Estranho Jeito de Amar





Quanta bobagem, tudo o que se falou
Me olho no espelho e já nem sei mais quem sou


Encontrou Raymond na saída da aula de Trato das Criaturas Mágicas. Era a hora. Se ela não falasse com ele, seria tarde. Observou seu reflexo na água do lago. Não poderia, jamais, se comparar à garota que vivera em Hogwarts, nos anos anteriores, sob seu nome. Aquela, mudada, transformada, inescrupulosa, às vezes, talvez, era seu eu. Aquela que ia rumo à destruição de um relacionamento que, a garota tinha certeza disso, não suportaria o baque. Seria aquela vez, ou nunca mais.

Andou os poucos passos que a separavam do namorado com um obstinação incompreensível. Ele conversava com a Clarisse, que ria abertamente e tinha as mãos entrelaçadas nas dele. Estavam afastados da turma, e pareciam entretidos demais para perceber a presença de Hermione. A garota, então, pigarreou e fitou o namorado. O sorriso desaparecera de seu rosto, e ele parecia preocupado, temeroso.

— Acho que seria bom se nós conversássemos – disse Hermione, séria.

Ele deu um beijo na testa de Clarisse.

— Depois eu falo com você, Lari – murmurou ele, no que a garota assentiu com a cabeça e saiu de perto acompanhando a turma na qual ela entrara de penetra. – Diga.

— Antes, me diga uma coisa – pediu a garota. Ele não objetou. – Quem era aquela?

Quanto talento pra discutir em vão
Será tão frágil nossa ligação?


Foi a primeira vez, em toda a sua vida, que Hermione viu Raymond corar e desviar os olhos. Depois, com um suspiro, ele voltou-se para a namorada e respondeu, sério:

— Clarisse faz a ronda comigo. – Ele engoliu em seco. – E eu acho realmente que precisamos conversar.

Hermione sentou-se, desalentada, ao lado do rapaz.

— Pelo amor de Merlin, Ray, não diga o que eu acho que você me dirá – suplicou ela, perscrutando-o com os olhos. Só quando estava a poucas palavras de perdê-lo é que ela se deu conta do quanto ele fora importante.

— Se você prefere a mentira tanto assim... – replicou ele, suave. Passou a mão pelo rosto da namorada e sentiu que ela repelia com carinho o toque.

A garota fechou os olhos lentamente e sentiu as lágrimas começarem a correr. Doía, apesar de estar terminando de uma maneira mais suave do que ela pensava que terminaria.

— Há quanto tempo? – perguntou ela, sentida. Duplamente, ainda por cima: por não ter percebido como Ray andava estranho e por ter tido coragem de agir da mesma maneira com ele.

— Nem três semanas – respondeu Ray, sério. – E não vou mentir, dizendo que eu não sabia, ou qualquer idiotice desse tipo. Sou crescidinho, Hermione, e posso agüentar as conseqüências do que faço.

— E você certamente agüentará. – Ela cerrou os dentes, respirando com dificuldade. Queria ter coragem para bater em Ray, descontar a raiva que sentia de Rony no rapaz à frente, que pensava ser o alvo certo desse sentimento.

Não tem que ser assim
Tanto desencontro, mágoa e dor
Porque é que a gente tem que se arriscar?


Ficaram sentados, em silêncio, por alguns momentos. Quando Ray voltou-se para a garota novamente, viu um sorriso ébrio e lavado de lágrimas em seu rosto.

— Me perdoe – suplicou ele, compadecido. Não fora justo com Hermione ao esconder aquilo por tanto tempo.

— Perdoar o quê? – replicou ela, chorando ainda, mas não mais sorrindo. – Perdoar-lhe porque você esteve a meu lado o tempo todo? Perdoar-lhe porque você foi atrás da sua felicidade?

— Eu não quis te magoar, eu juro... – Ele tinha os olhos brilhantes de lágrimas que não cairiam. – Eu sei que você não vai entender, mas... Eu... Não há desculpas, eu sei, mas... Você andava distante, e algo... O nosso amor... De repente ele não era mais que uma amizade forte demais... Eu sei que não é compreensível, mas...

— Você está errado, Ray – murmurou ela. – É compreensível. Os traidores entendem seus iguais. – Ela o fitou. O rapaz parecia abalado com aquela insinuação, mas não muito crédulo, então Hermione pisou na ferida. – Eu te amo, Ray. Mais do que você pode imaginar, mas não do modo certo. Eu procurei esse modo... Em outro lugar, e não vou mentir dizendo que não achei. Estamos pondo as cartas na mesa, e meu baralho está bem mais sujo que o seu.

Então volta pra mim
Deixa o tempo curar
Esse estranho jeito de amar


O rapaz virou o rosto. Suspirou uma vez, e segurou o queixo da namorada, erguendo-lhe o rosto e fitando-lhe fundo nos olhos. Ela estava mais ferida que ele, muito mais. Por algum motivo, que ele não conseguia compreender qual era.

— Você... Pode me dizer quem era? – perguntou Ray, firme.

— Eu não vou arruinar uma amizade Ray... – Ele insistiu. – Por favor, não... Eu não posso... Não seria justo.

— Seja lá quem for, te deu o amor e faltou no quesito felicidade – replicou ele, sério, com um pouco de raiva em relação ao garoto que estivera com Hermione. – Você não está feliz. Nada feliz.

— Felicidade é para quem pode, não para quem quer – murmurou ela, enxugando as lágrimas. – Por isso eu não me sinto mal em relação a você. Você está feliz, Ray. E será muito feliz, seja com Clarisse, ou não. E, de certa forma, me alivia saber que sua felicidade nada tem a ver comigo. Eu nunca conseguiria te fazer feliz. Não do jeito como você merece.

Ela parou de falar e ficou olhando para o chão, as pernas balançando infantilmente e batendo na mureta de pedras sobre a qual eles haviam sentado. Estava aliviada, ferida, magoada, tudo ao mesmo tempo. Queria contar tudo a Ray, sabendo que, perdendo um namorado, ganhara um eterno confidente, mas não podia, tinha medo, um medo espasmódico e terrorista, avassalador, que lhe acabava com as palavras antes que essas lhe chegassem à boca.

Sentiu a mão quente e firme de Raymond pousar sobre a sua, e recostou a cabeça no ombro do rapaz. Ainda não haviam terminado formalmente, e ela queria adiar esse momento o quanto pudesse, porque, enquanto estivesse com ele, não precisaria admitir que gostava de Rony.

Falsas promessas, erros tão banais
Mas ninguém cede e pensa em voltar atrás


— Eu daria tudo o que eu tenho para descobrir o que está te fazendo tão infeliz – sussurrou Ray, entristecido. – Parece que algo não está nem um pouco certo, e isso está acabando comigo. Começo a me sentir mais culpado do que jamais pensei que me sentiria.

— Oh, não, Ray – apressou-se ela a dizer. – Não tem nada a ver com você. O que está me incomodando é... É outra coisa. – Ela baixou os olhos para a aliança que usava desde que haviam completado o primeiro mês de namoro. Com um suspiro, tirou-a do dedo e segurou-a. Era a hora. Ela precisava libertar Raymond, ainda que isso a fizesse sentir-se mal. – Toma. – A garota estendeu-lhe a aliança. – Você é oficialmente um homem livre, agora, Ray. Clarisse será muito feliz.

— E você? – perguntou ele, preocupado. – Acha que eu vou me esquecer de você? Acha realmente que vou deixar de pensar em você a cada segundo, me perguntando como você está, se o cretino que está te ferindo desse jeito já se conscientizou do que faz e está disposto a te tornar a garota mais feliz do mundo? Acha realmente que está terminado? – Ele sorriu. – Não, Hermione. Está apenas começando. Porque eu amo você e não deixarei de amar até o dia em que eu morrer. Lembra que eu te prometi que estaria sempre a teu lado? Não menti, Hermione. Eu estarei. Para qualquer lado que você venha a olhar, eu estarei ali. Esperando.

— Esperando o que, Ray? – perguntou ela, sorrindo levemente, apesar do que sentia.

— Que você sorria de verdade – tornou ele. – Que sorria como eu nunca consegui te fazer sorrir.

Não tem que ser assim
Tanto desencontro, mágoa e dor
Porque é que a gente tem que se arriscar?


— Eu sempre sorri a seu lado – retrucou ela, sentindo lágrimas, que dessa vez não tinham nada a ver com tristeza, inundarem-lhe os olhos. – Sempre.

— Mas deveria ter sorrido mais. – Ele a beijou na boca, num carinho de amigo. Depois, o rapaz a fitou, e Hermione sabia a pergunta que seria proferida. – O que ele fez para você? Ele que eu conheço e não sei quem é, e que te deixou assim?

Um turbilhão de emoções passou pela cabeça de Hermione. As atitudes de Rony nunca foram tão incompreensíveis para ela quanto naquele momento. Ela sentiu sua cabeça ficar pesada, e uma vontade alucinante de machucar alguém se apossou dela. Com um movimento rápido, ela agarrou a camisa de Ray, afundando ali o rosto encharcado de lágrimas, apertando o tecido com tanta força que o poderia partir. O rapaz a envolveu em um abraço apertado, mas ela não se acalmou. Como queria que não fosse daquele jeito, que tudo tivesse permanecido como estava antes, normal, feliz... Fungou, e o pranto deixou de ser silencioso.

— Não chore, por Merlin, Hermione... – Ele beijou-lhe o topo da cabeça. – Não faça isso conosco...

Então volta pra mim
Deixa o tempo curar
Esse estranho jeito de amar


— Eu só queria que ele fosse normal! – Ela não o fitou. – Eu o amo, Ray, e ele sabe disso, mas... Droga, por que ele não admite? Qual é o prazer que ele tem em ficar me vendo chorar, noite após noite, e depois me entregar aqueles malditos pedaços de horcruxes como se tivessem algum significado... Por que eu não posso odiá-lo? Seria tão mais fácil...!

Ela não percebeu que, ao mencionar os pedaços de horcruxes, entregara a identidade do rapaz a Ray. Rony. Raymond estava tão envolvido na busca aos horcruxes que sabia que, a cada um que eles destruíam, Rony pegava um pedaço para, como ele próprio dissera, “seus propósitos escusos”, e nunca mais aquele pedaço era visto. Ao final, se os “propósitos escusos” dessem certo, ele dissera que queimaria os nacos que pegara, junto ao último horcrux, terminando assim com o legado de Voldemort sobre a Terra.

— Mione... – Ele avançaria cautelosamente, porque não queria pressioná-la, e precisava desesperadamente saber se deveria ou não matar Rony. – Você... Acha que ele sente o mesmo por você?

— Eu não sei outro nome para dar a esse sentimento – desabafou ela, se acalmando um pouco. – Se não é amor, eu não conheço nada da vida; sou mais inexperiente até que as mandrágoras. – Ela o fitou. – E ele sabe que me machuca, Ray, e sente um prazer sádico nisso, eu sei... Só não entendo por que...

O rapaz aconchegou a garota contra si. Não, não podia interferir. Interferiria se Rony estivesse apenas brincando com Hermione, mas ele não estava... Raymond o conhecia o suficiente para saber que ele não estava brincando, e nunca tencionara brincar.

Esquece esse jogo, não há vencedor
Mesmo roteiro de sempre, cansou


Mais tarde após a hora do almoço, numa miraculosa aula vaga – que, obviamente, era a última do dia –, Hermione sentou-se para jogar xadrez de bruxo no Salão Principal junto a Susan. Esperava Gina e os outros, especialmente Ray e Clarisse. Ele, porque se tornara um excelente ouvinte, e ela, porque queria conhecê-la. Simplesmente. Rony dissera que Clarisse era legal, e ela ainda estava esperando encontrar uma sonserina legal. Mariah estava fora da lista, então sobravam poucas esperanças. Bem poucas.

Uma investida certeira de Susan terminou o jogo. Enquanto elas discutiam o lance, Raymond chegou, prudentemente afastado de Clarisse, como bons amigos, apenas. Não queria que toda a escola soubesse do fim de seu relacionamento com Hermione.

— Mi! – exclamou ele, no que a garota atirou-se a seu pescoço e abraçou-o com força. – Essa é Clarisse. Lari, essa é Hermione.

Ela separou-se do rapaz e abraçou a sonserina, baixando a voz para um sussurro quase inaudível:

— Você será muito feliz.

Depois, a despeito da expressão de confusão no rosto da loira, ela se sentou e sorriu. Sorriria por muito tempo, levando aquela farsa adiante enquanto pudesse. A farsa de que nada estava errado, de que nada a afetava. Mas, ah, sim, afetava. Ele a afetava. Ele que havia chegado e se sentado a seu lado. Aqueles olhos claros lhe mandavam uma mensagem muito clara: você sabe que é verdade, mas eu nunca vou admitir. Os olhos que sempre lhe haviam revelado tudo e omitido tudo. Sempre assim.

Vou te amando e me frustrando
E sobrevivendo por um fio


Não percebia as pessoas falando consigo. Estava aérea. Propositalmente aérea, para não sentir a presença de Rony a seu lado. Ele percebia, ela sabia que ele percebia que a estava afetando. Queria sumir. Acabar com aquilo. Queria coisas demais, mas o que poderia fazer? Não ia se erguer e pedir satisfações ao rapaz, mesmo porque ele não lhe daria. Também não podia esquecer; a simples idéia de cogitar essa possibilidade doía mais do que sofrer naquele silêncio impingido.

Sentiu o toque suave das mãos dele nos seus ombros. Estava exausta de fingir, e o fizera por tão pouco tempo... Recostou a cabeça no ombro do ruivo, lutando contra si mesma para dizer a sua mente que não era Rony, que ele não tinha nada a ver com o rapaz que a segurava com tanto carinho. Quis chorar, e sabia que não podia. Quis morrer, e sabia que também não podia. Estava tolhida. Presa.

Uma dor lancinante no quadril despertou-a por completo. Ela conteve um grito, e fitou Rony, surpresa. Os outros já haviam se dispersado e ela estava novamente com o rapaz, em um corredor que não reconhecia. Tinha andado um bocado e nem se dera conta disso.

Mas tô aqui, sem desistir
Volta pra mim


Sabia o que aconteceria. Sabia que choraria mil vezes depois daquilo, mas não podia evitar. Ela ansiava pelo rapaz a cada segundo, porque tinha certeza de que, mesmo que bem lá no fundo, ele gostava dela. Os dois eram dependentes um do outro, dependentes físicos, químicos, envolvidos em uma pequena guerra secreta.

— Eu te odeio – murmurou ela, sem convicção, quando ele a pressionou contra a parede e aproximou o rosto de sua face.

— Eu também – replicou ele, rouco, firme, beijando-a em seguida.

A sensação era imutável. Mesmo estando ela separada de Ray, ainda era proibido, ainda era secreto. Ela ainda sabia que discutiriam no dia seguinte se houvesse algum motivo pelo qual o assunto devesse vir à tona, e que haveria mais um pedaço de horcrux e mais dor e lágrimas. A certeza era absoluta, mas o sentimento era irrepreensível. Não adiantava tentar. Ele sempre ganhava.

Não tem que ser assim
Tanto desencontro, mágoa e dor
Porque é que a gente tem que se arriscar?


— Você sabe, não sabe? – perguntou ele, num murmúrio quase inaudível.

— Tão bem quanto você – respondeu ela.

Não sabia a que se referia a pergunta, mas sabia que aquela era a resposta certa. Repetiu ainda uma vez que o odiava, e recebeu a mesma resposta de antes. Horas depois, ela compreenderia que ele não a odiava, mas odiava a si mesmo. Naquele momento, no entanto, não quis pensar em mais nada. A única coisa que se lembrou de fazer foi pedir a Morgana que ele lembrasse no dia seguinte.

Então volta pra mim
Deixa o tempo curar
Esse estranho jeito de amar




*♥ ~* ♥ * Ron/Hermione 4 Ever * ♥ *~ ♥ *

Pois é, a cada dia eu demoro mais. o.o Que medo de mim. Mas o meu MP4 pifou, com o capítulo dentro, e só agora eu o resgatei. =] Já disse que eu odeio tecnologia? Anyway, tentarei me fazer beeeeem mais presente.

T H A N K I N G

Naty: Bom, é você quem me enche o saco pra postar [/fato]. E a idéia é toda sua e você é a única que me faz pegar dois ônibus só pra me dizer que a fic tá atrasada. E você é a única que me ameaça diariamente. Thank you.

Aninha Granger Weasley: Obrigada pela paciência, e por gostar da fic. ^^

Fernanda: Bom, não foi tão logo, mas... Eu postei, ó! *aponta pra cima*

Taiane Araújo: Bem vinda! (Porque eu estou com a imressão de que ainda não te disse isso.) Obrigada pelo elogio. ^^ E eu tentarei demorar menos.

Maira Daróz: Let's say que eu concordo, e o Brian merece um soco bem lindo naquele narizinho empinado dele. [/runf]

Camylla Martiniano: Como acho que ainda não te dei boas vindas, sede bem-vinda, flôor! E, bom o Rony conversa pouco com o Harry porque o foco, apesar de não ser em 1ª pessoa, é na Mione. xD

Luxúria Black: Pois é, uma candy shop bruxa, yay! \o/ O que eu não dava para estar dentro dela, huh? Sede bem vinda!

Fenf Igo: Yeah, renasceu das cinzas! E não me roga praga que eu nunca mais posto, hein?

Xuxuas, obrigada por lerem, e por me aturarem! Amocês! ;* See y'all soon!

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