Cinderela





- CAPÍTULO ONZE -


Cinderela


 


O rosto oval e leitoso da princesa adquiriu uma pequena ruga na maçã esquerda quando ela deu um meio sorriso.

- De emprregade. – ela respondeu, os olhos castanhos adquirindo um brilho malévolo – E nam gostei nadinha desse tom arrogante. Pode abaixarr a voz quande se dirigirr a mim. Aliás – seus olhos se apertaram na direção de Aya – eu nam querro nem que vous fale comigue. Pode danificarr minha audiçon com essa voze grrutual.


Aya sentiu as torradas e o chá que tomara de manhã formar um bolo em seu estômago, prestes a atingir aquele rosto altivo. O pescoço de Lorène, cujas veias saltavam devido à magreza exagerada da princesa, era como se fosse um ímã, atraindo suas mãos a apertá-lo, sufocá-lo, esganá-lo. Aya soltou o ar devagar, a cabeça fervendo, enquanto escolhia entre pelo menos uma dúzia de possíveis respostas que poderia dar àquela infame. Abriu a boca, mas não saiu nada além de um vapor quente. Abriu-a novamente, mas parecia que sua voz tinha escapado pelo nariz. Então, com um olhar furioso em direção a Alex, ela entendeu.


- Melhor assim. – Lorène deu risinho – Agorre, prra cozinhe.


Aya apertou os olhos, furiosa, xingando, gritando inutilmente com a voz inexistente. Decidira finalmente pela agressão manual quando alguém pegou-a pelo braço, arrastando-a para longe da princesa.


- Isso não fica assim. Quem você pensa que é?! – Aya esperneava, mas uma sílaba sequer saiu por sua boca. Quando finalmente entrou na cozinha ela foi olhar para a dona das mãos que a arrastara saguão afora.


- Sonorus. – Amel murmurou, enquanto Aya sentia sua garganta arder.


- Foi você?! – ela perguntou indignada, a voz saindo mais alta que pretendia.


- É lógique. – a morena retrucou, desviando do olhar de Aya e voltando para limpar o balcão de mármore – Você ia acabarr com as pouques chances que tinha de viver, se respondesse o que prretendia.


- Era o que ela merecia! – Aya retrucou com a voz estridente – Amel, por Merlim, você vai me dizer que não se importou nem um pouco com o que ela disse?


Aya se arrependeu da pergunta no segundo seguinte, quando Amel ergueu seus olhos para encará-la. Se nunca tivesse visto os olhos cinzentos da morena, poderia jurar que eles eram negros.


- Vous não pode escutarr. – Amel respondeu, enquanto Aya desviava seus olhos ambarinos dos dela – Não pode ouvirr uma palavrra ruim que saia da boca dela. Aya, vous tem que colocarr uma côse na sua cabeça: Ela é a prrincess. Ponto final.


- Ponto final?! – repetiu, histérica, sem conseguir encarar a força dos olhos de Amel – Que ponto final, Amel! Está louca?


- Vous sabe muite bem quem é a louca nessa cozinhe. – Amel retrucou impaciente – Aya, se nam está disposte a aguentar a arrongance de Lorène, por que não volta prra Inglaterra? Lá você tem todo um arsenal de emprregades e pais que se prreocupam com vous. Pode terr certeze que eles contrratariam todes os aurores de Londres pra te proteger, caso Conde Adolphe resolvesse te perseguir... O que, a essa alture, eu duvide muite que faça. Isse é uma côse que eu realmente não entendo. Conde Adolphe é muite poderose aqui no Fronce, mas duvide muite que consiga te pegar na Inglaterra. Você sabe disse. Sabia antes de vir. Por que não ficou lá, afinal?


Aya sentiu seu rostou endurecer automaticamente. Aquela era uma daquelas verdades que você guarda no seu subconsciente. Ela sabia, claro, que a fortuna e a fama de seus pais a protegeriam muito bem na Inglaterra. Mesmo longe deles, ela mesma saberia se defender sozinha caso os temidos Ases resolvessem caçá-la. O que Amel não entendia – e Aya nunca explicaria para ela – era que ela não viera para a França por medo de se machucar.


- Não queria pôr meus pais em risco. – ela finalmente respondeu, e de certo modo sentia que Amel desconfiava da mentira – Conde Adolphe poderia não conseguir me pegar, mas ele certamente pegaria meus pais.


- Não é os seus pais. – Amel retrucou, e Aya teve de encarar aquele tufão cinzento novamente – Vous acha que Alexander faria o mesme por você? Acha que ele arriscaria sua vida por você? Aya, não seja tola. Nam lute por quem não faria o mesme por você.


Incapaz de retrucar àquele argumento, Aya apenas largou-se em uma cadeira, e baixou os olhos para o chão. Amel tinha razão, afinal. Aya passara tanto tempo de sua vida se dedicando à Alex, que nunca chegara a refletir se ele faria o mesmo por ela. Uma parte dela sabia, tinha certeza absoluta que ele faria sim; que Alex iria até os portões do inferno por ela, ele apenas não sabia demonstrar seus sentimentos. Mas talvez aquilo fosse o que ela desejava, não o que de fato acontecia.


- Independentemente disse, - Amel prosseguiu – se você pretende continuar aqui em Chatêau D´Aile, tem que esquecer essa vida de mordomias que teve. Esqueça que tinha vinte crriade a seu dispor. Nesse mansón, você não passa de um reles emprregade, e tem que estarr consciente disse. Caso o contrrario, pegue um dos cavales e fuja.


- Não vou fugir. – Aya retrucou com a voz firme.


Amel soltou o ar lentamente, parecendo decepcionada.


- Entam, aceite. – a morena respondeu, com a voz mais doce.


Se Aya quisesse realmente continuar ao lado de Alex, daquele momento em diante era aquela palavra que teria de lhe servir como lema: aceite. Aceitar a humilhação e o trabalho árduo que nunca teria de realizar sob as asas de Amelia e Olívio Wood. Aceitar a posição que lhe era oferecida como empregada, e agradecer por continuar a conviver com Alex. Podia sentir em cada palavra de Amel sua indignação pela submissão de Aya por Alex. Afinal, para Amel, que vivera sua vida confinada naquela mansão, servindo durante cada minuto de sua vida, era incompreensível uma jovem rica e bonita como Aya se submeter à prisão e a um trabalho por um simples rapaz, que nem ao menos reconhecia todo aquele sacrifício. Aya, que podia estar na universidade agora, estudando, desfrutando de sua juventude e liberdade em viagens, em novas descobertas, encontrava-se agora dormindo em um cubículo com uma janela minuscúla e um banheiro menor ainda.


Lorène ordenara que Aya fosse dormir em um quarto ao lado de Amel, no térreo da mansão. No dia seguinte à sua chegada, ela partira a varinha de Aya ao meio, e obrigara a jovem Wood a realizar todos os trabalhos domésticos com os punhos. Suas mãos, que outrora eram macias e impecáveis, encontravam-se cheias de bolhas e feridas. Os cabelos brilhantes estavam secos, e Aya não tinha a mesma energia de antes.


Mas não só de desastres a experiência de três semanas e meia naquela vida foi feita. Aya aprendera a ser mais humilde, e de certo modo estava até mais doce e gentil com as pessoas. Apesar da proibição da princesa em Alex se aproximar dela, Aya podia sentir que apenas sua presença fazia o loiro sentir-se reconfortado de algum modo. Desde aquele dia, desde aquele beijo, eles não trocavam palavras, mas aquele contato verbal não era mais necessário entre eles; apenas com o olhar de Alex queimando sua pele ela podia se aquecer dos ventos gelados e dos ralos flocos de neve que caiam em algumas noites.


- Auguste, Al, François, e essa semana Alain. – Amel contava nos dedos enquanto esperava a água ferver na panela – Agorre faltam Alexander, James e Angus. Quem você acha que será o proxime?


- Não sei. – Aya respondeu com a voz rouca; apanhara um forte resfriado dois dias atrás, quando Lorène ordenara que ela lavasse os cavalos sob uma forte chuva. Amel remexeu-se ansiosa, e Aya podia compreendê-la, pois ela mesma começava a ficar angustiada com a demora.


A princesa decidira que, para escolher seu futuro marido, quem se tornaria seu consorte e receberia a coroa, ela passaria uma semana com cada cavaleiro para conhecê-lo melhor. Almoçaria, jantaria, faria passeios, e cada Ás teria que dedicar seu tempo integral durante a semana escolhida por Lorène. A primeira semana tinha sido de Auguste, a segunda de Al, a terceira de François, e aquela quarta, que chegaria ao fim dali a dois dias, estava sendo de Alain.


- Amel, posso te perguntar uma coisa? – Aya acabara de pôr os pratos à mesa e agora encarava os olhos cinzentos de Amel.


- Pode perguntar, só nam garranto que vou responder. – ela retrucou com uma sobrancelha erguida.


Aya deu de ombros.


- Você está conseguindo falar a sós com James?


Amel deu um meio sorriso por um mísero segundo.


- Nam. – respondeu, e Aya soube na hora que ela mentia. Apertou os olhos, prestes a insistir na pergunta, quando os Ases entraram para jantar. Todos estavam de ótimo humor naquela semana; não somente se livraram do gênio insuportável de Lorène como também dos comentários críticos de Alain. Os dois jantariam fora aquela noite, diferentemente das últimas semanas, quando Lorène obrigara todos a realizar as refeições na sala de jantar, longe de Aya e Amel.


- Nossa, estou com a barriga roncando! – reclamou Angus fuçando nas panelas – O que você fez hoje, Amel?


- Costeletas de boi com molho de pêra e salada de queijo. – ela respondeu com um sorriso; Aya reparara que Amel sentia muita falta das refeições barulhentas.


- Angus teve que controlar o bicho em seu estômago quando Lorène falou que ele comia demais. – James comentou baixinho, olhando diretamente para Amel.


- É, mas agora eu vou tirar o atraso! – Angus exclamou com a voz abafada, enquanto empilhava a montanha de comida no prato de porcelana.


Al já mordia uma maçã, quando Aya se virou para observar os cavaleiros. Auguste permanecia com a mesma seriedade de sempre, François parecia um tanto menos autoritário que antes, James parecia exausto com olheiras enormes e cabelos mais despenteados que nunca. Aya correu os olhos pela cozinha novamente e deu por falta de uma pessoa loira e carrancuda.


- Cadê o Alex? – perguntou, de um modo cauteloso. Mesmo Lorène, Alain e Conde Adolphe estando fora, ela temia que pudessem escutá-la.


- Disse que não estava passando bem. – James respondeu, com a voz cansada – Acho que pegou uma gripe.


Aya olhou ansiosa para Amel. Depois de um tempo encarando os orbes cinzentos, Amel fez um curto aceno com a cabeça, e Aya disparou com passos apressados na direção do quarto do loiro.


Passando mal? Gripe? O que será que Alex tinha?


Fazia três semanas que ela não trocava uma palavra com ele, e se estivesse com alguma doença séria?


Foi com as mãos trêmulas que ela afastou a tapeçaria que escondia a porta secreta para o quarto de Alex no primeiro andar. Girou a maçaneta, correndo os olhos pelo amplo aposento... vazio. Deu dois passos para frente, certificando-se que ele não se encontrava debruçado na varanda, como ele tanto apreciava, e quando ameaçou se dirigir ao banheiro da suíte, escutou sua voz, vinda de trás. Como sentira falta daquela voz.


- O que está fazendo aqui? – ele perguntou, e ela se virou para trás.


- James me disse que você estava passando mal. – ela respondeu, a voz falhando devido ao resfriado – Queria saber se você não queria que eu te trouxesse o jantar.


Alex apertou os olhos esmeraldinos, irritado.


- Você não é minha empregada. – retrucou – Não precisa se rebaixar desse jeito.


Aya sentiu seus olhos arderem. Três semanas atrás, se Alex a tratasse dessa maneira depois de tudo o que ela se propôs a passar por ele, Aya provavelmente o azararia; faria suas malas e voltaria para a Inglaterra montada em Leo. Naquele momento, no entanto, não conseguiu reprimir as lágrimas que se formavam em seus olhos. Lágrimas de cansaço. Lágrimas de tristeza. Não tinha mais forças para retrucar. Não tinha argumentos para desarmar o loiro. Estava fraca, patética, e não podia nem ao menos culpá-lo. Afinal, Alex nunca pedira para ela ficar.


- Se você não precisa de nada – ela passou por ele, girando a maçaneta para se retirar, quando sentiu a mão dele apertar seu braço.


Abaixou os olhos, fitando o chão. Não queria que visse suas lágrimas. Não queria que visse as mãos feridas, o cabelo desgrenhado. Naquele momento só queria que ele a deixasse ir.


- Por que você está fazendo isso? – Alex perguntou, virando-a de modo que ela ficasse de frente para ele – Aya – ele ergueu o queixo dela e encarou-a com aqueles olhos mesclados – Você nunca olha pra baixo, o que está acontecendo com você?


- Nada. – ela sorriu – Está tudo bem.


- Você não precisa forçar esse sorriso. – ele respondeu, sério – Não pra mim.


Ela sorriu novamente.


- Não é forçado. – respondeu, com uma serenidade surpreendente – Nunca preciso forçar um sorriso pra você, Alex.


Ele apertou os olhos, entreabriu os lábios carnudos para falar alguma coisa, quando seu rosto se transformou.


- O que você fez nas suas mãos? – perguntou com raiva, agarrando o pulso dela e erguendo-o para ficar na altura de seus olhos.


- Lorène quebrou minha varinha. – ela respondeu simplesmente – Acho que não estou acostumada com trabalho duro.


- Ela fez o quê?! – Aya ergueu seu olhar para encontrar a íris azul latejante de Alex.


- Quebrou minha varinha – ela respondeu, com a mesma calma – Você não sabia?


Alex apertou os olhos de fúria.


- Já chega! – gritou – Antes que Lorène volte você vai pegar Leo e voltar para a Inglaterra.


- Não, não vou. – ela respondeu firmemente, desvencilhando seu braço das mãos fortes de Alex.


Alex a fitou com raiva, mas Aya viu um sentimento misturado àquele turbilhão azulado de seus olhos: frustração.


- Por que você quer ficar? – ele gritou novamente; Aya nunca o vira descontrolado daquela maneira.


- Eu fico por você, Alex. – ela respondeu com outro sorriso, enquanto uma lágrima escorregava de seus olhos ambarinos – Faço qualquer coisa por você.


Aya encarou os olhos de Alex. Esverdearam-se no mesmo instante.


- Faça uma coisa por mim, então. – a voz dele mudara completamente, estava doce, e havia um tom de súplica que Aya não soubera reconhecer vindo daquela boca – Aya, vá embora.


De algum modo, lá no fundo, ela sabia ele pediria isso. E já tinha uma resposta pronta para aquele pedido.


- Não vou sem você.


Alex a encarou, o olhar confuso e perdido.


- Às vezes eu gostaria que você não fosse tão teimosa. – resmungou, esfregando os olhos com uma mão – Tão cabeça-dura, tão...


Alex bufou, e ergueu seus olhos para encará-la novamente.


- Tão... minha.


Aya sorriu, deixando as lágrimas de lado. A velha Aya que ainda morava em seu corpo falou mais alto, tomou-lhe as palavras antes que ela pudesse pensar para responder.


- Eu não sou sua Alex. – ele franziu a testa para ela – Você que é meu. É por isso que tenho que ficar perto. Pra princesa não roubar você de mim.


Alex sorriu pela primeira vez em três semanas. Um sorriso dividido entre o riso e o choro. Entre a alegria e a preocupação. Entre o drama e a comédia.


- Como é? – ergueu uma sobrancelha.


- Você ouviu. – Aya sorriu e fez menção de sair, mas Alex a impediu novamente, dessa vez colando suas costas contra a porta.


Aya sentiu sua respiração acelerar quando Alex encostou seu nariz arrebitado no dela.


- Repete. – o loiro murmurou, com aquela voz deliciosa que a fazia ter calafrios por todo o corpo.


- Você é meu. – ela sorriu, sentindo a respiração quente dele chocar contra sua boca entreaberta.


- Não, a outra coisa. – ele roçou levemente seus lábios no dela. Aya sentia sua pernas derreterem, e começou a deslizar em direção ao chão quando Alex a impediu, prensando seu corpo no dela.


- Eu... – ela murmurou, de olhos fechados – Eu não sou sua.


Aya sentiu os lábios de Alex curvando-se em um sorriso.


- É sim. – ele disse, a voz firme, antes de tomar seus lábios com vontade. O beijo começou passional, cheio de saudade, dor, raiva, tudo ao mesmo tempo. Alex dançava sua língua com a dela de um modo quase desesperado, enquanto passeava sua mão, saudosa, pelas costas de Aya. Ela prendeu seus dedos nos cabelos dele enquanto sentia-se cada vez mais pressionada contra a porta. Os arrepios, que ela não sentia desde o último contato com o loiro, eriçavam seus pêlos, e cada músculo de seu corpo endurecia nos braços do loiro. Separaram-se enfim, ofegantes e corados.


- Completamente minha. – Alex murmurou, encostando sua testa na dela.


Aya sorriu, sentindo aquele calor pulsante em seu ventre.


- Você que pensa. – ela sussurrou de volta, e ele a encostou ainda mais contra a porta.


- Por que você faz isso? – Alex afundara seus lábios no pescoço de Aya enquanto erguia levemente sua blusa com as mãos firmes.


- Pra te enlouquecer. – ela murmurou de volta, fechando os olhos e fazendo um esforço enorme para não derreter em meio àquele amasso.


Alex afastou seus lábios do torso desprotegido de Aya, deixando uma considerável marca avermelhada ali. Ela sabia o que ele estava fazendo. Aquela atitude era muito típica de Alex. Ele marcava seu território com aquela marca escandalosa. Ela era dele sim, mesmo que relutasse em admitir.


Alex afastou seu rosto, deixando uns bons três dedos de distância entre eles. As mãos agarravam firmemente sua cintura de um modo possessivo, autoritário.


- Diz. – ele mandou, a voz firme e o rosto sério.


Ela sorriu divertida antes de retrucar.


- Só se você falar primeiro.


Aquele era um jogo sem fim. Aya conhecia Alex bem o suficiente para saber que ele nunca admitiria pertencer à uma garota. Era mais fácil ele largá-la, mesmo contra a sua vontade evidente, que atingia Aya nas coxas, do que dizer aquelas palavras que ele exigia que saissem da boca dela. Aya sabia sim, mas preferia vê-lo se afastar por um momento do que admitir. Uma parte escura de sua mente, aquela próxima ao seu subconsciente talvez, pensava que admitindo aquilo, dizendo com todas as sílabas que ela era dele, faria Alex perder o interesse. Talvez, ele pensasse o mesmo.


- Eu amo você.


Ou não.


Aya sentiu uma marretada no estômago. Seus olhos saltaram, perplexos. Sua boca se antreabriu de espanto, mas ela não teve tempo para pensar naquelas três palavras que sairam entre aqueles lábios tão desejosos. Alex já avançava de novo, um beijo repleto de paixão.


Sentia o desejo dele pressioná-la enquanto giravam e caminhava a passos trôpegos pelo quarto mal iluminado. Como não podia deixar de ser, Aya enroscara o pé no tapete de pele de urso, e, agarrando-se a Alex, acabaram os dois caindo no chão.


- Senti saudades disso. – Alex sussurrou, por cima dela, enquanto eles faziam uma breve pausa para recuperar o fôlego.


Aya virou o rosto, corada. Se alguém visse os dois naquele instante, não acreditaria que ela virava o rosto para o loiro, que expressava todo seu ardor por ela em um momento único. O que Alex não sabia, era que ela não fora nunca de ninguém. Aya não poderia ter sido de nenhum outro rapaz. Ela era dele, e ai de quem se atrevesse a tê-la.


- O que foi? – Alex apertou os olhos mesclados.


- Eu nunca fui de ninguém. – ela murmurou, sem coragem de encará-lo.


- É claro que não. – Alex retrucou, com um sorriso iluminando o rosto – Porque você é minha, e só minha.


Ela sorriu, meneando a cabeça. Inacreditável. Alex sabia ser bem possessivo quando queria.


- Deixe eu ver você. – ele murmurou, a voz carregada de desejo reprimido. Ela virou o rosto para finalmente encará-lo. Alex tomou-lhe a mão direita, e levando-a em direção a seu rosto, beijando cada bolha, cada machucado. Com o rosto em chamas, Aya assentiu, trêmula.


Ele sorriu. Os olhos azuis esverdeados ou verde azulados brilharam de um modo tão intenso que Aya se sentira nua. Ergueu-a do chão com os braços fortes, caminhando tranquilamente até a cama e depositando a preciosa carga nos lençóis de linho italiano. Aya mordeu o lábio inferior, ansiosa, quando Alex ajoelhou-se no chão encostando o rosto em seu peito.


Ela podia sentir o hálito quente dele mesmo sob seu suéter de linho. Os cabelos loiros afastaram calmamente do contato, enquanto os olhos se encontravam. Naquele momento, eles não precisavam de palavras. Frases soltas ou sílabas juntas como “eu te amo” ou “eu sou sua” já não importavam mais. Os olhos ambarinos rasgados, e os verdes amendoados se entendiam. Aya e Alex compreenderam, naquele momento, que se pertenciam; não por causa de uma vida premeditada ou de um destino imutável, mas porque assim escolheram. E decidir que pertenciam um ao outro tornava aquela ligação infinitamente mais poderosa do que acreditar que se amavam por obra de um destino anônimo, sem rosto, sem força, sem coração.


Aya deixou-se deitar na cama e fechou os olhos quando sentiu as mãos firmes dele desabotoarem seu suéter e retirá-lo. A vergonha não permitiu-lhe abri-los enquanto Alex a observava. Sentiu os lábios quentes dele encostarem em sua barriga, fazendo uma contração espontânea tomar-lhe o ventre. O calor das mãos de Alex, que agora desabotoavam e puxavam sua saia pernas abaixo, causava-lhe calafrios inexplicáveis. Sentiu um vento frio bater em seu corpo, mas talvez fosse só mais uma daquelas correntes elétricas que faziam seu corpo pequeno tremer.


- Abra os olhos, Aya. – Alex sussurrou com aquela voz gostosa em seu ouvido, fazendo um gemido escapar dos lábios da pequena. Agora apenas aquele pedaço de pano negro abaixo de seu umbigo impedia Alex de olhar todo o seu corpo.



Alex beijou-lhe os lábios, mas se afastou quando ela ameaçou aprofundar o beijo. Aya abriu os olhos, confusa.


- Só jogando sujo pra você olhar mim... – ele murmurou com uma voz safada enquanto colava as testas e fitava olho no olho novamente. Aya relaxou. Sentiu segurança nos olhos esverdeados. Sentiu amor. Sentiu carinho, proteção e desejo. Tudo o que Alex não expressava com palavras ele deixava bem claro quando a olhava daquela maneira.


- Eu daria minha vassoura por seus pensamentos... – ela murmurou, tentando capturar os lábios dele, mas Alex se afastou de novo.


- Estava imaginando – ele afundou a língua em seu pescoço, arrancando um novo gemido abafado – que gosto você tem.


Aya sentiu um pequeno espasmo na barriga.


- Está brincando, não está? – perguntou, a voz trêmula de desejo.


Alex sorriu, beijando seus lábios longamente. Lançou um outro olhar significativo pra ela enquanto descia os lábios, deixando uma nova marca em seu pescoço.



“Se eu pudesse ficar...

Eu ficaria apenas no seu caminho
Então eu irei embora, mas eu sei
Eu pensarei em você
Em cada passo da minha jornada”


Aya fechou os olhos, sentindo o calor dele aquecê-la daquele sopro gelado que fora seus dias nas últimas três semanas. Alex estava lá. Ele estava... aqui.


Sentia suas carícias; ternas, molhadas e delicadas preenchendo seu corpo. Sentia suas mãos, firmes e audaciosas explorando cada curva, cada pedacinho de pele nua. Ela murmurava palavras inquietas e incompeensíveis enquanto chamava repetidamente por ele. “Alex, A-a-lex...”. Aya sentiu seu corpo se esticar todo para depois relaxar, quente, satisfeito, completo. Seu estômago despencara e inflara enquanto ela sentia uma onda de lava efervecente e espessa preencher suas veias, misturando-se ao sangue quente e pulsante e aquecendo seu coração.


Foi com um murmúrio rouco e um sorriso alargado que ela ganhou um caminho de beijos demorados até seu rosto novamente. Alex encostou os lábios em seu queixo, bochecha, bochecha, testa, nariz... lábios.

Foi naquele encostar de bocas, tão suave e apaixonado, onde o gosto de Aya se misturava ao de Alex, que ela admitiu pra si mesma que era inteiramente dele.

- Alex, eu... – ela tentou falar, mas sua garganta parecia entalada por aquela lava que a preenchera segundos atrás. O loiro apenas assentiu, com um resquício de sorriso nos lábios, e tomou-lhe os lábios novamente.


- Você é bem melhor que eu imaginava. – ele murmurou com a voz rouca em seu ouvido. Aya deixou um gemido escapar novamente.


- Imaginava...? – perguntou, ainda atordoada pela proximidade dele. Alex largara-se sobre seu corpo nu, prensando-a contra o lençol de linho.


- Em sonhos.


Ela sorriu, sem forças para perguntar sobre tais sonhos, apesar da curiosidade. Rolou na cama, invertendo as posições e descansando seu corpo contra o dele. O pijama de Alex, que constituia em uma fina calça de algodão listrada azul-e-branco, aquecia suas pernas, enquanto o peito desnudo do loiro em contato com seus seios causavam-lhe um calor quase surreal.


Alex brincava com mechas soltas da cabeleira castanha de Aya com uma mão, enquanto a outra entrelaçava sorrateiramente os dedos contra a mão machucada dela. Aya soltou um gemido baixo, de dor dessa vez, e Alex olhou-a com um misto de raiva e preocupação.


- Eu cortaria minhas mãos fora se for preciso, pra ter mais um momento desse com você. – ela respondeu com um sorriso no rosto, beijando-lhe os lábios.


Alex manteve a feição séria enquanto a fitava. Abriu a boca para repreendê-la, quando a porta do quarto se abriu com um estrondo.


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N/A: Heeeeeeeeeeeeeeei!!!! Parei em uma parte importante? Gostaram do capítulo? Eu postei no fórum Da comunidade da fic sobre o Nc, mas só a Emmy e a Tammie respondera.... =( resolvi fazer assim mesmo... Mas ficou levíssima né?! Na próxima (se tiver uma, se vocês gostarem da proposta...) talvez esquente um pouco mais... O que acharam do capítulo? Do que aconteceu com a Aya?? *Um agradecimento em especial à Tati, pela comunidade de OW&MC... Muito obrigada mesmo!! Fico até sem palavras com o carinho, me deixou muito muito feliz!!! Agora, aos coments:


Lígia: Oláá minha queridíssima!! Hahaha sério? Deu pra ficar com raiva da princesa?? Eu fiquei com um pouco de medo de apresentar ela... Não queria que fosse uma malvadeza forçada, sabe? Queria que fosse uma raiva verdadeira, daquelas que você sente vontade de tacar o computador longe de tanta raiva... hahaha... Será que a princesa é parente dos Malfoy?! Hmmmmmmmmmmm.... hehehe Bjão Lígia!! Muito obrigada pelos coments!!!


Tammie: Hahaha Tammie, se vc ficou arrepiada com o beijo? O que vc achou do que aconteceu nesse cap??? Hahahaha queria ver sua cara enquanto você estava lendo!! HAHAHA... Se você ficou com raiva da Lorène no cap 10, imagina nesse né!!! KKKK a parte do Al e do Auguste foi uma das que eu mais gostei de escrever!! Hahaha acho que você cair da cadeira quando descobrir o sobrenome deles!! ^^ hahahaha Muito muito obrigada por todo o apoio que você tem me dado ao longo da fic, nas comunidades, em td td td!!! Eu vi um post seu em uma das comunas do Olivio no orkut, e vi que vc recomendou minha fic!! Nossa, fiquei tão feliz que quase pulei da cadeira!!! Seu apoio significa muito pra mim Tammie, muito obrigada mesmo!!!


Lunny Lupin: Hahahaha estou até imaginando a raiva que você sentiu nesse capítulo né?! Hahaha com a aya dando uma de Cinderela!! Hahaha coitada... Mas isso mostra muito sobre a personalidade dela, e eu vou explicar mais pra frente... Hahaha jura que o nome da sua irmã é Lorena?! Mas ela gostou da princesa?! Hahahah acho difícil né!! Espero que você tenha gostado do capítulo!! Muito obrigada pelo comentário!! ^^


Tati l. : Ai queridona!! Sem palavras!! Muito muito obrigada pela comuna!! Heheh eu tentei entrar mas ainda ta como pendente... é moderada né?! Hahah a parte das cicatrizes eu ia deixar mais pro meio, mas veio essa oportunidade e resolvi já deixar um pouco dos próprios sentimentos do Alex quanto a Aya... Espero que você tenha gostado desse capítulo!! Muito obrigada pelo apoio viu!! Super beijo!


Emmy Black-Anglade: Ô Emmão... já tô até imaginando você surtando na cadeira com o que eu fiz com a Aya e se derretendo com a cena dos dois!!! Pra você eu já nem preciso dizer mais nada né??? Ahh, obrigada pelo testmonial no orkut, obrigada por todo o paoio que você tem me dado!! Você não sabe a força que você tem pra me levantar quando eu to meio desanimada!! Muito obrigada mesmo queridona do coração!!! Espero que tenha gostado do capítulo!! Beijãão


nash: CAHAM!!! Me re-cu-so a chamar minha sobrinha desnaturada de Nashilla!! Hahahah nossa, por onde você andou??? Quase tive um treco quando vi seu comentário, sem brincadeira!! Hahahaha... Aaah que bom que você gostou do final de OWMC... a estória acabou tomando outras proporções né?! Fiquei muito aliviada quando você disse que gostou, porque afinal, você que tem me acompanhado desde o 1º capítulo né!! Hahaha vc gostou do Auguste?! Que bom!! Ele vai aparecer bastante daqui a pouco!! Hahaha! Muito bom ter você de volta!! Obrigada pelo coment!!!!!! Bjão Nash!


E meu muito brigada à todos que lêem e acompanham a fic, e àqueles que têm o trabalho de comentar!!! Muito obrigada pelo apoio!!! Carol Cadilli, marikp, Thatha, Thássia... Obrigada mesmo!!

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