Ruínas e comensais



- O quê? Como assim? Você tem certeza de que eram comensais? - perguntou Hermione.

- Sim, tenho certeza! Eles passaram há pouco mas não vi para onde foram. Vamos! Precisamos seguí-los e ver o que estão fazendo por aqui!

- Mas Harry, Comensais... - disse Ron.

- VAMOS!

E logo os três desceram correndo as escadas e saíram pela porta da pensão, parando logo em seguida perguntando-se para que lado iriam. Harry logo os guiou na mesma direção para onde tinham ido os comensais e foram correndo. Todas as casas estavam apagadas, exceto por uma no final da rua, onde parecia estar acontecendo uma grande reunião de amigos. Harry logo percebeu que tinham chegado.

- É ali.

Foram andando aos poucos pela rua, escorados na parede das casas anteriores, tentando enchergar o que acontecia lá dentro. Levou sua mão à testa e caiu de joelhos no chão, o que deixou Ron e Hermione preocupados. Ela agachou-se para ajudar o amigo a se levantar e disse:

- Já chega, Harry. São comensais. Não sei o que eles estão fazendo aqui, mas parecem usar este lugar apenas para se encontrarem longe de Voldemort. Não devem estar fazendo nada e nem a gente deveria estar aqui.

- Pode ser, mas eles também podem estar GUARDANDO algo - disse Harry.

- Como o quê? Um horcrux? Não, Harry, não creio que Voldemort confiaria a um bando de comensais a proteção de um horcrux. Eles parecem estar se divertindo, e só.

- Acho que ela pode estar certa, Harry - disse Ron, se aproximando do amigo - É muito estranho mesmo eles estarem aqui, mas parecem não estar fazendo nada de errado.

- Eu acho muito errado eles se reunirem na vila onde Voldemort matou os meus pais! - disse Harry com raiva - A não ser que...

Ele olhou novamente para a casa e de repente tudo lhe pareceu absolutamente claro. Eles não escolheram o lugar à toa. A casa onde os comensais estavam agora se reunindo para uma aparente diversão é a casa que um dia pertenceu aos seus pais.

- O que foi, Harry? - perguntou Hermione.

- Essa era a casa dos meus pais.

Os três olharam novamente para a casa e tanto Ron quanto Hermione desconfiaram que Harry estava certo, mas eles também sabiam que já estavam ali há tempo demais.

- Harry, acho melhor a gente ir embora daqui - disse Hermione.

Concordando com a decisão, os três viraram e levaram um susto dando de cara com Willian, o dono do empório, que estava misteriosamente parado atrás deles.

- Vocês são corajosos, meninos.

- Sr. Willian, pode nos explicar o que está faz...

- Calma, sr. Papoulos. Eu venho sempre aqui. Sabe, o povo da vila tem medo dos tais fantasmas, mas eu não tenho e até me divirto com eles. É claro que são pessoas normais que só vêm para cá se divertir às vezes. Como eles chegam aqui eu não sei, mas dou muitas risadas ao vê-los saindo embrigados no final da noite. Vocês sabem, não há muita diversão por aqui mesmo... Só acho esquisito quando eles vão ao cemitério... E, pensando bem, deve ser daí que vem a fama de serem fantasmas. Onde já se viu, andar no cemitério à noite!

- O que, eles vão ao... ao cemitério? - interrompeu Harry, que parecia tentar ligar as situações - E o que eles fazem lá exatamente?

- Não se sabe - respondeu Willian - Mas alguns dizem já tê-los visto cavando, o que é algo horroroso de se pensar, meu caro amiguinho, e na verdade eu acho que são boatos. Veja bem, as pessoas pensam que eles são fantasmas... De certo vê-los cavando túmulos no cemitério deve fazer parte das alucinações populares...

Harry sentiu um frio na espinha, mas tentou se conter. Ele olhou para Ron e Hermione e sugeriu que fossem dormir então, e apesar dos olhares dos amigos eles se despediram de Willian, que agora estava sentando no chão e prestando atenção à casa de onde vinham os barulhos.

Os três foram andando pela rua de terra, ainda muito escura, e apesar do pequeno período de silêncio Hermione não se conteve.

- Você acha que ele estava falando a verdade?

- Acho que sim - respondeu Harry sinceramente - Ele deve só estar se divertindo às custas de comensais bêbados.

- Mas ele falou em cemitério - disse Ron - O que eles devem fazer no cemitério?

- Não sei - respondeu Harry, pensativo, parando repentinamente - Mas podemos descobrir.

- O quê?? - Hermione parou atônita - Você não está querendo ir ao...

- Ao cemitério, sim. Mas não se preocupe, Mione - disse, tentando convencer a amiga, que já tinha levado às mãos ao rosto e o balançava negativamente - Só quero visitar o túmulo dos meus pais.

- Ok, então vamos dormir, e amanhã bem cedo vamos ao cemitério.

- Não, Rony. Temos que ir agora.

- O quê? - disse Hemrmione, cada vez menos acreditando no que ouvia - Não, Harry, há comensais nas redondezas, não podemos ir até o cemitério, ainda mais sabendo que eles vão lá de vez em quando!

- Por isso mesmo, Mione! Agora é a hora certa de irmos até lá. Eles estão rindo e bebendo em uma festinha particular na casa dos meus pais! Não quero ir ao cemitério e encontrar uma festinha deles lá em qualquer outro dia!

- Está bem, mas vamos RÁPIDO - Disse Hermione, apreensiva - Não podemos ser vistos.

Os três então se esconderam sob a capa de visibilidade, que definitivamente não era mais grande o suficiente para cobrí-los por inteiro. Mesmo os três apertados sob o pano, seus tornozelos ficavam visíveis e eles tiveram uma inocente diversão com o fato. Pensaram que, para pessoas que achavam que comensais eram fantasmas, ver alguns tornozelos à noite não seria tão incomum assim. Além do mais, não havia uma só alma viva nas ruas.

O cemitério de Godric's Hollow ficava no alto de uma colina na outra ponta da vila, e Harry, Ron e Hermione demoraram metade de uma hora até chegarem ao local. Não havia muitos túmulos, o que dava para ser visto com a pouca luz da lua, mas havia o suficiente para passarem um bom tempo procurando pelos Potter. Eles continuaram caminhando sob a capa da invisibilidade e olhando cada túmulo, todos com nomes esquisitos.

- Olha só esse aqui - disse Ron - Stella Pé-Furado. Essa deve ter sofrido na escola.

Os três riram, apesar de Harry continuar procurando ansioso pelo túmulo de seus pais. Estavam quase desistindo, pois o cemitério acabaria logo adiante, quando Hermione viu dois túmulos diferentes dos outros.

- Ali! - gritou, e os três correram em direção ao lugar apontado pela amiga.

E ela estava certa. Os dois túmulos, diferentemente dos outros, eram feitos de mármore ao invés de cimento, e os nomes dos pais de Harry estavam escritos com uma luz prateada que, aparentemente, ficava mais visível sob a luz da lua. Era nítida a diferença para os outros túmulos. Harry se lembrou então de que seus pais viviam razoavelmente bem, e para aquela vila deveria ter sido estranho ter um casal com dinheiro suficiente para viver em um lugar melhor. Para Harry, no momento esse pareceu ter sido o erro dos seus pais: procuraram um lugar para se esconderem, mas chamaram a atenção mesmo assim, por serem tão diferentes dos outros. Talvez devessem ter ficado em uma cidade maior e mais movimentada, a fim de passarem despercebidos, mas agora não importava... Nada mais importava... Ele estava na frente do túmulo dos seus pais, e tudo o que conseguiu fazer foi ajoelhar e, repentinamente, chorar como uma criança, saindo debaixo da capa do seu pai e não se importando com mais nada.

Ron e Hermione se olharam aflitos. Sabiam que a visita ao cemitério deixaria Harry assim, mas também sabiam que não deveriam ficar muito tempo lá, ainda mais com comensais por perto, e já tinham se passado quase duas horas desde o encontro com Willian.

Ron agachou e passou o braço esquerdo em volta das costas do amigo, consolando-o. Hermione tinha lágrimas nos olhos, mas mesmo assim tentava confortar Harry.

- Eles estão bem... Sabe - disse ela, tentando convencer também a si mesma de suas palavras - Eles estão bem, Harry, e estão olhando por você. Mas não podemos ficar aqui, é perigoso. Vamos voltar, esta noite está muito esquisita.

Ron olhou para Hermione e concordou com o olhar, ajudando Harry a se levantar. Ele ainda chorava, tanta era a tristeza em seu coração naquele momento. Ele deixaria tudo de lado, naquela hora, para poder ficar mais um pouco pensando em seus pais, mas sabia que a amiga estava certa. Ele ainda voltaria ali, desta vez em paz pela derrota de Voldemort, e sim, mais do que nunca ele estava determinado a derrotá-lo. Ver o túmulo de seus pais e os comensais se divertindo na casa onde ele nasceu foi demais para uma noite só.

Ao levantar, apoiou-se na terra e percebeu, estranhamente, que esta estava fofa, como se tivesse acabado de ser remexida.

- Esperem!

- O que foi? - disseram Ron e Hemrione, em uníssono.

- A terra, vejam - mostrava, enquanto os dois se aproximavam - Está remexida, alguém mexeu aqui recentemente!!

- Harry, é impressão sua, vamos emb...

- Não é não, Mione! A terra foi remexida, alguém mexeu no túmulos dos meus pais e devem ter sido aqueles comensais! É por isso que eles estão aqui, eles fizeram alguma coisa!

- Mas por que eles iriam mexer no túmulo de seus pais? Isso é a pior coisa que já ouvi falar - disse Ron.

- Coisa típica de Voldemort, não é verdade? - disse Harry, suas lágrimas de tristeza se transformando em lágrimas de raiva.

- Venham, eu vou ver o que está acontecendo.

- Harry, não, você não deve fazer isso!

- E o que eu vou fazer, hãm? Vou embora sem saber se os corpos dos meus pais estão aqui ou não? Não importa a tristeza agora, Mione, eu preciso saber se eles estão aqui ou não! - Harry cavava rápido com as mãos, em uma tentativa enlouquecida de encontrar o caixão com os corpos dos seus pais.

- Harry, calma, não adianta fazer isso... Ai meu Deus... PETRIFICUS REMOVAS!

Toda a terra das covas explodiu para cima e caiu sobre eles. O feitiço desesperado de Hermione fez com que todos ficassem sujos, mas pelo menos removeu toda a terra e os pedregulhos que cobriam os túmulos.

Harry se aproximou para olhar no fundo, enfim, e ver seus pais.

- Não!

Ron e Hermione chegaram ao lado do amigo para ver, e seus temores se confirmaram: não havia qualquer sinal dos corpos dos pais de Harry ali. Decididamente os corpos foram retirados, provavelmente pelos comensais, mas eles não sabiam o motivo. A fúria de Harry se intensificou e sua vontade era a de matar Voldemort com as próprias mãos, se pudesse, naquele mesmo instante, sem medo algum de que talvez não conseguisse. Sua raiva era tanta que ele não estava suportando ficar ali parado, inconformado com a situação.

- Eu te mato! - gritou para o alto, desesperado - EU TE MATO!

- Harry.

Ron o chamou, mas ele estava nervoso demais para ouvir.

- Harry!

- O que foi?

- Acho que você deveria ver isso.

Harry se aproximou e os três olharam para uma caixinha verde que estava no canto da cova de Lilian. Surpreso e ao mesmo tempo confuso, Harry imediatamente falou:

- Accio horcrux!

E sim, a caixa se abriu e voôu em sua direção um medalhão, o medalhão verdadeiro da família Black, o verdadeiro horcrux que causou a morte de Dumbledore no final de sua busca com Harry na caverna. O que estava fazendo ali, Harry estava muito confuso para pensar, mas tinha certeza de que estava de frente a um dos atos mais cruéis e nojentos de Lord Voldemort. Ao pensar na remoção dos corpos de seus pais para que fosse colocado ali um horcrux, ele não sabia o que fazer. Sua raiva e impotência paralisou suas ações e seus pensamentos, resumindo-se em um olhar vago para as covas e o corpo inteiro tremendo de raiva por não saber o que Voldemort tinha feito com os seus pais.

- Os comensais! - gritou Hermione para Harry e Ron, apontando para os vultos logo abaixo na colina - Vamos embora, não sei se fomos descobertos, mas é
melhor não esperarmos para saber! Eles estão vindo!

Desesperados, os dois se agarraram a Harry e aparataram no quarto da pensão. Harry estava imóvel, em estado de choque. Ron e Hemrione estavam desesperados.

- Eles logo verão os túmulos abertos e saberão que estivemos aqui - disse Hermione - O que vamos fazer, Harry?

Os dois olharam para o amigo que continuava sentado com o medalhão na mão, o olhar vago e em choque. Preocupados, olharam um para o outro e começaram a rapidamente arrumar suas malas.

- Vamos embora - disse Harry, e os dois olharam assustados.

- Sim, mas para onde? - perguntou Ron.

- Para a casa de Sirius - respondeu Harry, em uma desesperada tranqüilidade - Os outros membros da Ordem precisam saber que o corpo dos meus pais não estão aqui. E tem também este medalhão.

Ele levantou e, guardando suas coisas, disse:

- Voldemort em breve saberá que o medalhão sumiu e virá atrás dele. A guerra começou.

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