Hora de crescer, Mademoiselle





- CAPÍTULO UM -


Hora de crescer, Mademoiselle


 


Aya esquivou-se para o corredor, fechando a porta com cuidado às suas costas. Com um meio sorriso nos lábios, desceu as escadas do dormitório feminino, preocupando-se em não acordar um aluno adormecido no sofá da sala comunal da Grifinória.

A noite caíra nos terrenos de Hogwarts e quase toda a população viva do castelo encontrava-se em pleno sono. Ela sorriu marotamente antes de começar a subir os degraus de uma outra escadaria na torre dos leões. Já fizera aquele caminho durante tantas noites nesses sete anos em que Hogwarts fora seu lar, que nem mesmo a escuridão ou as estátuas postas em lugares não-convencionais, a faziam desviar de seu caminho.


Prendeu as longas madeixas castanhas em um coque desleixado, antes de virar à direita, e encontrar a porta que procurava com um sorriso.


- Dormitório masculino do sétimo ano, aí vou eu mais uma vez... – ela sussurrou, enquanto empurrava vagarosamente a pesada porta de carvalho, encontrando o aposento na penumbra, iluminado parcialmente pela luz da lua que entrava pela única janela aberta.


Fechou a porta com cuidado e caminhou com passos cautelosos à única cama de coluna que mantinha seu cortinado fechado. Vagarosamente ela empurrou o veludo vermelho, esquivando-se para dentro da cama e sentando nela com a delicadeza de um hipopótamo.


- Ei, Alex! – Aya se inclinou, sussurrando no ouvido do rapaz – Acorda!


O loiro, que até àquela hora dormia de barriga para baixo vestindo apenas as calças do pijama, soltou um resmungo em francês antes de enterrar a cabeça embaixo do travesseiro.


- Alex! – Aya insistiu, beliscando as costas do rapaz – Alex, preciso falar com você.


- Você não pode esperar até amanhã? – ele resmungou com a voz abafada pelo travesseiro.


- Não. – ela mordeu o lábio inferior enquanto torcia as mãos em sinal de aflição – Preciso falar agora!


Alex soltou um suspiro irritado, virando-se na cama e ajeitando o travesseiro sob os fios loiros.


- Se é tão importante... – ele respondeu entre bocejos.


Com um sorriso nervoso e o lábio preso entre os dentes, Aya deitou ao lado do rapaz, encarando seus olhos que àquela hora encontravam-se verdes como os de Kahlen. Sabia que aquele era um bom sinal: quanto mais as íris de Alex tornavam-se verdes, mais feliz o rapaz estava; o sentimento era reverso quando o azul tomava conta de seus orbes.


- O que você quer? – ele resmungou com a voz cansada, enquanto tentava manter os olhos abertos.


Aya sorriu, virando-se para encarar o loiro.


- Conversar. – ela respondeu dando de ombros.


- Espero que seja algo suficientemente importante pra você me despertar às três e meia da manhã! – ele rosnou, descansando os olhos.


- É importante. – Aya respondeu, sentindo sua voz trêmula. Odiava reagir daquela maneira na presença de Alex, mas no último ano aquilo se tornara cada vez mais impossível. Mesmo lutando contra todo o seu bom senso, ao simples toque do rapaz seus pêlos se eriçavam e uma onda de calor percorria seu corpo.


- Então diga logo. – ele retrucou com a voz sonolenta, enquanto Aya admirava a feição estranha do loiro com um sorriso nos lábios.


- Amanhã iremos embora daqui. – ela sussurrou, fechando os olhos e apertando-os com força – Amanhã de manhã, tudo estará acabado. Nada de escapar das aulas de transfiguração, nada de visitas noturnas à cozinha, nada de quadribol pra mim e nada de biblioteca pra você. Acabou, Alex... Hogwarts pra gente... Nunca mais.


Ela suspirou longamente, enquanto sentia a brisa gélida entrar pela janela e bater em seu rosto. Encolheu-se no mesmo instante em que Alex mostrava seus orbes verdes.


- Está com medo? – a voz dele oscilava entre inquisidora e divertida.


Aya abriu os olhos, encontrando o loiro encarando-a com uma sobrancelha erguida. Ela soltou um muxoxo debochado, antes de revirar os olhos para o rapaz.


- Você sabe que eu não tenho medo de nada. – ela rebateu, apertando os olhos quando ele fez menção de rir – Só estou um pouco... insegura com o que está por vir.


- Não sabia que medo tinha mudado de nome. – ele insistiu, sorrindo ao receber um tapa irritado da garota – Mas não se preocupe. Qualquer coisa que o amanhã tenha a oferecer, você estará preparada. Afinal, você sempre está.


Ela franziu o nariz levemente, claramente chocada com as palavras de Alex. Antigamente em momentos como aquele o loiro sempre tinha alguma frase irônica na ponta da língua para dizer à garota, e no entanto, lá estava ele, encorajando-a a fazer algo que nem ela mesmo sabia o que era.


Aya sabia que havia algo de errado. Desde o começo do ano Alex andava diferente. Desde que ele viajara para a França com Jean e Kahlen nas férias de verão, ele mudara. O loiro vivia na biblioteca do castelo, consultando títulos como “A História Bruxa por trás das Trouxas”, além de virar de um ano para outro uma pessoa completamente politizada com todos. Exceto claro, com ela.


Inspirou irritada com seus próprios pensamentos. Estava frustrada desde o começo do ano com a falta de informação vinda do “amigo”. Encheu os pulmões de ar, e finalmente conseguiu reunir coragem para indagar o que tanto a incomodava:


- O que aconteceu?


Alex pareceu confuso por um instante, mas logo sua feição despreocupada tomou-lhe a face novamente.


- Ora, não é óbvio? Você não sabe o que vai fazer depois que sair de Hogwarts, e está com medo.


Aya ergueu-se parcialmente da cama, apoiando-se com um braço.


- Não foi isso que eu perguntei, mas, de qualquer modo, eu não estou com medo! – retrucou indignada – E você fala como se tivesse alguma idéia do que fazer depois que sair daqui! Você está tão perdido quanto eu!


Alex apenas permaneceu em silêncio, aparentemente entrando em conflito consigo mesmo. Ele continuou encarando os olhos ambáricos de Aya, e por uma fração de segundo seus próprios orbes azularam-se antes de retomarem o verde-esmeralda característico.


- Vo... você já sabe o que vai fazer depois de Hogwarts? – Aya sussurrou, meneando a cabeça enquanto assimilava o silêncio de Alex – Por que não me contou?


Ele ergueu as sobrancelhas em um claro sinal de descaso enquanto retrucava com a voz rouca:


- Isso não é da sua conta.


- Claro que não. – ela bufou, largando-se na cama novamente – Nunca é!


- Pare de ser tão criança. – Alex resmungou, enquanto esfregava os olhos com uma mão – Talvez você esteja com medo de sair desse castelo porque ainda não aceitou a idéia de que está na hora de crescer, Mademoiselle Wood. – um brilho divertido passou rapidamente pelos olhos esmeraldinos de Alex quando ele percebeu a careta em que Aya retorcia o rosto – Sair daqui significa enfrentar um mundo lá fora infinitamente mais complicado do que meros testes de poções. Medo é um sentimento plenamente natural nessa etapa da vida.


Aya suspirou, sentindo seu sangue subir à cabeça. Alex provavelmente estava certo, mas não cabia a ele dizer quando ela devia crescer ou não. Na verdade, ela gostaria de nunca crescer. Crescer significava infinitas responsabilidades, horários a cumprir, amizades separadas... Alex e ela separados. Colocando em folhas limpas, Aya tinha medo de ser tirada da convivência de Alex de uma maneira tão brusca. Fora criada desde seu nascimento com o loiro e pensava que estaria perdida no futuro sem as broncas, os conselhos, e a simples presença do único herdeiro dos Morlevat.


- Odeio quando você me chama assim. – ela resmungou emburrada, afundando o rosto no travesseiro do rapaz e inspirando uma grande quantidade de seu perfume. Sentiu seu rosto corar com o arrepio que percorreu seu corpo ao sentir aquele cheiro característico de Alex.


- Assim como? – ele a despertou de seus pensamentos com uma sobrancelha erguida – Mademoiselle?


Aya afundou o rosto no travesseiro e gritou a plenos pulmões.


- Parece que você está falando com uma vadia qualquer. – ela retrucou com a voz abafada.


Ele riu.


- Prefiro guardar meus pensamentos em silêncio, a comentar o que gostaria sob uma onda de tapas seus. – ele simplesmente falou, enquanto Aya voltava-se para ele com os olhos levemente inchados de sono.


- Experimente dizer o que estava passando em sua mente, Alexander Pierre Morlevat, e você verá a “mademoiselle” aqui se transformar em uma... –


- Okay, Wood! – ele exclamou divertido, rolando para o lado oposto da cama e virando de costas para a garota – É melhor terminarmos por aqui antes que você comece a dizer coisas que vá se arrepender depois. Boa noite.


Aya ergueu uma sobrancelha, torcendo o rosto em uma expressão contrariada. Que raiva sentia de Alexander quando ele a cortava dessa maneira!


- Então... você quer que eu durma aqui? – ela gaguejou, fitando as costas do rapaz com os olhos estreitados e o rosto completamente corado.


- Não disse nada disso. – ele respondeu entre bocejos – Mas, de qualquer modo, faça o que você quiser.


Aya se sentiu realmente tentada a fazer e dizer tudo o que passava em sua mente naquele momento, mas achando que seria inconveniente demais – além de incrivelmente constrangedor –, ela apenas meneou a cabeça e virou-se para o outro lado da cama, fechando os olhos e sorrindo ao inspirar uma generosa quantidade do cheiro amadeirado de Alex.


- Boa noite, Sr. Berinjela. – Aya sussurrou, abafando o riso antes de Alex rolar no colchão e derrubá-la da cama com uma colisão entre os corpos.


O loiro assistiu divertido a tentativa frustrada de Aya de se manter na cama de coluna puxando as cobertas. No entanto, a garota acabou por se desequilibrando e caindo com um baque surdo, embolada no grosso tecido vermelho.


Aya soltou uma gargalhada gostosa, enquanto tentava sem sucesso se desvencilhar das cobertas.


- Merlim, que garota atrapalhada! – ela pôde escutar Alexander resmungando com a voz risonha, enquanto sentia um peso sobre sua perna direita. Ela gemeu de dor, e Alex pressionou ainda mais sua própria perna sobre a da garota.


- ALEX! – ela berrou, tateando às cegas e empurrando com esforço o rapaz de cima de seu corpo.


- Oh, me desculpe! Não tinha sentido você aí em baixo! – ele respondeu com uma voz falsete, enquanto rolava para o lado esquerdo da garota.


- Me ajude a sair daqui! – ela exclamou com a voz abafada, enquanto puxava as cobertas para longe de seu rosto.


- Mon dieu! Você não consegue nem tirar uma coberta de cima da cabeça? – ele rebateu com a voz indignada – Como você pret... –


Alexander foi calado com uma cabeçada potente de Aya no estômago, enquanto caía no chão com o amontoado de cobertas vermelho e dourado, que era a garota naquele momento, por cima de seu corpo.


- Tu êtes fou! Louca! – ele exclamou irritado, puxando o cobertor para baixo enquanto Aya aparecia entre as dobras vermelho e dourado do tecido.


Sem que nenhum dos dois chegasse realmente a perceber, Aya estava sentada sobre o abdômen nu de Alexander, as pernas abertas e o rosto afogueado. A fina alça da parte de cima do baby-doll da garota escorregara por seu ombro direito, deixando seu seio quase visível, não fosse pela cascata de cabelos castanhos que se soltaram do coque e agora cobriam sua intimidade de um modo um tanto...lascivo.


Alex parecia travar uma luta consigo mesmo. Talvez seu cérebro o mandasse desviar os olhos do colo de Aya, mas as orbes esmeraldinas do rapaz pareciam não querer obedecer. Ela rapidamente percebeu para onde o rapaz focava sua atenção, e com o rosto em chamas e as mãos trêmulas ela rapidamente ajeitou a alça das vestes, desviando o olhar do loiro.


Um brilho que Aya nunca vira antes passou pelos orbes de Alex antes de ele finalmente erguer os olhos para encará-la.


- Quer sair de cima de mim? – ele resmungou, erguendo uma sobrancelha, sem aparentar o menor sinal de constrangimento.


- Não. – ela respondeu com um sorriso maroto – Isso se chama vingança, Sr. Berinjela-Morlevat! Vai ter que dormir aqui no chão, comigo em cima de você!


Aya tentava provocá-lo de uma maneira cômica, mas sua voz insistia em tremer e seu rosto em corar. Ela cruzou os braços, apertando o tronco nu do loiro entre suas coxas, corando ainda mais com o seu próprio gesto. Sentiu uma onda de calor invadir seu corpo quando sentiu Alex se remexer levemente em contato com sua pele.


Com as sobrancelhas erguidas e sua habitual feição séria, Alexander segurou a cintura de Aya e rolou sobre a garota, invertendo as posições. Ele se encaixou sobre o corpo de Aya, prendendo os braços da garota acima de sua cabeça.


- Agora me diz... – o loiro aproximou-se perigosamente do ouvido de Aya com um meio-sorriso no rosto – De quem é a vingança mesmo, Mademoiselle Wood?


Aya sentia sua respiração curta e ofegante, enquanto seu corpo todo era invadido por uma explosão de calor devido a aproximação do rapaz. O nariz arrebitado de Alex roçou rapidamente o rosto de Aya antes de ele se afastar com um pulo.


- Sugiro que você vá se despedindo do castelo. – ele disse com um bocejo, enquanto se espreguiçava – Quanto a mim, pretendo aproveitar as três horas de sono que ainda me restam. Boa noite, Wood.


Aya permanecia deitada no chão com a respiração acelerada e o corpo trêmulo, enquanto Alex se jogava novamente na cama, ajeitando-se de barriga pra baixo e aparentemente adormecendo.


A garota fechou os olhos e apertou-os com força, esfregando os braços para espantar um frio inexistente que fazia seu corpo se arrepiar, enquanto se levantava e repetia o movimento do loiro, pulando de volta à cama de Alex.


- O que você quer agora? – ele resmungou com os olhos fechados, enquanto Aya descansava a cabeleira castanha nas costas nuas do rapaz.


- Canta aquela música em francês... – ela sussurrou enquanto inspirava o cheiro fresco de Alex.


Ele ficou em silêncio, parecendo considerar por um instante a proposta. Virou-se de barriga pra cima, permitindo à Aya descansar a cabeça em seu peitoral descoberto, enquanto levava as duas mãos atrás da nuca, em um gesto descontraído.


- Se eu cantar você vai embora? – ele perguntou seriamente, enquanto Aya sorria. Tanto ela quanto ele sabiam que se Alexander cantasse, Aya cairia no sono. Sempre fora assim, desde que os dois eram crianças.


- Vou. – ela respondeu com um suspiro sonolento, enquanto fechava os olhos e apreciava a voz de Alex.


...Ne retiens pas tes larmes

Laisses aller ton chagrin
C'est une page qui se tourne
Et tu n'y peux rien
Ne retiens pas tes larmes
Pleurer ça fait du bien
Et si tu as de la peine
Tu sais que je t'aime
Je ne serais jamais loin..
.”

Com um sorriso perambulando os lábios, Aya adormeceu.


Je ne serais jamais loin”...


- E jamais estarei distante... – Alex entoou o último verso da música, meneando a cabeça ao escutar a respiração ruidosa de Aya. Com cuidado ele a ajeitou no travesseiro, admirando por breves segundos a mulher adormecida em sua cama.


- Mademoiselle Wood. – ele sussurrou enquanto afastava uma mecha de cabelo do rosto da morena – Como vou sobreviver longe você, sua pentelha?


Alex suspirou brevemente, deitando-se ao lado de uma Aya adormecida e resmungando algo em francês antes de cair no sono.


“Cavaleiro... francamente!”.



 


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*Ambáricos = Essa palavra não existe, eu a inventei exclusivamente para descrever a cor dos olhos de Aya. São como cor-de-mel, só que mais opacos. Algo entre o cinza e o castanho. N/A: Fiiiiiiiiiiiim do primeiro capítulo! Espero que tenham gostado e que tenha dado pra absorver as personalidades dos dois... Pelo menos a base... Hehehehe! Obrigada a todos que leram e comentaram! Agradecimentos especiais a:


Emmy Black ~¤: Segui seu conselho e aqui está! Transformei “Ás” em uma fic longaa!! Pbrigada pelo apoio aqui, e em OW&MC! Li seu comentário depois do epílogo e amei!!! Mto obrigada por tudo memso Emmy!! Continue comigoo! Beijos!!!


Ligia Saraiva Melo: Obrigada! ^^ Por me acompanhar aqui e em OW&MC! Obrigada pelos comentários Ligia! Um beijão! Mih Black: Aqui está o cap. 1! ^^ Vc gostou do epílogo de OW...?! Nossa, obrigada mesmo pelo apoio viu Mih? Seus comentários são absurdamente perfeitooosss!!! Um bjão


Thássia; ●: AAAAaaaaaaaaaa! Vc foi essenscial em OW e vai continuar sendo aqui!!! A Aya tem bem um jeitinho de Mia e Olívio... Ela é meio espuleta, mas não tem o orgulho enorme que os pais têm... Fiquei MTO feliz em saber que vc gostou dela...!^^ Se tiver alguma sugestão, tamos aí! Bjuuuuuuuuuuuuuuuuuu


Tammie: Oh, queridaaa!! Obrigada pelo texto maravilhoso no epílogo de OW!! Estava precisando mesmo desse comentário!!! Mto obrigada mesmo viu!!! E por continuar aqui tb! Não sabe o qto sua presença significa pra mim! Bjus Tammiiiieee


Não posso deixar de agradecer à: lunny lupin, Luisa ( _-_-_ ), Tati ~* e à Tati (Sumida, sumiiiida), que me aocmpanharam em OW e MC.... Espero vê-las por aqui tb! Um super bjo a todas, e só pra variar.... COMENTEMMM!!

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