Capítulo 04



A Fortaleza Interior
By Idamae


Negócio de leis: As personagens pertencem a J.K.Rowling. Estou apenas emprestando-as, por razões não-monetárias.

Esta história contém imagens que podem ser perturbadoras para alguns leitores, incluindo estupro, violência, assassinato, sexo, tortura e um grande número de outras coisas mórbidas. Se você não quer ler sobre tais coisas, aperte o botão Voltar, AGORA!!!

Capítulo 04

Severo já estava sentado no Salão Principal quando Hermione entrou, no dia seguinte, para o café-da-manhã. A primeira coisa que notou nela foram os círculos escuros sob os seus olhos. Eles foram a primeira coisa que ele mesmo tinha notado no espelho mais cedo naquela manhã.

Alvo, sendo Alvo, havia manipulado os assentos, de modo que o único lugar desocupado era ao lado de Severo. Hermione deslizou para o lugar vazio e falou tranqüilamente: “Capuccino.”. Quase instantaneamente, uma caneca fumegante estava à sua frente.

Severo estava exausto e mal-humorado. Inconscientemente, sua natureza sarcástica tomou conta. “Espero que vá comer alguma coisa; você parece que acabou de chegar do inferno, Hermione.” Ele sibilou quase a meia voz.

Ela virou seus olhos bem abertos na direção dele, “Perdoe-me, Severo; mas o que você está tomando de café-da-manhã?”. Ela olhou diretamente, de modo acusador, para a xícara de café preto dele.

“Eu ia exatamente pedir alguma coisa, permita-me. Dois ovos fritos, bacon, torrada. Dois pedidos.” Num piscar de olhos, pratos fumegantes estavam diante de cada um deles.

Hermione lançou-lhe um olhar de desaprovação. “Se você não se importa, sou perfeitamente capaz de pedir meu próprio café-da-manhã. Muito obrigada! Panquecas, salsichas, batatas fritas, dois pedidos.” Mais pratos carregados de comida apareceram em cima do primeiro pedido.

Severo ergueu uma sobrancelha e lançou-lhe um olhar mordaz. Ela tinha seu maxilar fixo, e parecia que não ia voltar atrás nem por um segundo. De repente, sua mão passou como um relâmpago na direção dele. Ele instintivamente esquivou-se do movimento dela, apenas para vê-la roubar um pedaço de bacon do seu prato. Havia um sorriso endiabrado no rosto dela.

“Fico satisfeito em ver que nós concordamos nisso.” Ele disse asperamente, enquanto levantava seu garfo. De repente, encontrara seu apetite.

O intercâmbio passara largamente desapercebido pelo resto da mesa. Nada escapou ao Diretor, no entanto. “Hermione, acredito que você tenha se instalado, e que seus aposentos sejam do seu gosto.”

Ela engoliu o pedaço de ovo em que estava trabalhando antes de lhe responder, “Sim, Alvo, eles são excelentes. Obrigada.”.

“Por que você desejaria mudar-se para baixo, para as frias e úmidas masmorras, está além da minha compreensão, Hermione.” Papoula Pomfrey olhava de modo questionador para ela, aguardando uma explicação.

A mente de Hermione ainda estava procurando uma, quando Alvo inclinou-se e cochichou alguma coisa na orelha da Medibruxa. Os olhos de Papoula dilataram-se e ela olhou rapidamente de Severo para Hermione, antes de olhar de volta para seu prato, um rubor subindo pelas suas bochechas.

Hermione olhou para Severo, e deu de ombros. Ambos perceberam que, enquanto a refeição avançava, os outros membros do quadro de funcionários cochichavam. De repente, Severo e Hermione se sentiram como se estivessem à mostra. Todo mundo estava dando olhadelas rápidas para eles, e distribuindo ao redor, velozmente, sorrisos significativos. Só que o que todo mundo sabia escapava ao Mestre de Poções e à professora de Defesa Contra as Artes das Trevas.

O pequeno grupo se desfez, e os funcionários começaram a deixar a mesa, um por um, para começar o seu dia. Quando Alvo se levantou para sair, Severo o prendeu de volta à sua cadeira com um olhar grave. Logo, somente Alvo, Severo e Hermione restavam.

Quando a porta para o Salão Principal se fechou, Severo virou-se para o Diretor. “O que é que, diga de uma vez, você disse àquela bruxa fofoqueira?”

Alvo mordeu o sorriso que tentava escapar, “Bem, eu não podia muito simplesmente contar-lhe que havia alojado meus Comensais da Morte residentes nas masmorras, podia? Não, acho que não. Apenas sugeri que o relacionamento entre vocês dois era mais pessoal do que profissional, e que imaginava que vocês desejavam algum tempo reservado juntos.”.

Hermione gemeu, e cobriu seu rosto com as mãos. A reação de Severo foi exatamente tão desanimadora quanto a dela. Ele resmungou para o Diretor num rugido, “Alvo, como pôde dizer isso a ela? Minha reputação com os meus colegas não é exatamente imaculada sem somar ‘caso com uma aluna’ a ela.”.

Assim que as palavras saíram de sua boca, ele percebeu o seu erro. Hermione voltou-se para ele, e ele, em parte, esperava ver o sombrio sorriso afetado dele no rosto dela. Não, esta era a Hermione Grifinoriana; e a leoa estava furiosa. “Aluna? Você acabou de me chamar de aluna? Eu não sou sua aluna. E acredite-me, seu morcego crescido, você poderia fazer muito pior do que ter o quadro de funcionários pensando que você está dormindo COMIGO. Por outro lado, qualquer esperança para os meus relacionamentos futuros está arruinada agora. Pelos deuses, a concubina de Severo Snape!”

Os olhos dele se estreitaram com o que isso implicava. “Melhor Severo Snape do que Lúcio Malfoy, não acha?”, ele disparou sobre ela em um tom insolente.

Ela estava de pé e correndo para fora do salão antes que ele pudesse mesmo processar as palavras que voaram de sua boca. O som da porta batendo com força ecoou, parecendo reverberar pelo lugar para sempre.

Sulcos de preocupação estavam gravados pela face de Alvo quando ele se voltou para Severo. “Pensei, Severo, que você fosse inteligente o bastante pra saber que não pode mais provocá-la.”

“Não estou acostumado a que ninguém se dirija a mim dessa maneira, particularmente não um colega.”, Severo procurava se defender. Mas sabia que Alvo estava certo.

“Não, você é quem trata inconsideravelmente os sentimentos de todas as outras pessoas. Seja do pessoal ou aluno, amigo, inimigo ou estranho. Ninguém nunca é tão importante quanto o grande Mestre de Poções. Sugiro que você reexamine sua atitude com relação a Hermione. Não é somente a sua vida que está em jogo se esse plano falhar. É a sua, a dela e a de todo mundo nessa escola. Acredito que seja prudente que eu não entre no plano nessa etapa da operação. Quando vocês dois tiverem concebido um plano para abater Voldemort, me informe d’o que é necessário da minha parte.” O bruxo mais velho se levantou para sair. “Conserte essa situação agora.”

Severo estava sentado sozinho no Grande Salão, incerto de como proceder. Preferiria experimentar Crucio por dias, ininterruptamente, a ter que provar e lidar com o estado emocional frágil de Hermione Granger imediatamente. A confusão dele também fez ele mesmo se sentir um pouquinho vulnerável.

Ele não podia adiar mais as coisas. Fez seu caminho, subindo até a sala de aula de Defesa Contra as Artes das Trevas. Bateu à porta, incerto quanto a quem estava esperando atrás dela.

Como não houve resposta, ele empurrou levemente a porta, abrindo-a, e observou atentamente todos os cantos. Pôde ver Hermione Granger parada em frente à janela, de costas para ele. Ela tinha suas vestes embrulhadas apertadamente em torno de sua forma pequena, e parecia estar tremendo apesar das quentes temperaturas de agosto.

Ele inspirou profundamente, e moveu-se de mansinho para dentro da sala. “Hermione?” Perguntou cautelosamente.

Ela girou em volta da janela. Agora, ele podia ver os rastros que as lágrimas deixaram pelas suas bochechas. Apesar de sua óbvia perturbação, ela ergueu o queixo orgulhosamente. “Veio pra se gabar, é?”

“Não, vim pra me desculpar, mais uma vez. Sinto muito pelo comentário lá embaixo. Droga, sinto muito por toda a manhã maldita. Não estou acostumado a ter que trabalhar com alguém, e temo que meu temperamento não seja exatamente moldado pra isso. Por favor, tentemos, mais uma vez, estabelecer algum tipo de campo razoável de jogo por aqui.”

Ela puxou uma cadeira próxima à janela, e se sentou sob a luz do sol que derramava-se para dentro. Ela ainda se encolhia em suas vestes contra uma friagem inexistente, embora os tremores tivessem passado. Fez um gesto para que ele se sentasse.

Por um longo espaço de tempo, nenhum deles falou. A testa de Hermione se franzia e se desfranzia; sua boca abriu e fechou várias vezes. Ela parecia precisar dizer algo, mas não sabia como. Severo não a pressionou, apenas se sentou silenciosamente, e esperou.

“Sei que já estou bastante bagunçada. Tenho consciência das minhas ações. Sei que parece que estou me escondendo durante as coisas ruins, e talvez esteja; mas eu ainda vejo, escuto, sinto... Pelos deuses, até mesmo sinto o gosto de tudo o que está acontecendo. Ainda sou eu, embora não seja.”

“Está ficando mais difícil, no entanto, toda vez. Mais difícil me tornar eu mesma de novo; mais difícil me controlar. Me apavoro só de pensar que um dia desses eu não serei capaz de retornar. Será apenas ela, e eu ficarei presa na Sala de Poções pra sempre.”

Severo não tinha certeza quanto a se ela sabia exatamente o que estava acontecendo, ou se ela sabia que ele sabia também. Era um alívio para ele poder falar agora, um tanto abertamente, sobre isso tudo. “Por que eu, Hermione, por que você me escolheu?”

À expressão dele, ela deu uma risadinha. “Não se lisonjeie, Severo. Nunca me imaginei apaixonada por você nem nada. É só que, durante toda a escola, não importa o que estava acontecendo, sua aula estava sempre exatamente lá. Era uma constante; toda lição soava da mesma maneira, não importava qual o assunto. Você sempre era um filho da mãe desagradável, nunca nenhum tipo de oscilação de humor. As coisas eram sempre as mesmas, nunca oscilantes.”

A essa descrição, ele deu um sorriso torto, “Não tinha idéia de que eu era tão enfadonho.”.

“Ah, não, Severo.”, ela se apressou em corrigir suas palavras. “Você nunca era enfadonho. Você sempre era só você mesmo. Forte, orgulhoso, dominador, inteligente e insensível. Mesmo depois que eu soube da sua outra vida, nunca pude imaginá-lo sinceramente se importando com qualquer coisa. Você era sempre imutável.”

Ela estava se inclinando para frente agora; olhando para ele, seu rosto cheio de esperança. Ele a provocou gentilmente, “Compreendo, Hermione. Obrigado por isso. É muito melhor pra eu suportar do que uma Grifinoriana perdida de amor.”.

Ela rolou os olhos na direção do céu, “Como se...”. Então, caiu de volta ao seu assento num ataque de riso. Após um momento, percebeu que ele estava rindo junto com ela. Ela olhou para ele de maneira estranha, a testa franzindo novamente, “Não tenho certeza de já ter ouvido você rir antes. Não acho que alguma vez pensei que você fosse capaz.”.

“Posso garantir que, se você tentar partilhar a informação, ninguém vai acreditar em você.”

A isso, ela sorriu levemente, “Não se preocupe, todos nós temos nossos segredinhos sujos.”.

Ambos pareciam embaraçados novamente, incapazes de prosseguir. Severo tinha tantas perguntas que precisavam ser respondidas, mas estava com medo de que, se a pressionasse, ela se retraísse. Antes que ele pudesse apresentar outra pergunta, ela falou abertamente.

“Eu quis dizer o que disse na noite passada. Sobre isso não ser nada pessoal. Não vai ser. Você não tem participado dos festins por um tempo, então não sabe como isso é pra mim. Sim, todo mundo tem medo de mim. Eu afirmei meus poderes. Todo mundo, menos Lúcio e Voldemort, quero dizer. Pra eles, sou quase um bicho de estimação. Lúcio me considera a sua puta particular, pra distribuir meus favores conforme ele acha conveniente. Ele realmente alcança suas alegriazinhas, algumas vezes, em me assistir atuando com outros homens. Voldemort acha muito divertido colocar os outros Comensais contra mim, pra testar suas forças. Quanto mais sangrento, melhor. Pelo menos, tenho sido capaz de reduzir as fileiras um pouquinho durante esses combates arranjados.”

Os olhos perturbados dela encontraram os dele, “Não sei quando um desses bastardos achará conveniente me atirar junto a você, ou como puta, ou como oponente. Você e eu faremos o que tivermos que fazer. Não o julgarei responsável por qualquer coisa que fizer comigo.”.

“Nem eu a considerarei responsável por nada.”, ele lhe respondeu com os olhos, tanto quanto com as suas palavras.

Ela parecia satisfeita com essa resposta. Mais uma vez, o silêncio preencheu o lugar. Era um silêncio menos embaraçoso, no entanto. Mais aquele de duas pessoas desfrutando a companhia uma da outra, não apenas desfrutando um espaço comum.

“Quando começamos a planejar?”, ele perguntou de maneira bastante simples.

Ela se sobressaltou com o som da voz dele, e ele notou a margem assustada que seus olhos assumiram. Começou a lutar consigo mesma; ele podia ver isso agora. Ela brigava por controle. Finalmente, Hermione venceu. “Agora não, nós conversamos mais tarde, nas masmorras. Após o jantar. Está bem pra você? Tenho muito trabalho a fazer aqui, e a manhã já foi fatigante.”

Ele se levantou para sair. Falou na voz baixa e tranqüilizadora à qual Hermione respondia, “Está bem, Hermione. Você faz seu trabalho e, quando estiver pronta, nós conversamos.”.

Caminhou até a porta, ela seguindo bem atrás. Ele se virou, e olhou para baixo na direção dela. Reprimiu o impulso de estender a mão e tocar sua bochecha. ‘Não preciso vê-la esquivar-se de mim outra vez.’ “Vejo você no almoço, Hermione.”

“Sim, Severo.”

Ele não pôde deixar de notar que, assim que a porta se fechou, ouviu o som dela sendo trancada e protegida. Por algum motivo, isso o perturbou, embora ele não pudesse entender bem por quê.

Fez seu caminho até a masmorra. Também tinha preparações a fazer antes do começo das aulas. “Poderia começá-las agora.”

Ele trabalhou a manhã inteira nas masmorras. Ficou levemente preocupado por ela não ter aparecido no almoço e, posteriormente, dirigiu-se até às cozinhas. Os elfos domésticos lhe informaram que ela havia pedido que uma bandeja fosse levada à sua sala de aula.

Isso o apaziguou um pouquinho, e ele fez seu caminho de volta aos seus próprios quartos.

Mais tarde nesse dia, antes da refeição da noite, ele estava sentado nos seus aposentos particulares, lendo a última “Poções Mensal”, quando ouviu o som de alguém tentando entrar nos seus quartos. Ouviu uma voz chamá-lo em voz alta, “Abra a maldita porta, Snape.”.

Com um movimento rápido de sua varinha, ele liberou as proteções. Hermione Granger entrou no lugar a passos largos. Estava usando jeans pretos e uma blusa preta justa de abotoar. Somente os dois últimos botões estavam fechados. Ela não esperou por nenhum convite, apenas entrou, e se lançou sobre uma cadeira. Uma perna comprida se pendurou sobre o braço da cadeira.

Ela o observou desconfiadamente, de cima a baixo, antes de falar. “Pensei que você fosse reajustar as proteções pra me reconhecerem.”

Ele lutou para impedir que seu rosto mostrasse algo do choque que a sua mente estava registrando. “Pensei que tivesse, mas, obviamente, algo deu errado. Se eu puder?”, ele gesticulou para a sua varinha.

Ela acenou com a cabeça, concordando. “Só não faça asneira de novo.”

Ele apontou sua varinha na direção dela e, depois, na direção da sua porta, murmurando os feitiços. Havia reajustado as proteções na noite anterior, para reconhecerem Hermione Granger.

A mulher sentada na sua cadeira de couro se espreguiçou languidamente, arqueando as costas.

Essa NÃO era Hermione Granger.

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