O Brinco



Tarde da noite, Luna acordou com um barulho no corredor. Quando se aproximou da porta, viu que eram Rony e Hermione voltando da festa do Ministério da Magia. Parecia que fora uma festa muito boa, pois eles estavam no maior amaço no meio do corredor. Corando, Luna encostou a porta para que eles não a vissem. Sorriu, pensando em como deveria ser bom estar no lugar deles. Bem, com ela no lugar de Hermione, e Harry no lugar de Rony. Sacudiu a cabeça, mesmo com as visões de Harry, não devia ter muita esperança.
O problema era que ela estava com esperanças, mesmo sem perceber. Parte de seu coração tinha certeza de que ficaria com ele, a outra parte estava com dúvidas. Passados dez minutos, resolveu sair do quarto para ir beber água. Quando voltava para o quarto, ouviu um novo barulho, muito diferente de Rony e Hermione aos beijos. Parecia alguém falando, mas quem seria?
Correu para dentro seu quarto, pegando a varinha na mesa de cabeceira e a colocando atrás da orelha, subiu as escadas silenciosamente. Estava tudo escuro, apenas a luz da lua brilhava pelas janelas. Nervosa, ela percebeu que o som vinha do quarto de Harry, que deixara a porta entreaberta. Quando chegou mais perto pode ouvir o que ele dizia:
_Não, ela não! Por favor, não ela!- Harry falava angustiado, se debatendo em seu sono.
Luna parou perto da porta, sabia o que estava acontecendo. Desde a guerra ele tinha pesadelos daquele tipo, pedindo ou brigando com pessoas invisíveis, que ele apenas podia ver em seus sonhos. Quando ela dizia que fantasmas eram mais do que expectros brancos, impressões da alma, as pessoas riam dela. Mas, ela sabia que o medo do passado também podia se tornar um fantasma que nos assusta constantemente.
Sem perceber entrou no quarto, a porta rangeu um pouco, mas sentia que precisava fazer alguma coisa. Mas, fazer o quê? Todos diziam que não era bom acordar pessoas durante um pesadelo, que a alma dessa pessoa pode ficar perdida no pesadelo para sempre, apenas o corpo acordando. Era horrível vê-lo naquele estado, sabendo que ele sofria, e não poder fazer nada.
Já estava se virando de costas, para sair, quando parou e se aproximou da cama dele. Trêmula, chegou perto do ouvido de Harry e sussurrou:
_Não se preocupe, eu estou aqui.
E beijou-o na testa, Harry parou imediatamente de se mover e falar. Um barulho de alguém descendo as escadas encheu o ar. O coração aos pulos com a súbita parada de Harry, e pela idéia de ser pega ali, Luna se ergueu e silenciosamente saiu do quarto. Voltou para lá tremendo, e fechou a porta. Estava tudo acontecendo rápido demais. De um dia para o outro tudo mudava, Gina traindo Harry, Luna gostando cada vez mais de Harry. Os únicos que permaneciam os mesmos eram Rony e Hermione, naquele 'briga, perdoa, perdoa, briga.' E ela suspeitava que aquilo nunca iria mudar, o que era bom, porque dava certo para eles. Sentou na cama sentindo-se tonta, precisava mesmo voltar a dormir, e antes que pudesse engatinhar de volta para seu lugar, demaiou sem perceber.

XXX

Era noite e no castelo havia pouca movimentação, Luna voltava do jardim onde estivera vendo as estrelas, quando ouviu vozes no corredor ao lado. Já estava mudando de caminho, quando reconheceu as duas vozes, eram o rei e a rainha. Ficou parada, sabia que deveria ir embora, era feio ouvir a conversa dos outros mesmo que fosse a do homem que amava com a mulher. Mas, algo parecia prende-la no lugar, parecia que algo crescia dentro dela, e envergonhada percebeu que era ciúmes.
Ouviu passos se aproximando, e se virou de costas para se afastar, mas quando percebeu estava escondida atrás da cortina. 'Harry que me perdoe.', pensou tristemente. Os passos se aproximaram e ela ouviu a conversa.
_Precisamos dar uma festa de honra a ele.- Harry dizia.
_Eu concordo, mas antes não seria melhor chamar o médico?- Gina perguntou preocupada.
_Claro! Chamaremos assim que um criado aparecer. O inconveniente desse castelo é justamente o tamanho, é quase impossível encontrar alguém aqui dentro.
_Eu vou atrás de alguém.- Gina respondeu ainda nervosa.- Afinal, devo minha vida a ele.
_Sim, devemos muito a ele. - Harry respondeu pesaroso, como se idéia não o agradece muito.- O Duque Malfoy está me surpreendendo. Acho que o julgamos mal.
_Você não faz idéia.- Luna pareceu ouvir Gina murmurar, quando passou correndo pela cortina.
Harry ficou parado no lugar, vendo a ruiva se afastar para procurar ajuda, parecendo pensativo. Luna decidiu que o melhor era lhe contar que havia escutado tudo.
_Oi, Harry.- ela falou, saindo de trás da cortina.
_Luna, que susto me deu.- ele sorriu, andando na direção dela de braços abertos, mas parou no meio do caminho parecendo triste.- Havia me esquecido da coisa de não tocar.
_Desculpe ficar escutando atrás da cortina.- Luna falou desesperada.- Eu não queria, mas quando vi já estava ali e...
_Shh, acalme-se.- Harry sorriu bondosamente.- Não foi tão ruim. E não é como se você não pudesse ouvir, entre nós Luna não existe segredo.
Ela sorriu feliz, corando:
_Sobre o que conversavam?
_O Duque Malfoy salvou a vida de Gina hoje, parece que um lustre ia cair na cabeça dela, mas Malfoy a salvou sendo atingido no lugar. Ele foi levado para um dos quartos, e Gina veio me contar e pedir para chamar o médico.
_Ela parecia bem preocupada.- Luna comentou, e a Luna do futuro sabia bem porque. Gina amava Malfoy, que salvara sua vida, alguém podia culpa-la por estar preocupada?
_É que antes ela havia pedido para eu afasta-lo, e agora ele salvou sua vida. Deve ter sido um choque e tanto.
_Você parece preocupado.- ela falou, olhando-o atentamente.
_Bem...- Harry disse constrangido, encarando os próprios pés de uma maneira muito familiar.- Eu estou com uma sensação estranha. Malfoy nunca demonstrou muito... hum, carinho pare nenhum de nós. Ele era famoso por ser contra meu reinado. E de repente, ele muda de lado na guerra, inclusive contra o pai dele, para me ajudar. E ainda salva minha mulher. Eu posso estar sendo paranóico, mas...
_Você acha que tem algo errado nessa história?- Luna completou.
_Exatamente.- Harry falou olhando-a.- Acha que estou sendo ingrato com ele?
_Não, acho que se você pensa que tem algo errado, é porque tem algo errado.
_Você confia muito em mim, Luna. - ele sorriu.- Você sabe que posso estar errado, não é?
_Tanto quanto pode estar certo. Mas, isso apenas o futuro dirá.
E eles se olharam um sorrindo para o outro, quando ouviram passos. Empalidecendo, Luna correu para trás da cortina, ninguém devia ver a dama de honra da rainha, conversando sozinha com o rei. Era errado diplomaticamente, e um grande problema se alguém desconfiasse de alguma coisa.
Luna viu um homem vestido como mensageiro se aproximar, e estender um rolo de pergaminho para Harry.
_É urgente Vossa Alteza, acabei de chegar.- o mensageiro chegou.
Luna viu Harry crescer diante de seus olhos, como o rei que era, e não apenas o homem que ela amava. A cada linha que Harry lia, seu rosto se tornava mais sério, e mais firme. E ela soube que algo sério estava acontecendo, conhecia-o bem demais.
_Peça para chamarem o Conselho imediatamente, com excessão do Duque Malfoy. Acorde todos se for necessário, quero-os o mais rápido possível prontos na Sala do Conselho.
O mensageiro partiu rapidamente, e assim que ele virou o corredor, Harry se aproximou da cortina onde Luna estava escondida. E apesar de tudo, apesar do que tinham combinado, ele a abraçou com força.
_O que foi Harry?- Luna perguntou surpresa, abraçando-o de volta.
_A guerra chegou até as fronteiras do reino, Luna.- ele disse a soltando, e ela pode ver o quanto ele estava preocupado.- Marvolo está perto demais.
_Você vai ter que ir embora?- ela perguntou, sentindo como se tivesse pulado um degrau de uma escada muito grande.
_O mais rápido possível, assim que os homens, os animais e os equipamentos estiverem prontos. Eu sinto muito.- ele falou, ao ver apenas preocupação nos olhos dela.
_Não vá.- ela pediu.- É muito perigoso.
_Mas, eu preciso.- ele falou tristemente, e se surpreendeu quando Luna o abraçou com força chorando.- Não se preocupe.- ele tentou acalma-la, mesmo estando ele mesmo muito preocupado.- Eu ficarei bem, sei me cuidar e terei uma comitiva inteira para me auxíliar.
_Mesmo se você tivesse o reino inteiro ao seu lado, eu ficaria preocupada.- Luna murmurou chorando, o abraçando com mais força.

XXX

Quando acordou na manhã seguinte, o rosto de Luna ainda estava molhado de lágrimas. Tentando se alegrar, afirmando que Harry estava em segurança na Toca, e Marvolo nenhum o ameaçava mais, Luna desceu para o café da manhã. Logo depois uma silenciosa Hermione se juntou a ela, e depois Harry. Eles estavam quietos concentrados em seu café da manhã e em seus inúmeros problemas, como no caso de Luna o Harry, quando Gina entrou, e o menino beijou-a na bochecha. Luna sentiu imediatamente a sensação de culpa e ciúme que sentira na noite anterior. Mas, tentou ignora-la com toda sua força enquanto os dois namorados conversavam, mesmo que não conseguisse desviar o olhar de ambos. Porém, quando seus olhos se encontraram com os de Gina, ela os deviou rapidamente.
_Bem, se não é nada preciso ir.- Harry falou se levantando.
Luna manteve os olhos baixos e a boca fechada, não podia perguntar por que ele estava indo embora tão cedo. Só não entendia porque Gina, como namorada, não perguntava. Não era isso que namoradas faziam? Ser parte da vida dos namorados, e não deixa-los soltos por aí?
_Para o Ministério.- Harry falou olhando para Gina, que estava concentrada em sua torrada. Ele continuou a olha-la, como se esperasse que ela lhe perguntasse qualquer coisa. E como a ruiva não mostrasse intenção alguma de falar qualquer coisa, e Luna não suportasse o olhar decepcionado e triste de Harry, ela perguntou por Gina.
_Trabalhar no sábado?
_Sim.- ele disse triste.- Bem, chato. Mas, o Ministério anda cheio desde que descobriram mais um esconderijo dos Comensais da Morte, do tempo da Guerra. Temos várias análises para fazer. Ainda bem que alguém se interessa por mim.- ele falou amargo - Até mais, Gina.
E Luna desviou os olhos, para não vê-lo beijar a ruiva. Quando ele saiu, Luna olhou para Gina, a ruiva nem parecia sentir a falta dele. Como não podia sentir a falta dele, quando podia tê-lo ao lado o tempo que quisesse? O problema era que parecia que ela não queria tê-lo a seu lado. Pobre Harry.
_O que aconteceu Hermione?- Gina perguntou, desviando dos olhos acusadores de Luna.
_O quê?
_No que você está pensando?- Luna perguntou por Gina.
_Nada, realmente.- Hermione disse mais corada.- Só que... bem, ontem à noite. Eu tive uma visão minha e do Rony, e nós...
Ela não pode completar, mas lembrando-se da noite anterior, Luna sabia bem o que acontecera. Por isso, não prestou muita atenção no resto da conversa, perdida em pensamentos.
_Argh, você e meu irmão?- Gina perguntou.
_Não, eu e o Primeiro Ministro.- Hermione brincou - Lógico que seu irmão! Só que...
_Só que o quê?- Gina perguntou.
_O Rony não pensa assim. - Hermione respondeu triste- Ele diz que eu o traí com... bem, ele mesmo. Por mais estranho que isso soe.
_O Ronald tem sua razão.- Luna falou, se levantando. Ela precisava fazer alguma coisa! - E você tem a sua. Só não deixe isso ficar no meio do caminho de vocês.
E deixou a cozinha rapidamente, tentando encontrar Harry. Ela o alcançou fora da Toca, perto do ponto de aparatação.
_Oi, Luna.- ele cumprimentou-a triste, quando ela se aproximou.- Aconteceu alguma coisa.
_Eu só...- Luna murmurou corando, sem saber ao certo o que dizer. Mas, ela sentia que precisava dizer alguma coisa, não suportava vê-lo daquela maneira.- Você está bem?
_O que quer dizer? Se estou me sentindo bem? Até onde sei, mais saudável do que imaginaria possível.- ele tentou sorrir sem sucesso.
_E está feliz?- ela perguntou, abaixando os olhos.
_Nisso eu queria estar mais.- ele respondeu, abaixando os olhos também.- Tem dias que...
Mas, ele se calou.
_Você gostaria que ela ficasse mais ao seu lado.- Luna completou.
_É. A Gina tem estado meio distante nesses últimos meses. Eu dizia a mim mesmo que era por causa do meu trabalho, que nos afastava. Mas, aí deixou de ser o trabalho e se tornou... bem, se tornou parte dela. Parece que ela não se importa mais comigo.
_Ela se importa.- Luna afirmou, por mais que isso pesasse em seu coração. E era verdade, Gina se importava, se não não choraria tanto ao pensar que o trocara por Draco Malfoy.
_Eu... eu não sei mais se ele se importa o suficiente. E nem se eu me importo. Às vezes parece que só eu me esforço por esse namoro, mas eu estou me cansando. Tem momentos que a gente precisa mais do apoio de alguém, do que essa pessoa pode oferecer.
_Eu estou aqui, se você precisar.- Luna falou, antes que pudesse fechar a boca. Harry a encarou sério por um segundo e depois sorriu.
_Obrigado, você é mesmo uma grande amiga.
E Luna forçou um sorriso, era a primeira vez que ouvir aquilo lhe causava dor. Ela já estava voltando para Toca, quando Harry a chamou.
_Luna! Eu te vi no meu quato noite passada. Eu te acordei com meu pesadelo?
_Eu já estava acordada. - Luna murmurou com a barriga gelada.- Sabe, eu pensei em te acordar. Mas, dizem que não é bom.
_Não, não é.- Harry concordou.- Mas, eu te ouvi e acordei. No começo achei que fosse um sonho, porque você não estava ali. Mas, depois vi um dos seus brincos no chão.
_Ah.- Luna corou, colocando a mão na orelha e percebendo que faltava um de seus brincos de beterraba.
_Ele está no seu quarto. Não queria que você o perdesse, gosto muito dele. Me lembra do dia em Hogwarts que você disse que estava do meu lado, não importando a opinião da outras pessoas. O engraçado é que é assim até hoje. - ele sorriu, e Luna corou ainda mais.- Bem, preciso ir. Tenha um bom dia, Luna.
E com isso desaparatou.
_Para você também, Harry.- ela murmurou fracamente, antes de entrar em casa.

N/A- Não sei se gosto muito desse capítulo. Só do começo e do final, acho. Bem, se gostaram comentem por favor. Beijos, Mary

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