Olhos Abertos





~{Once in a Life}~

A chuva recomeçara. Hermione olhou para a janela e depois para o miúdo Flitwick, que falava sobre o Feitiço de Viviane, uma magia ancestral muito poderosa que era capaz de erguer colunas gigantescas e intransponíveis de água até mesmo no meio do deserto, sugando, no entanto, boa parte, se não toda, a energia do conjurador.

— É perigoso demais para ser ensinado em sala de aula, mas... – Ele hesitou. – Admito que é muito poderoso e, se usado com sabedoria, poderia ajudar muitos bruxos e trouxa nessa guerra civil. – O professor deixou os pensamentos se perderem por um momento, mas logo voltou a si. – Sim, muito bem, abram seus livros na página 529 e dêem uma olhada na Conjuração de Morgana. O texto foi realmente escrito pelo Merlin, nosso Merlin, Taliesin...

Um pequeno origami em forma de estrela pousou na mesa da garota. Hermione pegou-o e, com cuidado, desfez as infinitas dobras de papel, revelando um bilhete:

Não esqueça: hoje, logo depois dos tempos de Aritmancia, você tem um encontro comigo e com Gina. Pode deixar que eu a levarei até lá.
Draco

Como ela poderia esquecer? Gina não falava em outra coisa. Era o dia em que acertariam o local da festa e a ruiva faria os pequenos “ajustes” que prometera em Hermione. A garota não sabia se ficava excitada com a perspectiva ou terrivelmente amedrontada. Confiava em Gina, claro, mas até a ruiva tinha seus surtos psicóticos de vez em quando. E, quando eles aconteciam, eram avassaladores.

Rabiscou uma resposta afirmativa semilegível na parte de trás do bilhete e atirou-o de volta a Draco. O loiro pegou-o no ar e leu, olhando-a em seguida como se mal pudesse esperar para ver o que Gina faria com ela. Agora, sim, Hermione sentiu seu estômago revirar. A festa era no dia seguinte. Inexoravelmente no dia seguinte, e ela nem ao menos sabia com que roupa iria, ou com quem, se é que iria com alguém. Esses pequenos detalhes, Gina esquecera de comentar. Ela sempre esquecia justo os pequenos detalhes. Sempre. Era previsível.

— Bom, senhores, a aula termina aqui – disse Flitwick, do alto de sua pilha de livros. – Estudem o Feitiço de Viviane e a Conjuração de Morgana com afinco e, principalmente, com cuidado.

Hermione enfiou os pertences dentro da mochila e foi até a porta. Draco apareceu logo depois, a seu lado, e, estendendo-lhe uma mão que a garota não recusou, encaminhou-se até a aula de Aritmancia, a última antes do encontro com Gina.

A professora Vector não estava em sue dia mais inspirado, pelo que, pela primeira vez em quatro anos, Hermione deu graças a Merlin: significava pouca ou nenhuma lição de casa. Para completar a felicidade que na realidade era quase toda alívio da garota, a professora passou apenas algumas páginas para que eles lessem e fizessem um quadro. Isso, para Hermione, e nada eram praticamente a mesmíssima coisa.

Foi com o medo mais genuíno do mundo que ela segurou a mão de Draco ao final da aula e seguiu com o rapaz para o corredor do segundo andar, onde a ruiva já os esperava, uma sacola deveras grande a seu lado e um pergaminho quase todo escrito nas mãos. Olhou para os dois com uma cara de “finalmente, hein?”, mas logo abrandou o olhar. Draco deixou a mochila despencar no chão, tirou o pergaminho das mãos de Gina e começou a ler. Era impressionante como ele lia rápido.

— “Sem consumo de qualquer bebida mais alcoólica que cerveja amanteigada e com conferência de convites para menores de quinze anos”? – leu ele, incrédulo. – Gina, isso é uma gigantesca mentira! Você nunca confere os convites, e sempre há whisky de fogo.

— É você quem vai assinar dessa vez – replicou a ruiva. – E falo sério. McGonnagall confia mais em você.

— E o que eu ganho com isso? – perguntou o rapaz.

— Minha eterna gratidão? – hesitou ela, sorrindo abertamente.

— Falo de coisas concretas – tornou o loiro.

— Quão concretas? – suspirou a garota, meio embirrada.

— Oito – respondeu ele, simplesmente.

— Oito?! – espantou-se a ruiva. – Ah, não!

— Por menos de oito, nunca – disse o loiro, resoluto.

— Draco, eu já paguei absolutamente todas as enrascadas em que você se meteu por minha causa. Não dá pra bancar uma do seu bolso?

— Eu não vou mentir pra McGonnagall assim, sem nada em troca.

— Eu mereço...

— Menos de oito? – perguntou Hermione sem entender.

— Oito favores, a escolher – explicou ela, puxando uma pena e marcando oito linhas finas no pulso. – A cada favor que eu fizer, uma das linhas vai embora. Independente do favor.

— Pois é. – Draco sorriu, pegou outra pena e rabiscou a própria assinatura no escrito que pegara de Gina. – Adoro fazer negócios com ela. Ah, e por falar em negócios – ele verificou se a tinta secara e guardou o pergaminho na mochila, atirando-a no chão novamente depois – você me deve uma, Hermione. Pelo pega-pega. Eu não esqueci.

A garota riu e acenou afirmativamente com a cabeça. Era verdade. Seria divertido ver o loiro se acabando novamente de pensar em o que ela poderia fazer. E, conhecendo Draco, poderia ser qualquer coisa.

— ‘Tá, ‘tá, ‘tá, ‘tá tudo muito bom, ‘tá tudo bom demais, mas nós temos mais una cosita a hacer. – A ruiva virou a sacola grande no chão. Hermione reconheceu todas as próprias roupas, mais os sapatos, e fitas de cetim e apetrechos de customização que realmente não eram dela. Gina conjurou ainda uma cadeira e colocou a amiga perplexa sentada nela. – Eu disse que precisaríamos de alguns ajustes.

— Até no uniforme? – perguntou a garota, um tanto amedrontada.

— Principalmente no uniforme! – exclamou Gina, veemente. – Há pequenos detalhes aos quais você definitivamente deveria prestar muito mais atenção.

— Detalhes...? – Hermione esperou o restante da frase. – Exemplos...?

— Comprimento da saia e da blusa: as duas compridas demais. – A ruiva pegou um giz e marcou a nova bainha da saia da amiga, cerca de um palmo menor que a saia original, o que horrorizou Hermione. – A blusa é um pouquinho mais complexa. A suéter tem que ser mais justa e...

Gina começou a marcar, delimitar, cortar e costurar peças e mais peças de roupa, fazendo ajustes, medindo a amiga e começando tudo de novo. Draco fitava-a, fascinado, enquanto Hermione procurava cada vez mais ar para poder respirar e evitar gritar de agonia. Havia tanto tecido no chão quanto havia nas peças de roupa. E a ruiva ainda não chegara às roupas trouxas.

— Bem, como não acredito que haja realmente muita possibilidade de consertar suas roupas trouxas a ponto de elas ficarem realmente aproveitáveis para a festa de amanhã, comprei novas. – Ela estendeu uma sacola grande à amiga. – Há até sapatos e um casaco aí. Bem, o termo ideal seria sobretudo de couro, mas pode chamar de casaco, mesmo.

— Sobretudo de couro? – Hermione estava realmente perplexa. – Sobretudo de couro?! Quando, na minha vida inteira, você me viu usar um sobretudo de couro, Gina?!

— Nunca, e é exatamente por isso que eu comprei um – respondeu a ruiva, tranqüila, sorrindo. – Para tudo há uma primeira vez.

— Me diga que as outras roupas são um bocadinho mais decentes... – pediu a outra, suplicante.

— Eu usaria – assegurou-lhe ela.

— Sem ofensas, Ginny – intrometeu-se Draco – mas dizer que você usaria não é garantia nem ao menos de que haja algum pano que não seja translúcido na roupa.

— Draco! – Gina riu. – Não, Hermione, as roupas são definitivamente decentes, tudo bem... Eu juro.

— Espero que sejam, Gina – murmurou ela, olhado para o conteúdo da sacola, que parecia um amontoado de pacotes de papel fino com durex espalhado por todos os lados. – Só isso? Jura para mim que é só isso?

— Por hoje, sim, é só isso – afirmou a ruiva. – Amanhã, logo antes da festa, teremos o restante dos ajustes: pele, cabelo, maquiagem, postura, tolerância a álcool.

— Tolerância a álcool? – repetiu Hermione, pensando ter ouvido errado.

— Teste de praxe – explicou Draco. – Apenas para não corrermos riscos. Até agora, Gina é a que tem maior tolerância a álcool: quatro doses e um quarto de whisky John Walker Black Label 12 anos puro antes de começar a parecer que bebeu. Eu cheguei a três doses e meia, Potter também. Roniquito tem três e três quartos, bem como Ray. Estimo que você chegue até umas duas e meia, três, a menos que você não beba nadinha de álcool. Nesse caso, deve ser umas duas.

— Tenho certeza de que não estou ansiosa por esse teste – garantiu ela, pegando o uniforme ajustado e ajudando a amiga a recolocá-lo nas sacolas. – Ah, Ginny, você realmente precisava fazer isso?

— É um prazer pessoal – replicou ela. – E você ainda vai me agradecer.

Hermione fitou a ruiva, mas ela limitou-se a piscar com um dos olhos e sorrir. Agradecê-la? Agradecê-la por detonar – não, não havia qualquer outra palavra plausível; era esse, sim, o verbo – seus uniformes, todos eles, sem praticamente qualquer possibilidade de reforma? Agradecê-la por um sobretudo de couro? Um sobretudo de couro acompanhado provavelmente de roupas que ela nunca vestiria?! Tudo bem, ela realmente devia muito a Gina. Ah, sim, com certeza.

— Vamos, pessoas – disse a ruiva, atirando a mochila ao ombro. – Flitwick resolveu que quer uma dissertação sobre feitiços ancestrais.

— Pensei que feitiços ancestrais eram matéria do sétimo ano – replicou Draco, entre as garotas.

— E são. – Ela bufou, tomando o rumo da biblioteca junto aos outros. – Digamos que eu não consegui calar a boca quando ele disse que a Conjuração de Morgana nunca poderia ser usada por um adolescente.

— Ginny, Ginny... – O loiro riu e beijou o rosto da garota. – Você não presta.

— Aprendi com você.

Os três riram. Hermione aproveitou que Gina ia para a biblioteca para fazer a lição de Aritmancia e ler as páginas de Feitiços, além do resumo de praxe das aulas do dia. O tempo passava, mas a garota continuava aplicada. Essa, aliás, era talvez a única coisa que Gina nunca mudaria em Hermione: ela gostava de ser aplicada. Estudava porque gostava, não porque precisava.

— Você também tem que trabalhar, Draco – sussurrou Gina, tirando um pergaminho e o livro de feitiços da mochila.

— Já volto – murmurou Hermione, se erguendo.

Ela seguiu para uma das estantes em busca de um livro que ela começara a ler, uma vez, sobre o Feitiço de Viviane e outras magias ancestrais. Passando o indicador pelas lombadas dos livros, sentiu que estava chegando perto do volume que almejava.

— Conjurações, conjurações, feitiços, azarações... Não, é mais para lá... – Ela continuou se deslocando. – Magia... Ah!

A garota bateu de frente com alguém, se desequilibrou e sentiu os joelhos cederem. Apoiou-se completamente na pessoa à frente e, encabulada, sentiu um par de mãos fortes envolverem seus braços e segurarem-na.

— Você fica realmente entretida demais quando está procurando alguma coisa nessa biblioteca – disse o rapaz que a amparou, e ela, por uma fração de segundo, não reconheceu a voz de Brian.

— É... Ahm... Pois é... – Ela corou, inadvertidamente. – Eu... Eu estava procurando o livro de magia ancestral... Flitwick... Flitwick passou um trabalho, e...

— Hermione, relaxe. – Brian sorriu, e ela ergueu os olhos. – Eu sei. Eu sou da mesmíssima classe que você.

— Ah, é... – Ela estava desconcertada. – Eu tinha esquecido.

Brian Caldwell era um sonserino da mesma idade de Hermione, alto, cabelos e olhos pretos, muito seguro de si e dos outros. Era visível que o olhar que ele lançava a Hermione era mais que um olhar de colega ou mesmo de amigo, mas a garota não percebia. Para ela, ele era apenas um rapaz muitíssimo inteligente, que rivalizava com ela na disputa pelas melhores notas da classe, e também muito gentil e prestativo.

O rapaz a fitou, e ficou um segundo a mais olhando para a garota. Depois, com um sorriso, ele a colocou em pé novamente e escorregou as mãos para a cintura da garota. Inclinou a cabeça e deu um beijo no rosto dela, entregando-lhe um livro em seguida.

— A gente se vê por aí, então – disse ele, e logo saiu do campo de visão de Hermione.

Ela suspirou, esperando a cor se esvair do rosto, e olhou o volume que o moreno lhe estendera: “Magias Ancestrais: Da Azaração de Morgause ao Encantamento Supremo de Taliesin”. Era o livro que ela procurara. Abriu-o para procurar no sumário o capítulo dedicado ao Feitiço de Viviane e deparou-se com um pedaço escrito de pergaminho que dizia:

Pelo livro, você me deve a primeira dança na festa de amanhã.
B. Caldwell

Ela riu, divertida. Com um gesto de negação com a cabeça, Hermione retornou à mesa, sentou-se e começou a trabalhar. Pensaria em Brian, Ray e na festa depois. No momento, sua única preocupação era estudar.

Demoraram um pouquinho, com certeza. Quando finalmente conseguiram terminar todas as tarefas, Hermione já resvalara para o ócio completo havia muito tempo, e rabiscava um pergaminho a esmo, olhando de quando em vez para o bilhete de Brian, que ela apoiara sobre as pernas para que nenhum dos outros dois lesse. Você me deve a primeira dança. Sorriu mais uma vez. Como Brian era atrevido! Competia abertamente com ela pelo título de melhores notas em toda a Hogwarts e ainda tinha a coragem de dizer que Hermione devia alguma coisa a ele?

— Oi, Mione? – chamou Gina, novamente. – Terra chamando, câmbio. Terra chamando missão lunar Hermione, câmbio. Capitã Hermione, pode me ouvir?

— Ah, sim, claro, oi, Gina... – Ela ergueu os olhos, hesitando por um instante a mais. – Ahm... Terminaram?

— Sim, terminamos – respondeu a outra, desconfiada. – Que avoada, você, hein? Até parece que recebeu uma carta de amor...

— Gina, não viaja... – começou ela, desconcertada.

— Então presumo que esse pergaminho contém informações confidenciais que você resolveu ocultar de nós para que não copiássemos toda a pesquisa que você fez em nossos trabalhos... – Rápida, a ruiva pegou o pergaminho do colo da amiga.

— Me devolve – pediu Hermione, aflita.

— Credo, você nunca me escondeu nada... – disse Gina, segurando o escrito, sem lê-lo.

— Não, é sério, Gi, me devolve – suplicou ela.

Era visível que Gina estava num dilema. Ela respeitava muito a privacidade da amiga, mas era excepcionalmente curiosa. A ruiva baixou a cabeça e começou a ponderar, mas Draco foi mais rápido: pegou o pergaminho da mão dela e leu-o a meia-voz, de modo que apenas ele e as duas garotas ouviram.

— B. Caldwell? – Gina estava incrédula. – Brian Caldwell? Aquele Brian Caldwell?

— Ele achou o livro para mim – explicou a garota. – Achei que seria legal conceder a ele a primeira dança, se ele realmente a quer... Sabe, para agradecer, e tudo o mais...

— Hum... – A outra ficou pensativa por algum tempo. – Bem, isso significa que você com certeza precisará comparecer à festa, amanhã.

— Com as roupas que você me deu – completou Hermione.

— Já as viu? – perguntou Draco, devolvendo o bilhete a ela.

— Não – confessou a garota. – Na realidade, estou com medo do que encontrarei.

— Atitude sábia – tornou ele, rindo. – Com essa ruivinha aqui, nunca se sabe o que se pode encontrar. Mas experimente-as, Mione. Você pode descobrir que ela tem um belo gosto para roupas.

— Eu acredito – respondeu ela. – Só não acho que seja o mesmo que o meu.

O rapaz limitou-se a sorrir. Eles recolheram o que haviam usado, empilharam os livros na mesa e Hermione levou consigo o “Magias Ancestrais”. Talvez fosse útil, caso ela não conseguisse dormir, ou algo assim.

— Amanhã de manhã, lá pelas oito, nós vamos para Londres – disse Gina à garota, em segredo.

— Londres? – repetiu ela num sussurro. – Como e, principalmente, por quê?

— Passagens secretas e umas armações menores minhas – replicou a ruiva, impaciente, sem quase mover os lábios. – Vamos atrás de roupas decentes para você. Depois, cabeleireiro, para dar um jeito nesse seu cabelo, e lojas de maquiagem. Um perfume mais fragrante e alguns hidratantes também, talvez. Por último, então, quando retornarmos para cá, em torno de seis horas da tarde, a preparação para a festa.

— Gina, é uma festa, não uma apresentação para a rainha! – exclamou Hermione, abismada. De onde ela tiraria dinheiro para tudo aquilo? – Eu nunca vou poder gastar tanto em uma única ida a Londres!

— Não vai – respondeu ela. – Eu pago. Papai me dá mesada, agora. Dá para me virar. Além do mais, cliente VIP tem desconto em lojas trouxas, e eu realmente sou VIP. E é a minha festa. A rainha aqui, então, sou eu, e nobres andam bem vestidos. Lamento. – Ela deu uma piscadela. – Você aprenderá a gostar. Eu aprendi.

Depois dessa, Hermione soube que tudo o que podia fazer era se enfiar no quarto e dormir, rezando para que aquilo tivesse sido um surto endêmico de glamour desencadeado por uma psicose menor de Gina, e nada mais.

Tem que ser, pensou ela, virando-se na cama. Quero dizer, ela não vai realmente a Londres apenas para comprar roupas, e para mim, além do mais. Não é possível. Não é possível.

E sabendo que, na noite seguinte, Brian a esperaria e provavelmente não falaria mais com ela depois das roupas escandalosas que Gina definitivamente compraria, Hermione olhou o bilhete ainda uma vez. Sempre havia uma esperança de que desse certo no final, e era a isso que ela se agarrava desesperadamente.

Infelizmente – ou felizmente, pensaria Hermione algum tempo depois – Gina estava falando sério. Eram oito horas da manhã em ponto quando ela acordou a outra, empurrando-a da cama e insistindo para que ela usasse a roupa que a garota mais detestava: jeans de lycra, camisa como as do colégio, habilmente reformada pela ruiva, e um bolero de seda lilás semitransparente que ela acreditava aumentar demais o seu busto. Após muita persuasão e vários “vista-se agora!”, no entanto, a garota aceitou a roupa. Devia ter emagrecido no período em que estivera na casa dos Weasley, porque a calça de lycra não comprimia tanto suas coxas. Mentalmente, ela agradeceu por Gina nunca ter percebido.

Chegaram a Londres após uma complexa viagem pelo túnel da bruxa de um olho só, a lareira de uma casa em Hogsmeade, o Caldeirão Furado e o Nôitibus Andante. Impressionantemente, demoraram menos de meia hora no trajeto. Quando se despediram de Stan Shumpike e o Nôitibus saiu de vista, estavam à frente de uma loja Gucci. Gucci. Não qualquer loja, uma loja da Gucci. E não só da Gucci, mas uma loja que vendia absolutamente todas as grifes de destaque do mundo. Desde Jimmy Choos até Chanel, incluindo mesmo perfumes, sapatos e todos os acessórios imagináveis. Ela nunca entrara naquela loja. Só olhando já era possível sentir o preço dos itens pesando no bolso. Hermione boquiabriu-se e virou-se para Gina.

— Que foi? – perguntou a ruiva. – Eu disse que a gente compraria roupas decentes. E vá logo, porque não temos todo o tempo do mundo, apesar de eu querer que tivéssemos. Há itens lindos aqui.

— Gina, pelo amor de Merlin, não vale a pena – disse ela, estupefata. – Não faça isso, pelo amor de Merlin.

A ruiva sequer pareceu notar a amiga. Já empurrara Hermione para dentro da loja e saudava um moreno alto e bronzeado, de olhos verdes brilhantes e decididamente gay – a garota definiu esse aspecto pelo gritinho histérico que ele deu ao avistar Gina.

— Hermione, esse é Donnie – disse ela. – Donnatello Ferro, o gerente dessa loja e dono do meu cartão de crédito.

— Olá, menina Hermione. – Donnatello era exuberante, e inegavelmente lindo, com uma aura de poder e glamour como todo o restante da loja. – Bruxinha do meu coração, por que você está usando esses trapinhos?

— Bru... Bruxinha? – Hermione sentiu um pequeno desconforto.

— Eu sou bruxo também, menina, agora vá, tire essa roupa, entre no provador e eu vou buscar tudo o que você precisar.

E ele realmente buscou. O total da compra devia ter batido no teto, e Hermione ficou tão tremendamente apavorada que não quis saber quanto foi. O saldo foi de: dois longos (um Chanel e um Oscar de La Renta), dois curtos (ambos Gucci; um realmente obsceno, mas muito lindo, e outro mais comportado), várias minissaias (em particular uma Prada muito linda), muitas blusas (de Celines a Miu Mius, manga curta, longa, sem manga, rulê, com zíper, sem, com capuz, de seda, de algodão egípcio e até de couro), três casacos (Gina tinha um fraco admirável por Fendis de couro), calças, suéteres, boleros, meias e até sutiãs e calcinhas, tudo assinado por grifes como Chloé, Michael Kors, Marc Jacobs, Armani, Calvin Klein, Versace, Roberto Cavalli e Tommy Hilfiger, e sapatos, ècharpes, cintos e bolsas a perder de vista. Como Donnie fizera o favor de jogar fora a roupa com a qual Hermione entrara na loja, ela se viu saindo dela com uma “cortesia da loja”, que na realidade fora um presente maravilhoso de Donnie: um curto Burberry azul-céu com uma sandália Manolo Blahnik branco-pérola de tiras com – e ela se impressionou por não cair de cara no chão assim que se moveu – oito centímetros de salto agulha.

— Até, ruivinha! – gritou ele, em voz de falsete, se despedindo da garota. – Te vejo assim que puder, linda!

Essa última frase fora para Hermione, e ela corou até a raiz dos cabelos. Não teve, no entanto, muito tempo para pensar. Gina empurrou-a para um cabeleireiro realmente famoso e ele sequer esperou as instruções para atacar o cabelo da garota. A ruiva aplaudia, como uma criança trouxa pequena excitada por um espetáculo mágico. Depois de cerca de quarenta e cinco minutos, não havia sinal dos cabelos lanzudos de Hermione: eram agora cachos bem definidos, quase sem volume e brilhantes. A garota percebeu que Gina não pagou e o cabeleireiro nem pareceu se dar conta disso.

— Você não vai pagar? – perguntou Hermione, pensando que aquilo fora apenas um lapso da amiga.

— Não – respondeu ela, de maneira essencialmente óbvia, agindo como se a outra houvesse sugerido que ela comesse seus sapatos.

— Como assim “não”? – tornou a garota, abismada. – Gina, ele fez o trabalho dele.

— Mione, querida, logo você vai entender que algumas pessoas não pagam. – A ruiva deu uma piscadela. – E você vai aprender a gostar também. Agora, maquiagem, pele, e casa.

Contando todo o tempo que haviam passado nas lojas, mais a uma hora de viagem – porque Gina insistiu em esperar Draco chegar a elas para ajudar com as “comprinhas” –, chegaram em Hogwarts cinco e meia da tarde. O Salão Principal já estava interditado e os organizadores da festa se moviam com destreza. Quase todo o restante da escola estava em Hogsmeade. Gina sorriu para Hermione. Era a primeira festa da amiga, e seria insequecível, com certeza.

As garotas foram obrigadas a entrar sozinhas na Sala Comunal e levar todas as roupas e acessórios para cima. Hermione abriu o malão para ver quanto do que tinha caberia ali e quanto ela teria que enfiar embaixo da cama e percebeu que ele estava tomado apenas por seus uniformes reparados e seu material escolar. Nenhuma roupa trouxa antiga. Nem umazinha só. Ela olhou para a ruiva, que sorriu.

— É para não reavivar a tentação – explicou ela. – E vem cá, que eu quero te mostrar uma coisa.

Ela seguiu para uma tapeçaria vinho, sem decoração alguma à exceção de alguns fios dourados formando um poema muito antigo, e afastou-a com um gesto. Parecia uma passagem secreta, mas estava iluminada, limpa e, surpreendentemente, tomada por roupas.

— Meu guarda-roupa particular – riu-se Gina. – Na realidade, é bem antigo. Descobri-o meio que a esmo, um dia, quando peguei detenção e tive que limpar os dormitórios. As garotas costumavam usá-lo, mas poucas sabem dele, hoje em dia. Talvez apenas eu, e você, agora. Hogwarts era mais metódica e as roupas eram mais pesadas e maiores antigamente. Depois do Natal, não cabiam mais no malão, sabe, junto com os presentes e tudo o mais. Ao menos, foi isso o que eu descobri.

As roupas foram ajeitadas, arrumadas, classificadas e protegidas com feitiços antipoeira e antimofo, apesar de quase não haver umidade ou pó ali dentro. Depois, houve o primeiro teste de Hermione, junto a Draco, na Sala Precisa: tolerância a álcool. Eles a sentaram em uma cadeira e enfileiraram cinco doses de Black Label à sua frente. Ela bebeu uma. Nada; estava zomeçando a ficar zonza, mas estava normal. Bebeu a segunda. Como disse Gina, ficou “alegrinha”. Quando bebeu mais meia, a ruiva comentou alguma coisa sobre parar naquela dose, e Hermione riu. Riu histericamente.

— Ginny, Ginny, por quê? – perguntou ela, sem parecer bêbada, apenas feliz demais. – Estou beeem...

— É, bem bêbada – replicou a ruiva. – Parece meu irmão, querendo ir mais longe do que podia no teste!

— Seu irmão é boooom... – Ela riu. – Ele é tão gostoso... Ginny, que peninha de você por incesto ser crime... Seu irmão é tããããão booom...

— Hermione! – exclamou ela. – Chega, okay?

— Ele e o Ray... Ele com aquela Susan e o Ray com a inútil da Mariah... – Hermione ficou séria de repente. – Desde quando homens sexy e heterossexuais têm permissão de ser monogâmicos a menos que seja comigo? E isso inclui você, Draco... Tão boooom...

Draco sentiu-se lisonjeado, mas Gina cansara-se do espetáculo. Ela detestava qualquer pessoa bêbada, a menos que essa pessoa fosse Harry, porque ele ficava manso como um cachorrinho bem treinado. Fez com que Hermione bebesse todo o conteúdo de um frasquinho e entornou ela própria uma das doses de whisky. Draco tratou da outra e Hermione bebeu o restante da que começara a tomar.

— E aí, qual o resultado? – perguntou ela, sorrindo, segundos depois, sem sinais de ter bebido. A poção de Gina era muito eficiente.

— Duas e um quarto – disse Draco, sorrindo. – Duas e um quarto e três garotos chamados de gostosos.

Hermione baixou a cabeça, corada, e os outros dois desataram a rir. Ela, por fim, acabou rindo também. Depois, firme nos Manolos que ainda calçava e tendo certeza de que não amarrotara o curto Burberry, ela subiu, junto a Gina, novamente para a Sala Comunal, combinando de encontrar Draco no início da escadaria que dava para o Salão Principal. Tomaram banho e se encontraram para pegar as roupas.

— Regra número um – disse Gina, dentro do pseudo-guarda-roupa, pegando a roupa que escolhera –: você nunca chega na festa no horário. Entendeu? Isso é para convidados. Não para a dona da festa, que, no caso, são donas, e somos nós. Regra número dois: chegou na festa, não olhe! Você está lá para ser olhada, não para olhar. Vão olhar para você e te dissecar com os olhos. Acostume-se, e nunca retribua o olhar. Não inspira poder. Parece fútil, mas é sério. Ninguém espera que você retribua, e vão ficar escandalizados se você olhar. Por isso, há o sinal: só olhamos para a festa quando Draco pega nossos casacos e põe sobre a mesa. Só assim. Agora, pegue a roupa que eu te dei ontem, se vista e me encontre lá embaixo para a maquiagem.

Dito isso, ela saiu, deixando a garota a abrir o pacote que ganhara no dia anterior. Abriu um por um, e percebeu que, embora não fossem tão comportadas quanto o Gucci que ela comprara naquela tarde, não eram o que Hermione usaria até três dias atrás. Definitivamente. Relutante, ela vestiu-se e se olhou no espelho. Era uma experiência bizarra, como se ela própria se olhasse fora de sua pele. Nada agradável. Nadinha. Resoluta e respirando tão fundo que achou que romperia os pulmões, ela se despediu de seu reflexo e começou a descer as escadas.

*♥ ~* ♥ * Ron/Hermione 4 Ever * ♥ *~ ♥ *

Aquilo fora um flerte? Oh, meu Merlin, aquilo fora um flerte! Um desafio, praticamente! E se Brian aceitasse? Como ela supostamente deveria reagir? Meleca! Por que Gina sempre se esquecia dos detalhes? E por que sempre dos detalhes constrangedores?

— Acredito que tenho então direito a uma longa dança. – Ele colocou a mão direita sob a blusa da garota, em suas costas.

— Faça o que quiser com essa mão – disse Hermione, com um meio-sorriso. – Mas se você conseguir amassar a seda dessa blusa Celine, você não levantará mais.

— Desde que você também não levante...

[...]

— Quer parar? – perguntou ele, sorrindo, sugestivo.

— Por quê? – replicou ela, quase inocente. – Minha blusa não está amassada.

*♥ ~* ♥ * Ron/Hermione 4 Ever * ♥ *~ ♥ *

*Postando enquanto arruma as coisas para a apresentação de Português* Aaaah! Sim, eu postei o quatro, depois de muito sofrimento para conseguir tempo para usar a net... Sorry pela demora! Espero que tenham gostado.

Agradecimentos:

A Naty, que insistiu tanto que acabou ganhando a disputa posta/não posta, então cá estou eu;

A Raysa Aride Coimbra Bicalho, que ainda bem, está vivaaa (!!) e não esqueceu de comentar... O Rony foi mesmo muito fofo, não foi? Pois é, ele e a Mi combinam;

A Lauren Weinsberger, que criou um livro maravilhindo que eu amei demais.

Não me decepcionem! Comentem, please!

Até breve, peoples! Kisses!!
=***
&
o/

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