinha na cabeça o déjà vu. Não queria ser de jeito algum uma vidente, mas ela não podia deixar de lado o fato de que tinha visões e que elas a haviam feito entrar para a escola com que tanto sonhara. Quando chegasse a Hogwarts, prometeu a si mesma que a primeira coisa que faria seria perguntar ao diretor se essa era mesmo a explicação correta, pois ainda tinha suas dúvidas.


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Denis caminhava lentamente pelas avenidas movimentadas da cidade. Ele preferira ir caminhando para tentar espairecer e entender aquela história de “promoção”. Apesar de muito confuso, e sem rumo, nada disso passava pela expressão de seu rosto, ao contrário, ele parecia que estava desfilando pela calçada, sem problema nenhum. Quando chegou à esquina do seu apartamento, o garoto dobrou e entrou no prédio, que era um dos melhores da zona leste. Lá, se dirigiu ao apartamento número 2009 e entrou. Foi recepcionado pela sua mãe, o que já era uma coisa bem estranha.

- Filhinho! O que aconteceu? Arranjou confusão na escola? Olha, desse jeito seu pai vai ficar bravo! - Goreth exclama. A mãe do garoto parecia uma Barbie: loira, dos olhos e pele claros, alta, magra e fresca, como uma perua deveria ser. Agora, de uma coisa não podia se acusar Goreth: ela criará bem seu filho, porque, para ela, ele era o seu bem mais precioso, isso porque os médicos diziam que ela não conseguiria engravidar por causa de uma doença que tivera na infância. Mas depois de se consultar com o doutor Rogério, ainda principiante, ela conseguira realizar o sonho da sua vida: ser mãe.

- Mãe, eu não sei o que está havendo direto. A diretora me chamou, e chegando lá, tinha uma mulher que disse que eu havia sido sorteado para ir para Londres, com tudo pago para uma escola lá... E sei lá o que mais! A minha cabeça já ta até doendo com essa enrolada toda.

- Calma, anjinho! Eu e seu pai vamos ajeitar isso. Deixa-me ver essa carta que está na sua mão?

- Ta. Aí ela me entregou esse envelope aqui. Disse que você e o papai precisariam ler para decidir se eu iria e para me contar outras coisas. Eu não entendi bem, mas... Parece que é importante.

Ele entrega a carta parda para a mãe que a abre. Depois disso, tudo começou a ficar mais estranho ainda.

A perua rasga a carta de modo delicado e começa a ler, mas a sua reação não foi nada delicada. A cada palavra da carta ela parecia se desapontar e se amedrontar. Denis começou a se preocupar, a mãe já estava mais branca do que o normal.

- Mãe? O que houve? O que tem na carta?

- Querido, seu pai vai lhe explicar. Eu não saberia por onde começar...

- Como assim? Do que se trata?

- Espere o seu pai, sim? Ele virá e lhe explicará tudo! - a perua sai correndo da sala, pega o telefone sem fio e se tranca no quarto. Dessa vez o marido teria que largar tudo e vir ver o seu filho, ela não estava nem aí.



Algumas horas depois o médico aparece em casa. A essa altura o clima já estava tenso demais. Denis já pensava que a carta se tratava de uma tentativa de seqüestro, e a mãe se trancara na sua suíte e se recusava a falar qualquer coisa.

- Pai! O está acontecendo?

- Calma, filho. Cadê sua mãe?

- Está lá dentro trancada na suíte. Eu quero saber o que está acontecendo!

O doutor Rogério sai da sua sala e se encaminha para o quarto em que ele e a mulher dormiam e onde ela estava para evitar o filho. Ela não podia acreditar que ele havia sido escolhido pela escola, depois de todos esses anos e só agora...

- Querida... O que aconteceu? Você tem certeza de que isso é...

- Veja você mesmo - ela lhe corta. O médico pega a carta e reconhece: não era mentira, e dá o maior sorriso de sua vida. Era verdade: Seu filho era bruxo e iria para a sua escola! Mas ao seu lado a mulher era totalmente o seu oposto.

- Meu amor! Nosso filho é bruxo! E vai para Hogwarts! Não é maravilhoso? - ele pergunta extasiado.

- Não! Não é! Querido, nosso filho terá que ir para Londres! Longe de nós, ele irá sozinho para lá?

- Claro! É assim com todos os alunos, a partir dos onze...

- Mas você disse que ele já tinha passado da idade de ir! Por que agora estão pedindo que ele vá?

- Eu não sei! Também vim pensando nisso desde que você me ligou, mas agora que vi a carta, não me resta dúvidas: é uma carta da minha escola, e aqui diz que ele embarca sábado, que maravilha!

- O que? Você diz “que maravilha”? O nosso filho vai para um lugar distante cheio de coisas que ele não tem a mínima idéia de que existia, e você diz “que maravilha”? Está louco? - a perua explode.

- Ora, não seja por isso! Se ele não sabe de nada, agora ficará sabendo. FILHO! - ele dá um grito abrindo a porta, mas, para a sua grande surpresa, Denis estava atrás da porta em pé e com a cara totalmente amarrada de quem havia sido feito de idiota.

- Filho! Você já está aqui, que maravilha! Então já posso lhe explicar tudo. - o pai fala totalmente sem graça por perceber que o filho ouviu tudo.

- Como vocês puderam me esconder uma coisa dessas? E, para falar a verdade, que tipo de coisa é essa! Não entendi nada do que vocês falaram, ou quase nada... - ele começa a coçar a cabeça loira. O pai o conduz para a cama, onde a mãe está sentada e o coloca do lado dela, ele se deixa conduzir.

- Então... Vamos ver... Acho que tudo começou quando eu, um jovem estudante de saúde bruxa, tive que largar meus estudos para poder ajudar meus amigos na guerra que acabara de estourar, e nosso lado saiu vitorioso, graças a Merlim! - ele dá um sorriso radiante. Goreth ouvia tudo com pouco entusiasmo, já que sabia há séculos que o marido era bruxo, mas Denis parecia não estar entendendo nada.

- E quando foi essa guerra? - ele pergunta.

- Em 1997, só durou um ano.

- O senhor bebeu uma daquelas bebidas estranhas da sua adega, não foi? Pai, a última guerra do nosso século foi aquela dos Estados Unidos e do Iraque!

- Essa foi a última guerra trouxa, filho.

- Trouxa?

- É, a última guerra daqueles que não são bruxos, a nossa última guerra foi contra o Lord e seus seguidores, mas essa é outra história.

- O senhor ta louco se acha que eu vou acreditar nessa loucura! – ele exclama. ”Guerra? Lord? Seguidores? Que palhaçada é essa?”

- Anjinho, seu pai está falando a verdade, querido!

- Até você, mãe? Poupe-me!

- Deixa, querida, eu vou ter que mostrar a ele. - o pai fala cansado. Então ele vai até o armário atrás da porta e abre a última gaveta. Nessa última gaveta Denis vê o pai retirar um fundo falso, e desse fundo falso ele retira um objeto fino enrolado delicadamente em um pedaço de seda. Rogério desenrola o objeto e Denis vê um pedaço de madeira muito bem polido e fino, num formato que ele não gostou muito.

- Pai, o que é isso agora?

- Uma varinha, a minha varinha. Ela tem 16 centímetros, é de cedro e tem um fio da cauda de um unicórnio da região dos Alpes. É uma boa varinha para feitiços e poções em geral. Adoro-a! Então, o que você quer beber, filho?

- Beber? Como assim?

- O que quer beber? - o pai pergunta mais inquisitivo. Denis se espanta e fala de uma vez, sem pensar.

- Suco de maracujá!

O pai dá uma sacudida com a varinha e, sem mais nem menos, surge na frente do garoto um copo de cristal com o suco.

- E você querida?

- Um pouco de chá de camomila, e um calmante, se não for pedir demais!

Ele dá mais uma sacudida e os pedidos da mulher aparecem. Denis não sabia mais o que pensar, ele tinha a impressão de que o pai virara um ilusionista, mas como ele materializara aquelas coisas do nada?

- Nossa, quero fazer esse curso de mágicas também! Foi com o Mister M ?

- Não é curso de mágica, é magia, filho! M-A-G-I-A! Agora você acredita, não é?

- Eu pulo essa pergunta até o final da sua história.

- Ótimo! Pelo menos você vai me ouvir. Bem, onde eu parei?

- Você e seus companheiros tinham saído da guerra bruxa, vitoriosos. - Goreth fala, tomando um gole do chá e engolindo o calmante logo em seguida.

- Ah! Sim, lembrei. Bem, depois de acabada a guerra, era de se presumir que o governo bruxo ainda iria demorar a se reorganizar, e eu não queria esperar, estava querendo logo me formar, e queria sair do país. Havia perdido muitos amigos na guerra e, inclusive, uma noiva. Então, decide vir para o Brasil, não foi uma decisão muito fácil, meus pais ainda estavam vivos, e não queriam me ver longe, mas eu tive que vir, não conseguia mais agüentar, apesar de termos ganho, nossas perdas foram imensas. - ele fala de um modo triste e com um olhar distante. - Então eu vim! Claro, que antes de vir aqui dei uma passada por Portugal, que ficava lá na Europa e tem uma língua parecida com o português, fiquei lá uns dois anos, e em 1999 cheguei aqui, vim para São Paulo, mas não conhecia ninguém! Era realmente muito de triste. Continuei meus estudos, só que resolvi me voltar para a saúde trouxa, fiz medicina, e com a herança dos meus pais, fundei meu consultório. Estava começando a progredir e crescer, e começava a fazer mais experiências com os remédios trouxas, até que sua mãe apareceu no meu consultório. Você se lembra, querida?

-Oh! É claro que me lembro, meu amor! Eu fui lá porque me disseram que você era um dos melhores médicos da nova geração e eu estava muito abatida por causa da minha dificuldade em engravidar, você me curou, e também me conquistou. Eu te amo. – ela dá um enorme sorriso com os dentes altamente brancos e beija o marido. Denis já havia ouvido essa parte da história um milhão de vezes: a mãe era casada com um velhote que queria porque queria que ela lhe desse um herdeiro antes dele morrer, mas Goreth tinha um problema no ovário que a dificultava esse desejo. Até que ela foi ao escritório de Rogério e, segundo eles, foi amor à primeira vista, Goreth deixou o velhote e se casou com o doutor, e mesmo sem a fortuna da família, que a havia deserdado, ela se deu bem, já que o marido começou a ganhar rios de dinheiro com sua linha de hospitais, e mais tarde com os seus próprios remédios.

- Ok! Essa parte eu já sei, mas... Mãe! Você sabia que ele era bruxo? Se é que isso é verdade, né...

- É claro que é verdade!

- Calma querido, toma um chazinho, vai! Denis, anjinho, não fale assim com seu pai, e a resposta é não, claro que eu não sabia, mas depois que nos casamos ele me contou, me levou até Londres, eu ainda conheci seus avós antes deles morrerem e eu entendi, até porque é verdade, filho.

- Mas, se é verdade por que vocês só estão me contando agora? Por que não me contaram antes?

- Porque achamos que você não seria bruxo.

- Como assim?

- Quando você nasceu filho, eu esperei ansiosamente que logo você começasse a mostrar os sinais de que seria um bruxo, como eu. Normalmente, as crianças que são bruxas acabam fazendo ocorrer incidentes estranhos, coisas sem explicação... Mas você não fez nada disso, foi uma das crianças mais normais que eu já vi, e aí eu tive que me conformar: achei que, como sua mãe teve aquele problema para engravidar e você não tinha nenhum contato com o mundo bruxo, porque vivíamos aqui no mundo dos trouxas, você não se desenvolveria, e conclui, com pesar, que você era um aborto.

- Putz, aborto? Mas eu nasci!

- Eu sei que você nasceu, oras! Aborto é o nome que se dá às pessoas que são filhos de bruxos e não viram bruxos, nascem sem poderes.

- E você ficou triste porque eu não era bruxo?

- Aham. Muito. Mas nunca culpei sua mãe ou me arrependi de ter vindo para cá. Vocês são a melhor coisa que me aconteceu. E decide seguir a vida, até hoje, quando sua mãe me liga e me diz que você recebeu a carta de Hogwarts! E é verdade, eu não posso estar sonhando! Você é bruxo filho! – ele pega o pedaço de papel e se emociona.

- E essa escola?

- Ah! Hogwarts é incrível: a melhor escola da bruxidade. Você vai adorar, fica no interior da Grã-Bretanha. Eu estudei lá antes de vir, claro, e por isso você tinha essa vaga lá. E pelo o que eu estou lendo aqui, eles estão convocando não só você, mas outras pessoas também! Parece que isso faz parte de um novo programa de reintegração de possíveis não-abortos! Ah, você não é aborto, filho, não é ótimo?

- É, acho que é. Quer dizer que a Dill e a cdf também são bruxas?

- Quem?

- É que elas duas também foram chamadas para ir para essa viagem disfarçada. Putz! sabia que isso era uma baita mentira.

- E era! Provavelmente era só para não chamar a atenção da diretora. Quem foi lá falar dessa viagem para vocês?

- Uma tal de Tonks, Ponsks, sei lá...

- Ah! Ninphadora Tonks! Ela é uma das professoras de lá! Que magnífico, perfeito! E ela levará vocês, não é? Aqui diz que vocês irão de avião, nossa, que jeito trouxa! E partirão no sábado! Perfeito, até porque vocês já estão perdendo uma semana de aulas, quanto mais rápido forem, melhor.

- Certo... - Denis concorda com o pai, na verdade não sabia nem o que estava falando, só pensava na história.

- Agora você acredita, filho?

- Pai, como eles sabem que eu sou bruxo? Nunca me viram fazer nenhuma, ham, bruxaria! Como sabem que eu sou bruxo mesmo?

- Só tem um jeito de ver isso: venha aqui e pegue a minha varinha. - o pai fala sério

- O quê?- o garoto pergunta atônito

- Você ouviu, pegue a minha varinha e a use, Denis!

- O senhor quer que eu pegue na sua varinha?

O pai percebe o duplo sentido da pergunta e olha para o filho com bravura. Denis percebe, mas não se importa.

- Mas, pai, eu não preciso pegar na sua varinha, preciso? Quer dizer, essa coisa tem uma aparência, assim, meio que, sem querer te encher, sabe? Mas a forma dela, bem, é... Estranha, sacas?

O garoto se enrolou todo. Ele não queria mesmo pegar naquela coisa de formato muito fino. Esse típico preconceito contra coisas daquele formato é muito comum em brasileiros, que tem um senso de humor e imaginação fora dos padrões normais do resto do mundo.

- Denis Cavalcante! Deixe de ser patético e venha usar a minha varinha! - o pai ordena

- Está bem! Eu pego na sua varinha! Mas que fique bem claro q foi sob protestos! - ele se levanta.Putz, eu meto a minha mão em cada coisa! Ele chega perto do pai e recebe a varinha nas mãos. Primeiramente não gosta da sensação de estar pegando no objeto e sente meio idiota levantando-a na mão direita, a que usava.

- E agora, o que eu faço?

- Balance-a! Experimente-a! Se você se adaptar a ela, vai usá-la. Vamos, faça como eu fiz.

O garoto levanta a varinha e franze a testa. O que estava fazendo? Agora ele quer que eu balance a varinha dele... Bem, não custa nada tentar! Ele tenta se concentrar e a balança, tentando imitar o movimento do pai, tentando imaginar um suco. Então...

CRACK!

- Oh! Meu vaso! Denis!

- Foi mal, mãe! Eu não fiz por que quis, eu queria fazer aparecer um suco!

- Não se preocupe depois eu conserto. Vamos, tente de novo, e dessa vez, concentre-se mais, você deve estar com o poder muito concentrado aí, depois de 16 anos sem poder usá-los. Vamos, de novo!- o pai pede, e pai pede e o garoto consente. Agora podia sentir que ele estava certo. E a sensação melhorara. Ele abanou novamente a varinha e conseguiu conjurar o copo de vidro com um suco bem ralo. Ele ficou em êxtase.

- Vejam, eu consegui!

- Parabéns, anjinho, que bom!- a mãe explode de emoção e o pai dá tapinhas no ombro do filho, estava extremamente orgulhoso do seu filho, era quase um sonho. Denis também sorria de orelha a orelha, mas de repente, tudo começou a rodar e ele começou a tontear. Ele caiu no chão ainda consciente e consegui juntar forças e se encostar-se à cama.

- Filhinho! O que você tem?

- Denis, o que aconteceu?

- Nada, só uma tontura, não se preocupe, já estou bem. - ele diz se levantando, mas ainda se sentia tonto e até um pouco enjoado. – Pai, eu vou sempre sentir isso quando fizer uma magia?

- Bem, não era para você sentir isso... Não entendo, deve ser porque você nunca fez isso e tentou logo conjuração, isso dá certo trabalho.

- Certo. - ele fecha os olhos e respira, não estava nada bem. Começou a ponderar, rapidamente, se queria mesmo ser aquilo, um bruxo. Parecia assustador e ao mesmo tempo convidativo. Ele olhou para o pai, e parece que dessa vez toda a sua frieza havia ido embora, pois o pai e a mãe logo perceberam que ele estava analisando a situação, e não a via com bons olhos.

- O que foi meu anjinho? Você quer ir mesmo a essa escola?- a mãe pergunta aflita, estava mais calma, mas não se conformava em ter de se separar de seu anjinho querido. Depois dessa pergunta, o pai levanta o rosto branco e encara o filho preocupado. ”Ele não recebeu a notícia do jeito que eu esperava... “

- Será que eu posso ir para o meu quarto?- ele diz.

- Claro, filho, vá e pense um pouco, ok? Essa viagem pode ser muito importante para você. Pense com carinho, não irei te obrigar a ir, mas saiba que seria muito importante para mim.

-Certo... – ele diz de novo. ”Cansei de dizer certo! Quero ir para minha cama, droga!”

O loiro sai do quarto dos pais e vai até a sua própria suíte. Lá, ele se joga na cama fofa e deixa a cabeça descansar no travesseiro. Parecia que ele havia acabado de sair de uma aula dupla de físico-química, e, como sempre, as coisas que o professor falava entravam na sua cabeça e não saíam, mas também não eram processadas, e por isso elas ficavam lá dentro, ocupando espaço e o deixando com uma tremenda dor de cabeça. Era uma sensação horrível. Ele levanta a cabeça e olha para o relógio digital que havia na mesa de cabeceira: eram 3 horas da tarde. ”Tomara que ninguém sinta a minha falta nas próximas 24 horas!”. E pensando assim ele abaixa a cabeça e dorme profundamente, já que não conhecia jeito melhor de parar com aquelas dores, pelo menos por enquanto.


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Já eram 03h30min da tarde. Dill agora que chegava em casa. Desde que se despedira de Denis ela mentira: sua mãe nunca estava em casa àquela hora da manhã, naquele dia ela sabia que a mãe, Cristina, estava de plantão, e só chegaria a casa à tarde. Por isso ela havia decidido ir visitar seus amigos da banda, foi almoçar com eles, e finalmente vindo para casa. Sua mãe chegaria logo.

Durante toda a manhã que passara com os “amigos”, ela não mencionara a carta, não queria mais pensar nisso, aliás, não conseguia nem saber o que pensar. ”Coisa de louco!”, era só isso que conseguia de responder a si mesma quando sua mente começava relembrar os acontecimentos, e ela os repelia. Mas agora que estava em casa, não conseguia se segurar de tanta curiosidade. Depois de trocar de roupa, tomar um banho caprichado e se acalmar um pouco, ela se senta no sofá da sala de maneira bastante confortável, colocando os pés na mesinha de apoio da mãe e pega o envelope.

-Bem, bem, bem... O que será que temos aqui? Será que aquela mulher estava falando a verdade? Não, com certeza não. Então por que ela mentiu? As respostas estão aqui nesse pedaço horrível de papel... Mas ela disse que era para dar para minha mãe... Mas tudo que é dela é meu também, então... Não vou fazer mal se abrir, ora! - ela conclui com um sorriso maroto. Começa a abrir o envelope pardo, e logo percebe que não tinha só uma carta, mas duas. Ela lê o primeiro pedaço de papel, com palavras que ela nunca pensou existir antes. ”Hogwarts, bruxos, projeto anti-aborto, escola de magia e bruxaria... Mas o que diabos é isso?” Ela não estava crendo, isso só podia ser uma brincadeira muito bem feita, ou muito idiota. E seu espanto só cresceu quando ela começou a ler a segunda carta. A folha estava toda escrita com uma caligrafia fina e pequena, mas nada que não desse de entender, aliás, a letra de Dill era até parecida com aquela que ela via. Dill não conseguiu ler nem metade da carta, só leu a primeira linha, depois desistiu, largando a carta no chão e se largando no sofá. ”Isso é loucura... Só pode ser... EU QUERO A MINHA MÃE!” A garota dá um tremendo salto no sofá e sai correndo para o quarto,totalmente apavorada e desajeitada. A cena poderia ter sido até engraçada, se não fosse pelas circunstâncias. Ela chega ao quarto, se tranca e pega o telefone tremendo. No chão, a carta que ela não conseguiu ler estava debaixo da mesa de cabeceira, e só se conseguia ver a primeira linha.

Para minha filha Dillyan e sua mãe, Cristina. Como sempre, minha querida, eu peço desculpas.




A enfermeira chamada Cristina Andrade estava terminando seu turno de 24 horas na sede principal do hospital Cavalcante. O lugar era ótimo para se trabalhar, e ela adorava ser enfermeira, era seu sonho de infância salvar vidas, e graças a um certo homem de cabelos negros que uma vez cruzara sua vida, ela agora tinha esse emprego, no qual, com certeza, ficaria sua vida toda. Enquanto pensava na sorte de ter cruzado com Severo Snape e nas conseqüências que isso acarretara, uma mulher um pouco mais velha que ela a chama.

- Cristina, sua filha no telefone, é melhor vir logo, ela não parece muito bem.
”Ah, Dill! O que você fez dessa vez, meu amor?” Ela adorava sua filha. Mais até do que isso, ela a amava. Dill era a coisa mais valiosa que ela tinha, e apesar de a filha estar dando muitos problemas ultimamente, ela não se desesperava de todo, até porque ela própria, na sua adolescência, tinha dado mais problemas do que ela. E só depois de Severo cruzar seu caminho ela realmente entendera que precisava se aquietar e começar a pensar no seu futuro. Ele a ensinara tanto!

Cristina chega à parte administrativa da enfermaria e atende ao telefone.

- Alô?

- Mãe?

- Sim, meu amor? O que houve?

- Venha para casa, agora- disse a ruiva sublinhando a última palavra.

- O que houve, meu bem? Eu já...

- Mãe! É urgente, sim? É um caso sério, não é mais uma das minhas loucuras! Por favor, venha, só você pode me dizer o que está acontecendo... Eu...- e ela dá uma fungada muito sentida, como se estivesse engolindo o choro-... Eu preciso que você me explique uma coisa, sim? Promete que já está vindo?- a ruiva implora. Queria as respostas. AGORA!

- Tudo bem, meu amor, já estou indo, calma, seja o que estiver acontecendo, eu te ajudarei, sim? Já vou indo, acalma-se! Beijos. - e a loira desliga o telefone, no que é imitada pela filha do outro lado da linha.

”E agora, meu Deus? O que será que aconteceu?Será que ela fez alguma coisa estranha? Melhor chegar logo em casa!” dizendo isso ela pega suas coisas rapidamente e pega um táxi para casa.




A casa de Cristina e Dillyan ficava em uma de classe média da região sul, perto da escola São marcos. Desde pequena e ruiva estudava lá. Cristina sempre quis ter uma casa e não morar em apartamentos achava-os muito perigosos. Desde o nascimento de Dill, elas duas moravam lá, quer dizer, primeiramente era ela, Dill e Severo. Mas ele teve que voltar para a Inglaterra tão inesperadamente como quando veio para o Brasil e deixara a “mulher” e a filha lá. Eles dois não haviam se casado, Cristina não quis, sempre pressupondo que alguma coisa iria acontecer para atrapalhar a sua felicidade, ele a pedira diversas vezes e a resposta era sempre a mesma ”Não, vamos esperar mais um pouco, sim?”, e dava um sorriso radiante para consolá-lo.

A vida com ele fora maravilhosa, ela nunca encontrara ninguém parecido, e até hoje falava isso para Dill, que morria de raiva dele por não entender o porquê de o pai ter abandonado-as. ”Talvez um dia eu tenha que contar a ela..”. Mal sabia ela que esse dia era justamente hoje...

Na modesta casa das duas, Dill andava de lá para cá, só pensando nas cartas que estavam na sua mão agora, mas ela não tinha coragem de abri-las e lê-las. Tinha medo de que o que lesse pudesse ser verdade, ou seria só coisa da sua cabeça?

[i]”Será que eu estou ficando louca?[/i]Não podia ser! Ela só conhecia UM Severo Snape, e esse cara era o seu... ”Onde é que a minha mãe se meteu?”

Não demorou nem 15 minutos depois desses pensamentos, e Cristina chegou, abrindo a porta e entrando desajeitada. Dill sentiu do quarto o cheiro da sua mãe: uma mistura de perfume doce e óleo de amêndoas. Quando Cristina queria puxar o saco dela falava que ela tinha o mesmo cheiro, porque as duas usavam os mesmos produtos de pele, mas ela nunca acreditava.

Por incrível que pareça Dill, que há 15 minutos atrás estava apavorada, agora aparecia para a mãe com as duas mãos na cintura e olhando-a de cima para baixo, as cartas apertadas na mão, e um olhar totalmente furioso.

- Mãe!

- Dill, meu amor, o que houve?

- Simplesmente isso!- e jogou as cartas na cara da mãe. – Explique-se! O que diabos isso significa? Eu quero saber, A-G-O-R-A!

Cristina pega os papéis amassados e lê. Estarrecida, a jovem mãe passa de uma folha para outra, e não consegue segurar as lágrimas. ”Uma carta de Severo! Oh, ela vai ter que ir para lá! Essa não! Controle-se, Cris. Você sabia que um dia você teria que fazer isso.” Cristina dá um grande suspiro e olha para a filha decidida: conhecia Dill, e apesar de estar fazendo essa cara de durona, ela estava gritando por dentro. Ela teria que agüentar mais, pois ainda havia muita coisa que ela não sabia.

- Sente-se aqui do meu lado, meu amor, por favor. - ela pede educadamente. O que a surpreendeu foi ver Dill obedecer quase imediatamente o pedido. Então, ela começa, do jeito que ela mais acha apropriado.”Seja o que Deus quiser!” - Então, querida, você sabe por que eu a chamo de “meu amor”, não é?

- Claro que sei! Você me explicou mais de um milhão de vezes. É porque você só chamava o meu pai de “meu amor”, e quando ele foi embora você começou a me chamar assim porque acha que eu sou também um pedaço dele, que ele deixou aqui para você sempre se lembrar dele. - ela fala de modo sério, mas continua. - Que coisa mela cueca! Argh! -e termina de maneira sarcástica, colocando o dedo dentro da garganta e imitando um acesso de vômito. A mãe dá um sorriso.

- Certo, é isso mesmo. Para eu lhe explicar tudo que está aqui nessa carta preciso contar a nossa história de novo, você deixa?- Dill faz uma cara de quem analisa o que estão lhe propondo, e com uma careta concorda. Sempre era uma tortura ouvir a mãe falando daquele homem, que a abandonou, com amor. ”Ele não merece isso!”

“Tudo começou em uma terça! Eu me lembro bem, porque eu estava sentada no banco da praça, com os olhos inchados porque havia brigado com sua avó de novo, e tinha ido lá para tentar espairecer. Não estava nada bonita e muito brava. Então, eu levantei os olhos e vi um cara, de rosto muito branco, cabelos negros caindo no queixo, um nariz não muito bonito, mas uma boca branquinha bem feita. Ele sorria para mim e me estendeu um paninho para eu limpar meu rosto. Eu peguei e agradeci. ’Não tem de quê! ’, ele falou, aí eu percebi que ele não era daqui. Ele se sentou e me perguntou meu nome, eu falei e ele me perguntou educadamente se eu poderia falar o porquê de estar chorando. Eu me lembro que o achei muito metido, mas não falei, afinal ele havia me ajudado. Então falei que havia brigado com minha mãe. ‘Hum, caso complicado. Minha mãe foi sempre legal comigo, mas meu pai, esse sim era um canalha.’, ele falou olhando para o nada, e eu fiquei meio surpresa. Ele não parecia ter mais de 30 anos e estava em boa forma, pelo o que eu via. Eu, de desbocada que sou, fui logo perguntando da onde ele era. ‘Da Inglaterra. Já foi para lá?’ ‘Não, nunca, mas espero poder ir lá, quem sabe algum dia. Adoro as bandas de lá.’ ‘Não conheço muito de bandas, não são meu forte, mas com certeza meus alunos conheciam muitas...’ E assim nós começamos a conversar. Eu o achei meio estranho, às vezes ele não falava coisa com coisa, sabe? Mas eu não me importei, achei que era porque ele era estrangeiro... conversamos o resto do dia, e eu, uma jovem de 18 já não me interessava por garotos da minha idade. Achava-os todos idiotas, aliás, desde que tinha 15 gostava mais de garotos mais velhos, você sabe. Eu o mostrei o caminho da minha casa, e quando estávamos nos despedimos eu lhe disse adeus e já fui lhe dando um beijo.(Essa é minha mãe! Dill adorava aquela parte.) Severo, claro, com aquele jeito inglês dele tentou disfarçar e dizer que não queria que as coisas fossem daquele jeito, afinal eu era muito nova, mas eu bem que sabia que ele queria aquilo muito antes de mim, se não queria, por que veio puxar papo comigo? Ah, eu gosto de ser direta, em tudo, aliás, você também. Encontramos-nos todos os dias seguintes, e assim foi durante dois anos. Foram ótimos! Os melhores da minha vida. A minha mãe o conheceu logo, e como sempre não gostou. Eu não me importei. Até que, depois dos dois anos decidimos morar juntos. Ele me pediu em casamento, mas eu sempre dizia não. Eu achava que nesses tempos não precisava mais se casar, e também achava que alguma coisa iria acontecer, minha vida sempre foi assim, Dill: sempre que eu achava que estava tudo bem, vinha alguma coisa e acabava com toda a harmonia! É uma sensação horrível. Mas, felizmente, nesse caso ela ainda demorou um pouco para acontecer. Em 30 de agosto de 2003 tive você! Foi a coisa mais linda da minha vida. Estávamos enfim felizes, e ficamos assim por mais dois anos. Até que Severo teve que ir...”

A mãe terminou essa primeira parte e deu um profundo suspiro, estava sendo muito difícil... E Dill não iria ajudar a tornar as coisas melhores, ela logo começou a falar e a pedir que a mãe continuasse.

- Vamos, essa parte eu já sei, agora, me conte o que você me escondeu todos esses anos!

- Bem, o que eu não contei a você é que o seu pai era, bem, especial, diferente. De um jeito que só ele sabia ser. Ele era rígido, tinha olhos que às vezes me pareciam saber tudo, tinha um jeito estranho de se portar, de falar, tinha umas expressões estranhas, sabe?

- Não. Como assim?

- Dill, ele não era estranho só por ser estrangeiro, era porque ele era uma coisa a mais: um bruxo.

Dill ouviu a expressão e não a associou de imediato. De repente começou a rir.

- Hahaha, mãe, você ta muito engraçadinha para o meu gosto. Mas eu não estou de brincadeiras hoje. Por favor, fale a verdade.

- Mas, isso É a verdade, meu amor. Ele era isso, um bruxo, e muito bom.

Dill fica pasma, olhava para a mãe diretamente nos olhos e não precisou perguntar de novo se ela estava mentindo: ali, nos olhos esverdeados dela estava estampado que era verdade. ”Impossível!” Dill ficou sem fala, começou a pensar em tudo que já ouvira do pai, e com certeza essa era nova

- Mas, mas, como isso é possível?

- Eu não sei, só sei que um dia, eu acordei e vi-o fazendo o café da manhã sair de uma varinha. E foi só. Eu desmaiei, ele me acordou com um encantamento e me explicou. Fiquei meio aturdida no começo, mas me senti bem depois, pois entendi todas as coisas esquisitas que ele fazia. Ele disse que queria ter me contado antes, mas não teve coragem. E talvez aquela fosse a melhor hora.

Dill não falou nada, apenas a olhou, mas não a estava observando e sim pensando. A falta de palavras pareceu à sua mãe um mau sinal, sempre era.

-Escute: isso não é nada do outro mundo, e não tem nada a ver com o que você via na TV a respeito, a comunidade de bruxos é até grande e muito discreta, tanto que todas as outras pessoas ainda acham que não existe mais esse tipo de coisa, inclusive você. Mas, como te convocaram para essa escola, agora você é uma deles. Isso explica todas essas tonturas suas, seus sonhos, esse seu suposto jeito de saber o que todos estão pensando, seu pai era igual. Eu não sei se você se lembra, mas ele passava tardes brincando com você, te colocava de frente para ele, e ficava olhando para você, dizendo para você se concentrar. Era um tipo de treinamento. Vocês passavam horas fazendo isso, e se divertiam à beça, eu não entendia o que era aquilo, mas talvez, agora que você vai para onde ele, você consiga uma explicação.

A ruiva nada falou, só a colocou em foco e perguntou.

- Por que ele foi embora?

- Porque, antes de vir ele era professor. Havia deixado a escola, por causa de uma guerra. Depois de terminada essa guerra ele resolveu vir descansar, e deixou a escola de lado. Por um tempo se viraram sem ele por lá, até que a diretora que já era velha morreu, e disse expressamente que queria que ele assumisse a diretoria. Ele não pode recusar e foi. Eu não queria ir, nunca iria deixar meu país! Se ele quisesse ir, que fosse. Conversamos muito a respeito disso, e eu deixei claro que ele deveria ir para realizar o sonho dele. Ele sempre falava bem do lugar, como se sentisse saudades, parece que somente lá ele conhecera um lar. Não o prendi, e assim, em 2005 ele voltou. Ainda me enviou cartas e tudo, queria saber de você. Mas nunca mais retornou, acho que ele acha que fiquei ressentida, e não tem coragem de ver você. Mas parece que mudou de idéia e agora quer ter você ao lado dele. O que acha? - a mãe se vira para encarar a filha.

- O que eu acho? Que todos vocês estão loucos! Que isso é uma pegadinha e eu não cai.

- Dill, é sério, por favor, pense!

- Não quero vê-lo, ele estava certo ao pensar que eu o enxotaria se ele pisasse aqui. Ele nos abandonou, por que ele simplesmente não recusou o pedido da velha? Nós éramos a família dele, que ele esquecesse o resto e ficasse conosco.

- Não é assim, filha. Eu não poderia ser tão mesquinha assim...

- É? Pois eu seria, você o deixou partir, e eu, eu fiquei sem pai! Por que você não o segurou? Por que não pensou em mim! Eu sofri esse tempo todo sem pai, e agora descubro que você que o deixou ir, isso não está correto!

- Dill, querida...

- Não, desculpe, mas eu, não consigo mais ouvir. Por que você nunca me contou isso?

- Porque achava que você não era bruxa, achava que você não possuía esses poderes, mas como você recebeu a carta, parece que estávamos enganados. Você não poderia saber, entenda. Era um risco para a comunidade dos bruxos.

”Loucura! Todos loucos! Cresci cercada de mentiras!” A indignação crescia dentro do peito dela, e ela não conseguia controlá-la.

- Dill, você vai para lá, ver seu pai?

- Não, nunca, ta louca? Ele não merece, putz, nem pensar!

- Mas, Dill, olhe a carta aqui, ele quer vê-la! Você já a leu?

- Não, fique com você, nuca quero mais ver esses pedaços de papel na minha frente.

- Dill! Dill! Por favor, Dill!



Já era tarde, Dill já estava trancada dentro do quarto, batendo a porta. A mãe começou a chorar e não se agüentou mais, se atirou no sofá. As coisas haviam fugido do controle, não era para ter sido assim. ”Ah, Severo! Me desculpe, eu não consegui!”

No quarto Dillyan pega o ipod e se joga na cama, não queria mais pensar em nada, mas lembranças remotas da sua infância a assolavam. Via um homem de cabelos negros a abraçar. Lembrava-se de fios presos na sua mão, de olhos extremamente negros a fixar os dela, meio castanhos. E ela a descobrir os segredos que continham neles. Tentou afastar eles da cabeça, mas não conseguiu. Ligou o ipod e ouviu a próxima música.

Estátuas e cofres
E paredes pintadas
Ninguém sabe o que aconteceu
Ela se jogou da janela do quinto andar
Nada é fácil de entender

Dorme agora huhuhuhu
É só o vento lá fora
Quero colo
Vou fugir de casa
Posso dormir aqui
Com vocês?
Estou com medo tive um pesadelo
Só vou voltar depois das três
Meu filho vai ter
Nome de santo
Quero o nome mais bonito

É preciso amar as pessoas
Como se não houvesse amanhã
Por que se você parar, pra pensar.
Na verdade não há

Me diz por que o céu é azul
Explica a grande fúria do mundo
São meus filhos que tomam conta de mim

Eu moro com a minha mãe
Mas meu pai vem me visitar
Eu moro na rua não tenho ninguém
Eu moro em qualquer lugar
Já morei em tanta casa que nem me lembro mais
Eu moro com os meus pais huhuhuhu

É preciso amar as pessoas
Como se não houvesse amanhã
Por que se você parar, pra pensar.
Na verdade não há

Sou uma gota d'água
Sou um grão de areia
Você me diz que seus pais não lhe entendem
Mas você não entende seus pais
Você culpa seus pais por tudo
E isso é absurdo
São crianças como você
O que você vai ser
Quando você crescer?


A música terminou e ela começou a chorar.”Droga de ipod, por que sempre me confude ao invés de me ajudar?” Ela retira o aparelho do ouvido e ouve um ruído da porta. A mãe havia colocado a carta de Severo pela fresta com um recado dela própria. Ela correu e pegou os dois.

Filha,depois de ouvir música, por favor, leia. Eu imploro, para o seu bem. Eu te amo, ele também. E a propósito, foi ele que lhe comprou o ipod. Você se lembra de eu ter falado que havia sido papai noel, não é? Porque eu não havia sido. Foi ele. Te amo³.=)

Ela começou a rir em meio às lágrimas. Deu uma olhada no ipod preto e compreendeu o por quê dele parecer meio louco. Pegou a carta e a leu...

Para minha filha Dillyan e sua mãe, Cristina.


Como sempre, minha querida, eu peço desculpas. Dillyan, agora você já deve saber por que eu sumi por todo esse tempo, e com certeza deve estar morrendo de raiva de não ter sabido antes o que aconteceu, então, começo me desculpando. E agora lhe parabenizo: finalmente você vai ingressar no mundo bruxo. No início achamos que você iria ser uma trouxa normal, isso até alguns dias, você deve se lembrar bem do dia: a última quarta, quando você se descontrolou durante o ensaio da sua banda, e quase fez a cabeça do seu baixista estourar. Não, filha, aquilo não era a sua imaginação, nem a dele, a cabeça dele quase foi pelos ares mesmo. Um pouco imprudente, certamente, mas os bruxos novatos nunca conseguem se controlar, e com você foi mais surpreendente ainda, pois não sabíamos das suas habilidades. Nem das suas nem das dos seus amigos que estão vindo com você, eles também foram uma surpresa e tanto.

Sei que você está esperando explicações minhas, mas vamos deixar isso para quando nos vermos, está bem? Por enquanto, só o que peço é que você se acalme, arrume suas coisas e venha. Garanto que, apesar de a idéia parecer um pouco louca agora, quando você chegar verá que valeu a pena. E pelo o que eu saiba nem você nem sua mãe são de dar passos pequenos. Não é?

Sei que a carta está horrível, mas não sou bom com cartas, pergunte à sua mãe. Minhas cartas de amor para ela pareciam marchas fúnebres. Eram horríveis.

Durante todos esses anos eu me perguntei: será que ela ainda se lembra de mim? Pois eu me lembro de você. Seus olhos são os meus. O resto é da sua mãe, mas segundo ela, parece que você herdou algumas características psicológicas minhas, como por exemplo, o seu poder de ler a mente das pessoas. Desculpe, eu disse ler mentes? Não, isso não se trata de ler mentes, e sim de examinar as mentes através de variadas técnicas e concentração. Mas, aparentemente você não precisou de técnica ou concentração, você faz isso quando quer. O que me faz crer que você possa ser uma legilimens nata. E o seu outro amigo, o senhor Denis Cavalcante? Você com certeza já percebeu que não pode ler a mente dele, isso porque ele é um oclumente nato. E a senhorita Penélope Foster, bem, achamos que ela possa ser uma ancestral da famosa vidente Cassandra Trelawney. E por aí vai. Agora para saber de mais coisas vocês precisarão vir. Espero-os no domingo a tarde, para conhecerem a escola e serem selecionados para suas casas. Até logo.

Minhas lembranças.
Severo Snape - diretor de Hogwarts


A cabeça de Dill rodava. Estava doendo que era uma beleza! Então ele era mesmo o seu pai, e ainda o diretor. ”Bem, pelo menos ta garantido que não vou ser expulsa tão cedo! Putz, que pena..” Ela larga a carta e vai se deitar. Não queria mais pensar naquilo. Não queria, mas os pensamentos fluíam, involuntariamente.

Você é uma bruxa. Vai ter de ir a Hogwarts. Não foi culpa dele. Sua mãe o deixou ir. Eles se amavam. Ela ainda fala com ele. Eles lhe enganaram. Você tem poderes! Mas não sabe como usá-los. Terá de ir a Hogwarts. Não quero ir! Mas se quiser saber a verdade... Como virei bruxa? O que irei fazer? Ele é o diretor! Nunca vai me deixar em paz. O que diabos é legilimens? O que é oclumente? E vidente? Ela pode ver o futuro mesmo? E, putz! Por que minha cabeça dói tanto?

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Eu gostei muito mesmo deste capítulo!!!
Mas cadê os comentários do capítulo anterior?
To triste... TT
Até o próximo!!!!

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