Mais do que Palavras



Capítulo 12
Mais do que Palavras

Aquela noite Gina quase não pode dormir. Se sentia um pouco melhor por ter contado tudo a Luna, e quase tudo a Hermione. Luna concordava que havia algo de errado. Draco Malfoy não podia ser o amor de sua vida. Simplesmente não podia!
Virou-se para o lado, bocejando. Provavelmente era uma brincadeira de Fred e Jorge. Aquele pó mágico devia fazer as pessoas verem justamente o contrário do que queriam ver. Mostrava um passado infeliz, Hermione brigando com Rony, Gina com uma das pessoas que mais odioava no mundo, e Luna... Com quem Luna estaria sonhando?
Ela nunca comentara nada com a ruiva. Pobre Luna, nunca tivera um amor real nessa vida, e agora tinha que ficar vendo coisas horríveis também. E nunca reclamava. Gostava muito de Luna, e queria realmente que a amiga fosse feliz com alguém. Mas, a loira nunca lhe dissera nada, nunca lhe pedira ajuda. Quem sabe a própria Luna não queria ficar sozinha? Os únicos meninos que conversavam com ela eram Rony, Neville e Harry... bocejou, abraçando o travesseiro.
E sem perceber, meio adormecida, voltou para o mundo de sonhos que lhe mostrava sua vida passada, ao lado da pessoa que mesmo sem saber, queria muito ver.

XXX

Gina conversava com Luna, nos jardins do castelo tentando se distrair, quando sem motivo algum levantou os olhos. Era como se ela soubesse exatamente para onde olhar, à alguns passos, parado entre reis, mas olhando apenas para ela, estava o Duque Malfoy. Ela se sentiu subtamente estranha. Seu coração começou a bater mais forte, suas mãos a tremer levemente, e todo o mundo ao redor pareceu desaparecer. Ela apenas mantinha o olhar nos olhos dele, que a olhavam de uma maneira estranha, como se a vissem pela primeira vez. Mas, ela não podia!
_Luna, acho que vou me deitar um pouco.- Gina murmurou para a dama-de-companhia, e se virando, afastou-se rapidamente do grupo.
O que estava acontecendo com ela? Nunca se sentira assim antes! Parecia que a cada passo que dava para longe dele, era um poquinho que morria. Toda sua vontade e seu pensamente estavam de volta ao jardim, ao lado dele. Mas, suas pernas continuavam a afasta-la, como deviam. Pareciam a única parte do seu corpo que continha alguma lógica.
Como podia se sentir assim? Tão... nova? Como se encontrasse uma nova vida, quando tudo o que estava acontecendo só podia significar uma coisa: tristesa e confusão. Seu peito parecia repleto de felicidade, mas porque estaria? Ela não o suportava! Ele era nojento, cínico, manipulador, sarcástico... Mas, ele era mesmo? Os olhos dele, apenas instantes antes, lhe revelaram tanta coisa a mais. Era quase como se... se naquele momento ele tivesse revelado sua alma à ela. Mas, ela tinha marido, e ele certamente estava mentindo. Fazendo de propósito, como o beijo. O beijo...
_Espere!- uma voz a chamou do final do corredor, e ela parou reconhecendo-a imediatamente, seu coração pulando com mais força contra seu peito, e contra sua vontade.
Respirando fundo, ela continuou andando, ignorando a voz que a chamava.
_Espere! Alteza! Ginevra, espere!
Gina o ouviu correr atrás dela, e estava pensando em correr também, quando sentiu dedos gentis, mas firmes, segurando-a pelo braço.
_Espere, por favor.- Draco pediu, virando-a para dele. E ela esperou, lágrimas de confusão enchendo seus olhos. Sentiu-o acariciar seu rosto levemente.- Eu não sei o que aconteceu... mas, não pude parar de pensar em você.
A voz dele, de alguma forma, parecia diferente. E ela percebeu que estava faltando todo o sarcasmo e todo o despreso que geralmente ouvia. Algo havia mudado para ele, e ela sabia que para ela também. Tanto no passado quanto no presente, seus pensamentos haviam tomado um único rumo, em direção à pessoa a sua frente, e não em direção à seu marido.
_Não vá embora assim.- ele pediu, e exitante a abraçou com força.- Não se se sente confusa como eu, e prefira ficar aqui. Eu não sei o que está acontecendo comigo, mas pelo jeito que me olhou agora à pouco, eu pude ver que algo está acontecendo com você também. O que está acontecendo conosco?- ele perguntou sofrivelmente.
'Estamos nos apaixonando.' ela pensou com tristesa. Então, aos poucos, ao senti-lo ali contra ela percebeu o que aquilo significava. Não podiam! Ela tinha um marido! Tinha que se afastar dele antes que fosse tarde demais e realmente se apaixonasse.
_Eu te odeio!- ela gritou subtamente, empurrando-o para longe. Ele a olhou assustado.- Eu te odeio! É isso o que está acontecendo! Eu não aguento nem vê-lo na minha frente! Como se atreve a falar assim comigo! O que pensa que eu sou?
Ela parou, segurando um soluço. Sua voz estava embargada de choro, mas ela continha ao máximo suas lágrimas, não podia demonstrar o que sentia realmente. A expressão dele mostrava apenas indiferença, e uma leve surpresa, mas seus olhos estavam marejados e demonstravam tanta mágoa, que ela sentiu mais vontade de chorar.
_Vá embora! Eu não quero vê-lo nunca mais!- gritou com força, queria que ele fosse embora para que parasse de se sentir assim, despedaçada.- Vou contar para meu marido se voltar a me importunar! E não haverá guerra ou aliança que suporte tamanha traição!
E quando ela gritou isso viu o rosto dele empalidecer ainda mais. Não havia melhor maneira de assustador um nobre, do que ameaça às suas alianças e seu poder ao lado do rei. Porque era isso que realmente importava para ele. Tudo não passava de um mal entendido já solucionado, e que por sorte acabara antes que ele pudesse sentir algo realmente sério por ela. Ou ela por ele.
_Cuidado!- ele gritou de repente, empurrando a ruiva para longe.
Com um grito, Gina foi atirada quase para o outro lado do corredor. O que ele estava fazendo? Estava se levantando furiosa, quando ouviu um alto som metálico e um gemido de dor. Ao olhar na direção de onde ela e Draco conversavam, viu algo que fez um grito entalar em sua garganta.
O pesado lustre de metal havia desprendido do teto, e caído exatamente onde ela estava. Fora por isso que Draco a empurrara, para que não se machucasse. Mas, ele não tinha tido a mesma sorte. Estava estirado no chão, o pesado lustre em cima, e sangue escorrendo rapidamente de um ferimento em sua cabeça. Sem pensar duas vezes, sem medir as conseqüencia do que fazia, Gina correu para ele desesperada.
_Oh, meu....- murmurou horrorizada, tremendo e chorando ao imagina-lo morto.- O que...? Como...?
_Ai...- ele gemeu, tentando se mover e abrir os olhos, mas parecendo incapaz.
_Você está bem?- Gina perguntou, se ajoelhando ao lado dele, sua mão tremia tanto que ela quase não conseguiu segurar a maõ dele. A mão de Draco se fechou com força em volta da dela, como se fossem tira-la de perto dele.
_Eu não consigo repirar...- ele murmurou ofegante.
Gina olhou em volta, não havia ninguém ali, estavam em um corredor isolado do castelo. Oh, onde estava Luna quando precisava dela?
_Vou procurar ajuda.- Gina murmurou, mas a mão dele segurou-a mais perto.
_Não me deixe por favor.- ele pediu.
_Mas, se eu não for, você vai morrer.- ela disse, entre soluços.
_Achei que não se importasse...- ele falou com certo amargor, seu peito subindo cada vez mais rápido, sua respiração curta e ofegante.
Gina olhou para o lustre enorme, fazendo peso em cima do peito dele. Como as cordas haviam se soltado? Haviam velas e cera para todos os cantos, e o lugar estava escuro sem ele. Mas, não era nisso que ela pensava. Respirando fundo, se levantou soltando-se das mãos de Draco. Precisava fazer algo! Segurou o lustre, tentando levanta-lo, mas seu esforço parecia inútil. Ele devia pesar mais do que ela, precisavam de dois homens altos para levanta-lo até o teto. Por que colocavam coisas tão pesadas em lugares tão altos?
Estava vermelha pelo esforço e suas mãos doíam, sabia que a pele devia ter saído de seus dedos, aonde tentava levantar o lustre. Olhou Draco, ele parecia estar perdendo a consciência. Se ao menos tivesse sua varinha ali! E com força, uma que não sabia possuir, levantou o lustre arrastando-o centimetros para o lado. Foi o suficiente para a repiração de Draco se tornar mais profunda e calma. Trêmula, perdeu toda a força no braço, e o lustre continuou sobre o loiro.
'Ok, Ginevra.' pensou desesperada 'Você é do futuro, mas não pode fazer nada além de assistir. Oh, se ao menos eu fosse um pouco mais forte nesse tempo, ou se alguém aparecesse.' Então, de repente, Draco recomeçou a falar. Ela se ajoelhou ao seu lado para poder ouvir melhor:
_Faça uma alavanca.- ele falou.
_O quê?- ela murmurou confusa.
_Uma alavanca faz o peso parecer menor. Pegue dois pedaços de madeira, e use-os.- ele falou gemendo de dor, suas pernas pareciam esmagadas e sua testa ainda sangrando.
Gina olhou em volta desesperada, onde encontraria algo assim? Então algo surgiu em sua mente do passado, e ela correu até o fim do corredor, onde havia um pesado pedaço de madeira grande e pesado, que servia como tranca para a porta. Arrastou-o até Draco, depois foi até outra porta pegar outro. E para sua própria surpresa, se viu construindo uma alavanca. Rapidamente, mas com algum trabalho, ela conseguiu virar o lustre, que virando caiu de lado. Draco estava livre!
_Você consegue andar?- ela perguntou preocupada.
_Talvez, se tiver alguma ajuda.- ele murmurou corajosamente.
Ela se abaixou, ajudando-o a ficar em pé. E começou a leva-lo para a Ala movimentada do castelo. Ele precisava de um médico imediatamente!
_Obrigado pela ajuda.- ele murmurou, passado um tempo.
_Eu não fiz quase nada, você se ajudou sozinho. Sua idéia o salvou. - então Gina engasgou.- Obrigada você, por me salvar.
_De nada, Alteza.- ele murmurou baixinho.
E ela sentiu um peso descer sobre seu coração ao ouvir o título e tudo o que ele significava, mesmo assim, era um peso ainda muito menor do que sentira ao ver o loiro machucado. Naquele momento ela não era mais 'sua alteza', e ele não era mais um duque assossiado a seu marido. Naquele momento eles eram o que eram, um casal que se amava, mesmo sem saber ao certo o que isso significava.

XXX

Na manhã seguinte, ao acordar a primeira coisa que Gina se viu pensar foi em Draco. Ela, por um momento, se perguntou surpresa o que diabos estava fazendo, pensando em Malfoy? Então, a memória do que vira noite passada voltou. Não fora um sonho, ela sabia, fora real demais. Ela sorriu, as palavras de Draco enchendo sua mente. Ele pedira para ela não ir embora, para ficar a seu lado. A mão trêmula dele segurando sua mão. Como seria segura-la de verdade? Nessa vida?
Então, com tristesa se lembrou que nessa vida, provavelmente jamais a sentiria. Malfoy era um idiota, ex-Comensal da Morte não provado, que odiava todos os Weasleys, inclusive ela. E foi pensando nisso que ela se vestiu e desceu para o café da manhã. Como era sábado todos estavam reunidos ali, com excessão de Rony. Ela se sentou ao lado de Harry, como fazia todas as manhãs.
_Dormiu bem, Gina?- Harry perguntou, beijando-a carinhosamente na bochecha.
_Dormi.- Gina respondeu distraída, do outro lado da mesa Luna encarava os dois, mas ao ver que Gina notara desviou o olhar. O que a loira deveria estar pensando? Em como ela Gina estava sendo falsa com Harry?
E tristemente Gina percebeu que estava. Ao olhar para o lado, e vê-lo sorrir falando de coisas normais, ela sentiu-se a pior pessoa do mundo. Como duas pessoas que se amaram tanto acabavam assim, em uma rotina? Ela percebeu que fora nisso que seu namoro com Harry virara, uma rotina. Ela ainda gostava dele, mas apenas como amigo. Um ex-namorado por quem ainda temos carinho, mas que não passa disso. Ela teria que contar para ele, mas dizer o quê? Que em uma visão maluca do passado havia se apaixonado por Draco Malfoy? Ou Harry riria da piada, ou a internava por insanidade. E ela não podia culpa-lo por nenhuma das coisas.
Abriu a boca para dizer algo, mas ele parecia tão tranqüilo e feliz, que ela não teve coragem.
_Ia dizer alguma coisa, Gina?- Harry perguntou curioso, como se adivinhasse seus pensamentos.
_Não, nada. Não foi nada.- Gina sorriu, tentando parecer o mais normal possível.
_Você sabe que pode me contar tudo, não sabe?- ele insistiu.
_Sei sim, Harry. Mas, não é nada, realmente.
_Bem, se não é nada, preciso ir.- ele respondeu se levantando. E como se alguém tivesse perguntado, comentou.- Para o Ministério.
E ele continuou ali parado, olhando para Gina como se esperasse que ela dissesse algo. Mas, quem falou foi Luna.
_Trabalhar no sábado?
_Sim.- ele disse triste.- Bem, chato. Mas, o Ministério anda cheio desde que descobriram mais um esconderijo dos Comensais da Morte, do tempo da Guerra. Temos várias analises para fazer. Ainda bem que alguém se interessa por mim.- ele brincou, mas Gina percebeu um certo amargor em sua voz.- Até mais, Gina.
Ele a beijou, e se levantou para sair. Imediatamente Gina se sentiu mais aliviada, mesmo que sua consciência condenasse isso. Ela olhou as outras pessoas na mesa, Luna olhava Gina fixamente, e Hermione parecia concentrada em uma de suas mãos, hora com um sorriso no rosto, hora com uma expressão triste. Não agüentando o olhar de Luna, Gina se virou para a cunhada.
_O que aconteceu Hermione?
_O quê?- Hermione perguntou corando.
_No que você está pensando?- Luna formulou a pergunta por Gina, tranferindo seu olhar para Hermione.
_Nada, realmente.- Hermione disse mais corada.- Só que... bem, ontem à noite. Eu tive uma visão minha e do Rony, e nós...
Ela não pode completar, mas seu sorriso disse tudo a Gina, que fez uma careta.
_Argh, você e meu irmão?- perguntou.
_Não, eu e o Primeiro Ministro.- Hermione revirou os olhos, em uma de suas raras piadas.- Lógico que seu irmão! Só que...
_Só que o quê?- Gina perguntou.
_O Rony não pensa assim. - Hermione respondeu tristemente.- Ele diz que eu o traí com... bem, ele mesmo. Por mais estranho que isso soe.
_O Ronald tem sua razão.- Luna sentenciou, se levantando.- E você tem a sua. Só não deixe isso ficar no meio do caminho de vocês.
E sem outras palavras, ela deixou a cozinha.
_Que tipo de comentário foi esse?- Hermione ergueu as sobrancelhas.
_Do tipo Luna Lovegood.- Gina respondeu.- Não tente entender. A Luna tem sua própria lógica, que não é nada óbvia para nós. Agora, onde está meu irmãozinho? Quero parabeniza-lo por ser, provavelmente, o primeiro homem a trair e ser traído de uma só vez, e ainda por cima por si mesmo.
_Não fale disso com ele.- Hermione respondeu séria.- Agora, onde ele está eu não sei. Não o vejo desde ontem à noite.
_Ele não dormiu com você?- Gina perguntou surpresa.
_Não, ele dormiu na sala.- Hermione respondeu triste. - E quando me levantei hoje para pedir desculpas, ele havia desaparecido. Você acha que ele volta?- acrescentou preocupada.
_Claro que volta! Quando estiver com fome. - Gina sorriu.- E se não voltar por iniciativa própria, mamãe vai atrás dele e o arrasta de volta.
_E você, Gina?
_Eu o quê?- perguntou surpresa.- Eu é que não vou atrás do Rony! Ele já tá crescidinho demais para precisar que eu tome conta dele.
_Não é isso. Quero saber sobre o Harry.- Hermione falou encarando Gina, que desviou os olhos. Exatemente o assunto sobre o qual não queria falar.- Você vai fazer o quê? Terminar com ele, ou ignorar o que viu? Mesmo sabendo que...
_Sabendo o quê?- Gina insistiu, quando Hermione se calou.
_Mesmo sabendo que ele não é o amor da sua vida?
E foi a primeira vez que ela entendeu o que a brincadeira de Fred e Jorge custara. Talvez fosse melhor ter uma vida de ilusões, a saber a verdade e não poder tê-la.
_Eu ainda não sei, Hermione.- respondeu sincera.- Mas, vou pensar no que fazer.
_Só não se magoe, e principalmente não magoe a ele.- Hermione pediu preocupada- Harry é sincero quando diz que a ama.
_Eu sei, e é isso que mais me entristece e torna tudo mais difícil- Gina respondeu pesarosa.
Ela teria que escolher o certo, e ser feliz calmamente ao lado de Harry, ou o incerto e tentar de uma vida cheia de felicidade e amor ao lado de Malfoy. Se à uma semana tivessem lhe contado o que teria que escolher, ela teria dado boas risadas, chamado a pessoa de louca e escolhido Harry. Agora, o que estava acontecendo, é que estava ficando desesperadamente tentada pelo lado do incerto.

N/A- Bem, mais um capítulo. Espero que estejam gostando e que comentem muito, porque estou com bloqueio. Não consigo escrever nem essa nota. Próximo capítulo memória da Luna, como vocês já devem saber. Sério, comentem bastante com opiniões, sobre se está bom ou ruim, é horrível sentar no computador e não conseguir escrever. Beijos para todos, e obrigada pelos comentários. Mary

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