A Manhã Depois do Temporal






Ela encostou-se na parede, os cabelos molhados definindo cachos pela pele branca, parcialmente coberta por uma blusinha de malha azul. A calça jeans já se molhara com os respingos das madeixas castanhas. Chegara havia quinze dias. A nova casa dos Weasley. Rony convidara-a para passar as férias ali, e ela não hesitara. Sentira falta dos amigos, muita falta. Não conseguia mais gostar tanto do tempo que passava com os pais. Sorriu ao olhar pela grande janela, que na verdade eram folhas duplas de vidro, dando diretamente para uma varanda. A paisagem agradável e limpa de seu trigésimo e maravilhoso dia de férias de verão sorria para ela, um verde estonteante brilhando nas copas das árvores e os resquícios da chuva pingando dos galhos esguios. Suspirou. Era a visão do paraíso em terra, com uma singela diferença...

— Oi, Mione! – exclamou uma voz feminina e aguda. Hermione deu um pulo, ficando reta, feito um poste, petrificada de susto.

— Caramba, Gina, você não sabe ser mais sutil?! – perguntou ela, retoricamente, levando as mãos ao peito, no qual o coração parecia prestes a explodir, tamanha a velocidade com que batia.

A ruiva limitou-se a sorrir. Tinha crescido um bocado desde que Hermione a conhecera. Estava mais alta, mais exuberante, os cabelos ruivos compridos e sempre bem penteados, com uma tendência a cair sobre os olhos fulvos e amendoados. Além disso, tinha amadurecido, e conseguira ficar com Harry. É, ou quase isso... Hermione sorriu. Também crescera. Tornara-se uma garota bonita, os olhos escuros e brilhantes envoltos por cílios longos e bem cuidados. A cintura afinara, e ela se movia com graça. No entanto, as roupas não mostravam mais que o tanto ostentado pela garota quando esta tinha onze anos.

— Então, babando pela paisagem? – perguntou a ruiva, indicando a janela com a cabeça.

— Você definitivamente não sabe ser sutil – concluiu Hermione, balançando a cabeça em uma negação desconsolada. – É, sim, eu estava observando a paisagem.

— Por que você não olha para dentro de casa, que é onde se concentra o contingente masculino de manhã? – tornou a outra, como se isso fosse algo óbvio.

— Gina, eu tenho o Ray, lembra? – perguntou a garota, quase assustada com o atrevimento da amiga.

— E daí? Eu tenho o Harry, mas olhar não tira pedaço. – Ela indicou a sala de jogos com um movimento displicente. – Tem gente lá dentro.

Sabendo que se arrependeria depois, Hermione foi com Gina, atrás dos garotos da casa. Bom, Gina ia atrás dos garotos, ela figurava apenas de acompanhante. Adentraram o grande salão de jogos a tempo de ouvir Rony xingando Deus e o mundo por uma jogada errada na sinuca. Harry tratara de ensinar aos amigos o jogo, e eles se haviam viciado.

— Olá, irmãozinho boca limpa – disse Gina, irônica, dando um tapinha nas costas do ruivo.

— Ah, oi, Gina... – Ele mordeu o lábio inferior e corou até a raiz dos cabelos ao avistar Hermione. – Oi, Mione.

Hermione teve que se conter para não gritar um “Merlin, me abane!” ali mesmo, no meio do salão. Ainda não tinha avistado Rony, e definitivamente não sem camisa. O ruivo não estava mais desengonçado, e criara uma espécie de charme displicente que combinava muito bem com ele. Os olhos azuis luziam num brilho atemporal e fascinante, que iluminava a pele pintalgada de sardas pequenas e charmosas. O físico... Bem, Hermione sabia que deveria ter percebido que ele certamente ficaria mais encorpado depois de começar como goleiro no time da Grifinória. Quando ela finalmente reencontrou sua voz, disse um efusivo “Oi, Rony!”, e recebeu o olhar malicioso de Gina. Ela odiava quando a ruiva a fitava com aqueles olhos de “eu sei o que vocês fizeram no verão passado”.

— Minha ruivinha! – exclamou Harry, soltando o taco e envolvendo a namorada com braços fortes. Continuava basicamente o mesmo: alto, moreno, olhos verde-vivo, corpo de dar inveja em muito homem e tirar o sono de muita mulher, sorriso ingênuo, olhar sofrido. A diferença estava no fato de ele namorar Gina. Ninguém que convivesse demais com aquela garota podia se considerar inabalável, inalterável ou são.

— Oi, meu moreno – disse ela em resposta, beijando-o de tal forma que Hermione foi obrigada a virar o rosto e se perguntar onde estava a tarja preta de “censurado”.

— Ow, ruiva, quer parar de tentar engolir o testa-rachada e deixar ele voltar pro nosso jogo? – perguntou a voz fria e levemente arrastada de Draco Malfoy.

— Ciúmes, Draquinho? – retrucou ela, separando-se, na medida do possível, de Harry.

— De quem? De você? – tornou ele, rindo.

— Não, Draquinho, do Harry – disse a ruiva, maldosamente.

O azedume que acometeu Draco foi quase uma presença física na sala. A beleza natural dele era privilegiada por uma inalterabilidade invejável: não importava a cara que o loiro fizesse, continuava sendo lindo.

— Se vocês vão brigar pelo Harry, avisem, que eu roubo a minha namorada e caio fora – disse Raymond, saindo do canto em que aguardava a sua vez de jogar. – Olá, linda.

Raymond Jones era o tipo de homem que Gina classificava como pedaço de mau caminho, perdição de mulher fiel, deus grego, e afins – diga-se de passagem, muitos afins. Hermione ainda se esforçava para entender como cargas d’água ele resolvera que a queria como namorada. Ele não respondia. Parecia calado quando estava entre estranhos, mas isso não o impedia de ser extrovertido quando entre amigos. Tinha olhos cinzentos, cabelos castanhos e ondulados, pele morena, e jogava como batedor no time da Corvinal.

— Eu não sou ciumento como você, Ray – disse Draco, sarcástico.

— Ai, isso doeu lá no fundo do meu coraçãozinho, okay? – respondeu o rapaz, rindo então. – ‘Tá, você fica com o Harry e o Rony e eu consolo a ruivinha de vocês e a minha linda, aqui.

— Hey! – exclamou Hermione, enciumada.

— Tudo bem, eu arranjo alguém para consolar a Gina – corrigiu ele, beijando a namorada. – Oh, ciumeira...

— Se eu não cuidar do que é meu, quem cuida? – perguntou Hermione, cáustica.

— Sendo sincera? – replicou Gina, rindo. – Eu não cuido.

Eles riram, e ouviram a voz do senhor Weasley vindo do andar de baixo:

— Vocês realmente têm que fazer esse barulho todo às sete da manhã?!

O grupo baixou o volume das risadas e se entreolhou. Draco sinalizou o jogo que eles haviam deixado inacabado, e os rapazes voltaram a ele, as garotas bem seguras em seus braços. Gina olhou para Hermione com aquele olhar de “eu mereço?”, e a outra se limitou a concordar veementemente com a cabeça, no que a ruiva ficou emputecida.

— [Eu te mato!] – exclamou ela, sem que a voz saísse, que era para não atrapalhar o jogo do namorado.

— [Não fique brava, Gininha] – disse Hermione, do mesmo jeito, rindo.

— [Eu não tô brava, eu tô prostituta da face, Hermione!]

— Dá pra vocês pararem de se mexer?! – bradou um Rony muito concentrado.

— Não, Roniquinho, a gente pára de se mexer sem dar – disse Gina, estendendo a mão para Hermione, que bateu na dela com um sorriso maroto.

O ruivo revirou os olhos, acertando a tacada que lhe garantiu a vitória. Draco gritou uma dúzia de xingamentos não-direcionados e depois olhou para Gina, fulo da vida.

— Sabe o que dizem: “azar no jogo, sorte no amor” – disse a ruiva, como que se esquivando de alguma coisa.

— Ou “azar no jogo, e mais azar ainda no amor” – replicou Draco, enraivecido.

Hermione tinha que se segurar para não cair na gargalhada ali mesmo. Gina tinha um... esquema, por assim se dizer. Ela e Harry nunca passavam mais de três dias sem brigar, mesmo que a briga só durasse um mísero e singelo minuto. Nos casos em que a briga durava mais de um dia, Gina tinha um plano de escape, que ela chamava delicada e carinhosamente de estepe. Este, no caso, era Draco. E, óbvio, Harry não sabia de nada... Bem, saber, até sabia, mas nunca pegara os dois juntos. Lidando com alguém como Gina, ele tinha até medo da cena com a qual se depararia se os visse juntos.

— Ei, Mione, quer dar uma passada lá embaixo? – perguntou Gina, esquivando-se dos olhares acusadores de Harry, Draco e Rony.

— Claro, vamos levar os meninos conosco – disse ela, maquiavelicamente, em resposta. Os olhos fulvos da ruiva iluminaram-se num “eu te odeio muito mais do que você pode imaginar” muito claro.

— Eu vou pro meu quarto – disse Rony, recusando o convite. Ficar de vela não era com ele.

— Eu também – concordou Draco, ainda frustrado por ter perdido o jogo.

— Você vai pro quarto do Rony, com o Rony?! – Gina fez uma cara de nojo. – Eca, Rony, você não me contou nada... Ai, que nojo, eu peguei sua colcha emprestada hoje de manhã... Eca, Rony! – A ruiva afundou o rosto no peito de Harry. – Ai, que nojo, em casa...

— Gina, não surta, pirralha! – exclamou Rony, corado aos extremos. – Eu vou para o meu quarto, Malfoy vai para o dele. Se você não lembra, quem dorme no meu quarto é o seu queridinho, aí.

Gina parecia prestes a vomitar. Olhou para Harry, depois para Rony, e ficou quase verde. Fitou Raymond.

— Ah, Ray, você é o único homem de verdade aqui? – Ela voltou-se para Hermione. – Mi, divide ele comigo, por favor... Acabei de descobrir que meu namorado me trai com o meu irmão... – A dramaticidade era exemplar. – Ai, Harry, você tem uma tara por ruivos, não é? Tenho que avisar minha mãe... Você bebeu, você ‘tá dormindo com o meu irmão!

— Gina, amor da minha vida, eu dormir com ele, não tem problema. O problema maior seria se eu ficasse acordado com ele.

Draco olhou para Hermione, cético, e a garota deu de ombros, divertida. O teatro mais que convincente foi interrompido por um Fred recém-chegado.

— Aê, foi o Fred aqui ficar fora por dois dias e todo mundo já mudou de time, foi? – Ele deu um selinho em Hermione e outro em Gina. – Vocês ainda jogam no time certo, não é?

— E por acaso eu tenho cara de quem ia mudar de time, Frederic Arthur Weasley? – perguntou Gina, séria.

— Não, você não é muito boa em lidar com mudanças – riu-se Fred, apertando a mão de Ray e Draco, e dando um pedala em Harry e outro em Rony.

— Vocês não iam descer? – perguntou Draco, sibilante.

— Já fomos – disseram os quatro, e desceram, deixando Rony, Fred e Draco a começar um novo jogo de sinuca.

Apesar de não parecer, Gina tinha muito juízo. Atrás das maneiras displicentes e roupas bem desenhadas ainda havia a pequena e recatada ruiva de onze anos, aquela que se assustava com a simples presença de Harry, que mal olhava para o irmão, e que começava a aprender a confiar em Hermione. Os Weasley nunca haviam ouvido sobre ela algo que já não soubessem – e é óbvio que ela nunca deixava chegar a eles as cartas que os garotos enviavam a ela no verão, a maioria com convites para festas já planejadas para acontecer em Hogwarts, e que iam das dez da noite às quatro da manhã, durante os dias de semana. Esse pequeno detalhe não fora feito para ser do conhecimento de mamãe, papai e maninhos, como ela própria dizia. Era o que normalmente acontecia: qualquer um que quisesse dar uma festa a convidava.

— Mione, nós vamos lá para fora... Quer vir junto? – perguntou a ruiva, quase inocente.

— Não, obrigada, Ginny... – Ela sorriu. – Tenho coisas a fazer aqui.

— Se você jurar que não vai estudar... – replicou a outra, acusadora.

— Eu juro, eu não vou estudar – respondeu Hermione, rindo. – Ao menos, não propositadamente.

— Sei... – Gina cravou os olhos em Raymond. – Olho nela, Ray. Se ela pegar um livro, queime-o.

— Gina, eu adoro ler – retrucou o rapaz, com um sorriso maroto.

— Há coisas mais interessantes para se fazer – tornou ela, com uma piscadela. – Sejam bonzinhos, vocês.

E, dito isso, ela pegou o namorado pela mão e saiu, deixando Ray e Hermione para trás. Os dois se entreolharam, cúmplices, e sentaram-se no sofá, na sala de estar. Os meninos estavam jogando no andar superior, e no terceiro ficavam os outros quartos, num dos quais Gabrielle, a irmã de Fleur, ainda dormia. A cozinha era um local devidamente impróprio, visto que o sr. e a sra. Weasley, além de Carlinhos, Gui, Fleur, Jorge e Percy, estavam tomando café da manhã ali dentro, e tanto Mione quanto Raymond não sentiam-se muito à vontade com platéia. A garota era muito acanhada, e ele respeitava isso. Respeitava tudo nela, mesmo as coisas que ela própria achava estúpidas. Nessas, entretanto, era ela quem dava um basta. E havia brigas, como em todo relacionamento, mas eles sempre se entendiam no final. Parecia clichê de romances, e, suspeitava Hermione, realmente era.

— Ei... – Raymond puxou-a para si. – Pára de ficar sonhando, sua malandrinha... Fica pensando em outros homens que eu sei...

— Para que eu pensaria em outro homem se eu tenho você? – replicou ela, beijando-o suavemente.

— Porque você é malandrinha – tornou ele, sorrindo.

Hermione riu, e o rapaz a puxou mais para si. Ela abriu as pernas, sentou-se no colo dele e enlaçou-lhe o pescoço. Ray segurou-lhe as costas, apoiando-a e impedindo-a de se afastar dele.

— Ray, você sabe que não precisa fazer isso... – murmurou ela, sorrindo.

— Ah, se preciso, Mione... – Ele beijou-lhe o pescoço, provocando-lhe arrepios. – Você me provoca, me provoca, e depois não agüenta as conseqüências.

Ele a beijou, os lábios quentes e sequiosos encontrando os dela com ardor. As mãos de Hermione perdiam-se nos cabelos do rapaz, tentado a aprofundar o beijo. Ela sentiu quando a língua de Ray tocou seus lábios, num pedido. Hermione entreabriu a boca, convidando-o, sentindo-o, as línguas tocando-se em carícias não-planejadas. O rapaz puxou-a mais contra seu corpo, a malha da blusa da garota subindo conforme ele acariciava suas costas. O beijo foi tornando-se mais e mais apaixonado, e Ray começou a descer seus lábios, tocando o pescoço de Hermione, beijando-o, mordiscando-o, como se precisasse da garota ali, perto dele, quase fundida a ele, para viver.

— Não parem, eu só vim buscar um livro, não parem...

Os dois separaram-se rapidamente, e Hermione ergueu-se para escapar do abraço de Raymond. Rony estava ali, um livro grosso nos braços, recém-tirado do consolo da lareira.

— Eu disse, não parem – repetiu o ruivo, fitando Hermione. – Eu não quis atrapalhar.

— Não atrapalhou, Rony – disse a garota, baixando a blusa, que subira até começar a descobrir suas costelas. – Nós... íamos tomar café, agora, certo, Ray?

— Claro, claro – concordou o rapaz, com um aceno de cabeça, erguendo-se também. – Quer nos acompanhar, Ronald?

— Hum... – Eles pareciam realmente querer que ele fosse. – Tudo bem, só... – O ruivo aproximou-se de Hermione e ajeitou a gola pólo da blusa da garota, de modo a cobrir a marca vermelha no pescoço da amiga. Ele piscou o olho, e ela corou. – Discrição.

Os três encaminharam-se para a cozinha, o braço de Ray envolvendo a cintura de Hermione. Não era a primeira vez que eram surpreendidos juntos. A primeira vez fora por Draco, que saíra do banho direto para o quarto que dividia com Ray, e voltara pela mesma porta, batendo então e dando ao casal tempo para se recompor. As três seguintes haviam sido por Rony. Gina não contava; normalmente ela estava entretida demais com Harry para se preocupar com os outros. Eles deviam, sabia Hermione, melhorar muito no quesito furtividade.

— Finalmente, belo adormecido! – exclamou Jorge, olhando para o irmão. – Oi, Mione! Fala aí, Ray!

— Bom dia para você também, Jorge. – Hermione sorriu e deu um beijo na bochecha do amigo. – Como andam os negócios?

— Mais uma filial – respondeu ele, radiante. – Na Bulgária. Obrigado pelos contatos do seu queridinho Krum.

— Disponha – tornou ela, sentando-se à mesa, gesto este que Ray e Rony também empreenderam.

— Mas não disponha demais, ok? – completou Raymond, ciumento.

— Ah, não, só o suficiente – respondeu Jorge, com uma piscadela. – E tu, ó desgraçada criatura, Roniquinho da mamãe?

— Espero que você tenha sabido que o Roniquinho da mamãe andou treinando umas azarações – disse Rony, fuzilando o irmão com um olhar.

— Uia, que meda... – Jorge riu. – É sério, Rony, o que você tem feito da vida?

— Estudado feito um condenado à morte, querendo a todo custo passar no exame de admissão de aurores – entregou Gui, sentado ao lado de Fleur.

Você, estudando, Roniquito?! – O gêmeo estava incrédulo. – Mione, meus parabéns pelo juízo arduamente enfiado na cabeça desse monstrengo verde da Tanzânia.

— O quê, o Ronititinho estudando?! – repetiu um Fred recém-chegado à mesa, com Draco a tiracolo. – É, Hermione, gracias, amiga.

— Ele nom é o único – prosseguiu Fleur, sorrindo. – Ele levou junto o loirrinho bonito e o Arry, também. O pobrre Ray só ficou de forra porrque ele já estuda muito, junto com a namorradinha... quando minha querrida cunhada nom resolve esconderr os livrros, nom é?

— Gina faz isso? – perguntou Percy, sem acreditar.

Carlinhos ia concordar, mas foi interrompido pela própria Gina, que acabara de entrar para comer alguma coisa.

— Não, Perry, eu só zelo pelo bem-estar mental desse bando – explicou a ruiva, tomando seu lugar à mesa e arrastando Harry junto.

— E você não faz nada, Harry? – tornou o rapaz, voltando-se para o mais novo.

— O que eu posso fazer? – O moreno deu de ombros. – Ela é minha namorada.

— Ah... Ou seja, o menino-agora-quase-homem-que-sobreviveu foi domesticado pela minha irmãzinha caçula?! – Carlinhos riu. – É uma perspectiva interessante...

— Epa! Domesticado, não, que eu não sou cachorro! – Harry objetou. – Eu diria temporariamente restituído às faculdades emocionais de convívio em um grupo hierarquizado.

Eles se entreolharam, olhando para Draco, que chegara, silencioso, junto ao espevitado Fred. O loiro deu a sentença:

— É. – Ele moveu a cabeça num quase imperceptível gesto afirmativo. – Domesticado.

Harry, ainda que bravo, foi obrigado a acompanhar o coro de gargalhadas que encheu a cozinha. Ray serviu mais hidromel a todos – e daí que era uma manhã de sábado, pouco depois das sete e quarenta, e que cinqüenta por cento dos que estavam à mesa não tinham nem uma fatia de pão no estômago, sendo que Gina ainda era de menor e não deveria beber? Ninguém recusou a bebida. Ninguém recusava hidromel naquela casa, nunca.

— Mione, posso falar contigo? – perguntou Jorge, se erguendo.

— Ahm... Claro, claro. – A garota ergueu-se também. – Lá fora?

— Lá em cima – respondeu ele, apontando para o teto.

A garota sentiu a mão firme de Jorge envolver a sua e eles subiram as escadas, os olhares de Ray, Draco, Harry e da família Weasley inteira em suas costas. Hermione riu, enquanto o rapaz puxava-a contra si, no topo das escadas.

— Jorge, todo mundo está lá; eles ainda podem nos ver – disse a garota, sorrindo.

— Ah, sim, claro, claro. – Ele abriu a porta do corredor que dava no terceiro andar. Os dois subiram mais escadas, e Jorge soltou Hermione ao avistar um vulto de longos cabelos claros. – Gaby!

— Olá, Jorrge – disse a pequena loira. – Minha irrmã está lá embaixo?

— Sim, sim, tomando café com o seu cunhadinho e a família – disse o rapaz, segurando a mão de Hermione para ter certeza de que ela não fugiria.

Gabrielle agradeceu e desceu as escadas. Os dois viram a porta do corredor se fechar, e o rapaz empurrou Hermione para dentro de um salão. O chão era de tacos de madeira, brilhante e polido, e as paredes de uma coloração marfim davam a impressão de que o cômodo era gigantesco. Um lustre de cristal pendia do teto e iluminava o salão praticamente vazio, exceto pelo casal, e um guarda-roupa de pinho. Jorge conjurou um biombo e empurrou Hermione para trás dele.

— Vamos logo, que daqui a pouco eu preciso passar na loja – disse ele. – É meu dia de supervisão, e se nós demorarmos, Fred virá me procurar.

— ‘Tá, calma, pronto. – Ela saiu de trás do biombo para encontrar um Jorge de calça colante e regata idem. Ele era realmente, nas classificações de Gina, muito aproveitável.

— Nenhuma... – começou o rapaz, ao que Hermione concluiu a sentença.

— Palavra sobre isso a ninguém, por Merlin, Mione, por favor. – Ela riu e alisou a malha negra de balé. – Eu sei, Jorge. Eu já decorei essa parte. – Ela verificou os saltos do par de sapatos. – Quem mandou você se apaixonar por uma dançarina de tango, Jorge?

Sem responder, o rapaz envolveu a cintura da garota e fez um tango lindo encher o ar. Havia doze dias que Hermione ensinava a Jorge tudo o que ela já aprendera, ouvira falar ou o raio que a partisse sobre tango. Ela sabia que era a primeira vez que o rapaz encontraria a sua dançarina desde que começara a aprender a dançar. Morria de vergonha dos irmãos, é óbvio, e Hermione jurara não contar a ninguém.

— Jorge, não precisa apertar tanto, eu não vou fugir – murmurou ela, com uma careta de dor. – Sério, isso machuca.

— Desculpe – replicou ele, afrouxando a mão que comprimia a garota.

Dançaram durante uma hora. Era o treino rotineiro deles: uma hora, todos os dias, naquele mesmíssimo horário. Graças a Merlin, ninguém nunca os descobrira.

— Obrigado – disse ele, envolvendo a garota com firmeza, depois que eles se vestiram novamente.

— Tudo pela felicidade de um amigo, não é? – Ela sorriu e deu um beijinho no rosto do ruivo.

— Você não entendeu. – Ele deu-lhe um selinho, beijando-lhe as faces e o pescoço, fazendo-a rir e estremecer. – Muito, muito, muito, muito, muito obrigado, mesmo, Mione.

— ‘Tá, seu louco, não, pára, vai que alguém resolve subir... Não, sério, pára, Jorge!

— Caramba! – exclamou uma voz à porta. – Hermione, já pensou se quem sobe aqui, ao invés de mim, é o Ray?

— Draco! – exclamou a garota. Jorge soltou-a, e cumprimentou novamente o loiro.

— Eu não tenho nada com isso, ok? – O loiro deu um beijo na bochecha dela. – Jorge, cai fora, que teu irmão ‘tá te procurando.

— Obrigado, Mione – murmurou ele, e desapareceu pela porta do salão.

Draco acompanhou as costas do ruivo e depois se voltou à garota a sua frente.

— Tango ou bolero? – perguntou, astutamente.

— Tango – confessou ela. – Nenhuma palavra, Draco.

— Você não consegue dizer não, não é? – Ele negou com a cabeça, desconsolado.

— Ah, cala a boca.

Hermione deu um empurrão no ombro do rapaz e saiu do salão. Ia começar a descer as escadas quando o loiro pigarreou e sinalizou os pés da garota. Ela tirou os sapatos de dança e calçou os tênis, descendo então as escadas com Draco em seus calcanhares.

— Imagine o que seu queridinho não vai dizer ao te ver voltando com um, sendo que você subiu com outro...

— Draco, cale... a... boca! – Hermione odiava quando ele fazia aquilo. Eram os vestígios daquele Malfoy horrível, podre, que ela conhecera a princípio. E, óbvio, alguma influência de Gina. – Raymond já é ciumento; não torne as coisas piores!

— Estou brincando, Mione. – Ele segurou a cintura da garota. – Vamos lá para baixo de uma vez?

Como se em resposta, a garota desceu os degraus, a cabeça apoiada no peito do amigo.

*♥ ~* ♥ * Ron/Hermione 4 Ever * ♥ *~ ♥ *



*♥ ~* ♥ * Ron/Hermione 4 Ever * ♥ *~ ♥ *

Sim!! Primeiro capítulo, sim, sim. Espero que tenham gostado. Ficou comprido, e talvez tenha sido um pouco cansativo, mas é o primeiro, então, não há ainda muita trama. Espero que continuem acompanhando a fic!

Agradecimentos:

Naty (encabeçando a lista; por que será?), que foi quem quase me matou para fazer essa fic (quem leu Tarde Demais sabe que ela é implacável quando quer algo...) e me deu a idéia, além de ficar ao menos 18 horas por dia me enchendo para eu postar;

Rafinha. H² 4ever., cuja fic eu juro que leio (Harry Potter e a Marca do Destino).

Carol Cardilli, que não é a primeira vez que comenta uma fic minha e a quem agradeço pelo comentário.

Ara Potter, que foi quem criou a fic "Com o Tempo Tudo Muda", que, de certa maneira, me deu uma ajuda quando eu travei no capítulo.

Aos atores, espectadores e staff da peça "Dentro do Dentro", que, infelizmente, só foi encenada no CEFET (agora UTFPR) de Curitiba, mas que valeu cada segundo, e me lembrou que humor é indispensável.

Ea quem leu, mesmo não tendo comentado...

Kisses and bye-bye! \o

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