Sem contato.



—Capitulo dois
Sem contato.

As casas em Miller Street pareciam ainda adormecidas, acordando aos poucos. Lentamente, seus moradores foram realizando rotinas matinais, como recolher o leite, o jornal, etc, etc...

Numa casa, porém, ao invés do ritmo calmo e sonolento, reinava a desordem. Um jovem, em seus vinte e oito anos, corria de um lado para o outro, recolhendo pilhas de roupas, empilhando jornais antigos, etc, etc...


Os cabelos, negros, longos, na altura das costas, grudando em sua face, cobrindo os olhos castanhos escuros, misteriosos. O rosto branco, com manchas vermelhas devido à correria.

No momento, naquela manhã, Pedro Steven Ravenclaw batalhava para arrumar a casa e preparar o café da manhã. Não estava tendo muito sucesso, pois estava praticamente em cima da hora do trabalho.

Ao terminar a “arrumação” da casa, foi preparar o café da manhã. Pegou a caixa de cereais e colocou numa tigela. Mais que rapidamente, abriu a geladeira com um puxão violento e pôs-se a procurar o leite.

—Onde diabos está a porcaria do leite?!—Resmungava Pedro, correndo o olhar pelas prateleiras da geladeira, procurando a caixa.

Sem sucesso, voltou até a mesa. Urrou e atirou a tigela de cereais para cima. Os flocos açucarados caíram no chão e na cabeça do jovem, que não aparentava nenhuma felicidade.

—Merda, merda...—Resmungava, enquanto puxava a varinha e arrumava tudo. Bateu a tigela com força sobre a mesa, fazendo alguns flocos pularem.—isso só acontece quando eu estou atrasado!

Caminhou até o quadro de avisos e leu um lembrete, de umas duas semanas atrás, escrito “comprar leite”, numa letra rabiscada. Com mais um urro, enfiou a cabeça na parede com força, pelo menos três vezes.

—Ai...—Cambaleou, sentindo o mundo girar. Apoiou-se numa outra parede e resmungou.—definitivamente, precisamos de uma empregada.

Cambaleou dois passos para frente, antes do mundo parar de girar. Respirou fundo e vestiu a camisa negra de mangas compridas. Subiu as escadas para o primeiro andar e seguiu pelo corredor. Entreabriu uma porta e olhou pela fresta.

O quarto pouco era banhado pela luz do sol, barrada pela cortina fechada. Empurrou mais a porta que rangeu suavemente. Era pequeno, não cabendo mais que uma cama, uma penteadeira, um pequeno baú e um singelo guarda-roupa.

Sobre a penteadeira, que também servia de escrivaninha, havia papéis de caderno arrancados, com pedaços da lição de casa. No baú, o restante dos livros escolares estavam devidamente arrumados e, sobre a cama, uma menina de nove anos, cabelos lisos, de um tom loiro escuro e olhos castanhos, no momento, fechados, pelo profundo sono em que a garota encontrava-se.

O jovem sorriu e adentrou o quarto. Caminhou até a cama e abaixou-se em frente à menina, que ressonava de leve. Passou o polegar de leve pela testa dela, afastando alguns fios de cabelo da frente de seus olhos.

—Emily, querida...hora de acordar...—Sussurrou, como se não quisesse acorda-la. Pousou a mão sobre seu ombro e balançou de leve.

A menina abriu os olhos de leve e espreguiçou-se. Sentou-se na cama e coçou os olhos, com os cabelos despenteados.

—Bom dia, papai.—Diz, num tom enfadonho, com o rosto amassado de sono.

—Bom dia, querida.—O jovem sorriu de leve e levantou-se. Caminhou até a janela a abriu as cortinas, fazendo o sol adentrar pelo quarto. A claridade amarelada tingiu as paredes e um ciclone de poeiras girava da janela ao chão.—Vá arrumar-se de pressa. Tenho que sair logo de casa e te deixar na escola.

Nesse momento, a garota que ainda estava enfadonha, pareceu despertar. Saltou da cama e parou a alguns centímetros do pai. Seu pijama rosa com desenho de ursinhos, um tanto maior que ela, arrastava pelo chão. Seu semblante era notoriamente aborrecido agora, nem parecendo que havia acabado de acordar.

—Pai! Pelo amor de Deus! Eu já tenho nove anos!—Guinchava, fazendo gestos desesperados, como se o pai estivesse louco.

—Sim....eu sei...—Falava naturalmente, enquanto arrumava a cama da filha.—Se não lembra, eu contribui para seu nascimento.

—Pai!—A garota bateu o pé no chão, com raiva.—Todas as garotas da minha classe vão no ônibus da escola! Só eu não!

—É?—Pedro meramente ergueu as sobrancelhas, mirando Emily agora, calmo.—E daí?

A pequena abriu a boca, mas fechou logo depois. Tornou a abrir e fechou de novo. Ravenclaw permanecia olhando-a calmo, com seu olhar de “e daí?”. Finalmente desistindo, Emily caminhou até seu armário, pegou o uniforme da escola e saiu batendo o pé com força, bufando.

O jovem observou a filha sair e apenas sorriu, enquanto terminava de arrumar o quarto. Após jogar os restos da lição de casa no lixeiro, virou-se para a penteadeira, onde dois porta-retratos estavam colocados, nas laterais. Um deles estava o retrato de Emily no inicio do ano letivo. No outro, estava a foto também de Emily, porém, aos dois anos, nos braços de uma bela jovem, de seus dezoito anos, cabelos loiros, olhos azuis, de estatura media.

Por trás da jovem, estavam o próprio Ravenclaw, abraçando-a pela cintura.

Mirou a foto por algum tempo, antes de balançar a cabeça negativamente, como se tentasse varrer velhas lembranças. Fechou a porta do quarto, ao passar pelo vão, e desceu as escadas.

Sentou-se numa das poltronas e ficou a ler o The Sun. A manchete falava sobre mais um dos misteriosos seqüestros que aconteciam no mundo. Correu o olhar pela noticia e folheou por um instante o jornal, até escutar os passos de Emily descendo às escadas, já vestida no tradicional uniforme da escola. Mal-humorada, foi pisando duro até o pai e falou, com a cara mais emburrada possível.

—To pronta.

Pedro meramente riu. Respirou fundo e levantou-se da cadeira, já puxando a varinha do bolso. Convocou as chaves do carro e saiu com sua filha. Entraram no velho Vectra que foi deslizando pelas ruas quase vazias de uma sonolenta Manchester.


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Aquele velho prédio de fachada clássica e desgastada, numa vila bruxa, nos arredores de Berlim, era palco de uma troca de xingamentos e acusações entre a jovem Lilá Brown, de 27 anos e um velho vampiro, com cara de rato, varias rugas no rosto, olhos puxados, completamente negros e asas fechadas em torno do corpo. Poucos fios de cabelo grisalhos estavam pendentes, apontando para o chão e os pés em formas de garras, seguravam nas tubulações, deixando-o de cabeça ara baixo.

Pelo modo como gritavam um com o outro, parecia que iriam iniciar uma luta devastadora, a qualquer minuto. Porém, Lilá procurava controlar-se, pois sabia que era tolice atacar o mestre de um clã e acabar morta pelo resto de seus seguidores.

—Ah! Quer saber de uma coisa? —Lilá finalmente explodiu, jogando os braços para o alto, bufando de raiva. —Que se nade, seu careca! Só saiba que se você e esse seu clãzinho de merda atacarem e causarem uma guerra nessa cidade, eu venho aqui arrancar os últimos fios dessa sua...desse seu... —E parou de falar, apontando para a careca do vampiro. —aeroporto de mosquito!

E, antes que o morcegão falasse algo, a garota virou-se e saiu correndo. Passou praticamente voando, com o zumbido e o bater de asas dos morcegos, adentrando-lhe os ouvidos. Desceu vários lances de escadas, pulando um degrau de cada vez, até que alcançou térreo.

Assim que saiu do prédio, a jovem começou a gargalhar.

—Aero...aero...aeroporto de mosquitos! —Encostou-se na parede e pôs a mão na testa, ainda rindo alto, inclinando a cabeça para trás.

Dois minutos depois de rir sem parar, a jovem foi lentamente parando de rir. Desencostou-se da parede e enfiou as mãos nos bolsos.

Lilá saiu andando pelo estacionamento do antigo edifício ainda com o ar de riso. A jovem quase não havia mudado. Os cabelos permaneciam negros, ainda com as mechas vermelhas, porem, sem as outras coisas que havia colocado durante a adolescência, um pouco mais curtos, pouco acima dos ombros. Os olhos azuis, muito brilhantes, que há pouco tempo já tinham sido rosa e até prateados, pelo uso de lentes de contato, miravam o marco no centro da praça a qual dirigia-se. O corpo mais bem definido, pelo passar do tempo, porem continuava com o temperamento de uma adolescente. Trajava agora uma calça preta, estilo moletom e uma camisa de mangas compridas, também preta.

Lilá trabalhava no antigo serviço de seu pai, negociando com vários clãs vampirescos, viajando por vários cantos da Alemanha e até do mundo. Por sorte, aquele trabalho não existia grande deslocamento, já que o clã se localizava próximo a Berlin, onde residia naqueles anos.

Atravessou os portões de ferro, localizados no muro que cercava o prédio e começou a caminhar pela praça. Sentou-se no banquinho perto da fonte luminosa com um grande marco no centro, no mesmo momento em que escutou Bizarre Love triangle-Frente, toque de seu Siemens SL 55, que carregava dentro do bolso de sua calça. Olhou o visor e sorriu.

—Oiiiiiiiiiiii Yui! —Quase gritou, chamando a atenção de muitas pessoas ao redor, ao atender o telefone.


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—Não, não. —Dizia Liv, com o ouvido encostado no ombro e o celular no meio, enquanto remexia um amontoado de papeis sobre a mesa. Os cabelos ruivos jogados para o lado, caindo sobre o ombro livre. —Acho que você vai ter que me cobrir por mais um tempo. Não vou ter muito tempo essa semana. Sim, sim...só mais uma semana. Claro, obrigada.

E desencostou o ouvido do celular. Desligou-o e colocou sobre a mesa. Agora, com 30 anos, Liv pouco havia mudado. Talvez apenas alguns traços amadurecidos pelo tempo ou feições um pouco mais duras pela solidão do trabalho. Permanecia com os mesmos cabelos ruivos, pele alva e os olhos tão verdes quanto esmeraldas.

Liv havia seguido para a Nova Zelândia após o fim da guerra. Continuava com seu trabalho no ministério neozelandês, o que ajudava a manter-se no país, enquanto pesquisava mais sobre a vida de seu pai e sobre os motivos que o levaram a sujar o nome da família, aliando-se a Lord Voldemort.

Folheava papeis e desenrolava vários pergaminhos. Havia um velho diário sobre a mesa, com uma trinca mágica, ao lado da jovem. Não havia conseguido abrir, então, havia o deixado de lado. Leu mais uma serie de pergaminhos, antes de largar tudo sobre a velha mesa de mogno. Ergueu o olhar até uma grande vidraça em mosaico, com a figura de um Lince formado. Finos fachos de luz entravam com um espiral de poeira, por brechas entre os vidros, ou peças faltando.

Apesar da luz adentrar pela vidraça, era necessária a iluminação de um grande candelabro para Liv realizar seu trabalho.

Após algum tempo olhando a vidraça, Liv desceu o olhar até uma foto em um porta-retratos antigo, de metal, de uma velha bastante enrugada, de olhos malvados e cabelos grisalhos, presos num coque. A velha olhava ameaçadoramente para Liv, como se questionasse o que a garota fazia naquela casa.

Numa expressão de pura ironia, Liv riu da cara da velha. Abaixou o porta-retratos, deixando a mulher com a cara virada para a mesa. Depois, inclinou-se para trás, fazendo as molas da poltrona rangerem e passou os dedos pelos olhos, cansada.

Pegou-se lembrando do passado. De uma vida que havia deixado para trás, para desvendar os mistérios de seu pai. E a ruiva começava a achar, que foi tudo em vão, já que as nevoas da vida de seu pai, estava ainda mais densas.

Após algum tempo, declinou a cadeira novamente. Levantou-se e caminhou até a varanda com portas travadas, com cortinas sobre ela. Abriu uma fresta entre as cortinas e observou o velho e mal-cuidado jardim, que um dia havia sido bastante florido e cheio de vida.

Abaixou o olhar, lembrando dos tempos de crianças, naquela casa e só voltou ao presente, quando o som de seu celular vibrando sobre a mesa, encheu toda a sala, fazendo-a sobressaltar-se.


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Deitada sobre a grama alta, com varias ervas daninhas crescendo ao redor, estava a jovem de cabelos negros, com uma franja caindo sobre os olhos verdes. Usava as mãos como travesseiro, abaixo da cabeça. Atrás dela, estava a fachada de uma antiga e mal cuidada, porém imponente, casa. Era a casa dos Rockwood, antiga família muito importante de Stoneheaven, na Escócia.

Há muito tempo aquela casa havia sido abandonada por completo. Desde a derrota de Voldemort na primeira grande guerra mágica, seus moradores não mais lhe ocupavam. Alguns haviam morrido, outros preferiram não arriscar e mudaram-se para outros lugares, como seu tio Cristopher.

Aline Black observava as nuvens de formas repolhudas e estranhas. Aquilo lhe trazia muitas lembranças. Havia morado ali com sua mãe, Eva Rockwood, depois de seu pai foi morto por Voldemort.

Mesmo lembrando que sua mãe lhe odiava, Aline sentia sua falta. Suas vestes tremeluziam ao toque da brisa que constantemente passava por ali. Aline fechou os olhos e deixou transparecer um discreto sorriso.

De repente, sentiu uma lufada de ar ao lado de seu rosto. Não o virou ou esboçou qualquer outra reação. Ficou algum tempo quieta, apenas observando o céu um tanto nublado da Escócia, até falar.

—Então? Encontrou algo?

Sua irmã, Allana, havia sentado-se ao seu lado. Soltou um suspiro e encolheu os ombros, como quem diz “Você sabe que não”.

Allana não diferenciava-se muito de sua irmã. Talvez tirando o fato de que não possuía aquela franja cobrindo-lhe os olhos e a frieza que Aline herdara de Eva.

—Linn...será que não deveríamos voltar... —Allana pigarreou, pondo a mão sobre a boca. —voltar para a Inglaterra...sei lá. Acho que não temos mais nada a procurar aqui na Escócia.

Aline sentou-se abruptamente, um pouco à frente de sua irmã. Abraçou as pernas posicionou a cabeça sobre os joelhos, olhando para frente. Por algum tempo, permaneceu assim até falar, num tom meio mórbido.

—Já discutimos sobre isso antes...

—Mas Linn...

—E dessa vez... —Interrompeu a irmã, abruptamente, não importando-se com o que a irmã iria falar. —Acho que você está com a razão Lana.

Allana abriu a boca para falar algo, mas as palavras simplesmente não saíram. Talvez naqueles dois anos em que elas estavam ali, era a primeira vez que Aline lhe dava razão. Sua irmã mantinha-se firme na decisão de encontrar algo no passado de sua mãe. E mesmo depois de não encontrar nada, ela não desistia. Procurava embaixo de tabuas soltas no assoalho, paredes supostamente secretas e até em pequenas frestas, abertas por pragas ou pela ação do tempo.

Chegou um ponto em que Allana achou que sua irmã havia enlouquecido. Porem, agora, naquele momento, Aline parecia estar cansada de procurar por algo que parecia não existir.

Após algum tempo depois, Allana deixou sua cabeça pender para o lado, observando melhor sua irmã. Esperou mais um tempo, pois a qualquer momento sua irmã podia virar-se e falar “não acha realmente que eu vou abandonar Eva não é?”, até dizer, com a voz meio temerosa.

—Então...vamos para a Inglaterra?

—Sim. —Respondeu Aline, apoiando-se na grama e levantando-se. Virou-se e encarou a irmã. —Acho que não é bom ficar vivendo de passado. —E caminhou a passos duros, na direção da antiga mansão dos Rockwood.

Lana ficou olhando a irmã sumir ao fechar a porta da velha casa e embrenhar-se por sua escuridão e silêncio.

Após algum tempo ali, parada, Allana também levantou-se e caminhou até a casa, para arrumar suas malas.

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A jovem Deise Gryffindor estava sentada no terraço da casa, em sua fazenda, observando o gramado balançando com o sopro leve do vento, assim como seus cabelos castanhos, cacheados. Os olhos castanhos escuros estavam distraídos, longe, perdido em lembranças e pensamentos. Usava um vestido simples, largo, chegando até os tornozelos, de cor bege, também balançando com o sopro do vento.

Há cinco anos, mudou-se com seu marido, Maximillion Malfoy, para a antiga fazenda onde morou em sua infância, antes da morte de sua mãe. Levava uma vida tranqüila ali, com seu marido, que trabalhava no ministério da magia.

Para Deise, a vida não podia estar melhor. Vivia com o homem que amava, num lugar que lhe trazia lembranças maravilhosas e em paz, desde que Voldemort havia sido derrotado. Porém, algo lhe incomodava. Mirava a direção de Londres. Parecia que uma nuvem de energia negra acumulava-se sobre a capital inglesa. Pela capacidade de sentir auras, ela pressentia que algo ruim estava para acontecer.

—Bom dia amor... —Maximilion veio por trás e beijou-lhe o rosto. —tudo bem?

—Bom dia... —Disse Deise, num tom meio sonolento e manhoso, sorrindo de leve. —sim, está tudo..bem...

—Algo lhe preocupa? —O jovem deu a volta na cadeira e parou de frente a esposa, também sorrindo de leve.

—Não...está tudo normal...por enquanto... —Seu tom agora era preocupado. Tornou a mirar na direção de Londres.

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